As novas 12 casas escrita por Elias Franco de Souza


Capítulo 7
O sacrifício em Touro


Notas iniciais do capítulo

A batalha na casa de Touro é mortal. Porém, um evento imprevisto atrapalha os planos de Itsuki.



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— Vocês de novo? — surpreendeu-se Inna de Touro, sempre com seu sotaque eslavo e sempre de braços cruzados, ao ver o grupo de Itsuki adentrando a casa de Touro — E dessa vez trouxeram mais um amigo... Espere um momento, eu lembro de você, Shoryu de Dragão.

— Olá, Inna — cumprimentou o cavaleiro, com respeito.

— O que você está fazendo com essas pirralhas? Você já tem passagem livre pela minha casa se quiser. Não há mais nada que eu possa ensinar a você.

— Eu agradeço, Inna. Mas estou aqui para ajudar Itsuki a encontrar o pai dela. E somente o Grande Mestre pode ajudá-la com isso — explicou.

— Oh... Então você estaria disposto a me enfrentar apenas para abrir caminho para ela? Mas você sabe que nesse caso eu não iria me segurar, não é? — avisou, severizando o tom.

— Eu estaria disposto sim — respondeu sem rodeios, igualmente sério.

— Shoryu, não — disse Itsuki, colocando-se à sua frente. — Eu agradeço a sua ajuda, mas isso é algo que eu preciso assumir a partir daqui.

— Itsuki, eu posso ganhar uma casa a mais para você avançar se você me deixar segurar ela aqui para você passar.

— Não — rebateu, decidida. — Em algum momento eu vou ter que ser capaz de lutar por conta própria se eu quiser chegar no salão do Grande Mestre. Então é melhor eu já começar a fazer isso desde agora. Eu agradeço a ajuda de vocês, mas desta vez eu irei lutar como uma verdadeira amazona deve lutar: em um combate um contra um. Ouviu isso Inna?! — elevou a voz, dirigindo-se à dourada. — Dessa vez, esse será um combate um contra um!

— Oh... Agora você está falando a minha língua — disse Inna, esboçando um sorriso.

Itsuki caminhou até o centro da casa de Touro, e assumiu a sua postura de combate. Diante dela, a dourada seguia com os braços cruzados. Shoryu e Natassia observavam atentamente à distância; ambos bastante tensos. Agora a Fênix colocaria todo o seu treinamento à prova, enfrentando o seu maior desafio até então.

Itsuki sabia que era ela quem tinha que iniciar o combate. Mas somente cosmo, apesar de necessário, não seria o suficiente para superar a habilidosa taurina. Por isso, gastava tempo analisando a peculiar postura defensiva de braços cruzados de sua oponente. Na subida à casa de Touro, Shoryu havia explicado a técnica de luta de Inna, e como desarmá-la. Mas na teoria era uma coisa, já na prática...

— Escute bem, Inna. Eu vou precisar de três ataques para te derrotar — anunciou Itsuki, ao que a taurina soltou uma sonora gargalhada.

— Estou gostando da confiança, garota — disse, aguardando pacientemente pelo primeiro movimento da Fênix. — Nesse caso, vou te dar uma previsão da minha parte também. Se você não me derrotar em três ataques, é você quem sairá voando por onde entrou.

— Combinado — respondeu sorrindo.

Segundos após refletir sobre como começar o combate, Itsuki finalmente começou a elevar a sua cosmo-energia. Inna fez o mesmo, em demonstração de respeito. “Espero resistir ao primeiro ataque”, pensou Itsuki. E então, com o cosmo beirando o sétimo sentido, disparou e saltou com todo o seu ímpeto em direção à Inna. A taurina demorava a decidir como reagir, pois o ataque não fazia sentido. Itsuki armava um golpe com o punho direito, mas estava em posição completamente aberta e desprotegida. Com a amazona de Fênix vindo em confronto direto e em pleno ar, ela nada poderia fazer se Inna desembainha-se o golpe secreto que escondia-se atrás de seus braços cruzados.

“Essa garota ficou louca?! Com esse nível de cosmo que está me atacando, me deixa sem escolha a não ser contra-atacar no mesmo nível. Mas com essa postura aberta, eu posso acabar a matando... Mas ela não parece estar desistindo desse ataque, então...”

— Grande Chifre!

No momento em que percebeu que Inna começava a descruzar os braços, Itsuki fez menção de mudar a postura de ataque, mas não teve tempo. No mesmo instante, uma rápida rajada de luz cobriu todo o seu corpo, inundando-a com uma onda de choque que a rebateu na direção contrária. Como um peso morto, Itsuki despencou no chão, sem reação alguma.

— Itsuki! — desesperou-se Natassia, que tentou correr em sua direção.

— Espere — ordenou, Shoryu, segurando-a pelo ombro. — Ainda não. Olhe...

Mesmo que com dificuldade, Itsuki começava a se mexer. Primeiro, firmou um pé no chão. Então, apoiou-se no joelho para conseguir erguer-se. E aí, firmou a outra perna. Estava de pé. Embora que com o corpo tremendo e o peitoral trincado.

— Escute, garota — disse Inna, já com os braços guardados novamente, e visivelmente consternada após presenciar um ataque suicida — existem maneiras mais fáceis de tirar a própria vida do que se atirar contra uma locomotiva... Estou surpresa que você não tenha morrido.

— É... Eu sei... — respondeu, concentrando-se para o corpo parar de tremer. A onda de choque do Grande Chifre era realmente esmagadora. — Mas está tudo de acordo com o meu plano... — declarou, com um sorriso confiante.

Inna seguiu preocupada a respeito da sanidade mental de Itsuki. Talvez tivesse batido muito forte em sua cabeça no outro dia. Mas a amazona de bronze continuava a emanar a mesma cosmo-energia agressiva de antes, forçando a taurina a fazer o mesmo.

— Agora... Com o meu segundo ataque, eu vou preparar o terreno para a vitória — declamou Itsuki, apontando para Inna, que seguia incrédula. — Lá vou eu!

Mais uma vez, Itsuki se atirou em direção a Inna com toda a sua velocidade, saltando sobre ela e armando o mesmo golpe de antes com o braço direito. E mais uma vez, para Inna, a atitude de Itsuki não fazia o menor sentido. Se a garota não havia morrido antes, com certeza se mataria agora. Mas com o nível de cosmo apresentado pela Fênix, Inna colocava a própria vida em risco se não reagisse a sério. “Me desculpa, garota...”.

—  Grande Chifre!

Mais uma vez, Inna fez menção de desembainhar seu golpe. Mas desta vez, Itsuki já havia aprendido como Inna se movia. Por um milésimo de segundo mais cedo, em relação à tentativa prévia, Itsuki começou a adaptar sua postura em pleno ar, ficando pronta para dar um gancho de direita. Na visão de Inna, um gancho de direita ainda não fazia sentido, já que Itsuki atacava pelo alto, e não por baixo, mas agora Inna já havia começado a disparar seu golpe. Descruzou os braços, liberando a onda de choque do Grande Chifre. No mesmo momento, porém, Itsuki deu um gancho de direita em pleno ar, lançando uma rajada de cosmo incandescente para o alto. Como um foguete, a rajada de chamas impulsionou o corpo de Itsuki para baixo, fazendo-a evadir do Grande Chifre no último instante, que, para a surpresa de Inna, atravessou somente a torrente de chamas deixada para trás. Já Itsuki, aterrissando no chão, deslizou em direção à dourada. Agora, ambas iriam se chocar frente a frente, mas com a postura inicial de Inna quebrada. Partindo debaixo, Itsuki saltou de encontro à taurina e, girando, desferiu uma sequência de três chutes. Inna recuou a passos rápido enquanto adaptava a postura de defesa, conseguindo defletir os dois primeiros golpes com os punhos, porém, deixando que o terceiro a atingisse na cabeça. Seu elmo voou para trás, e Itsuki aterrissou novamente, logo à sua frente, ainda em postura de combate.

— Eu não te disse? — anunciou Itsuki, não dando brecha para Inna escapar. — Agora a sua postura está desfeita. E com essa distância, eu não vou te deixar cruzar os braços novamente.

— Maldita... — amaldiçoou Inna, vendo-se forçada a seguir a luta sem a sua principal postura de defesa. — Quer dizer que aquele seu primeiro ataque foi apenas para pegar o timing do meu Grande Chifre? E você sabia que eu não teria escolha a não ser desembainhá-lo quando me atacasse daquela forma... Assim, você fez com que eu quebrasse a minha postura em vão. Tenho que admitir que você tem muita audácia — observou, visivelmente empolgada com o rumo que a batalha estava tomando. Shoryu e Natassia, de longe, também vibravam com suas torcidas.

— E agora, será o meu terceiro e último ataque — prometeu Itsuki. — Para provar... Que eu posso te derrubar!

Itsuki começou a traçar os pontos da constelação de Fênix com as mãos, enquanto seu cosmo se tornava ainda mais agressivo. Atingindo por completo o sétimo sentido, em um nível de poder que assustava até mesmo Inna de Touro, Itsuki armou seu punho direito, e avançou para desferir o seu maior golpe.

— É agora que essa luta termina, Inna! Ave Fê-...  Hã?! O quê?! Natassia?!

O punho de Itsuki havia sido contido no último instante. Natassia o segurou quando Itsuki o tinha ao lado de seu ombro.

— Natassia, o que tá fazendo?! — disse Shoryu, que chegou correndo logo atrás.

Porém, Natassia não respondia. Havia um ar diferente em sua presença. Até mesmo a tensão em seus músculos faciais denunciavam que era outra pessoa. E o cosmo de Itsuki, que estava no ápice do sétimo sentido, ficou preso a um cosmo maligno que Natassia emanava. Itsuki não podia se mover, e nem mesmo abaixar o cosmo.

— Natassia... Me solta! Você está me machucando — disse Itsuki, tentando, sem sucesso, se desvencilhar.

— Silêncio, humana... — ecoou uma voz sombria, vinda do entorno de Natassia, ainda que a amazona não tivesse movido um lábio.

Um selo divino apareceu na testa da amazona de Cisne, e uma forma demoníaca surgiu acima de sua cabeça. Era uma sombra negra, dentro da qual podiam-se ver somente um par de olhos vermelhos. Era como uma besta selvagem camuflada no manto da noite.

— Essa presença... — comentou Inna.

— O que é isso que está controlando a Natassia?! — questionou Shoryu.

— É aquele que estivemos procurando por todo esse tempo... — respondeu a dourada. — O deus responsável pelo incidente de nove anos atrás! E pensar que ele se revelaria aqui dentro do Santuário...

— Quem é você?! — questionou Itsuki — E o que quer comigo e com a Natassia?

Uma descarga elétrica sobre Itsuki foi a resposta, fazendo a amazona gritar e se curvar em agonia. Shoryu e Inna tentaram socorrê-la, mas também foram eletrocutados ao tentar se aproximar. Faíscas elétricas periódicas os forçavam a manter distância.

— Eu sou Epimeteu... O Titã criador de todas as formas de vida animal.

— Epimeteu... — observou Shoryu — Também conhecido como aquele que pensa depois. É o irmão imprudente do Titã Prometeu, o que criou a raça humana.

A voz maligna ecoou uma risada por toda a casa de Touro.

— É verdade... Fiquei conhecido por essa alcunha. No entanto, Prometeu não seria nada hoje se não fosse por mim. Pois, graças a essas duas garotas, eu o trarei de volta!

O cosmo de Itsuki, ainda preso ao ápice do sétimo sentido, e ao cosmo de Epimeteu, começou a ressoar. Uma ressonância que podia-se sentir percorrer bilhões de anos-luz de distância, através de todo o universo. E do outro lado, outro cosmo idêntico respondeu. Poucos segundos depois, a terra começou a tremer, e o céu começou a uivar. Uma tempestade sem precedentes começou a se formar no lado de fora. Shoryu, sem acreditar no que seus olhos viam, começou a caminhar em direção à saída da casa de Touro. Um céu vermelho abria-se do lado de fora. E por cima da nova atmosfera caótica que se agitava, preenchida por furacões e relâmpagos vermelhos, um novo planeta carmesim surgia no firmamento. Só que estava tão próximo e era tão grande quanto a própria Terra, que podia-se notar detalhes de sua geografia do outro lado do espaço. Shoryu sabia que planeta era aquele. Era Nibiru, o planeta oculto.

— Não pode ser real... — disse incrédulo, e caindo de joelhos.

“Shoryu! Inna!” Era a voz de Kiki que ecoava em suas mentes, através da telepatia. “Me escutem atentamente, pois não há tempo para maiores explicações! Vocês precisam desfazer a conexão entre Itsuki e Natassia imediatamente, ou não saberemos as consequências do que iremos sofrer!”

— O quê? — disse Shoryu, ainda perplexo com o que estava vendo, e virando-se novamente para as companheiras.

“A armadura de Itsuki é uma duplicata da verdadeira armadura de Fênix, de Ikki. Eu criei essa duplicata, renascendo a armadura de Fênix a partir de fragmentos perdidos por Ikki, na batalha de nove anos atrás... A batalha em que Ikki se perdeu na dimensão proibida. E essa conexão entre as armaduras... Aparentemente está permitindo que os cosmos idênticos de Ikki e Itsuki ressoem entre os dois planos paralelos. Se vocês não o impedirem, Epimeteu vai usar essa ressonância como chave para trazer Nibiru para o nosso mundo!”

Shoryu não precisava ouvir mais nada. Seu objetivo já estava claro. Elevando instantaneamente o seu cosmo até o sétimo sentido, usou seu punho direito para disparar a Cólera do Dragão. Um longo dragão esmeralda voou em direção às duas garotas, varrendo todo o mármore no caminho. Porém, ao atingi-las, a rajada cósmica apenas explodiu um contorno em área ao redor de onde elas estavam, como se houvesse um escudo invisível as protegendo. Dentro do escudo, Itsuki seguia se contorcendo em dor enquanto tinha o seu cosmo manipulado pelo Titã.

— Impossível! Não fez nada?! — desesperou-se Shoryu, sentindo-se impotente depois de ter atacado com todas as suas forças.

— Então cabe a mim pôr um fim nisso — disse Inna, recolhendo seu elmo do chão, e o vestindo novamente — É uma pena... Eu gostava dessa casa — disse em tom de despedida, enquanto elevava seu cosmo e se colocava em posição de combate.

— Inna?... — perguntou, sem entender o que a dourada planejava.

Após o breve momento de lamento, Inna recuperou a determinação e, então, com o cosmo dourado queimando no limite, lançou a palma da mão contra o solo.

— Espera! Inna! — rogou Shoryu.

Não houve tempo para discussões. Surgindo por debaixo de todo o piso da casa de Touro, uma luz ofuscante preencheu todo o recinto. Em um piscar de olhos, toda a casa de Touro evaporou em uma enorme explosão de luz.


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Notas finais do capítulo

1. Na mitologia grega, Epimeteu criou os animais e deu-lhes os atributos. Porém, esqueceu-se de guardar alguma qualidade para os homens. Após pedir socorro ao seu irmão, Prometeu roubou o fogo dos deuses e o ofertou aos homens, ensinando-lhe também como trabalhar com ele.

2. Nibiru seria um planeta oculto que alguns teóricos da conspiração garantem que está escondido no sistema solar. Seu nome provém da mitologia suméria, a respeito de um planeta cuja lua teria se chocado com outro planeta primitivo e dado origem à Terra.