As novas 12 casas escrita por Elias Franco de Souza


Capítulo 10
Tourada no Coliseu


Notas iniciais do capítulo

No Coliseu do Santuário, somente Christopher de Lagarto ainda resiste perante o sanguinário Cavaleiro de Touro



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O coliseu do santuário. O cenário em que até poucos momentos atrás era preenchido pela belicosa música de dezenas de homens conversando e treinando, agora era permeado pelo silêncio dos mortos. Silêncio esse que era interrompido somente pela respiração pesada de um único sobrevivente. Entre corpos esmagados e decapitados, restava em pé somente Christopher de Lagarto. Nem mesmo seus companheiros mais próximos haviam resistido à ira de Cratos de Touro, um monstro de 2,40m de altura, que segurava, com apenas uma mão, a cabeça sem corpo de um cavaleiro de prata recém-executado. Os que não haviam sucumbido perante o facínora, haviam fugido.

— Agora só falta você, lagartixa — disse o colosso, antes de esguichar sangue e miolos para todos os lados, com um simples fechar de dedos.

Pela primeira vez em sua vida, Christopher começava a perder a fé em sua própria força. Esta era provavelmente a melhor luta de sua vida. Havia, sem dúvidas, atingido o sétimo sentido por diversas vezes durante os seus ataques. Mesmo assim, todos os seus esforços pareciam ser em vão, perante um inimigo muito mais forte. Cratos deu um passo à frente, entrando no raio de alcance do Chicote do Ciclone¹ de Christopher. Sem pestanejar, o prateado moveu seu indicador direito, golpeando seu chicote de vento no ar. Mas Cratos, que já havia observado as técnicas do cavaleiro de prata, o defletiu com um simples movimento de punho, antes de partir para cima de Christopher.

Tentando impedir o avanço do touro dourado, o Cavaleiro de Lagarto desferiu uma sequência de golpes com seu Chicote do Ciclone, enquanto ele próprio recuava a passos rápidos e em círculos pela arena do coliseu, para não ser cercado contra as paredes. Porém, Cratos continuava a avançar de forma implacável, defletindo ou esquivando-se de todos os golpes. O máximo que Christopher conseguia era atrasar o avanço do taurino, conseguindo manter a distância entre os dois.

— Hahahahaha! Você é rápido. Mas não pode fugir para sempre, lagartixa! — dizia o Touro, que seguia em frente, sem sofrer dano algum pelos golpes de Christopher.

— Ah! Já chega! — disse o cavaleiro de prata, parando de fugir e atacar, ao perceber que só estava se cansando. — Eu vou te mostrar que posso bater de frente com você — afirmou, abrindo os braços e esperando pelo contato.

— Hahahahaha! Pelo menos você vai morrer com coragem!

No entanto, quando Cratos estava próximo de alcançar Christopher, o prateado cruzou os braços, puxando dois tornados, vindos um de cada lado, que se entrelaçaram sobre o taurino. O nó de ventos prendeu o dourado no ar, impedindo-o de continuar a avançar ou recuar.

— O que achou disso? Agora você é que é a minha presa! — exclamou Christopher.

A variação da técnica de Furacão das Trevas pegou Cratos desprevenido. Se Christopher tivesse atacado como nas outras vezes, o taurino já teria terminado a luta. Mas a criatividade do prateado o salvou. Cratos tinha dificuldade até mesmo de mover os braços para se proteger caso viesse a ser atacado agora.

— Argh... Admito que agora você está me dando trabalho, cavaleiro — reconheceu Cratos.

No entanto, Christopher não sabia quanto tempo mais conseguiria segurar o dourado ali, pois não podia manter essa intensidade de ataque por muito tempo. E, apesar de estar preso, o dourado ainda parecia não estar sofrendo grandes danos.

— Vou ter que me desdobrar para realizar um terceiro ataque... — percebeu Christopher. — Furacão das Trevas!

O prateado, que ainda estava com as mãos cruzadas para segurar os dois tornados em Cratos, subitamente jogou-as para o alto, fazendo um terceiro tornado negro surgir. Este lançou o taurino nas alturas, fazendo-o se perder da vista de Christopher.

— Consegui... Me livrei dele... — aliviou-se, vendo que seu adversário fora arremessado para longe do Santuário. Porém. no instante seguinte, a mão de Cratos estava torcendo o seu pescoço — O quê?! Impossível...

— Hahahahaha! Por um instante você quase me deixou em apuros... Chamariz Dourado... Por um milésimo de segundo antes de disparar o seu terceiro tornado, os dois primeiros diminuíram em força, me permitindo escapar na diagonal e deixar em meu lugar uma cópia da minha imagem. Esta é uma técnica em que eu ainda consigo ocultar a minha verdadeira presença... Mas chega de papo furado! Agora vamos quebrar o seu pescoço!

Cratos levantou Christopher no ar e começou a fechar a mão com gradativamente mais força. Era uma questão de segundos para o prateado chegar no limite de sua resistência. Até que um terceiro cavaleiro surgiu com uma voadora no rosto do taurino. Cratos foi arremessado para longe de Christopher, que caiu quase apagado no chão.

— Foi mal pela demora — disse o recém-chegado para Christopher, que aceitou a mão para conseguir se levantar —  Eram muitos monstros espalhados pelo Santuário — explicou, se referindo às inúmeras criaturas mitológica que haviam invadido o Santuário junto dos cavaleiros inimigos.

— Quem é você? A minha visão ainda está turva... — disse, se curvando e cobrindo o rosto após levantar-se.

— Ih... É melhor ficar sentadinho aí então — disse empurrando o prateado, que caiu sentado — Toma um leite aí, e deixa com o pai — afirmou, virando-se para encarar seu adversário, que havia acabado de se levantar.

Aos poucos, a visão de Christopher foi melhorando. E então ele pôde visualizar o cavaleiro que o havia salvo. Mesmo de costas e ofuscado por uma rajada de luzes, dos ataques que agora desferia contra Cratos, aquela armadura era inconfundível. Tratava-se de Seiji, o cavaleiro de Pégaso.

— Maldito... Inseto! — amaldiçoava Cratos, que não conseguia se desvencilhar da rajada de meteoros que vinha recebendo, não podendo fazer nada além de se cobrir com os braços.

— Caramba, quantos socos mais eu preciso dar pra te derrubar? — perguntou-se Seiji, com o tom de voz de alguém que se esforçava tanto quanto se estivesse dando um passeio no parque. — Acho que vou ter que começar a te bater pra valer.

Dito isso, Seiji disparou a correr, dando voltas em círculos ao redor de Cratos, ao mesmo tempo em que continuava a disparar rajadas de meteoros, que agora cobriam o dourado vindas de diferentes direções. Cratos cambaleava de um lado ao outro, tentando prever de que lado viria a próxima rajada para se proteger com os braços.

— Ele é muito rápido! — admirou-se Christopher, que também tinha dificuldades de acompanhar os movimentos de Seiji.

— Seiji tem muita facilidade em dar arrancadas na velocidade da luz — explicou uma amazona mascarada e de cabelos castanhos, que havia acabado de aparecer ao lado do cavaleiro de Lagarto.

— Marin de Águia — reconheceu Christopher, ao virar-se para ver quem era.

Enquanto isso, a luta entre Cratos e Seiji seguia a mesma, até que Seiji cansou de correr e parou para conferir o que havia conseguido até então. Cratos, mesmo tremendo um pouco, continuava de pé. Mas estava com a armadura toda marcada de socos, e visivelmente irritado.

— Você... Um mero cavaleiro de bronze...

— Você tá desatualizado, tio — rebateu Seiji — Aqui no meu mundo, os melhores cavaleiros são os de bronze — vangloriou-se, com um sorriso confiante no rosto.

Seiji entrou novamente em postura de ataque, e começou a traçar os pontos da constelação de Pégaso com as mãos.

— Não importa o mundo! Eu não vou perder para um lixo como você! — exclamou, entrando na postura ofensiva do Grande Chifre.

Seiji, então, juntou todo o seu cosmo, e desferiu todos os seus socos em um único ponto, formando o Cometa de Pégaso, enquanto Cratos lançou o Grande Chifre com o punho direito. Ambas as técnicas se colidiram, provocando uma grande explosão de ventos para todos os lados. Porém, as energias dos dois cavaleiros continuavam medindo forças, completamente equilibradas. E tanto Seiji quanto Cratos esforçavam-se ao máximo para empurrar o seu lado com a força do cosmo.

— Isso é ridículo! Como pode você estar se estar se equiparando à mim?! — reclamou o dourado.

— Argh... Só cala a boca e luta! — respondeu Seiji, que agora começava a ficar ofegante.

Mais alguns segundos, e o contato entre as duas energias entrou em colapso e explodiu, encobrindo toda a arena com poeira. A força da explosão arremessou Seiji para trás, que rolou vários metros de distância, enquanto Cratos conseguiu manter sua posição, devido ao seu porte físico. Enquanto a poeira não baixava, Marin puxou o Pégaso pelo ombro e o levou para se esconder atrás de uma das colunas no final da arquibancada do Coliseu. Christopher estava agachado ali também.

— Marin? — perguntou Seiji.

— Shhh... Vamos nos esconder por enquanto. A nossa principal missão aqui era ganhar tempo e resgatar feridos.

— Eu odeio me esconder garoto, mas sua mestra tem razão — sussurou Christopher — Eu estou lutando contra ele desde o início da invasão. E apesar de no começo eu ter conseguido me equiparar a ele, no fim das contas eu só me cansei e perdi aliados. O vigor dele parece não ter fim. Vamos precisar juntar mais cavaleiros antes de lutar contra ele de novo. Marin, quanto tempo para os outros cavaleiros voltarem pro Santuário?

— Eu não contaria com a volta deles se fosse você. Eles já têm os problemas deles para resolver lá fora — explicou, olhando por uma fresta, para conferir que Cratos ainda estava no meio da arena. O dourado olhava para os lados, procurando pelos cavaleiros de Atena no meio da nuvem de poeira, mas então a sua imagem se dissipou, como se fosse uma miragem. — O que é isso?

— Ah... É aquela técnica dele... — disse Christopher, já percebendo que haviam sido enganados.

— Procurando por mim?! — exclamou Cratos, que surgiu atrás dos cavaleiros de Atena.

Antes que reagissem, o dourado chutou Marin para o lado com sua enorme perna, fazendo-a cair nocauteada ao longe no mesmo instante. Seiji gritou por sua mestra, mas a distração do rapaz deu a oportunidade que Cratos precisava para atacá-lo com seu Punho de Aço². Porém, antes que o cavaleiro de bronze fosse esmagado, Christopher jogou-se à sua frente, bloqueando o golpe com um Escudo de Ventos que girava velozmente ao redor de seu corpo. O contato com o escudo arranhava o punho do dourado, forçando-o a se afastar.

— Obrigado — agradeceu Seiji, ainda nervoso por quase ter sido apagado.

— Me agradeça depois que escaparmos vivos daqui...

Seiji assentiu, e saltou por cima de Christopher, para atacar o dourado pelo alto. Lançou seus Meteoros de Pégaso, porém, eles apenas atravessaram a imagem do taurino, que mais uma vez se desfez no ar.

— De novo?! — revoltou-se Seiji, após aterrissar no chão.

— Cuidado! — gritou Christopher, empurrando Seiji para longe.

Cratos surgiu com uma voadora, acertando o prateado bem no meio das costelas, que rolou para longe até cair completamente inerte. Seiji rapidamente levantou-se, tentando contra-atacar com seus Meteoros de Pégaso. Porém, dessa vez a distância para Cratos era menor. O dourado adiantou-se e segurou o punho do cavaleiro de bronze, não deixando-o escapar.

— Agora você não tem para onde correr... — vangloriou-se, colocando a outra mão sobre Seiji, e preparando o lançamento da Supernova Titânica³, a técnica com a qual os cavaleiros de touro podem destruir qualquer coisa.

“É o meu fim...” Pensou Seiji, cujos instintos o fizeram fechar os olhos. Porém, nada aconteceu, exceto que Cratos subitamente soltou o punho do cavaleiro de bronze. Quando o Pégaso abriu os olhos, viu que Cratos havia sido contido por uma corrente de aço, que enrolava-se em torno de todo o corpo do taurino como se fosse uma camisa de força. Seguindo a origem da corrente, os olhos de Seiji guiaram-se até o topo de uma das colunas do coliseu, encontrando outra amazona mascarada, dessa vez uma loira. Era a amazona de Andrômeda.

— Helena! — comemorou Seiji.

— Grande Captura de Andrômeda... — explicou a amazona.

— Urgh... Vocês insetos não param de aparecer para me irritar! — queixou-se o dourado, que já estava quase conseguindo romper os elos da corrente para escapar.

A resposta de Helena foi eletrocutá-lo através da corrente. Com isso, conseguiu ganhar mais tempo para segurá-lo.

— Vamos, Seiji! O que está esperando?! — gritou Helena, que esforçava-se para conter o taurino — Acaba logo com ele!

Não precisava dizer mais nada. Seiji começou a rapidamente traçar os pontos de sua constelação protetora e, mais uma vez, fustigou o dourado com seus Meteoros de Pégaso, cobrindo-o de centenas de milhões de golpes, até não ter mais forças para atacar.

— Isso... Deve... Dar um jeito... Nesse cara — desabafou, exausto, soltando as palavras entre cada inspiração desesperada de seus pulmões.

Ainda de pé, Cratos cuspiu sangue e, então, finalmente, seu corpo cedeu, fazendo-o cair de joelhos. Sem forças, o cavaleiro curvou a cabeça, deixando o elmo cair no chão, como forma de admitir a derrota.

Ainda o segurando com a corrente, Helena saltou e desceu da coluna em que estava.

— É difícil de acreditar que esse cara ainda está vivo — disse a amazona se aproximando.

— Huhuhu... Logo eu vou morrer em decorrências desses ferimentos... Mas já cumpri o meu objetivo aqui. Abri caminho para os meus companheiros. Em pouco tempo, eles vão atravessar as 12 casas e então... Arrancarão a cabeça de sua Atena! — disse, com um sorriso vulgar.

— Ei! — exclamou Seiji, puxando o dourado pela gola da armadura. — Quem são vocês?! Quem está por trás disso?!

— Hahahahaha! Não fará diferença nenhuma vocês saberem, já que logo morrerão, então...

Uma lâmina de vento passou de um lado ao outro do pescoço de Cratos, impedindo-o de concluir a sentença. Christopher de Lagarto, que havia se levantado com a ajuda de Marin de Águia, deu o golpe de misericórdia com o Chicote do Ciclone, fazendo a cabeça de Cratos deslizar de seu corpo e tombar no chão.

— Ei! Eu estava interrogando o cara! — protestou Seiji.

— Parem de perder tempo aqui, e vão logo até as 12 casas... — justificou o cavaleiro de Lagarto, antes de tossir sangue e quase cair no chão novamente, tendo que ser acudido por Marin.

Os cavaleiros de bronze correram para socorrê-lo. Após o deitarem no chão, viram que ele tinha ao menos três costelas quebradas perfurando o pulmão.

— Isso não é bom — explicou Marin. — Preciso fazer uma inserção para o ar e o sangue saírem — apressou-se, golpeando com um dedo o quinto espaço intercostal do cavaleiro. — Isso vai dar mais tempo pra ele respirar. Mas ele precisa de atendimento logo.

— Que bom que eu estou aqui então — disse um cavaleiro misterioso, que havia acabado de se aproximar.

Marin virou-se para ver quem era, e ficou surpresa ao ver aquele homem vestindo pela primeira vez uma sagrada armadura de prata.

— Maitreya...


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Notas finais do capítulo

1. Este personagem tem algumas técnicas inspiradas no Misty de Lagarto do jogo Saint Seiya Awakening.

2. Referência a Aldebaran de Touro no episódio G

3. Técnica de Hasgard de Touro em The Lost Canvas



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