Detenção escrita por shinazugawaz, Kacchako Project


Capítulo 1
Cheiro de Laranja;




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Definitivamente Ochako sabia que não tinha sido ela que tinha começado aquela merda toda!

Caralhos, ele colou chiclete no cabelo dela e ameaçou cortar antes mesmo que o intervalo para o almoço começasse. Depois, se fingiu de desentendido e esfregou um prato de espaguete no uniforme dela, que não perdeu tempo para derramar aquele copo de suco de laranja no cabelo dele - e o caos se instaurou no refeitório, com uma guerra de comida. E jogaram a culpa em quem? Nela, claro. Mas graças a deusa ele não escapou dessa vez.

Uraraka sabia que era bem cagada com essas coisas, por que foi se meter nisso? Teve sorte de não ter trocado o uniforme de educação física depois da aula, aproveitaria os minutinhos do almoço para ficar com aquela roupa mais folgadinha e confortável. E bem, aquilo tinha sido sua sorte, pelo menos estava menos lascada do que ele, que exalava um cheiro de laranja durante todas as últimas aulas, enquanto ela teve a oportunidade de tomar um banho nos vestiários para trocar o uniforme.

Detenção. Ou mais ou menos isso mesmo.

Em todos os anos do ensino elementar, Ochako tinha sido uma boa aluna. Daquelas que se esforçava ao máximo. Claro, o colégio interno que ela queria conseguir uma bolsa não aceitava nada além da perfeição. Ela nunca tinha sequer cogitado a possibilidade de ir para a detenção um dia. No entanto, graças a Bakugou Katsuki, ela estava ali. 

Foi constrangedor quando a diretora da escola puxou-os juntos pelos braços até sua sala. A mulher fumaçava de raiva, e até que era compreensível para ela, eles foram o estopim daquela bagunça toda.

Agora ela estava ali, com ele, limpando o que faltava do refeitório. Podia estar em casa, aproveitando para jogar um pouco ou desenhar naqueles últimos minutinhos da tarde daquela sexta-feira cansativa, mas não, teve que aturar o alarido de Katsuki durante toda a tarde. Por que ele tinha que tratá-la daquele jeito? Já estudavam juntos há anos e logo iriam para o ensino médio! Mas Bakugou se comportava como um menino birrento quando ela estava presente, daqueles que fazia tudo pra chamar a atenção dela. Tudo de ruim, no caso. 

Ela se lembrava tão bem de quando se conheceram na infância. Daquelas camisetas de caveira que a tia Mitsuki comprava pra ele, e ela tinha certo medo, e daqueles abraços quentinhos que ele dava nela quando estavam longe dos olhos dos outros meninos.

Ela... Ela verdadeiramente sentia uma baita falta daquilo.

Alguns anos separados e aquele menino tinha virado um demônio, até para ela. Daqueles bem incontroláveis mesmo. Ele parecia fazer de tudo para, de algum modo, ser um muro entre a felicidade dela. Bakugou atazanava qualquer menino que ela se aproximasse - o que mais aguentou, levou duas semanas para fugir dela.

Uraraka só queria entender o porquê daquilo. E era isso! Não ia perder mais tempo! Com certeza aproveitaria para perguntar sobre isso hoje. Como sua mãe sempre dizia: "há males que vem para o bem". E mesmo que ficasse arrasada sobre aquele castigo que tinha recebido, ela ía conseguir algum proveito disso, fosse tirar Bakugou do seu caminho ou minimamente conseguir entender um pouquinho mais da cabeça dura dele.

Eles colocaram aquelas sacolas enormes para fora na coleta seletiva. O coraçãozinho dela chegava a doer em pensar em tanto desperdício com tanta gente sem ter o que comer. Já escurecia.

Merda! Já tava escuro mesmo e ela sequer tinha tido o trabalho de falar com seu pai para que fizesse um esforcinho a mais hoje para vir buscá-la na escola. Talvez devesse ligar para ele e pedir agora, depois de milhões de pedidos de desculpas que tinha em mente. Talvez ele estivesse bem ocupado e se preocupasse mais ainda. Ela realmente não sabia o que fazer, não queria incomodar mais ninguém e realmente pegar o ônibus deveria ser uma das melhores opções que tinha. Agora ela estava em maus lençóis e preocupada pra caramba!

Nossa, onde que tinha aprendido tantas palavras de baixo calão assim? Bakugou a enchendo o saco o tempo todo com suas briguinhas tinha tido esse efeito péssimo nela? Ah, mas tanto faz, agora ela não tinha muito mais o que fazer a não ser torcer para que o dia não piorasse ainda mais e trocar algumas palavras com o loiro.

— Ei, desculpa por hoje, eu… Eu acho que passei dos limites — o fato de que dava o pontapé inicial na conversa era estranho. Uraraka podia contar quantas vezes tinha tido uma conversa com Bakugou como duas pessoas decentes, depois que cresceram.

— Tudo bem… Acho que a minha raiva de você já passou por hoje – alguns poucos minutos de um silêncio quase que atormentador para ele foram passando, enquanto caminhavam juntos para a parada de ônibus. — Bakugou-kun, posso te perguntar uma coisa?

— Acho que você já tá perguntando, né, sua lesada – ele não tirou os olhos do caminho. Quase que inexpressivo.

— Por que você fez todas essas coisas comigo durante os últimos anos?

— Que coisas?

— Fala sério, você colou chiclete no meu cabelo hoje! Sem contar que não deixa nenhum garoto se aproximar de mim há anos! — coitado do Izuku… – Você fica querendo brigar comigo o dia quase todo. Eu… Só não aguento mais isso. Não aguento mais sentir raiva de você. É desgastante — levantar um pouco a vista quando chegaram à parada foi o bastante para ver os olhos vermelhos inconfundíveis quase que arregalados.

Bakugou Katsuki, bully de carteirinha e número um em quase tudo que tentava fazer, estava pela primeira vez na vida com medo. Medo de Uraraka.

— Eu não sei!

— Como assim? — a conversa é interrompida pelo ônibus lotado que para. Vários dos passageiros descem e ele segue o seu destino. – Por que você não pegou aquele ônibus? Ele para quase que em frente a sua casa!

— Eu quero ir com você — era estranho escutar a voz dele mansa daquela forma. — Desculpa ter te atormentado por tantos anos, eu só queria atenção.

Em pouco tempo, embarcaram no ônibus com aquele clima pesado que os rodeava. Bakugou ainda teria que caminhar uns três quarteirões para estar em casa, ela estava bem preocupada com a sua ida pra casa. Claro, mesmo que ele fosse irritante daquele jeito, ainda era seu amigo de infância e seu primeiro amor. Tecnicamente, primeira desilusão amorosa também, mas eram tão novinhos e tudo se interrompeu por aquela mudança da agência de design que o tio Masaru e a tia Mitsuki trabalhavam. Depois, eles finalmente voltaram para a cidade, após uns três anos, abrindo uma agência própria. Mas Katsuki… Voltou transtornado daquele jeito.

Ainda tinha um pingo de sentimentalismo naquele coração de manteiga que Ochako tinha. Ela talvez só quisesse esconder isso de si mesma por mais alguns anos.

— Eu acho que a gente, realmente, precisa conversar… — é, talvez Katsuki também já não aguentasse mais daquela situação. 

— Sim… 

O ônibus estava lotado. Mesmo em pé, resolveram ficar de frente para o outro, encarando-se todo do tempo. Ela ainda conseguia sentir o cheiro da laranja vindo dele, mas até que não era tão ruim. Ela sabia que ía penar para tirar aquela mancha de molho da roupa de educação física.

— Sabe, cara redonda, quando eu voltei daquela cidade horrível do outro lado da província, eu só queria restaurar nossa amizade. Só que… Você parecia ter outros amigos e eu só seria um peso. Eu não soube me aproximar e ficou parecendo que a gente não se batia de jeito nenhum — ela lembrava muito bem disso.

— Eu senti muito sua falta naqueles anos, mas também não podia me isolar. Você era meu melhor amigo e eu sentia muita saudade de você. Eu sinto muito mesmo que por todos esses anos tenha sido um mal entendido como esses.

— É, eu fazia de tudo pra chamar sua atenção, mas até hoje você não parecia se importar nada – ele riu, lembrando-se do momento que ela, pela primeira vez, reagiu a uma de suas brincadeiras de mau gosto.

— Você me deixava com muita raiva, isso sim! Mas eu não queria explodir como fiz hoje, pela consideração que tive com você no passado, sabe? Eu sentia que, no fundo, você ainda é alguém gentil, como foi comigo tempos atrás.

— Desculpa ter afastado os meninos de você também, eu não queria que eles tomassem o meu lugar.

— Você já devia saber que não tem como roubarem o seu lugar, não é? – Ochako sorriu e, depois de alguns bons anos, recebeu um sorriso sincero de Katsuki como resposta. Papo vai, papo vem e eles quase passaram direto da parada de ônibus que deveriam descer.

— Obrigado… Sabe, por hoje… Foi um dos melhores dias desse ano, eu queria muito me ajeitar com você – Bakugou coçava a cabeça, talvez estivesse envergonhado. Uma coisa que Ochako não esperava era ele fazer duas coisas no mesmo dia que ela achava, algumas horas atrás, que ele era quase que incapaz: pedir desculpas e agradecer.

— Eu que agradeço, Katsuki — os grandes olhos castanhos dela pareciam brilhar na iluminação em frente da sua casa. — Espero que… Tudo possa voltar a ser como era antes.

Era tentador beijá-la e… Foda-se, ele iria fazer isso mesmo. Colou seus lábios desajeitadamente, roubando um beijo da menina de cabelos castanhos. Oh, céus, se o tio chegasse em casa agora ele estaria fudido, completamente fudido.

— Nada vai voltar a ser como antes — Bakugou disse em meio de suspiros e um abraço apertado. – Quer dizer, tudo vai melhorar agora – Ochako estava vermelha demais naquele momento, tudo que ela conseguia fazer era retribuir o abraço e pensar naquele beijo que ele tinha roubado que, sinceramente? Ela tinha gostado pra caramba. – Eu preciso ir, minha mãe vai ficar preocupada. Passo aqui amanhã para te levar pra sair, a gente combina pelo Line, tudo bem?

— Sim… 

— Tchau! Te aviso quando chegar em casa! — Uraraka acenou enquanto via o menino se distanciar e virar a esquina.

Primeiro amor, primeira decepção, primeira reconciliação, primeiro beijo e Ochako esperava do fundo do seu coração que fosse seu primeiro namorado… É, com certeza Katsuki seria o dono de todas as primeiras vezes dela.

Aquele cheiro forte de laranja ficaria marcado na mente dela.


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Notas finais do capítulo

Obrigada antes de tudo a Nati Miles que teve a maior paciência comigo e betou todas as minhas histórias da Semana Kacchako desse ano.

Bem, se você não sabe exatamente o que está acontecendo, a nossa semana do Kacchako Project aconteceu a um tempinho, ocorreu de nove de fevereiro até quinze de fevereiro. Por alguns problemas internos no projeto, migramos para outras plataformas e estou repostando tudo o que escrevi aos pouquinhos e essa semana será todinha dessas histórias ♥

O tema do dia um foi primeiras vezes, quando leio penso que não fui nem eu quem escreveu isso.

Arte da capa por midnightcookies (@midnightcookiz).
https://twitter.com/midnightcookiz



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