As novas 12 casas escrita por Elias Franco de Souza


Capítulo 2
Uma nova aliada


Notas iniciais do capítulo

Acompanhada de Malik, Itsuki fala um pouco sobre suas motivações em buscar Ikki de Fênix, quando percebe que está sendo seguida.



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Andando lado a lado, o tamanho de Malik parecia ainda mais assustador. E olha que Itsuki não era das mulheres mais baixas. Ao que se lembrava, havia chegado ali nos 1,73m de altura. Mas não era só o porte físico do cavaleiro que intimidava. O leonino até agora não havia mudado a cara de poucos amigos. E sua expressão sisuda combinava, até certo ponto, com seu rosto; queixo quadrado, sobrancelhas grossas, entre outros traços viris. Somente os olhos destoavam um pouco. Pois não eram olhos pequenos, como o da maioria dos homens cruéis que Itsuki havia conhecido ao longo de sua vida. Eram olhos grandes, que transmitiam, apesar da cara carrancuda do cavaleiro, a tranquilidade em seu interior.

— Vai ficar me encarando por quanto tempo?

— Ah, desculpa – apressou-se em desviar o olhar do cavaleiro, torcendo para ele não perceber que ela havia corado.

— Não se desculpe se você não fez nada errado – respondeu sem tirar o olhar da estrada, que seguia por entre um conjunto de morros de pedras, em direção às 12 casas – eu só estava esperando você dizer logo o que tinha em mente, enquanto me observava por tanto tempo. – Dizer o que pensava dele? Itsuki não tinha como responder esse tipo de pergunta, repentina assim. Imagine dizer a um cavaleiro de ouro que ele é assustador. Tudo bem que também havia certo charme nessa severidade de Malik, mas Itsuki não queria falar isso também. – Anda, você não queria me perguntar alguma coisa? – insistiu Malik, interrompendo a profusão de pensamentos na cabeça da amazona.

— Ah, perguntar... Sim. Eu... Fiquei sabendo que Ikki de Fênix vestiu a armadura de Leão também.

— Sim... E?

— Você chegou a conhecer ele? Sabe alguma coisa dele?

— Eu não sei mais do que os outros cavaleiros – interrompeu rispidamente, não deixando Itsuki à vontade para fazer outras perguntas. Um desconfortável silêncio seguiu por quase um minuto antes de Malik retomar a conversa. – Por que você tem tanto interesse em Ikki de Fênix? Não há nada de errado nisso. Outros cavaleiros têm. Mas poucos tentam subir as 12 casas por isso. E menos ainda tentariam por causa de um dos 5 lendários em específico. Então, me diga: por que Ikki? É só pela armadura de Fênix?

De fato, a curiosidade de Malik tinha justificativa. Itsuki já imaginava que outros cavaleiros perguntariam por sua predileção por um dos cavaleiros lendários.

— Não, eu.... Eu já expliquei isso pro meu mestre. E eu não queria ter que explicar de novo – Malik não esboçou reação alguma, e seguiu em silêncio. Aparentemente não iria insistir em saber. Mas Itsuki sentiu que devia uma explicação melhor ao cavaleiro que a ajudou. – Digamos apenas que eu procuro alguém do meu passado e... Eu acho que posso encontrá-lo, se eu encontrar Ikki primeiro.

Malik finalmente colocou olhos em Itsuki. Era a primeira vez em que o leonino demonstrava mais interesse na garota.

— Eu não deveria dizer isso. Mas de todos os 5 lendários, Ikki é o único que não pode ser encontrado.

— Hã?! Por quê?!

— Então eu acho que seria melhor você desistir, e pensar em outra maneira de encontrar seja lá quem for que você está procurando. Mesmo que você atravesse as 12 casas, não haverá nada para você lá em cima. É tudo o que posso falar.

Itsuki parou de andar, forçando Malik a esperar por ela. Mas o cavaleiro hesitou em questionar o que havia de errado. A amazona parecia um pouco consternada.

— Eu não treinei por 6 anos apenas para poder tentar subir as 12 casas, e descobrir agora que isso tudo não servirá de nada – começou a desabafar, sem tirar os olhos do chão – se você não vai me ajudar, não me atrapalhe. Se você não pode me falar a verdade, não me dê meias-verdades. Eu vou subir, com a sua ajuda ou sem – concluiu, finalmente fitando Malik nos olhos.

— Hm... – Malik cruzou os braços, enquanto organizava as informações que havia acabado de receber. – Você treinou 6 anos apenas pensando em poder reencontrar alguém do seu passado? – Itsuki ficou com a impressão de que havia falado algo errado.

— Hum, não exatamente. Eu descobri por acaso, durante o meu treinamento, que encontrar Ikki poderia me ajudar.

— Mesmo assim, esse se tornou o seu objetivo preponderante desde então, correto?

— Pode-se dizer que sim...

— Ninguém deveria se tornar cavaleiro devido a objetivos pessoais. Cuidado ao falar sobre isso.

Malik deu as costas para Itsuki e retomou a rota para as 12 casas, forçando a garota a correr para alcançar seu passo.

— Espera, então... Você não vai me dedurar?

— Em outros tempos você poderia sofrer consequências por causa disso. Hoje... Há visões distintas sobre o assunto – explicou, sem deixar claro qual era sua posição. – Então cuidado ao falar sobre isso.

Itsuki permaneceu calada, sem contestar. Lembrou-se que outros antes dela já haviam se tornado cavaleiro por objetivos pessoais, especialmente entre os lendários cavaleiros de bronze. Mas os objetivos pessoais deles eram nobres. Itsuki, por outro lado, ainda não tinha certeza se a sua busca era motivada por amor... Ou por vingança. Os dois sentimentos se contrabalanceavam em sua obsessão. Talvez Malik pudesse ajudá-la se Itsuki desse mais detalhes sobre seu passado.

— Malik, sobra a pessoa que eu procuro... – uma pequena pedra rolou pelo morro à esquerda de Itsuki, logo às suas costas. Mas quando virou-se naquela direção, pode notar alguém se escondendo, no último instante, no topo do morro. – O que é isso?

— Ah... Deve ser aquela outra garota – explicou com expressão de aborrecimento, e puxando Itsuki para que retomassem seu caminho – Tem outra amazona tentando subir as 12 casas. Eu já devia ter te avisado que mais cedo ou mais tarde ela te procuraria.

— Procurar a mim?

— Eu só não achei que seria tão rápido. A sua luta com aquele idiota deve ter feito ela ouvir ao seu respeito antes da hora.

— Não to entendendo. Pode me explicar? – questionou, transparecendo um pouco mais de impaciência.

— Hm... – grunhiu, aborrecido novamente. – Por onde eu começo? Como eu disse antes, você não é a única interessada em algum dos lendários cavaleiros de bronze. Nem a única disposta a subir as 12 casas por isso. Mas essa garota em especial é... – calou-se por alguns segundos, como se procurasse uma palavra que fosse adequada a sua chateação, mas sem parecer desrespeitoso. – É enfadonha – concluiu. – Ela já está há um ano tentando subir as 12 casas, e me aporrinha para ajudá-la sempre que me encontra – desabafou.

— Um ano?! – repetiu, surpresa.

— E com certeza ela vai pedir a sua ajuda também. Duas amazonas juntas podem ter mais chances de atravessar as 12 casas, não é? Ah... Em outros tempos o primeiro que nos enchesse o saco já serviria de exemplo para não nos incomodarmos mais. Mas hoje o Grande Mestre nos faz pegar mais leve com vocês.

— Espera aí, então... Você não vai me ajudar a subir as 12 casas?

— É claro que não. Eu particularmente não ligo, então quando você chegar na casa de Leão terá passagem livre. Mas o resto é por sua conta – disse, detendo-se por um instante e deixando Itsuki dar um passo à sua frente – nos separamos aqui – e aplicou um golpe no pescoço dela, fazendo-a perder a consciência.

Enquanto Itsuki recobrava aos poucos os sentidos, podia ver uma visão borrada de Malik. Era difícil distinguir o que ele falava, mas entendeu que era algo parecido com "desculpa", “eu sabia que você ia insistir” e “foi por isso que te apaguei”. E então a vista de Itsuki escureceu novamente. Quando abriu os olhos, tinha uma garota loira agachada próxima de seu rosto, observando-a. Ela disse alguma coisa, mas Itsuki ainda não escutava bem.

— O que você disse? – sussurrou com a voz fraca.

— Eu perguntei se você tá bem – repetiu a garota com um grande sorriso no rosto.

— Ai... A minha cabeça ainda dói – disse, sentando-se – mas tá melhorando.

— Ótimo, eu te ajudo a levantar – disse oferecendo a mão. – Sou a Natassia¹. Natassia de Cisne.

— Itsuki de Fênix – respondeu, aceitando a mão de Natassia para levantar-se. – Por quanto tempo eu apaguei?

— Não muito. Eu acabei de perder o Malik de vista. Ele deve estar chegando na primeira casa – disse apontando para as escadas das 12 casas que iniciavam-se não muito longe dali. – Depois que vocês me viram ele deve ter achado que não precisava mais te guiar até lá.

— Então era você que queria minha ajuda para subir as 12 casas? – perguntou desconfiada.

— Que bom que o Malik já explicou pra você – respondeu animada. – Isso nos poupa maiores apresentações.


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Notas finais do capítulo

1. Adotei para a personagem o mesmo nome da garota que é adotada por Hyoga de Cisne em G Assassin