Morando Sozinho com Jack escrita por sasaricando


Capítulo 2
Filhinho da mamãe




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E eu, que sempre sonhei em morar sozinho! Meu desejo era independência, liberdade, privacidade e ter um cachorro. No começo tudo parecia da maneira como eu desejava, até começar a surgir uma réplica da Torre de Pisa em cima da pia com as louças que eu não lavo, acordar e pisar logo no cocô do meu cachorro, as baratas começarem a surgir, o banheiro comear a feder e meus hábitos mudarem.

Minha pia com goteira, que se juntasse toda a água desperdiçada do mês acabaria com a sede no nordeste. Bem, pelo menos eu tenho uma pia. Para um cara que começou a viver com um colchão, uma geladeira, um fogão e apenas um armário, descobrir que poderia comprar arroz em pequenos saquinhos foi praticamente uma das sete maravilhas da globalização.

Depois de trinta minutos eu podia sentir que o aroma do meu bolo de chocolate já se espalhava pela casa e para os vizinhos. Após conseguir todos os ingredientes sem prazo de validade vencido para fazer a minha melhor refeição da semana, talvez do mês, eu podia sentir o prazer de sentir a calda de chocolate escorrendo pelos cantos. Precisei parar em sua frente por alguns minutos para admirar.

Mesmo repleto de felicidade por ter algo para comer a minha memória me impedia de fazê-lo. Por mais que morasse sozinho, a velha lembrança de minha mãe dizendo que meu vizinho morreu por comer bolo quente ainda me atormenta. Pode parecer bobo e patético, mas tem sempre algo que é necessário respeitar. Minha mãe sempre que falou para eu levar um casaco porque estava frio, e se eu não levasse sentia meu corpo congelar, como se fosse um castigo.

Talvez eu seja um filhinho da mamãe que não é capaz de arranjar uma namorada e fica se lamentando. Talvez eu nem faça questão de namorar, todos aqueles compromissos não me agradam. Mas isso não importa no momento, eu preciso fazer algo enquanto a massa esfria. Arrumar a geladeira parece a solução. Quando se tem duas caixas de leite, dois pacotes de bolacha, sucos em pó, açúcar,uma maçã de uma semana atrás, meio pacote de pão de fatia, margarina, queijo e presunto, uma lata de nescau, cinco ovos, duas garrafas de água, queijo ralado, três saches de maionese e catchup e muito vento, isso parece ser uma tarefa fácil. Pode até ser simples, só não acredite que é adorável. Saber que toda a comida do seu mês se resume a isto é deplorável. Sorte é não ter nenhuma produção hidropônica desta vez.

Cheguei a encontrar minha escova de dente na geladeira, dançar sozinho por horas até o vizinho reclamar da música alta, perder o controle remoto da TV por semanas e encontrar em lugares impossíveis, vigiar a vida dos vizinhos dos outros prédios pela sacada. Tudo parecia estar me enlouquecendo, cheguei a ficar dias chorando sem saber o motivo. Meus amigos diziam que eu estava me escondendo cada vez mais na minha caverna. Foi então que decidi dividir meu apartamento!

Mas tudo continuava da mesma forma, o meu amigo quase não pára em casa, apenas me permite uma diversão com suas histórias.

Sentia poder ter uma lombriga em minha barriga chamada Fred, que fazia com que eu necessitasse imediatamente de comida. Na geladeira não havia nada restante da janta do dia anterior, mas restava o meu bolo. Ainda na forma para não sujar nenhum prato, assim como eu sempre como dentro das panelas para não sujar nenhuma outra louça. A sede apareceu e fui logo agarrando a garrafa de água na geladeira.

A geladeira estava arrumada e meu bolo frio pronto para que eu comesse divinamente, até eu perceber que alguém estava abrindo a porta. Jack entra com sua Alice. Não era nenhuma garota dessa vez, apenas sua guitarra. Estava vestindo sua horrível calça justa como não estivesse um calor dos infernos.

- Sozinho? - Não era uma questão de grande interesse em sua vasta vida amorosa, apenas egoísmo por meu bolo.

- Parece que sim. - Apoiou a guitarra sobre a parede. - Você que fez? - Ergueu a sobrancelha.

- Não conhece meus dotes culinários. Meu curso parnasiano deve ter algum bom resultado.

- Deixa de ser menininha! Quem escuta acha que saiu lá do nosso interior muitas vezes.

- Mas tu não merece um ovo frito!

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