Cupidos. escrita por Takkano


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Então, já deu pra notar que eu amo um bom jantar em um bom restaurante, né non??? *w*



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He Cheng parou em frente a porta e ficou olhando para ela. Morou ali durante toda a sua vida e agora não sabia como voltar pra casa. Será que devia abrir e entrar, ou devia agir como um estranho e tocar a campainha? O lugar agora pertencia a He Tian, seu irmão mais novo, então, sim, devia agir da forma correta e tocar a maldita campainha.

Antes mesmo de alcançar o botão na parede, a porta se abriu e Jian Yi o puxou pra dentro sem os devidos cumprimetos.

Cheng entrou sorridente em casa. Fazia um bom tempo que não pisava os pés ali, desde que brigou com o pai, por conta de seu atual relacionamento. A casa parecia mais vazia que o comum, pois muitos móveis haviam sido removidos. Onde estavam todos os criados? Será que Tian havia decidido ele mesmo cuidar da casa? Conhecendo o irmão, Cheng duvidava muito.

— Jian Yi o que você faz aqui, e onde está o Tian? – estranhou o fato da casa estar bregamente decorada. Afinal, de onde diabos havia saído todos aqueles corações de papel e todas aquelas flores cheirando a funerária? Uma figura parada próxima a enorme janela na sala chamou a atenção de Cheng; conhecia aquela silhueta. – Qiu?

— He? – o homem alto e mal encarado não conseguiu conter uma expressão de surpresa quando viu Cheng ali – O que faz aqui?

— Bom, acho que o Tian me convidou pra jantar, mas, e você?

— Eu só chamei o irmão Qiu porque ele tava livre hoje. – Jian Yi deu um tapinha no braço de Qiu que rangeu os dentes.

— Eu não estava livre, você ameaçou se jogar da sacada caso eu não viesse. Tive que desmarcar um compromisso importantíssimo por sua causa, seu idiota. – Qiu ficou vermelho quando Cheng o encarou e sorriu.

— E você nem se lembrou que a única sacada daqui dá direto na piscina não é mesmo? - Jian Yi riu, fazendo Qiu estreitar os olhos – Bom o importante é que estamos todos aqui agora, e vamos aproveitar esse jantar maravilhoso, não é?

— Fico feliz, já que foi o Tian quem me convidou.

Cheng sempre estava disposto a poder fazer algo com seu irmão, até mesmo com seus amigos, embora soubesse que, provavelmente, tudo terminaria em um grande circo.

Cheng sentou à mesa com Qiu bem a sua frente e, praticamente, ao seu lado também, já que a mesa era para apenas duas pessoas. Estava forrada com uma bela toalha vermelha de seda e duas velas aromatizadas; o cheiro de citronela era bem forte. Qiu serrou os olhos quando viu Jian Yi , He Tian e Mo Guan Shan parados ao seu lado, feito estátuas.

— Ah, vocês não vão jantar com a gente? – Cheng olhou em volta. – Vocês não são em quatro?

— O Zheng Xi é muito bom na cozinha, ele quem preparou o cardápio para hoje.

— Uhm, mal posso esperar. – Cheng piscou para Qiu, rindo um pouco.

— Por que estão todos vestidos iguais? - Qiu estreitou ainda mais os olhos com desconfiança.

He Tian, Mo Guan Shan e Jian Yi estavam todos com uma camisa branca com um detalhe preto no bolso esquerdo, e uma calça estilo social, também preta; tudo combinando com os sapatos que imitavam couro.

— Estavam na promoção. – Jian Yi falou com toda segurança que o momento permitiu. Pela porta do outro lado do cômodo, Zheng Xi acenava para os amigos. – Com licença, o primeiro prato está pronto. – o pequeno Mo saiu correndo atrás de Jian Yi.

Não demorou muito e Jian Yi chegou com um prato, todo orgulhoso de si.

— O que é isso? - Cheng ficou curioso com seu prato.

— Ah, claro. Isso é um ‘ce é vixe’.

Ceviche. - Cheng o corrigiu gentilmente.

— Isso. É um peixe picado com cebola e limão.

— Mas, geralmente ele vem cru, cortado em cubinhos, no prato, e sem a latinha… de atum. – Qiu parecia muito estressado. – Além disso você não trouxe o meu.

— Tem certeza, Irmão Qiu, e se você não gostar?

— Mas eu tenho que experimentar pra ver se eu gosto, não?

— Tá certo! Ei Irmão He, se importaria de deixar o Irmão Qiu provar a sua entrada?

Mo Guan Shan, que servia o vinho para Qiu, derramou tudo sobre a mesa, enquanto olhava chocado para Jian Yi.

— Ei garoto, cuidado! – Qiu se levantou rápido sacudindo a camiseta toda úmida.

— Ruivo, como você é descuidado. – Jian Yi correu ajudar Qiu a secar a roupa com o auxílio de um guardanapo.

— Qiu, você está bem? – Cheng perguntou parecendo mais divertido que preocupado.

— Não se preocupe Irmão He. – Jian Yi passou o guardanapo na calça de Qiu, secando o líquido – Ele só tá um pouco molhado aqui, olha. – Jian Yi ficou ali encarando Cheng com uma cara estranha, enquanto continuava a esfregar as calças de Qiu. – Olha tem uma coisa aqui que já tá endurecendo… será que é o vinho?

— Melhor passar água quente. Qiu, vamos lá na cozinha que o Zheng Xi arranja um pouco pra você. – He Tian puxou o braço de Qiu, o levando para o outro cômodo.

— Eu vou ao banheiro, se não se importam. – Cheng se levantou e foi procurar o banheiro.

— Seu imbecil, o que foi aquilo? – Mo Ghan Sahan surtou com Jian Yi.

— Ah eu só quis criar um clima, e quase deu certo.

— Seu palhaço, você e o Tian só me botam em enrascadas. Não contem comigo da próxima vez.

— Na próxima vez que estivermos juntos com esses dois, será numa linda e farta cerimônia, no Caribe, e o Zheng Xi e eu, e você e o Tian seremos os padrinhos.

— Fale por você mesmo, eu que não quero fazer parte dessa família problemática deles.

— Olha, eu não quero te decepcionar Ruivo, mas, você já é parte dela.

— Idiota!

Cheng voltou e se sentou na mesa. Qiu ainda levou um tempo para aparecer. Quando chegou, parecia tudo resolvido e uma mancha bem discreta quase não podia ser vista em seu jeans.

— Está tudo bem ai, Qiu?

— Sim, ainda bem que não vim com a calça clara, teria sido uma tragédia.

Cheng soltou uma leve risada do drama de Qiu.

Nesse momento He Tian fitou o rosto do irmão com curiosidade. Nem se lembrava mais da última vez que o viu rir daquela forma tão verdadeira e sincera. Talvez há uns bons anos atrás, quando caçavam minhocas…

A lembrança do irmão naquela época ainda feliz de suas vidas, acabou trazendo um pouco de alegria também para He Tian, que esboçou um belo sorriso enquanto continuava a olhar para Cheng.

Cheng notou a expressão de felicidade de Tian, mas preferiu ignorar. Sabia que sempre que tentava fazer parte dos momentos felizes da vida do irmão, parecia conseguir exatamente o contrário; deixá-lo triste de novo.

— Seus amigos são super estranhos. – Cheng sorriu, tentando puxar assunto com o irmão.

— É eu sei, mas são tudo gente boa e decente.

— Não tenho dúvidas quanto a isso, Tian.

— Eu tenho. – Qiu fechou novamente a cara quando viu o prato chegando com um amontoado de sanduíches nele. – Não era um ravioli de gorgonzola com bisque de lagostim?

— Massa. – Jian Yi pegou uma fatia de pão de um dos sanduíches e balançou na frente de Qiu – Queijo . – Jian enfiou o dedo numa pasta verde esbranquiçada. – E a bisque ainda tá bem fresca. – pegou um camarão, provavelmente cru, e ajeitou sobre a outra fatia de pão. – Foi o Ruivo quem comprou os ingredientes, ele nem deve saber a diferença entre camarão e lagostim.

— Oe, eu sei sim, aliás, eu trabalho muito, e frutos do mar fazem parte dos meus bicos como ajudante lá na feira. Inclusive, sei também a diferença de preço entre eles, e o que você disponibilizou mal deu pros camarões.

— Parabéns Ruivo, essa foi a sua maior fala até agora.

— O problema é o cozinheiro. – Ruivo bufou. É claro que gostaria de estar no lugar de Zheng Xi; isolado e sozinho. – Eu faria um banquete com metade das mercadorias ruins que vocês compraram.

— Ei, não fale assim do Zheng Xi, ele está acompanhando um programa de culinária há meses.

— O que acham da gente esquecer o jantar e nos sentarmos lá na sala pra tomar um café e conversar um pouco?

Todos concordaram com a ideia de Cheng, e foi de consenso geral que o pequeno Mo passasse o café.

As poltronas pareciam ter sido estrategicamente separadas; em pares.

O pequeno Mo tomou o cuidado de puxar a sua um pouco mais pra longe, o que não adiantou muito, já que depois que Tian se sentou ali, ela passou a se mover sozinha e voltou a colar na sua. Jian Yi parecia ter se esquecido que haviam duas, quando ‘acidentalmente’ se sentou no colo de Zheng Xi, sendo ‘arremessado com cuidado’ para o lado logo em seguida. Cheng e Qiu se sentaram no outro par. As poltronas estavam tão juntas, que as mãos se tocaram ao se apoiarem. Trocaram um olhar mais significativo, o que deixou o restante dos espectadores bastante animados.

O clima ficou engraçado, principalmente porque todos olhavam de Cheng para Qiu, como se esperassem por algum acontecimento épico entre eles. Jian Yi resolveu utilizar de todo o seu lado sociável e comunicativo pra tentar fazer Cheng e Qiu entenderem porque estavam ali hoje.

— Então, Irmão He, conte para nós, como foi que você e o irmão Qiu se conheceram?

Todos olharam para Jian Yi como se já pressentissem alguma de suas gafes.

— Bom você não vai acreditar, mas foi por escrito.

— Sério? Tipo uma carta? – Jian Yi pareceu empolgadíssimo.

— Sim. – Cheng tomou um gole do café, afastando o copo com uma expressão satisfeita – Mais conhecido como currículo.

— Poxa, que lindo, me fez lembrar a história dos meus pais, sabe. Quando eles se apaixonaram perdidamente e se casaram logo em seguida. – Jian Yi piscou sonhador.

— Sua mãe também contratou seu pai como segurança? – Qiu entortou a cara com a conversa estranha de Jian Yi.

— Jian Yi, você se esqueceu de oferecer o acompanhamento para o café. Vem, eu te ajudo a pegar uns bolinhos. – He Tian saiu arrastando Jian Yi para a cozinha.

Na cozinha, Jian Yi começou a preparar uma bandeja.

— Sua mãe contratou mesmo seu pai antes deles se casarem?

— Claro que não. Só falei aquilo pra não ficar estranho.

— Você não tem uma boa noção do que é normal e do que é estranho, não é?

Jian Yi pegou a bandeja ignorando Tian, e voltou à sala, a dispondo sobre uma mesa no centro. O garoto continuou a sorrir sem notar a tensão no ar.

— Pra mim já chega. – Qiu se levantou irritado. – Só tem maluco aqui.

Na bandeja que Jian Yi serviu, havia mais alguns sanduíches de camarão com gorgonzola.

— Desculpe Tian, também tenho que ir. – Cheng se aproximou do irmão, o surpreendendo com um caloroso abraço – Adorei o jantar. – Cheng sussurrou pro irmão – Foi tão engraçado.

Os dois se encararam por um tempo e acabaram rindo.

— Qiu, será que você pode me levar pra casa, já está muito tarde.

— Claro He, será um prazer te acompanhar.

Cheng sorriu passando por Qiu, que ficou vermelho feito um dos camarões do prato. Os dois se despediram dos garotos e deixaram a casa de Tian.

— Poxa, não pareceram curtir muito o jantar romântico que fizemos especialmente pra eles. Será que o irmão Qiu é alérgico a frutos do mar? – Jian Yi parecia intrigado com a aparente fuga de Qiu e Cheng.

— Talvez ele seja alérgico a sanduíches de camarão com café. – Tian rolou os olhos.

— Ou a ‘ce é vixe’ de atum servido na lata. – Zheng Xi pareceu decepcionado.

— Ou vinho; servido nas calças.

O pequeno Mo completou o óbvio, recebendo apenas uma chuva de almofadas por parte de Jian Yi e Zenhg Xi, enquanto Tian tentava servir de escudo a seu amado.

***

Quando finalmente chegaram em casa, os dois desabaram no sofá, sem mais força alguma para chegarem ao conforto de sua cama. Qiu era quem parecia mais chateado.

— Desculpe por isso, Qiu. Eu sei que você queria fazer algo especial no nosso aniversário de um ano.

— Deixa pra lá. De qualquer forma, eu ia mesmo te levar pra jantar fora. – Qiu suspirou frustrado. – Economizei quase oito meses de salário só pra conseguir uma reserva no Don.

— No Don? – Cheng conhecia bem o Don que, por sinal, era o restaurante mais caro da região, e mesmo que pudesse pagar por aquele jantar apenas com o que tinha na carteira, Cheng sabia que Qiu ficaria ofendido, caso ele se propusesse a isso. – Poxa, que pena, Qiu. Mesmo assim, eu me diverti muito. Fiquei feliz que o Tian se preocupa com a minha felicidade afinal. Foi engraçado ver eles tentando juntar a gente.

— É foi engraçado. E foi incrível ver o seu irmão tentando ajudar também. Não acha que devemos contar pra eles?

— Claro, eu adoraria poder dividir o momento mais feliz da minha vida com o Tian e os amigos dele. – Cheng se levantou empolgado, pegando novamente a carteira e as chaves do carro. – Se a gente correr, podemos pegar os meninos e fazer outra reserva no Don; tenho meus contatos.

Qiu só queria se matar agora. Jantar com aqueles quatro, em um restaurante caro, sairia mais caro ainda.

Mas, o importante era que Cheng estava ao seu lado, e feliz. Além disso, da próxima vez que estivessem juntos, seria em uma bela e paradisíaca ilha no Caribe, casados, e o mais importante; sozinhos.


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Notas finais do capítulo

Coitado do Qiu, totalmente iludido.



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