Anos Esquecidos escrita por GeloAF


Capítulo 4
Capítulo IV - Sob chuva


Notas iniciais do capítulo

E aí, meus amigos e minhas amigas! Tudo certo?

Antecipei a programação pois arranjei um tempinho pra escrever. Este é mais um da série "reformulei a versão antiga e estou orgulhoso do resultado", então nem vou repetir a ladainha dos outros hahaha

Espero que gostem desse, consegui introduzir coisas que não tinha pensado na época, e acho que ficou bem mais completo dessa forma. Não esqueçam de deixar uma review! Boa leitura



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1

O pequeno grupo aguardava aos portões de Konoha desejando que o mau tempo passasse. O céu se fechava em nuvens negras e os relâmpagos eram o prenúncio da tempestade que estava por vir. Toda a Vila da Folha havia recuado para dentro de suas casas, apostando que a chuva viria e logo iria embora.

Sakura avisara sua mãe que sairia antes do amanhecer. Ela lhe gritara algo próximo de “leve seu guarda-chuva” antes que a garota fechasse a porta e ali estava a prova: se a mãe não tivesse anunciado a provável tempestade, esta provavelmente não ocorreria. Sakura incluía manipulação do tempo como um dos poderes de mãe. Chakra utilizado: nenhum. Poder destrutivo: dependeria da raiva da mãe em questão.

Sua mãe não gostara nada de saber que iria para outro país resolver problemas alheios. Ela não era ninja, não entendia o mundo ninja e não queria entender. Sakura havia lhe explicado, como o próprio Kakashi havia lhe dito, que iriam até lá ajudar os ninjas da pedra a encontrar o grupo terrorista. Em teoria, o rank S especificado na missão era meramente profilático: se acontecesse algo de ruim, eles poderiam dizer eu avisei. Essa era a lógica do mundo ninja.

Sakura criou grandes expectativas quando Kakashi lhe disse que iriam a uma missão fora do País do Fogo. Será que iremos ao resgate de Sasuke-kun?, pensou ela. A realidade lhe foi muito menos entusiástica quando a descobriu. Sabia que a classificação da missão poderia render um bom dinheiro e um bom currículo, mas tudo que conseguia fazer era pensar numa forma de trazer os amigos de volta.

— Sim, eu me preocupo com o Naruto – dizia ela quando alguém duvidava, sobretudo os três do time do Asuma –, mas estar com o Jiraya e estar com o Orochimaru tem dois significados muito diferentes. Sasuke está em perigo, enquanto Naruto não poderia estar mais protegido. Eu acho...

— Você tem que parar de se preocupar tanto com o Sasuke – disse Shikamaru nesta ocasião. – Ele escolheu esse caminho e não acho que queira nossa intromissão.

Sakura sabia disso, mas doía demais saber que ele poderia estar abdicando de sua vida em busca de poder. Parecia tão fútil e imaturo.

Asuma era um ávido fumante, mas Sakura nunca havia visto o sensei puxar tantos cigarros seguidos. Ela calculou que devia ser o quarto ou quinto que acendia, e se perguntou se dentro de sua mochila haveria o suficiente para a viagem toda. Shikamaru se sentava embaixo de uma árvore próxima e tirava um cochilo. Chouji e Ino conversavam com intimidade a um canto, próximos e alegres. Sakura sentiu uma pontada de inveja, mas logo afastou esse sentimento. Vasculhou sua bolsa pela oitava vez para conferir se havia esquecido algo e distrair sua mente do atraso dos demais.

Foi quando ouviu passos apressados vindos da vila.

— D-Desculpe-nos pelo atraso – disse Hinata. – Neji-kun estava...

Ela estancou ao ver o franzir do cenho do primo. Fosse o que fosse, ele não queria que os outros soubessem.

Os dois traziam mochilas abarrotadas e ofegavam de leve. Sakura pensou que correram o caminho todo à toa.

— Não se preocupem, Kakashi está atrasado – respondeu Sakura com seu melhor sorriso amarelo.

Hinata mostrou-se aliviada com a notícia, mas a cara de Neji não melhorou.

Trinta minutos se passaram até que Kakashi aparecesse, despreocupado e leve como uma pena de ganso ao vento. Caminhava como se fosse uma volta no parque e bocejava mesmo sem sono. Sakura notou que estava sorrindo por trás da máscara.

— Bom dia! – disse ele, entusiasmado. – Todos prontos para a partida?

— Já era hora – censurou Asuma, apagando o cigarro num tronco. – Estamos prontos há muito tempo. O combinado não era que chegássemos até o nascer do sol?

— Era? – perguntou ele em tom inocente. – Devo ter confundido o horário.

Asuma não tentou protestar. Já conhecia o colega há anos e devia saber que seu atraso era irremediável. Acendeu outro cigarro e foi acordar Shikamaru.

Quando todos estavam reunidos do lado de fora do portão, Kakashi se pôs a instruir:

— São alguns dias de viagem, então não podemos perder tempo. Teremos pausas regulares para comer e nos aliviar e pararemos ao pôr do sol para montar acampamento. Ao nascer do sol retomaremos viagem. Alguma pergunta?

Foi Shikamaru quem levantou a mão.

— Por que iremos nessa missão? A Vila da Pedra não tem seus próprios ninjas?

Kakashi sorriu com os olhos e encheu-se de orgulho.

— É uma boa pergunta, Shikamaru-kun. Acho que devo lhes avisar. Um ninja renegado da Vila da Folha foi visto recentemente por lá. É por isso que fomos chamados.

O coração de Sakura pulou. Ninja renegado? Seria Sasuke-kun?

— E quem seria? – perguntou Asuma.

— Iremos descobrir – disse Kakashi.

Não houve mais questionamentos. Seguiram viagem em silêncio, Kakashi na frente liderando o grupo.

 

2

Naruto e Jiraya haviam chegado a um pequeno vilarejo a sudeste do País da Terra. Apesar do pequeno porte, era bastante movimentado, pois fazia parte da rota de comércio entre a Vila da Folha e a Vila da Pedra. Seus dois restaurantes estavam apinhados e Naruto não conseguia se decidir em qual comer – no fim escolheria o mais barato, pois era certo que Jiraya lhe diria para pagar.

Era neste lugar que havia, também, uma famosa sauna, e Naruto soube o motivo de estarem passando por ali quando o mestre mencionou este fato. A pesquisa de Jiraya ocupava a maior parte de seu tempo útil, fazendo Naruto se sentir um apêndice em sua vida. Onde eu fui amarrar meu burro?

Haviam cruzado a fronteira um dia atrás, e Naruto começou a notar como estava longe de casa. Ao contrário do País do Fogo, o País da Terra era cortado por montanhas e morros, um relevo mais difícil e cansativo de se atravessar. Além disso, experimentara mais frio do que jamais conhecera em seus anos na vila, o que o fez comprar um casaco e um cachecol.

Depois de refletir, optou por almoçar no restaurante de lámen, que ofereceu a melhor comida que Naruto comera na última semana – embora, em sua opinião, não se comparasse ao Ichiraku – e passearam pela vila até o fim da tarde, olhando produtos e conversando com pessoas. Quando o sol começou a se pôr, Jiraya propôs uma ida à sauna. Sem muitas opções, o garoto concordou.

Chegando ao local, o pouco ânimo de Naruto se esvaiu. Apesar de grande e suntuoso, notou que havia mais gente do que em toda a Vila da Folha. Jiraya animou-se ao ver a quantidade de gente que entrava. Ótimo, vai ser muito bom para a pesquisa do velhote, pensou Naruto. Mas para meu treinamento...

— Ero-sennin, eu acho que vou dar uma olhada na loja de armas ninja – mentiu ele.

— Vá, garoto, vá – disse ele sem nem se voltar para Naruto enquanto vasculhava a entrada da sauna feminina. – Compre para mim um conjunto novo de shuriken.

Vai sonhando, pensou Naruto.

Ele saiu da sauna e foi para a rua principal. Esperou encontrar algum de seus amigos, mas sabia que estava longe demais para ver qualquer um ali.

Viu lojas de artesanato, de pergaminhos e de roupas. Passou longe da loja ninja, não queria ter que gastar mais um tostão com o mestre. Foi na loja de incensos que se deteve – o aroma o fisgou como a um peixe desavisado.

Entrou ali e perdeu-se entre os aromas. A maioria nunca havia experimentado, e supôs que deviam ser típicos do novo país.

O vendedor chamou sua atenção.

— Vai comprar alguma coisa, garoto?

— Não, estou só olhando.

— Então pode ir dar uma olhada na loja do lado. Entrou na minha loja, tem que desembolsar uma moeda. Acha que este cheiro é de graça?

Naruto puxou a menor moeda que encontrou e deu na mão do homem, pegando o incenso mais barato que encontrou em troca. Pelo menos ele parou de reclamar.

Passou mais um tempo entre as prateleiras, quando ouviu o velho falar de novo:

— Ei, uma moeda para ficar aqui dentro!

O garoto abriu a boca para protestar quando percebeu que não era com ele que o vendedor. Olhou para a porta e viu um vulto saindo por ela, uma figura masculina envolta em negro, encapuzada e misteriosa. Percebendo que havia sido notado, a figura masculina retirou-se dali, sem muita pressa, mas sem olhar novamente para o lado de dentro.

Naruto teve um vislumbre de seu rosto e estremeceu. Já havia o visto antes.

Onde será que já vi esse rosto?, pensava o rapaz.

 

3

Sasuke fitou com desdém a figura gélida e adoecida que o encarava da cama, os cabelos negros escorrendo como cachoeiras e tapando parte do rosto pálido. O quarto era mal-iluminado, as sombras pouco se atenuavam com a vela tremulante em cima da cômoda. Orochimaru parecia se recuperar de uma pneumonia ou de qualquer doença que o tivesse deixado acamado por tempo demais. Um sorriso brincava em seus lábios – o sorriso de alguém que acabou de encontrar o jantar. Havia dias que não via o mestre, e concluiu que talvez quisesse ficar mais dias sem vê-lo de novo.

— Kabuto me informou de seu resultado, Sasuke-kun, e posso afirmar que estou satisfeito – disse o homem com sua voz ofídica.

— Fui chamado aqui só para isso? – perguntou o garoto, fazendo esforço para engrossar a voz e erigir a espinha. – O campo de treinamento segue vazio, e eu sigo parado sem instrução alguma.

— Acalme-se – disse ele, apaziguador, mas impaciente. – Há outra coisa que quero dizer. Amanhã de manhã partiremos em viagem. Quero dar um novo estímulo ao seu treinamento.

Sasuke enfureceu-se. Para que sair do esconderijo se havia nele tudo que necessitavam para torná-lo melhor que Itachi?

— Não – disse Sasuke, mais corajoso do que de fato se sentia. – Meu treinamento começa hoje.

Botou a mão no porta kunai e introduziu o dedo na argola. Nem havia retirado a lâmina quando sentiu metal em sua garganta.

— Nem tente, pirralho – ameaçou Kabuto, uma kunai em sua mão.

Orochimaru soltou uma risada dolorida.

— Deixe-o, Kabuto. Mesmo em minha fase de transição, poderia cuidar de Sasuke-kun com apenas uma das mãos. Sabe por que, caro garoto? Porque lhe falta ódio.

Sasuke sentiu um eco de memória na cabeça e se perguntou se Orochimaru havia lido sua mente. Largou a kunai e sentiu Kabuto afastar-se.

— Tanto faz – disse ele, controlando a voz para não soar assustado – Que hora partiremos?

— Tão cedo quanto o amanhecer, Sasuke-kun. Vá descansar.

O garoto deu uma última encarada no homem e se dirigiu à porta sem que mais nada fosse dito. Kabuto abriu a porta para ele e a fechou sem que palavra alguma lhe fosse dirigida.

O sorriso presunçoso de Orochimaru esmaeceu até tornar-se um crispar de lábios.

— Tem certeza que suas fontes são confiáveis, Kabuto?

— Sim, Orochimaru-sama. Garanto que ele estará lá.

Orochimaru assentiu, lambeu os dedos e apagou a vela da cabeceira.

 

4

Era noite, o tempo ainda fechado, as árvores dançando ao vento e uma luz de fogueira na beira da floresta iluminava o que havia ao seu redor. Os ninjas da folha que viajavam para a missão formavam um círculo em torno dela. Haviam cozinhado porco para o jantar e já estavam todos cheios. Asuma havia abrandado o temperamento depois de comer, mas tinha um cigarro aceso entre os dedos. Chouji estava no seu melhor humor desde a partida, apoiando as costas no chão e vislumbrando o luar. Os outros riam e conversavam, contando histórias de missões passadas e lendas ninja.

Kakashi, o mais silencioso entre os oito, levantou-se e bateu na calça para tirar a terra.

— Preciso fazer uma coisa. Volto já – anunciou ele, adentrando a floresta logo em seguida.

Sakura se perguntou se aquela era a forma do sensei de anunciar uma ida ao banheiro, divertindo-se com a ideia e deixando-se sorrir.

A noite começara boa com a melhora geral do humor do grupo, mas havia murchado para ela à menção dos amigos entre as conversas. Shikamaru, Chouji e Neji se lembraram da missão em que haviam arriscado suas vidas para trazer Sasuke de volta, que não tivera sucesso, mas que rendera boas cicatrizes e boas histórias. Ino reclamava por não ter sido chamada, o que rendeu uma reação exaltada de Chouji dizendo que não queria que ela se machucasse.

Naruto também estivera nessa missão e traria boas risadas para a fogueira esta noite. Não, não seria assim, pensou ela. Concluiu que o amigo estaria tão recolhido quanto ela. Sabia bem que aquilo o afetava mais do que a ela; ele se sentia culpado pela falha na expedição.

Sakura deixou a roda e entrou no mato em busca do professor. Talvez ele tivesse se isolado do grupo pelos mesmos sentimentos dela, então concluiu que lhe seria melhor companhia naquele momento.

 

5

— Como é? Um rosto conhecido? – perguntou Jiraiya.

Estavam num pequeno quarto de hotel da cidade, o único que cabia no bolso.

— Sim, mas não consigo me lembrar do nome da pessoa, muito menos de onde a conheço – respondeu o menino, pressionando o cérebro a resgatar a memória.

— Ah, isso acontece às vezes. Deve ter visto alguém que se parece com um conhecido.

— Não, Ero-sennin – insistiu. – Ele foi embora quando reparou que eu havia percebido, isso não pode ser coincidência.

— Mas é! – disse Jiraya, cansado e querendo pegar no sono. Como você conheceria alguém de uma vila tão distante?

Naruto desistiu, emburrado. Foi até a janela do quarto e sentiu os pelos se eriçarem

Sentia falta dos amigos e se perguntou se os veria novamente em breve. Contudo, essa era uma pergunta para a qual ele já tinha a resposta: não os veria por um longo tempo...

 

6

Kakashi caminhava por entre as árvores e o ambiente ficava cada vez mais escuro conforme se afastava da fogueira, mas andava como se conhecesse o caminho como a palma da mão. Em determinado ponto, vasculhou ao redor e saltou sobre um galho firme.

Não demorou muito e um ninja apareceu num galho próximo. Era um ANBU.

— Kakashi-senpai, estou aqui para apresentar meu relatório – disse o ANBU.

— Estou ouvindo.

— Posso confirmar que ele está de fato lá. Um dos nossos o avistou novamente nas redondezas da Vila da Pedra há três dias. Acreditamos que tenha fugido para o interior para nos despistar.

— Interessante – disse Kakashi após um suspiro. – Sabe algo a respeito dos interesses dele? O que ele busca?

— Não, senhor – disse o ANBU. – O avistamos dessa vez em uma das galerias demolidas pela explosão.

Kakashi estancou. Seria ele o responsável por esses ataques? Não, é claro que não. Mas como saberia? Até onde se sabe, ele seria perfeitamente capaz de algo assim. Não, não era o estilo dele, Kakashi sabia disso. Devia ter outro propósito. De qualquer forma, deveriam ter cuidado.

— Além disso, senhor, alguém que não esperávamos está se deslocando à vila.

— O que quer dizer com não esperávamos? – perguntou Kakashi, confuso e impaciente. Não estava para suspense naquele dia.

— Me refiro a Orochimaru. Tenho fontes confiáveis que dizem que ele também estará lá.

— O quê? Não é possível. O que ele iria querer por lá?

— Isso não sabemos, mas ouvi que levará o garoto Uchiha. Isso faz algum sentido para você? – disse o ANBU em seu tom neutro.

Kakashi pensou por alguns segundos. Será que...?

— Talvez, mas é apenas um palpite. – E, não querendo prolongar mais sua saída, falou: – Obrigado. Aguardo novo relatório amanhã.

— Certo – disse o ANBU, e saltou para a noite.

Kakashi desceu da árvore e sentou-se no chão, encostando as costas no tronco. Olhou para cima. O mau tempo os havia seguido. Viu as nuvens seguindo o vento por entre as copas e pensou em trazer o grupo para dentro da floresta – não adiantaria muito, mas seria melhor do que ao ar livre. Trovejou, e as primeiras gotas de chuva começaram a cair, descendo suaves por entre as folhas e desmanchando seu cabeço espetado. Levantou-se, sem deixar de olhar para o céu. A chuva apertou. Mechas de cabelo branco caíram entre os olhos e suas roupas pesaram, mas ele não se importava. Não estava realmente ali.

Pensou nas pessoas perigosas que se reuniam naquela vila e arrependeu-se um pouco de ter aceitado a missão. Talvez a estivesse subestimando. Talvez botasse todos em risco.

Fechou os olhos e sentiu a chuva engrossar e depois esmaecer. Decidiu que era hora de voltar.

Por entre a folhagem, Sakura observava, atônita pelo que ouvira, mas com uma nova motivação.


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Notas finais do capítulo

É isso aí, caro leitor

Obrigado por tirar um tempinho pra ler esse capítulo. Se puder, deixe uma review

Até o próximo (spoiler: vai ter luta)



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