Redenção escrita por Boadicea


Capítulo 6
Parte I - Quarto Dia: Nuances e Sombras


Notas iniciais do capítulo

Antes de qualquer coisa, quero agradecer a todos vocês por continuarem acompanhando esta fic mesmo depois de todas as minhas demoras, hahahah ♥
E há algum tempo eu perdi um dos meus gatinhos, infelizmente. Tem sido muito difícil, mas... Leon, meu garoto marrento, esse capítulo é todinho dedicado a você.



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Parte I: O Florescer da Primavera em meio a Escuridão

 

Abro os olhos lentamente, esperando que de repente eu esteja em mais um dos esconderijos da Akatsuki. Que eu esteja em qualquer lugar, menos nessa realidade impossível.

Mas assim que me sento na cama, olho ao redor e encontro uma janela aberta, o chão de madeira polida, a mesa repleta de frascos e equipamentos médicos...

Ainda estou em casa. Ainda estou preso aqui.

Espreguiço-me lentamente e vou até a mesa, encontrando um bandeja em cima de alguns livros empilhados. Mesmo que a contragosto, levo a xícara de café aos lábios e pego o pequeno bilhete colocado embaixo dela.

 

"Sasuke-kun,

Espero que esteja mais calmo.

Por favor, não se esqueça do que combinamos ontem: estou te esperando no jardim para consertarmos a bagunça que vocês dois fizeram.

Vá para lá assim que terminar o café.

Sakura."

 

Tsc. Quem essa irritante pensa que é para falar comigo desse jeito? Vá para lá assim que terminar o café? Por acaso ela acha que sou um moleque que ela pode ditar o que fazer ou não fazer?!

E, francamente, do que nós combinamos? Eu nunca combinei nada com ela. Nem nesta realidade maluca, nem em minha realidade de verdade.

E, mesmo assim, ela diz algo que quase faz parecer que somos um casal prestes a ter um encontro tranquilo em uma bela manhã! Tsc.

Cerro meus punhos só de pensar na audácia dela e na forma como, mesmo tendo consciência que está me tirando do sério a cada minuto que passa, Sakura continua a agir da maneira mais doce possível.... Acho que esta versão mais velha dela, oficialmente, perdeu a noção do perigo.

Amasso o papel em minhas mãos e bato a xícara, agora vazia, com força em cima da bandeja, estilhaçando a peça delicada.

E, com o sangue já começando a latejar em meu corpo, me dirijo para a droga do jardim.

Melhor acabar logo com isso.

 

♦♦♦

 

Avisto ela assim que coloco meus pés na parte detrás da casa. O cabelo rosa está solto e esvoaçante com o vento, trazendo um cheiro doce até mim... uma mistura do cheiro dela com as mudas de flores espalhadas ao seu redor.

Está usando um vestido branco, que parece combinar perfeitamente não só com o tom dos seus cabelos excessivamente coloridos, mas também com o sorriso sereno em seu rosto.

Me aproximo a passos pesados, já de mau humor por conta daquele bilhete idiota e dessa situação ainda mais ridícula, e quase sinto meu coração falhar quando ela se vira em minha direção.

A claridade do sol ilumina seu rosto, completamente sorridente, trazendo ainda mais luz aos seus olhos. Perante a iluminação daqui, os olhos dela parecem verdes demais. Brilhantes demais.

Olhar para Sakura agora é como mergulhar fundo em minhas lembranças, como estar de novo frente a frente com a garotinha irritante que era minha companheira de time. A garota sempre tão cheia de vida e que parecia estar sempre no melhor estado possível de si mesma. A garota irritante que me olhava com aqueles olhos brilhosos demais e sorrisos exagerados.

Sorrisos que não combinavam comigo e minha existência fadada a escuridão.

Sorrisos calorosos que ainda não combinam nada comigo.

É estranho.

Neste momento, essa mulher se parece mais com a Sakura que conheço do que a da minha própria realidade.

E é este pensamento que me faz desviar os olhos, perturbado de repente. Eu despenquei nessa realidade estúpida assim que me recuperei do transplante dos olhos de Itachi. Dias depois de tê-la visto na ponte do País do Ferro, me encarando com o olhar mais perdido que já vi em seu rosto.

Decepção, medo, raiva... Mesmo minha visão estando embaçada, eu ainda me lembro de que foi isso que vi refletido em seus olhos. E de como isso me chocou.

Eu via a silhueta de uma garota que se parecia demais com a Sakura, tinha sua voz enjoativa.... Mas não se parecia de verdade com a minha ex companheira de equipe. Desde os olhos verdes até o cabelo cor de rosa... Tudo parecia desbotado demais.

Eram os meus olhos? Eu estava quase cego por ter abusado demais do Mangekyou Sharingan e por isso não pude vê-la como a vejo agora, ou ela realmente tinha perdido a determinação em seu olhar? Ela realmente estava diferente?

— Sasuke-kun — a voz enjoativa dela é o que me desperta dos meus pensamentos.... Meus pensamentos no mínimo ridículos. O que eu estou fazendo? — Como passou a noite?

Não respondo, apenas me recosto em uma árvore perto dela e olho com desgosto paras as plantas ao seu redor.

— Eu pensei em aproveitar que você queimou uma parte do meu jardim — ela me lança um olhar enraivecido antes de continuar — e remodelar um pouco as coisas. É claro que não dá para mexer nas árvores grandes, mas pensei em colocar essas flores a mais. Gosto do verde vistoso da grama, mas as flores dão um ar mais aconchegante, não acha?

— Você está mesmo firme nessa ideia ridícula de querer que eu fique aqui brincando de casinha com você? — falo, já irritado, e minha voz sai rouca pelo tempo que ficou em desuso. Vejo o que parece um leve arrepio percorrer seu corpo e estreito os olhos em sua direção. Mas ela não faz nada, apenas continua lá, sentada no chão com seu vestido se esparramando ao seu redor na grama ainda úmida pelo sereno da noite. Talvez tenha sido só impressão minha.

— Não estou aqui para brincar, Sasuke-kun — ela suspira pesadamente antes de voltar a falar, dessa vez com o tom de voz mais sério — Estou aqui para finalmente termos uma conversa decente e entendermos tudo melhor. Ou pelo menos tentarmos.

— Não há nada para ser entendido. Exceto que tudo isso nunca vai acontecer.

— Não mesmo? Então como você pode estar aqui?

— Não interessa como vim parar aqui! Se eu viajei mesmo no tempo, então estou aqui para entender onde errei e reverter essa situação logo. Ou talvez eu devesse avançar em Konoha agora mesmo, quando ninguém está esperando por isso.

Ela analisa meu rosto atentamente por alguns instantes, se demorando em meus olhos escuros, e então finalmente volta a falar:

— Você não ganharia de nenhum de nós nessa situação, então sequer passaria do Distrito. Quanto mais destruir Konoha.... E você sabe muito bem disso, senão não estaria aqui comigo. Mas este assunto nós já esclarecemos ontem, não é mesmo? Prefiro seguir em frente e debater outras questões com você.

Abro meus lábios em um sorriso sarcástico, ganhando um olhar irritado por parte dela. Ela realmente acredita nas baboseiras que acabou de dizer?

— Bem... No entanto, apesar de tudo, acho que concordamos em um ponto: você está aqui para entender onde errou. Onde precisa acertar.

— Ah, cale a boca.

— Estou falando sério, Sasuke-kun. Viajar no tempo... Até você aparecer aqui nós sequer imaginávamos que algo assim era possível. Deve ser um jutsu muito poderoso, que não pode cair em mãos erradas. Mas mais do que isso... Por que você está tendo esta oportunidade única, dentre tantas pessoas no mundo? Não importa a forma como se olhe para isso, é mesmo uma situação inusitada e é normal que fique perdido. Mas independente se é sobre seus erros ou acertos... O que importa é que você realmente consiga aprender algo com essa experiência. Que você realmente consiga as respostas de que precisa.

— Está querendo me dar lição de moral, Sakura? Não venha me falar de erros e aprendizagens como se soubesse algo da minha vida! Como se entendesse algo do que passei!

— Sasuke-kun... — ela começa, a voz mais macia do que quando cheguei, mas não a deixo terminar.

— Você não é melhor do que ninguém na merda dessa vila, Sakura! Assim como todos eles, você também sorriu às custas do sofrimento do Itachi! Do meu sofrimento! Da minha família! De todo o meu clã! Você e o Naruto estavam sempre sorrindo, não é mesmo? Deve ter sido fácil ter seus pescoços salvos e continuarem com sua vida tranquila enquanto tudo recaía na costas do meu irmão!

— Sim, foi muito fácil ficar sozinha nessa vila enquanto você e o Naruto seguiam seus caminhos. Foi muito fácil escutar meus próprios pais dizerem que eu deveria desistir de uma vez por todas da vida como Shinobi, que eu não tinha talento para isso — assim como todos do meu miserável clã. Foi muito fácil ver meu melhor amigo ser caçado como um animal por ninjas extremamente poderosos, enquanto quase se matava em uma busca incessante pelo ex companheiro de time, tudo porque me fez uma promessa. Uma promessa que só aconteceu porque eu fui fraca demais para impedi-lo de ir embora. Foi fácil demais ficar para trás enquanto partiam atrás de você, porque eu seria apenas um estorvo na missão. Ver a forma como meus amigos voltaram todos arrebentados, quase mortos, porque eu fui infantil demais ao ponto de implorar ao Naruto algo que ele não podia cumprir. Ficar nessa vila, vê-la ser destruída bem diante dos meus olhos, ver tudo e todos que eu amei... começando por você, se perdendo na vida porque eu era fraca demais para fazer qualquer coisa para impedir, foi extremamente fácil. Você não faz ideia do quanto.

Sakura despeja tudo isso em cima de mim em um fôlego só, seu peito subindo e descendo de forma levemente acelerada. Mantenho meus olhos firmes nos seus, tentando arrancar alguma coisa de lá de dentro. Mas os olhos de Sakura já não estão mais tão brilhantes quanto quando cheguei aqui. Neste momento, seus olhos me lembram mais da mulher que vi na ponte do que da garotinha que gritava aos quatro ventos que me amava.

Então, de repente, ela baixa o olhar e diz em um sopro de voz:

— Mas claro que nada disso se compara com tudo o que você e sua família passaram, não é, Sasuke? — e, apesar da sua voz sair doce, eu consigo ver perfeitamente uma sombra de sarcasmo em seus lábios. E, pela primeira vez desde que nos conhecemos, não ouço o sufixo “kun” associado ao meu nome.

— Não, não se compara. — digo, meu olhar ainda firme em seus olhos — Você é idiota por acaso?

— O quê?

Suas sobrancelhas se franzem levemente, claramente em dúvida se me ouviu direito. E, para ser bem sincero, eu preferia ter ficado quieto quanto a isso. Mas é inevitável, as palavras simplesmente escapam da minha boca sem minha permissão. Porque, para começar, isso não pode ser verdade.

Como Sakura ousa pensar dessa forma?

— Esse tempo todo... Você realmente passou todos esses anos vendo a situação dessa maneira? Era assim que você enxergava tudo?

— Não sei se estou entendendo onde você está querendo chegar... — ela me olha meio desconfiada, as sobrancelhas ainda franzidas.

Eu não consigo acreditar nisso. Em todos esses anos, eram esses os pensamentos da Sakura?

— Você se culpou — deveria ser uma pergunta, mas sai mais como uma afirmação, pois finalmente estou começando a entender — Você se culpou pelo que aconteceu? Por eu ter ido embora?

— O que mais você esperava? — dessa vez, não há sarcasmo em sua voz. Não há nada, nem mesmo mágoa. Sua voz, sempre tão doce, está seca e indiferente. E seus olhos voltam a me fitar, mas sem o brilho de sempre. Sem o brilho com que sempre imaginei Sakura revestida.

Olhando para Sakura agora, suas palavras anteriores parecem ainda mais ridículas do que quando ela as pronunciou.

Porque, olhando para ela, a impressão que tenho é que Sakura não se importa. De que não faz mais diferença.

Eu não faço mais diferença para ela. 

Institivamente, cerro meus punhos e trinco meus dentes. O que é isso? Como é possível?

Essa Sakura parada à minha frente não combina mais com esse bonito e leve vestido de algodão branco, nem com os sorrisos doces que estavam sempre em seu rosto.

Ou quase sempre.

Eu ainda me lembro da expressão dela na Floresta da Morte, durante o Exame Chunin.

Aquele olhar desesperado, a voz embargada.... Os machucados espalhados por seu corpo, maculando a pele que parecia ser tão macia...

E seus cabelos...

Foco meu olhar neles agora. Estão curtos, como permaneceram desde aquela época. Por quê?

Se este é mesmo o futuro, então ele não faz sentido nenhum.

Se este é mesmo o futuro, então talvez ele seja pior do que o presente.

O que aquele homem, que diz ser minha versão do futuro, fez com a minha Sakura?

Porque essa mulher parada à minha frente não pode ser a mesma que deixei para trás quando fui embora da vila.

Não, a Sakura que conservei em minha memória era o próprio sol. Era a primavera que ameaçava afastar a escuridão da minha vida.

Escuridão, esta, à que eu sempre estive destinado.

É minha culpa...?

Não, é culpa daquele homem. Aquele que acha que sou eu, mesmo que com certeza não seja. Não pode ser.

Porque eu nunca quis fazer isso com ela. Eu nunca a transformaria nisso. Jamais permitiria que acontecesse.

Então, é este o resultado de anos casada comigo? Se casar com um vingador como eu sugou toda a vivacidade da garota mais alegre que já conheci?

Eu nunca faria isso.

Mas... Não foi exatamente por isso que fui embora?

Eu sempre soube que alguém como a Sakura não poderia ficar com alguém como eu.

Ela merecia uma vida completamente diferente. O seu destino e o meu... Estão em caminhos completamente separados, opostos.

Conforme o tempo passava enquanto eu estava em Konoha, eu ia me dando conta disso.

Fiquei com eles, fiz amigos, me permiti viver de novo após perder tudo... E esse foi o meu fracasso. Se eu tivesse cortado meus laços desde o começo, teria matado Itachi no momento em que o reencontrei.

Se Sakura Haruno e Naruto Uzumaki nunca tivessem surgido em minhas vidas, eu teria matado meu irmão ainda naquela época.

E este seria meu maior arrependimento, mas pelo menos nada disso estaria acontecendo. Eu poderia já ter destruído Konoha, esse futuro ridículo não estaria se abrindo à minha frente...

Qualquer que seja a razão pela qual estou nesta espécie de realidade alternativa, não interessa. Porque por mais que eu esteja vivendo cada momento que passo aqui, sei que não é real. Não pode ser. Não de verdade.

Eu nunca vou deixar isso acontecer.

Esse futuro está fadado a se desmanchar assim que eu conseguir ir embora deste lugar.

Suspiro pesadamente, desesperado para acabar logo com isso.

Essa Sakura na minha frente não pode existir. Não, eu quero a minha Sakura de volta. A Sakura de verdade, a Sakura que guardei dentro de mim.

Dou alguns passos em sua direção e ela se afasta, o mesmo olhar indiferente ainda em seus olhos.

Me abaixo e pego uma das mudas de flores que ela trouxe. A tiro cuidadosamente do caixote de madeira e do plástico que envolve suas raízes.

Nunca entendi de flores e não sei sequer o nome desta que seguro. Mas suas pétalas são delicadas, embora o caule pareça firme. Está quase totalmente florida, apenas um botão ainda espera para desabrochar.

Ergo novamente meu olhar para Sakura e coloco a flor em suas mãos.

— Você deveria plantar esta. — digo e vejo um levíssimo sorriso começando a se espalhar por seus lábios.

Sim, esta é a Sakura Haruno que conheço. A que nunca deveria deixar de existir.

Assim como as pétalas de um suave rosa claro da flor que coloquei em suas mãos, os olhos de Sakura voltam a brilhar um pouco.

Silenciosamente, pego a pá que está caída ao seu lado e me encaminho para debaixo da enorme árvore de Cerejeira que logo irá florir.

Trabalhamos nas flores que circundam o perímetro até a hora do almoço. Ela corre até a casa e volta com dois bentôs em suas mãos, que comemos em silêncio, apenas o vento passando ao redor de nós.

Mas aos poucos, durante à tarde, Sakura volta a tagarelar alegremente sobre as flores e todo o jardim, assim como outros assuntos amenos.

E, pela primeira vez na minha vida, fico feliz em ouvi-la falando sobre futilidades. Por mais enjoativamente doce que sua voz seja, prefiro ter que aguentar seu timbre irritante do que aturar seu silêncio.

Pois se tem algo que não combina com Sakura Haruno, este algo é o silêncio. Assim como todas as plantas ao nosso redor, Sakura exala vida e alegria e é assim que deve permanecer.

Quando terminamos, ela finalmente para de falar e olha ao redor com um sorriso satisfeito, claramente feliz pelo resultado. Plantamos gerânios vermelhos por todo o perímetro, contornando a cerca. Aguamos a área que foi queimada e imagino que logo a grama irá crescer novamente, voltando a ficar tão vistosa quanto antes. Arrastei um banco de madeira que estava nos fundos da casa para debaixo da enorme Cerejeira e penduramos gerânios pendentes brancos nos galhos dela.

Na outra extremidade do jardim, um imponente Carvalho se ergue. Deste aqui eu me lembro bem, é a única planta que fazia parte do Distrito quando morei aqui com minha família.

E provavelmente é tão velho quanto todas as casas desse lugar. A Cerejeira que foi plantada na outra ponta do jardim, não combina nada com ele. Apesar de já estar bem robusta, a árvore com certeza é nova: não só não me lembro dela, como suas folhas transmitem uma jovialidade e delicadeza que com certeza não existem no Carvalho. Mas, apesar disso, seus galhos mais altos parecem quase se encontrar no começo do céu, como se estivessem tentando alcançar um ao outro.

Ao redor do pé deste carvalho, plantamos as flores cor-de-rosa que entreguei à Sakura. Tenho certeza que, se meu pai visse isso agora, provavelmente ficaria furioso por termos enchido tanto este lugar com cores, principalmente essa ´pobre árvore velha.

Mas minha mãe... Ah, Mikoto Uchiha adorava flores. Ela vivia resmungando para meu pai sobre o quanto queria um jardim decente, sobre como deveríamos aproveitar melhor o espaço verde que todo o Distrito possuía.

Ela chegou até a prometer que, se ele permitisse que ela cultivasse flores, manteria sempre as cores do clã: branco e vermelho – como Sakura e eu fizemos com as flores que ela chamou de gerânio. Bom, exceto pelas rosa-claro e a cerejeira, que destoam do nosso símbolo.

Mas duas pequenas exceções não matam ninguém, matam?

Deixo um pequeno sorriso de canto se formar em meus lábios ao pensar nisso.

Mãe... Se a senhora pudesse ver este lugar agora, ficaria realizada, não é?

Acho que o Distrito Uchiha finalmente está do jeito que você queria... Repleto de cores e flores.

Você acha que seu lugar, esta casa... Estão em boas mãos?

— Sasuke- kun — a voz de Sakura me traz de volta a realidade, mais uma vez — Queria te pedir para ficar na casa esta noite e, uma última vez, jantar sozinho no quarto em que está ficando. Sasuke-kun.... Quer dizer, o meu Sasuke-kun, o deste tempo, ainda está meio desconfiado de você. Mas não se preocupe, vou dar um jeito nisto esta noite. Prometo que amanhã você poderá parar de ser tratado como um prisioneiro! Mas vou ter que pedir que não adentre a vila, ou podemos ter problemas se alguém ver uma versão adolescente sua perambulando por aí.

Não a respondo, apena sigo para dentro da casa, novamente. Este jardim está me deixando maluco, todas essas flores ao nosso redor estão me tirando do sério, embaralhando meus pensamentos.

Eu preciso ir embora desta realidade o mais rápido possível.

Preciso deixar Konoha para trás. Deixar esta Sakura, Sarada e esse lugar amaldiçoado para trás.

Antes que eu perca minha vingança de vista. Antes que eu falhe, mais uma vez, com meu irmão.

 

♦♦♦

 

Fico na droga daquele quarto até o cair da noite, tentando colocar meus pensamentos em ordem. Preciso arranjar um jeito de voltar para a minha realidade, mas nada parece ser eficaz. Provavelmente estou preso aqui até que Itachi decida o contrário...

Itachi... Mais uma vez, ele traçou seus planos sozinhos e me manteve no escuro.

Depois de todos esses anos, ele ainda me trata como uma criancinha ingênua.

Por mais que isso faça meu sangue ferver, são as lembranças da tarde de hoje que ainda me atormentam... Sakura naquele vestido branco, com os olhos brilhando e um sorriso gentil no rosto.

E Sakura de pé no meio da jardim, me olhando de forma indiferente... Como isso é possível?

Como alguém pode mudar tanto tão de repente?

Desde que cheguei aqui, cada dia parece me apresentar um lado diferente da garota que já foi minha companheira de equipe, me irritando mais a cada instante.

A Sakura desta realidade oscila tanto entre a Sakura de que me lembro e a Sakura que vi pela última vez em meu mundo que parece quase surreal.

Em alguns momentos, ainda sinto que ela é a menina que se dizia perdidamente apaixonada por mim.

Mas em outros... Ela parece só ter olhos para aquele arrogante de merda que diz ser eu.

Diz ser eu. Porque em nada aquele cara se parece comigo... Quer dizer, olhar para ele é como olhar para um espelho: o mesmo cabelo, rosto, olhos, o jeito de andar.... E até mesmo as técnicas seguem uma mesma linha de raciocínio. As semelhanças são inegáveis.

Mas o olhar dele difere totalmente do meu. Não há ódio queimando no fundo dos seus olhos, não há escuridão além das pupilas...

Ele parece mais uma versão tosca e fajuta minha do que uma versão mais velha.

E a forma como ele fala com a Sakura e até mesmo com a Sarada... Não gosto disso, não gosto nenhum pouco. Ele não tem direito algum de usar aquele tom de voz autoritário com a menina e muito menos de olhar para a Sakura como se os dois fossem cúmplices, como se estivem tendo uma conversa silenciosa e particular.

A forma como eles se olham, como se nada mais ao redor tivesse importância, como se estivessem em um momento só deles... Sinto o Sharingan despertar em meus olhos só de lembrar.

Sarada apareceu para me trazer o jantar, mas não enrolou muito. Saiu tão rápido quanto entrou, dizendo que conversaríamos mais tarde. Mas já passa de uma da manhã e ninguém mais passou por essa porta.

Sinta a brisa fria que entra pela janela bagunçar meus cabelos, mas nem isso me faz adormecer.

Meus pensamentos se recusam a me deixar descansar, continuam bombardeando minha mente com cenas que não quero ver, não quero me lembrar.

Sakura no meio do jardim, com um sorriso satisfeito nos lábios, o seu perfume misturado com o das flores... E minha mãe pedindo ao meu pai por um lugar mais colorido, mais cheio de vida.

Você acha que está bonito o suficiente, mãe?

Balanço a cabeça, tentando afastar esses pensamentos errôneos. Não é este o caminho que tenho que seguir.

Konoha precisa ser destruída. Sim, colocar esse lugar abaixo é a única coisa que irá honrar a memória da minha mãe, ao invés de encher esse maldito lugar com flores resplandecestes!

Me levanto em um rompante e abro a porta do quarto, passando para o corredor o mais silenciosamente possível, decidido a arrancar todas aquelas flores estúpidas se for preciso para que minha mente pare de dar voltas por onde não deveria.

Sigo até o final do corredor e viro no começo de mais um, adentrando outro corredor repleto de quartos, a planta da casa ainda fresca em minha memória. Continuo andando até que um barulho me faz parar, meus sentidos todos em alerta.

Respiro fundo e me concentro no ambiente, o canto das cigarras lá fora vez ou se fazendo presente, dominando os barulhos noturnos. Mas, quase inaudível, um gemido baixo chega até minha audição treinada de ninja.

Dou mais alguns passos em direção ao começo de outro corredor, meus pés se arrastando silenciosamente no chão. Mais uma vez, ouço outro gemido, dessa vez mais alto do que o anterior. Paro em frente à porta de um quarto e sinto dois chakras familiares lá dentro, ambos alterados. Sakura com certeza está lá e quando mais um gemido rouco se faz ouvir, noto que com certeza o som é feminino. Droga.

De repente, um som mais alto corta o silêncio da noite, como um estalo. Como um tapa ou talvez um soco... O barulho de algo se quebrando, provavelmente vidro, vem logo em seguida e meu corpo se mexe automaticamente, se preparado para a batalha.

Levo minhas mãos à cintura e noto tardiamente que estou sem minha katana ou qualquer outra arma. Inferno. Aquele desgraçado as tirou de mim. O que ele está fazendo?

O Chidori se forma em minha mão esquerda, o som dos mil pássaros reverberando na noite ao mesmo tempo em que, com um chute mando a porta do quarto para longe das dobradiças.

Avanço para dentro do cômodo, pronto para a batalha, quando um grito agudo me faz parar.

A primeira coisa que vejo são os olhos dela, arregalados de surpresa, mas brilhando em um verde tão intenso como jamais vi, quase escuros... Desvio o olhar para o restante do quarto e sinto minha garganta se fechando, o Chidori morrendo aos poucos em minha mão.

Há um jarro de flor estraçalhado no chão, ao lado da cabeceira da cama, um rastro de água pingando em cima da cômoda de onde ele deve ter caído.

Uma peça pequena, de renda vermelha, está jogada aos meus pés, não muito longe de um outro pedaço de tecido azul marinho que parece rasgado em alguns pontos.

Uma brisa fria adentra o quarto, vinda das portas abertas da sacada, por onde a luz da lua transborda para dentro do quarto.

Sob a luz prateada da lua cheia, a pele branca de Sakura parece brilhar com gotículas de suor que descem por seu corpo, contornando os seis desnudos e seguindo mais além. Seus cabelo cor-de-rosa está completamente bagunçado e emaranhado, uma mecha escorregando para frente do seu rosto.

Suas duas mãos seguram com força nas costas do homem em cima dela, fincando as unhas na pele ao ponto de deixarem marcas vermelhas por onde passam.

Com uma mão agarrando fortemente o quadril dela e a outra apoiada na cabeceira da cama, ele finalmente desvia o olhar do dela e se vira em minha direção.

Na iluminação precária do quarto, um de seus olhos lateja circunferências roxas e lilases, enquanto o outro brilha mortalmente na cores do Sharingan.

Mas que diabos...?


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Notas finais do capítulo

De todos os capítulos até aqui, acho que este é o que o Sasuke adolescente está mais "tranquilo." Também foi o que mais gostei até agora, embora esse final tenha me dado muito trabalho na hora de escrever... E sobre esse final... Não vou comentar nada a respeito, me digam vocês o que acharam, hahahah
O próximo cap deve sair lá pela semana que vem, se tudo der certo.
Beijos e até lá ♥



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