As novas 12 casas escrita por Elias Franco de Souza


Capítulo 20
As almas de Paris


Notas iniciais do capítulo

Em Paris, chega Shiryu de Libra, com sua armadura em forma divina, para interromper o massacre promovido pelo cavaleiro de Câncer do outro mundo.



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Paris, França. O maior aglomerado urbano da Europa, com mais de 10 milhões de habitantes. O que deveria ser uma agradável manhã de verão em Paris, parecia mais uma noite fúnebre. Eram tantas as nuvens negras que haviam se amontoado sob o céu, que quase não dava para ver o sol. E no topo da Torre Eiffel, o maior edifício de Paris com seus trezentos metros de altura, estava o canalizador daquela tempestade. Um cavaleiro de ouro com a armadura fosca, denunciando que tratava-se de um dos santos caídos de Nibiru, evocava um portal que ia direto para o Yomotsu. A passagem para o Inferno se abria no olho do furacão que se formava logo acima da Torre, para onde o cavaleiro de Câncer sugava as almas de todos os habitantes da metrópole. Era nítida a satisfação do homem, branco e de cabelos negros e desgrenhados, ao observar aquele redemoinho de chamas azuis que seu golpe lançava para dentro da fenda dimensional. Enquanto isso, os cavaleiros da Terra, que haviam tentado impedi-lo, acumulavam-se aos seus pés. Eram vários os cavaleiros de prata e de bronze que já haviam perdido a vida. Até que mais um cavaleiro pisou na torre, interrompendo a concentração do canceriano.

— Ora essa... Se não é mais um cordeirinho de Atena que se perdeu do rebanho — dizia o canceriano, que estava de costas para o recém-chegado. — Parece que a minha coleção de almas está prestes a aumentar... — disse, virando-se, quando foi surpreendido.

Desta vez, não era outro cavaleiro de bronze ou de prata, como os que ele havia derrotado facilmente, mas um cavaleiro de ouro. Mais que isso: um cavaleiro de ouro trajando uma armadura em forma divina. Shiryu de Libra seria o novo oponente do canceriano.

— Então... Vocês finalmente apareceram... — disse o canceriano, sem transparecer a mesma confiança de antes.

— E parece que é a minha sina ter de novamente parar um cruel cavaleiro de Câncer — observou Shiryu, com desgosto, enquanto analisava os corpos dos cavaleiros que havia entre eles. O cavaleiro de Libra sentia que os cavaleiros derrotados, e outras milhões de pessoas, ainda podiam ser salvos se suas almas fossem trazidas de volta do Yomotsu a tempo.

— Hm... Não me confunda com os ordinários cavaleiros de Câncer que você conheceu na Terra. É verdade que fomos advertidos a respeito de vocês, mas nós, cavaleiros de ouro de Nibiru, éramos os senhores de nosso mundo. Nenhum deus estava acima de...

O canceriano urrou de dor quando percebeu que, no instante seguinte, Shiryu já estava com o punho cravado em seu estômago. Atordoado, o cavaleiro de Câncer deu alguns passos para trás, antes de cair de joelhos. O golpe que recebera o fizera perder a concentração das Ondas do Inferno, e as almas que estavam a meio caminho do portal para Yomotsu começaram a retornar para seus corpos, espalhando-se lentamente sobre Paris.

— Não tenho tempo para suas bobagens... — rebateu Shiryu. — Quanto mais eu demorar a trazer as almas de volta do Yomotsu, mais vidas serão perdidas — explicou, enquanto elevava o cosmo e o punho para dar o golpe final.

Porém, antes que Shiryu completasse o movimento de seu Cólera do Dragão, o canceriano apontou um dedo em sua direção, lançando uma onda espectral que empurrou a alma do libriano através de suas costas. A força com que as Ondas do Inferno arrastavam sua alma era assustadora. Shiryu tinha de manter considerável concentração para não ser afastado para ainda mais longe de seu corpo, que permanecia em pé a apenas dois metros à sua frente.

— O que achou disso, cavaleiro de Libra?! — gabou-se, enquanto encarava o espírito de Shiryu e tornava a ficar de pé. — Mesmo você tendo uma armadura divina, não é páreo para o grande Nicolau de Câncer!

— Você não mentiu quando disse que não era um cavaleiro de ouro comum — admitiu. — Porém...

Subitamente, a alma de Shiryu retornou com força para seu corpo, rebatendo as Ondas do Inferno de volta para Nicolau, que foi lançado de costas ao parapeito da Torre, onde caiu sentado.

— Você ainda não é páreo para mim — concluiu Shiryu, novamente preparando o punho para usar o Cólera do Dragão.

— Maldito... — amaldiçoou Nicolau¹, voltando a levantar com o cosmo elevado. — Agora você vai ter o que merece!

Com o indicador, Nicolau chamou de volta para si todas as almas que ainda espelhavam-se pela cidade e, ao mesmo tempo, chamou também as almas que estavam no Yomotsu. Rapidamente, milhões de almas começaram a acumular-se em torno de si, vindas tanto da cidade de Paris quanto do portal que estava no céu.

— O que foi? Não vai me atacar? — gabou-se e riu, ao ver que Shiryu interrompera o movimento do Cólera do Dragão. — Por que você acha que eu estava reunindo as almas tão pacientemente ao invés de mandá-las de uma vez para o Inferno, Libra? Eu estive esperando para usá-las contra um de vocês, lendários.... Estas almas... Alimentarão a explosão que fará você em pedaços!

Apesar de ter hesitado ao ver milhões de vidas acumularam-se nas mão de Nicolau, Shiryu parecia continuar terrivelmente calmo. Então, quando o canceriano finalmente reuniu as mais de 10 milhões de almas e iria incendiá-las com um estalo de dedos, aconteceu. Esguichos de sangue espirraram das partes proximais dos quatro membros de Nicolau. Antes que ele usasse a Hecatombe dos Espíritos, Shiryu decepara seus dois braços e suas duas pernas. Em choque, o esquartejado canceriano caiu aos pedaços, com sua mão direita ainda na posição para estalar o dedo médio.

— O... Quê... — balbuciava Nicolau. — Quando foi que sacou sua espada? Eu não vi...

Admirando e bela dança das almas que finalmente podiam voltar em paz para seus corpos, Shiryu aproximou-se da poça de sangue em que jazia Nicolau.

— Eu não usei a espada de Libra — explicou Shiryu. — Usei a excalibur — mostrou a mão direita na posição da espada, para que Nicolau pudesse ver o espírito da arma sagrada que habitava seu braço.

— Um cavaleiro de Libra e de Capricórnio em um só? — disse arregalando os olhos. — Vocês cavaleiros lendários... São realmente terríveis...

Ainda com os olhos arregalados, Nicolau parou de se mover. Estava morto.

Aos poucos, os cavaleiros de bronze e de prata às costas de Shiryu começaram a se levantar. Mesmo nunca tendo visto Shiryu pessoalmente, a armadura divina de Libra não deixava dúvidas. Todos eles, sem exceção, ficaram sem palavras ao reconhecer o lendário cavaleiro de Dragão. Olhavam para Shiryu como se ele próprio fosse divino.

— Jovens cavaleiros de Atena — cumprimentou-os Shiryu. — Fico feliz em vê-los todos de volta à vida, mas sinto informar que não há tempo para descansarmos. O santuário está sob forte ataque e vocês devem retornar imediatamente para protegê-lo.

— S-sim, senhor Shiryu — balbuciou um dos nervosos cavaleiros, que ajoelhou-se em reverência, sendo seguido pelos demais.

— Se-senhor Shiryu. O senhor também retornará para lutar com a gente? — perguntou um dos mais assustados cavaleiros.

Se Shiryu estivesse ao lado deles, pensou, não haveria por que temer a morte novamente. Shiryu aproximou-se desse cavaleiro, ajoelhando-se perto dele. Ansioso, o jovem contemplou a serena expressão do libriano.

— Sinto muito, mas vou ter que pedir que vocês continuem sendo fortes sem mim. Sinto que o Grande Mestre acaba de iniciar uma importante batalha fora do Santuário, e eu devo me juntar a ele.

— O Grande Mestre?! — surpreenderam-se alguns dos cavaleiros.

— Mas não se preocupem — continuou Shiryu, colocando as mãos nos ombros do jovem que pedira sua ajuda. — Vocês são a nova geração que superará a minha. Vocês têm tudo para dar conta das batalhas que virão. Jamais esqueçam de queimar o cosmo em seus corações. Não há limites para sua força de vontade.

Deixando o emocionado jovem em lágrimas, o herói dos cavaleiros levantou-se e, após afastar-se com alguns passos, saltou aos céus e, como um raio, voou em direção ao oriente.

Apesar de terem de retornar à batalha sem Shiryu, o discurso do libriano divino parecia ter funcionado. Revigorados pelas palavras de um dos cavaleiros lendários, e pela luz do Sol e pelo som de vida que voltavam a preencher Paris, todos preparam-se para retornar ao Santuário.


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Notas finais do capítulo

1. Nicolau é uma referência a Nicolau Maquiavel, filósofo italiano.



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