A Maldição do Instinto escrita por Kusumary


Capítulo 6
Momentos




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Pelo menos não vou ter que aprender a desenhar.

Olho para o cabelo branco da pessoa que estava me abraçando cada vez mais forte.

— Frio... – Shinki, o nome que havia dado a ele, reclama, se aninhando e se enrolando cada vez mais em meu corpo.

Já havia jantado e trazido o resto da carne para a cobra. Minha madrasta continuava fechada no quarto dela, meu pai entrando lá volta e meia para acalmá-la. Já estava dando 22 horas, mas como havia dormido bastante de dia, estava sem sono. Agora estava deitado de lado sendo usado como um travesseiro de corpo, sendo abraçado pelos braços e pernas da homem cobra.

— Olá...? – Sussurro, tentando respirar um pouco.

— Boa noite? – Shinki fala no mesmo tom, levantando seu rosto.

— Você realmente é real? Você realmente...

— Ainda não acreditava? – Ele começa a se esfregar em mim como se fosse um gato mimado, me causando arrepios.

— Não. – Falo direto.

— Hmm... – Ele nem se importa mais com minha opinião?

Cansado da tortura dele se esfregando em mim, pego meu celular para tentar me distrair, mesmo assim não conseguia evitar os espasmos quando ele me lambia ou me cheirava.

— Algo duro... – Ele fala, se esfregando mais forte em minha cintura.

— Nng! – Tampo minha boca tentando evitar que outro som vergonhoso saísse dela.

— Hm? – Shinki me olha curioso, começando a rebolar sua cintura, indo de encontro a minha.

— Hm! – Seguro seus ombros, fechando meus olhos. Ele começa a acariciar minha costa por baixo da camisa, até chegar à base da coluna, me causando um arrepio gostoso por todo o meu corpo. Não me aguentando, mordo seu ombro. Ouço um ofegar leve vindo dele. Olho para cima, mas não pude ver sua expressão. Levo uma das minhas mãos para seu rosto e pude, de alguma maneira, sentir suas bochechas quentes.

— Você está sentindo o mesmo que eu? Um calor estranho pelo corpo... – Ele fala meio inocente. – Nunca senti esse calor vindo de mim mesmo...

Suspiro e o empurro levemente, me afastando. Pude ver Joana na porta me olhando com espanto, mas ignorei, prestando atenção ao rosto vermelho agora iluminado de Shinki... Puta que pariu!

Tudo que ouvi depois foi um baque. Sento-me na cama e vejo minha pobre madrasta hétera desmaiada no chão. Shinki se ajoelha e me abraça, olhando para minha madrasta como se ela fosse o próprio Satanás. Espero um pouco para ver se meu pai havia acordado com o barulho e iria ver essa situação, mas seu sono é pesado demais para isso.

— Tudo bem. Ela não vai nos machucar. – Passo minha mão por baixo de seu cabelo e acaricio sua costa.

— Mas ela batia em você, parecia doer muito. – Ele coloca a língua para a fora como se tivesse em sua versão naja, ainda olhando para Joana, pelo visto ele faz isso quando está irritado.

Isso são águas passadas. – Ele fez um leve som de “hm?”– Isso foi no passado, não me importa mais. Não é como se ela pudesse me prejudicar agora. – Ele me abraça mais forte e olha para mim. Sempre que nossos olhos se encontravam, sentia um leve arrepio, mas dessa vez pude sentir várias outras coisas, um calor carinhoso, acalente e que me acalmava, mesmo sentindo sua mini cobra em meu peito . Sorrio. – Vamos leva-la para a cama. Amanhã, caso ela diga alguma coisa, eu falo que foi um sonho.

—... Ok. – Ele concorda depois de um tempo.

No final, quem teve que carregar a princesa para a cama foi eu, já que a pessoa que concordou e a mais forte entre nós não queria entrar em contato com ela.

Depois de delicadamente coloca-la na cama ao lado do meu pai também desmaiado, voltamos na ponta dos pés para o quarto de hóspedes. Tranquei a porta quando o Shinki passou, nos dando privacidade. Suspiro.

— Quero sentir aquele calor de novo. – Shinki fala simplesmente e cai com tudo na cama.

Cutuco-o com meu pé, mas ele não reage. De repente ele começa a se transformar numa cobra, me surpreendendo. Esse cara é muito aleatório... Suspiro pela milésima vez aquela noite, tentando me acalmar. Dou a volta na cama e me deito ao seu lado, esperando o sono vim.

*30 minutos depois*

— Sério que cobras dormem com os olhos abertos? – Pergunto a mim mesmo, enquanto mexia no celular vendo curiosidades sobre cobras. Olho para a cobra encima de mim, iluminando seu rosto com o celular. Surpreendo-me quando vejo seus olhos abertos. – Hey, você tá acordado? – Pergunto, mas não recebo reação por parte dele. – Ok...

Fiquei até às 3 horas da manhã mexendo no celular, até que a cobra começou a se remexer. Olho para ela, seus olhos vermelhos me encarando. Entendi o que ela quis dizer, então deixei meu celular de lado e me concentrei em dormir. Depois percebi que ela estava era com frio mesmo, já que começou a se esgueirar para baixo da minha camisa.

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Acordei vendo minha animação para levantar da cama saindo pela janela, dando tchauzinho e viajando para o espaço-além. Sorrio com essa metáfora, ainda bem que não me matei... Tenho que viver mais por mim mesmo... Fazer mais coisas para mim mesmo, ser mais rebelde...

Um braço interrompe meus pensamentos. Shinki estava me abraçando por trás, não apenas com o braço, mas com a perna também. Arrepio com o contato de sua pele na minha... Por que caralhos minha camisa está rasgada?!

— Por que minha camisa está rasgada? – Pergunto num tom ameno, diferente do meu temperamento neste momento.

— Acabei me transformando enquanto dormia. – Ele dá de ombros. Nem uma desculpa? 

Suspiro e me levanto da cama com dificuldade, já que ele não queria me soltar. Visto uma camiseta nova e uma blusa de frio por cima. Coloco a camisa rasgada dentro da mala, planejando algum dia jogá-la no lixo.

— Se transforme em cobra. – Falo baixo em frente à porta, prestes a destrancá-la. Ele se levanta da cama e me abraça, se esfregando em mim por um momento antes de começar a se transformar em cobra. Alguns momentos depois ele completou a transformação, começando a rastejar para dentro de minha camisa. Coloco minhas mãos no bolso para servir de apoio para ela, que nem no primeiro dia que trouxe ele para a casa do meu pai.

Ouço risadas de crianças e conversas altas vindas do lado de fora. Gente, ninguém sabe se Jesus nasceu nesse dia mesmo, pelo amor do G-Dragon... Suspiro e destranco a porta.

Atravesso o corredor desviando dos meus primos e estava prestes a entrar na sala quando percebi que estavam falando de mim. Me agacho.

— Joana, você acha mesmo que o Lucas faria algo assim? –A irmã do meu pai pergunta.

— Ele realmente é gay? – A esposa do meu tio pergunta. Pelo visto só havia mulher naquela sala.

— Eu acho... Não, tenho certeza que o vi ontem com outro homem na cama. – A voz de Joana começou meio baixa, mas logo depois foi ganhando força. Pude sentir a cobra se remexer em minha pele.

— Tia, tem certeza que não foi um sonho? – Minha prima favorita fala, parecendo segurar o riso. Ela era filha do meu tio parte pai, que tinha duas filhas. Miriam era essa que tinha acabado de falar. Micaela, sua irmã, de alguma forma parecia gostar de mim, por isso a evitava.

— Tenho... – Minha madrasta fala quase num fio de voz.

— Se eu fosse a senhora tomava cuidado, dizem que sonhos são nossos desejos internos. – Miriam começa a rir de uma vez.

— Primo, o que está fazendo escondido?! – Um dos malditos fedelhos dos meus primos pequenos pergunta. Olho para trás e lá estava o bochechudo do Miguel. Aperto suas bochechas um pouco zangado, mas me levanto.

— Bom dia... – Dou uma risada nervosa

— Cadê a cobra maldita? – Joana pergunta, pelo visto nem um pingo arrependida. Sorrio um pouco cínico.

— Cuidado como a chama, ela pode ficar mais irritada. Ela está na cama dormindo. – Só não falei “cuidando da vida dela”, pois a raposa que minha madrasta é perceberia que eu estava em posição de defesa. Pude perceber o espanto de todos na sala, menos da minha prima que estava fazendo um ótimo trabalho em segurar a risada. Ela até recebeu um tapa da mãe dela, mas ai que ela teve que tampar a boca com a mão para evitar o riso. Micaela estava soltando o ar pelo nariz, também segurando a risada.

— Você, cuidado como f- Joana foi interrompida.

— Como assim ele está mantendo uma cobra aqui?! Eu tenho alergia! – Uma das minhas tias fala, gritando. As outras começaram a querer ir embora também, se esquecendo por um momento que tinha um homem na minha cama. Meu pai e meus tios entram meio ofegantes.

— O que está acontecendo?

— Como assim seu filho tem uma cobra aqui, Jake?! – Uma das minhas tias pergunta.

Meu pai suspira e olha para sua esposa com pesar.

— Ela é domesticada, ele pode controla-la. – Meu pai fala como se fosse uma ordem. – Ele pode até mesmo lhes mostrar alguns truques. – Ele me encara, me impedindo de retrucar.

— Eu passo. – A tia que tinha alergia fala, saindo da sala, mas pelo visto todos estavam meio curiosos com essa cobra. Suspiro.

— Vou pegar ela. – Vou em direção ao quarto de hóspedes, eles não poderiam saber que estava carregando essa cobra para cima e para baixo, mas não é como se pudesse deixa-la morrer de frio.

Entro no quarto e fecho a porta. Com delicadeza deixo a cobra deslizar para a cama. Ela me olha com seus olhos vermelhos, me trazendo um calorzinho no peito. Não resistindo, beijo sua cabeça. Ela rasteja pela cama e começa a subir em meu tronco, até seu rostinho estar de frente ao meu. Ela esfrega sua cabeça em minha bochecha, como se fosse um gatinho manhoso, fazendo meu coração coçar. Dou outro beijo em sua lateral, me perguntando qual parte eu teria beijado caso ele tivesse em sua forma humana, mas ignoro isso e vou para fora do quarto.


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