Qualquer um menos você escrita por Cherry


Capítulo 16
16 - A confiança de um odiado


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?

Muito obrigada pelas visualizações, estarem acompanhando minha fic, fico muito contente por isso. Desejo uma boa leitura a todos.



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Capítulo dezesseis
        A confiança de um odiado


“Porque toda vez que nos tocamos, eu tenho essa sensação
E toda vez que nos beijamos, eu juro que consigo voar
Você consegue sentir meu coração bater rápido? Quero que isso dure”
(Everytime We Touch – Cascada)

— Senhorita Elisa Mayer? — Eu não conhecia essa voz, mas ao me virar e vê-lo com roupa preta e um crachá, sabia na hora que estaria ferrada. Até pensei em mentir e fingir que não era comigo, se não tivesse reagido ao escutar o meu nome.

Dava de ver que era treinado apenas pela expressão de maior indiferença, nem se mexendo direito por tentar suplicar silenciosamente que me deixasse sair dali. Pelo jeito meu maior pesadelo tinha se cumprido e aquela mulher já havia movido o hospital inteiro para me encontrar, até quem sabe minha cara esteja em vários folhetos pelos corredores nessa hora como uma foragida.

— É para eu ficar aqui e esperar a vereadora? — Não quis enrolar porque minha mãe fazia essas coisas com uma certa frequência quando nós vivíamos sobre o mesmo teto que nem me assustava mais.

— Desculpe, mas não está autorizada a sair. — Por míseros segundos o que vi passar pelos seus olhos foi um ar de pena.

Suspirei por causa desse mínimo detalhe antes de voltar a fazer a sua postura de sempre, porque isso significava que conhecia o gênio dela e a história da filha rejeitada que correu pelos jornais. A pobre garotinha que não tinha nem o amor da própria mãe. Mas quem não saberia?

Quando me levantei para pegar chá percebi que observava cada passo meu, era tanto que qualquer um notaria. Quase me virei para perguntar se nem beber em paz podia mais, senão tivesse escutado barulho de passos se aproximando cada vez mais. Eram talvez uns dez guardas e achei que poderiam estar aqui para me prender naquele hospital, mas passaram por mim sem nem me notar e foram até a porta principal.

Infelizmente o seu gabinete era perto demais daqui, porque logo seu carro parou ali na frente e tive de assistir a sua saída sem quase conseguir respirar. Ver seu rosto tão perto era como sentir várias emoções ao mesmo tempo, a maioria eram terríveis ao ponto de me deixar enjoada.

— Ela realmente veio. — O meu sussurro era de desespero e também esperança de que pudéssemos ter uma conversa civilizada. Ao entrar no ambiente deu bom dia a todos com um aperto de mãos antes de se dirigir até mim e fechar a cara.

— Precisamos conversar. — Nem sequer um “oi”? Era como se eu fosse um de seus opositores, quer dizer, pior que isso, pois até eles cumprimenta. — E é em particular. — Claro, não ia querer estragar sua reputação se nos flagrassem aos berros uma com a outra.

Segui atrás dela, sempre vendo suas costas eretas e a cabeça levantada como se fosse o ser mais superior dali. A verdade era que não sei se ia aguentar ver o meu nome novamente nas noticias e ler toda aquela verdade cruel, por isso a obedeci quieta.

— O que deseja de mim, Senhora? — Comecei tão baixo, mas com uma ponta de sarcasmo e vontade de morrer. Tentei esconder a todo custo o tanto que vê-la depois de um tempo mexia comigo.

— Está aqui por quê? — Mesmo que não se virasse sabia que pelo seu tom que era claro o quanto não queria a minha presença aqui.

— Posso nem mais visitar um colega agora? — Foi nesse momento que se virou e pude encarar seus olhos e todo o descontentamento com mais força. Estava com o corpo encostado na parede e tirava uma pasta da sua bolsa.

— Sempre quis que fosse em hospitais e até centros de caridade que ia ser ótimo para a minha carreira, sabe disso. — Isso era o que vinha antes de uma proibição e foi o suficiente para que me virasse para evitar ver o seu rosto nessa hora. — Mas não Daniel.

— A sua carteirada de vereadora não foi o bastante para me expulsarem daqui? — me forçava a rir com essa idiotice, porque era possível que tivesse pedido. — Então sou livre para vir e isso que farei, seja hoje, amanhã ou semana que vem. — Provoquei-a e estava dando certo por ter a afetado tanto ao fincar suas unhas no braço para não deixar uma marca em mim.

— Tem certeza? — Queria dizer “sim” de todas as formas possíveis, mas essa mulher foi me levando até o corredor dos internados e apenas parou quando foi naquela que conhecia bem nesses dias. Nem foi estar ali que me calou, apenas o medo do porquê estávamos nesse lugar.

— Não tenho nada para fazer aqui. — Voltei meu corpo para atravessar todo o hospital e poder ir embora, mesmo sabendo que no instante seguinte teria meu braço apertado por ela me obrigando a ficar para aguentar as consequências.

Fui arrastada alguns passos, já que nem parou mesmo com meus protestos e de falar que estava com o joelho machucado. Ela não se importava com que eu sentia, apenas me jogou no sofá e sentou-se na cadeira mais perto dele.

— Boa tarde, Sra. Mayer. — Deu aquele sorriso social e foi correspondido. — A que devo a sua presença? — Essa educação toda me enoja.

— Soube que Elisa tem te visitado com bastante frequência. — Deu uma parada antes de enfatizar que havia estado junto a ele por mais tempo do que eu deveria. — Por acaso está o incomodando? — O seu jeito de forçar uma confirmação era tão “nostálgica”.

Quando o olhar dele encontrou o meu parecia querer achar algo em mim que fosse a resposta para a sua pergunta, quem sabe ver se estava melhor pelo jeito que sai do quarto há alguns minutos, no entanto para meu desespero isso durou pouquíssimo tempo ao voltar sua atenção para minha mãe.

— Pelo contrário. — Confesso que fiquei surpresa com sua fala, pensei que ia me dedurar sobre estar sendo uma acompanhante bem mau criada por falar de seu instrumento tão amado. — Por que a pergunta?

— Não tem algo para falar? — Aquilo era para mim, eu sabia, talvez um voto de misericórdia antes de me constranger como veio para fazer.

— Sim. — Relaxou o corpo como quem diz que tinha vencido, só que não tinha a mínima intenção de dar esse gostinho a ela. — Amanhã trarei o livro que quer.

Era o limite e estava tentando me preparar psicologicamente para o que ia soltar, mesmo que soubesse que jamais estaria. Queria pagar para ver o porquê disso tudo, de ter saído do seu gabinete para me tratar como se fosse a pior pessoa. E ao me pegar pela mão igual uma boneca e me colocar na cadeira, meu ombro estava sendo apertado por ela como um sinal para que não fugisse.

— Perdoe a franqueza, mas minha filha — e a parada foi a mais longa em toda minha vida por imaginar tudo o que viria. — Te odeia, Daniel. — Poderia ser sim um bom motivo para ter vontade de me enterrar, isso se não tivesse visto aquele sorriso brotar em seu rosto com essa fofoca. E falando a verdade, me confortou o suficiente para agradecer por estar em sua frente.

— Eu sei, fazia questão de deixar isso claro todos os dias se pudesse. — Sua voz calma, mesmo que fraca por causa do aparelho, foi comovente. Como se o que tivesse saído da sua boca fosse a mais linda frase ao invés de confirmar que eu o detestava.

— Não, se está a deixando te visitar tenho a certeza que não. — Era a hora de tirar a sua carta na manga para que fosse proibida de vê-lo a todo custo. — Sabia que ela tem uma foto sua no quarto de tiro ao alvo? Vivia repetindo pela casa o tanto que o jeito que você mexia no cabelo a irritava, sorria, comia ou até mesmo se mexia, só enchendo todo seu rosto de dardos a deixava mais calma.

— É? Fico honrado que me odeie a esse ponto. — E disse isso com uma alegria que beirava a loucura, sem contar que me olhava nesse momento e parecia até estar gostando do quanto ficava mais vermelha a cada palavra.

— Ela criou um fake só para te xingar nas redes sociais e tem uma página sobre você. Deve adivinhar que o conteúdo não é dos melhores. — Não acredito que contou meu segredo como se fosse nada. Sua risada de fumante com tudo isso sendo dito era para me deixar pior, porém me fazia sentir aliviada.

— Então é o @danielzinho123? — Acertou em cheio. — Seus comentários eram uma das melhores coisas do meu dia, obrigado. — Não sei porque está agindo assim e estava detestando como eu reagia a tudo isso, com total satisfação.

— E dela ter exposto que tinha desmaiado e o endereço do hospital para o jornal você também gostou? — Fiquei em choque e pelo jeito ele parecia igual. E para ajudar mais ainda a me intimidar mostrou a matéria. — Elisa não merece estar aqui do seu lado, entende o que digo?

Então era por isso que estava sentindo tanta raiva de mim? Por achar que seria cruel e idiota a esse ponto? Que fofocaria sobre alguém doente apenas por ódio? Ou como ela mesmo disse, para se vingar da mulher que me abandonou? Não conseguia mais olhar para o homem a poucos centímetros de mim, se não capaz de chorar pelo constrangimento, de que achasse também que era tudo verdade, gritasse comigo e obrigasse a sair da sala.

— Respeito a Senhora, só que quem decide se alguém vai me visitar ou não sou eu. — E o choque foi tão grande que me fez virar para ele e engolir as lágrimas que queriam se soltar, para encontrar sinceridade nele. — Sua filha nunca faria uma coisa dessas e prefiro não ouvir mais nada mal sobre ela.

Meu coração batia forte por tudo o que Daniel comentou com sua própria boca, tão surpreendente que não sabia se levantava ou ia abraça-lo, mas apenas fiquei na mesma posição enquanto observava cada parte dele. Como alguém que odiava tanto confiava mais em mim que minha mãe?

Se foi estranho ter ficado desesperada e até triste com a possibilidade de ter que me afastar dele pelo que foi dito, pior ainda era estar feliz por me defender e não poder esconder. O sorriso que soltei sem que pudesse segurar era a prova de que o considerava como amigo. A antiga Elisa com certeza estaria querendo me matar nessa hora.

— Ela não é boa pessoa, depois não diga que não avisei. — Foi como um tapa. — Vai se arrepender. — Esperou um tempo e o silêncio dele a fez sair dali sem nem se despedir.

Quando ficamos sozinhos e não via mais aquele sorriso nele, apenas seu olhar que parecia querer algo de mim. Uma palavra? Uma explicação? O que era? E sinceramente não ia ficar ali para saber a resposta, apenas respirei fundo e sai do quarto a passos lentos. Não ter revidado quando me humilhou por dizer que sou mau caráter me fazia questionar o seu aviso e ter acreditado em mim.

Passei por uma floricultura perto da parada de ônibus e as camélias chamaram a minha atenção, me fazendo lembrar que tinha jogado aquele buquê pela janela e a vontade de ir comprar outro apareceu de repente. Quase que pisei os meus pés naquela loja, mas desisti quando caiu a ficha de que ia de novo comprar algo para que me perdoassem. Não poderia fazer o mesmo de quando tentava a toda hora agradar a minha mãe quando ficava brava, precisava era enfrentar.

Se cheguei em casa nem lembro o que fiz depois disso, tudo parecia rondar no que aconteceu naquele dia, nem sequer a série sangrenta sobre zumbis distraiu a minha cabeça daquelas palavras, não só do Daniel, mas principalmente dessa mulher. Afundei a minha cabeça no travesseiro e gritei, gritei até dormir.

No outro dia tinha me preparado para ir o visitar, até separei o livro que comentei que ia levar, mas então soube que recebeu alta pelo grupo da escola, que depois daquela bronca nem haviam tocado mais no que se passou aquele dia no campeonato. Pelos burburinhos voltaria na semana que vem e poderíamos conversar mais a respeito do projeto, ver se ainda vai aceitar fazer dupla comigo.


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Notas finais do capítulo

Que acharam? Essa mulher é tudo, menos mãe.

A gif não é minha, qualquer erro me avisem.



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