Qualquer um menos você escrita por Cherry


Capítulo 11
11 - Quando o sim é dito


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem? :3

Finalmente chegou o capítulo que esperava, espero que gostem e muito obrigada desde já pelas visualizações.

Desejo uma belíssima leitura.



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Capítulo onze
       Quando o sim é dito

“Os girassóis estavam balançando de acordo com o vento, e eu ainda não tenho coragem de dizer adeus a isso. Nas pequenas rachaduras do meu coração, tristemente queimadas. Se as minhas lágrimas são o que me guiam em direção aos lindos fogos de artificio daquele verão acredito que lembrarei da mesma forma.”
(I Will – Ao Haru Ride)

Aquela partida tinha acabado de alguma forma em empate, só que não prestava a mínima atenção nela. Toda a minha mente parou naquele momento em que o ele caiu no chão e foi levado ao hospital. Que havia acontecido? Era bem grave? Como está? Essas perguntas sem respostas estavam me deixando maluca.

— O que faço? — Comecei enquanto andava de um lado para o outro do lado de fora daquele estádio em que vi um dos melhores jogos da minha vida. Porém dos piores também.

— Como assim? Vamos apenas esperar por notícias dele, amanhã todos ficarão sabendo e nós também. — Disse como se fosse óbvio. — Acho que não está no clima para ir ao shopping, não é? Já liguei para meu pai vir nos buscar. — Como ainda poderia ficar calma desse jeito?

Não sei quando isso aconteceu, mas eu e minha amiga estávamos sentadas em um banco qualquer dali de perto. Era como se tivesse sido teletransportada. No instante que finalmente olhei para a Alison, ela também me encarava, porém, via apenas confusão nela.

— Irei ao hospital. — Estava decidida.

— Nem sabe se vão aceitar visitar ou que entre. — E daí?

— Lá eu descubro. — Nada que falasse seria capaz de me convencer.

— Para com essa bobagem! — Gritou ao pegar em meu braço e tirá-lo do meu rosto. — Que deu para querer vê-lo agora? Você o odeia, esqueceu? — Estava perto o suficiente para sugar toda minha alma e ler pensamentos mais secretos meus se quisesse. Por isso me virei.

— É verdade. — As pernas balançavam naquele assento pela enorme ansiedade que chegava ao ponto de sufocar. — Estou me sentindo culpada, legal? Fui uma grossa e estupida com ele sem nem o ouvir, preciso saber dele seu motivo hoje mesmo, se não acho que vou enlouquecer. — Acreditam que tinha tristeza em minha voz?

Ficou quieta quando ouviu todo meu desabafo e não resisti de me voltar a ela e perceber sua cabeça baixa e as mãos apertando o banco. Seja qual foi a coisa que esteja se passando pela sua mente, não estava gostando nada.

— Só por isso? Não tem algo a mais? — Fiz que não sem nem falar e sua reação foi respirar fundo antes de continuar. Lá vem a bomba! — Você ainda se importa com ele. — Era como se uma lâmpada tivesse se acendido acima dela.

— Já estou ficando de saco cheio dessa sua mania de ver sentimentalismo e o romantismo em tudo. — Rebati ao me lembrar das suas piadinhas.

— Estou falando sério. — Não havia um pingo de ironia em sua expressão e isso me assustava. — Bem lá no fundo sente um carinho por ele, por aquele Daniel de quinze anos que você imaginava ser perfeito. — Escutaram esse absurdo?

— Sinto apenas ódio. — Fiz questão de deixar bem claro. — Só que posso ter cometido uma injustiça das grandes com ele e preciso concertar. — Confessei.

— Não lembrava que era uma Maria Certinha. — Me empurrando com seu corpo enquanto fingia estar rindo disso. Não tinha mudado de ideia. — Mas para qual lugar o levaram? — Fácil descobrir.

— Com certeza do jeito que são fofoqueiros nessa hora deve ter alguma matéria sobre no jornal da cidade. — Eles não iam perder a oportunidade, ainda mais se tratando do craque que praticamente todos daqui conheciam.

— Pior que não. — Respondeu minha amiga ao mexer um tempo no celular.

— Nada no grupo? — Sua cara já dizia tudo.

— Vou ter que falar com a Lídia. — Dizer aquilo em voz alta foi mais doloroso do que eu imaginava, mas não conseguia arranjar outra solução se não essa. — Sendo vereadora daqui já deve saber de tudo. — Minha amiga estava até pálida ao me ver tremendo de nervoso enquanto procurava o celular.

— Faz um ano que não liga para sua mãe. — Fez questão de me avisar.

— Eu sei. — Respondi no automático.

— Tudo isso para ver o Daniel? — O tom era alto e incrédulo.

— Sim. — Olhei para a sua cara ao dizer essas palavras que fariam a Elisa de semanas atrás querer me dar um chute. — Não sou mais uma criança.

— Fico feliz por você, de verdade, mas tinha de ser por causa daquele idiota? — Parecia mais indignada pelo meu motivo do que ter de enfrenta-la.

Um carro parou perto da gente e abaixou o vidro, nossa carona tinha chegado e fiquei contente com isso. Chegaríamos o quanto antes e poderia me sentir bem melhor.

— Ter paz não tem preço, Alison. — Sussurrei.

Era essa a causa de ter a coragem de discar seu número e esperar me atender, poder colocar a cabeça no travesseiro sem peso na consciência, sem ficar todo momento relembrando seu olhar ao ouvir que o detestava antes de se despedir de mim. E a cada vez me sentia mais culpada.

— Você não tem jeito mesmo.

Poderia ter dito atrás de mim, mas mal prestei atenção quando percebi que a chamada já estava começando e os segundos se passando. Coloquei na orelha e respirei fundo, me preparando para ouvir sua voz.

Alô. — Aí está, apenas três miseras letras que foram capazes de me derrubar. Antes ela vinha com apelido, mas agora parecia estar falando com uma estranha.

— Poderia me falar em que o hospital o Sr. Daniel Schutz está? — Perguntei.

A família pediu segredo. — Por isso não encontramos notícia.

— Nem para a sua filha vai dizer? — Perguntei na esperança de ver algum resto de carinho por mim. — Não poderia me fazer esse favor?

Não insista, Elisa. — E desligou sem nem dizer um “tchau”.

A vontade de chorar poderia estar ali querendo aparecer, porém ia segura-la de qualquer maneira. Não tinha mais quatorze anos e jamais daria esse gostinho a ela de novo. Havia se passado tanto tempo desde que entramos em contato uma com a outra e achava que pelo menos ia querer saber como eu estava, perguntar da minha vida, mas a ligação tinha durado nem dois minutos. Esse era o tempo que sempre teve para a gente.

— Desculpa, mas sua mãe é uma vaca. — Acompanhou toda a conversa por ter deixado no viva voz para escutarem o endereço e já irem para lá.

— Provavelmente deve estar no mais próximo daqui. — Do retrovisor conseguia o ver depois de levantar meu rosto para o agradecer em silêncio, mesmo que a vergonha por estar com os olhos marejados ainda estivesse em mim.

— E se não tiver vamos procurar em todos eles. — Completou sua filha e ele fez sinal de positivo, largando aquele sorriso acolhedor que animava qualquer um.

— Obrigada, vocês são os melhores. — Era pouco, mas não conseguia transmitir nada além disso.

— Que fofa! Se não tivesse no banco da frente te esmagaria inteira. — As cenas dela apertando minha bochecha quando éramos pequenas me veio à mente e se fosse outro dia a xingaria, mas agora só o que sentia por ela era gratidão.

Corri para aquele lugar cheio de gente esperando para ser atendido, procurando por algum paciente ou para retorno. A recepção poderia estar cheia, mas fiquei ali mesmo que o cheiro de desinfetante e remédio me deixasse enjoada. Talvez tenha ficado quase uma hora ali e quando chegou minha vez me informaram que não existia ninguém com esse nome no hospital. Era frustrante.

— Desculpa por fazerem virem aqui, se quiserem ir para a casa tudo bem, posso pegar um ônibus. — Comentei quando saímos do segundo e nada dele.

— Não vamos te deixar sozinha a noite. — Respondeu pelo seu pai, quando vi o relógio que percebi que já tinha passado das oito.

— Ele é amigo de vocês? —  Jogou depois de um tempo em completo silêncio e a música melancólica de fundo.

— Não, é aquele Daniel. — Cochichou a Alison, mas entendi muito bem.

Não respondeu nada e nem precisava, esse assunto era um pouco proibido entre as nossas famílias depois de tanto falar mal dele nesses anos. Sei que poderia estar com várias duvidas do porquê querer vê-lo se não era para mata-lo, porém nem eu saberia explicar agora. Quando eu e minha amiga pisamos o pé naquele lugar, demos de cara com uma mulher discutindo com a recepcionista.

— Pelo jeito vai demorar. — Até cheguei a suspirar.

— Não, é a mãe dele ali. — Rebateu e então olhei bem para ela para entender como sabia disso. — Não tem só a Alicia no perfil dele, Elisa. — E riu.

— Melhor nos sentar. — Nem precisava ficar perto para ouvir que precisava de qualquer jeito falar com o doutor.

Quando chegamos a sala de espera estavam Marina e a Luísa ali, porém nem sinal da namorada. Mesmo que me encaravam com cara feia não ia sair, sequer sua aproximação me faria recuar. Era tarde demais, meninas, estava mais do que decidida a vê-lo.

— Ela não tem vergonha, não? — Fez questão de ser alto para me atingir.

Apenas ignorei ao continuar olhando para frente e foquei no objetivo principal: falar com ele. Em minha mente vinham frases que poderia dizer, se era sobre o que aconteceu, nosso projeto, o passado ou simplesmente um “oi” e “tchau” após vê-lo melhor. Quem sabe nem consiga o visitar se estivesse internado na UTI. Várias coisas e nenhuma delas me fazia ter menos nervosismo.

— Finalmente um médico. — Nem sequer soube em qual momento tinha sentado do meu lado, mas me senti aliviada quando vi um homem de jaleco branco. — O Dan está bem? — Com esse apelido só podia ser a mãe dele mesmo.

— Ele está consciente. — Começou e deu uma pausa que dava aquela sensação de vir algo pior depois. — A Senhora sabe que tem problemas cardíacos? — Fez que sim com a cabeça e eu olhei para ela com descrença.

De quase tudo imaginei que tivesse acontecido, talvez tenha tropeçado em algo no campo e batido a cabeça, ficou tonto pelas outras vezes que caiu, mas nada me prepararia para o que acabei de ouvir. Era muita irresponsabilidade da família e dele de ter ido jogar.

— Consegui a ficha dele hospitalar com o especialista e infelizmente seu quadro evoluiu e as fibroses ficaram mais rígidas. — Continuou com a explicação.

— O que isso significa? — Essa foi a Luísa se metendo, porém mesmo que me sentisse bastante incomodada com isso também estava curiosa e sem coragem para perguntar.

— Quer dizer que seu coração não aguentou tanto esforço físico, que o levou a ter quase uma parada respiratória e por isso desmaiou. — Aquilo era tão difícil de assimilar que parecia estar em um pesadelo. Virei para a minha amiga e ela não parecia melhor que eu, seu choque era tanto que nem se mexia. — Por bem pouco que não morreu, Dona Schutz. — Quê?

Senti como naqueles filmes de romance e tragédia em que o cara se apaixonou pela menina e vice versa, mas descobre que ela tem poucos anos de vida pela sua doença e ficamos naquela expectativa do final. Talvez esses sejam os que goste um pouco ainda, mas escutar que alguém tão novo como ele estava nessa situação me fazia sentir horrível. Como seria para quem está namorando alguém que pode falecer a qualquer instante?

— Mas o médico deixou praticar atividade física. — Rebateu a mulher como se fosse tudo por causa deles.

— Com moderação e até foi aconselhado a parar um pouco de treinar até saber se estaria melhor. — Sua cara com isso foi de muita culpa e desespero.

O silêncio naquela sala era enorme enquanto falava, ao meu lado tinham várias pessoas que conheciam o Daniel, seja o que era popular, mulherengo, atleta, o que fingia ser um cavalheiro com a Alicia e agora o viam como um doente. Todos ali tinham uma sensação de pena em seus olhos, mas estava igual a sua mãe, a culpa pelas palavras que falei a ele me corroía tanto que chegava a doer.

— Disse que só ia jogar um pouco hoje e depois nunca mais. — Seu tom de voz era baixinho e choroso. — Posso visitar meu filho? — Quis saber após um tempo.

— Claro, vai ficar feliz em te ver. — Era simpático, mas não o suficiente para me acalmar. Esse senso de justiça está me matando. — O quarto é o 207. — E logo se levantou para ir até lá.

— Preciso olhar para ele, Alison. — Sussurrei quanto estava se afastando para que os outros não me escutassem.

— Ainda nessa? Já sabe o que tem, vamos embora que meu pai está esperando. — Pela testa enrugada não estava gostando nada da minha ideia.

— Só isso não é suficiente. — Não é.

— Vai querer o matar é? Não pode deixa-lo mais irritado. — Perguntou. — Sei que o odeia, mas não pensei que tanto assim. — Sua cara já dizia que entendeu errado. — Mesmo sendo minha amiga não posso permitir que faça uma coisa dessas com quem está doente. — Sua atitude me encheu de orgulho, porém ia naquela sala por bem ou por mal.

Um barulho alto foi ouvido e as lacaias tinham saído da cadeira para ir até a área dos quartos. Ali naquela hora sabia que tinham deixado ir o visitar e num impulso que não sei de que lugar veio decidi que era a hora perfeita para ir também. Se a mãe dele não soubesse quem eu era poderia até entrar.

— Você está louca, Elisa? — Chegou a gritar ao me pegar pelo braço justo no meio daquele corredor, nem sequer pessoas ao nosso redor foram capazes de nos calar.

— Estou. — Respondi sem parar um segundo de encarar. — Dá para me soltar? — Não entendi o que foi, mas algo em mim ou nela a fez me largar e observar me afastar às pressas para as alcançar.

Quando notei as três na frente de uma porta agradeci por ter conseguido chegar a tempo. Nem tinha planejado o que ia fazer ou falar e algo assim é ruim demais para quem faz lista para quase tudo que nem eu, no entanto respirei fundo para ir a frente e ver seu rosto. Será que sabendo que está bem vai ser o bastante e tranquilizar meu coração? Tiraria a sensação de culpa?

— Oi. — Ana tímida? Pensei que nunca veria.

Por entre o espaço que ficava entre elas a visão de um quarto branco, com uma poltrona embaixo da janela, que iluminava tudo pela cortina estar aberta, foram as primeiras coisas que vi. Mas o que me deu certeza que estava no lugar certo foi ver a Alicia de um lado da cama e a mãe na frente. Bem ali sentado o Daniel olhava para nossa direção com uma cara de assustado, talvez até surpreso.

— Que está fazendo aqui? — Droga! A sua namorada me viu.

Mesmo com a sua voz bem alterada e entendendo que era de mim que falava não conseguia parar de o encarar. Apenas vê-lo não era o bastante e sabia disso desde sempre, mas não que já havia me decidido. Nem sequer duas garotas me puxando para que fosse embora e me barrando na entrada me faria desistir.

Não tinha a noção de como fui capaz de dar alguns passos, porém quando vi o rosto do Daniel estava bem próximo de mim e eu do lado de sua cama. As duas ainda estavam me segurando e ainda via sua expressão continuar a mesma de antes. Se estivesse em seu lugar nunca pensaria que fosse até ali para o visitar.

— Eu aceito. — Sussurrei após um longo tempo de silêncio entre nós e que pude decorar mil vezes o que diria, mas apenas consegui soltar essa única frase.

Era o nervosismo quem sabe. A minha mania de querer concertar tudo eu falaria. Aquela culpa que me matava por dentro talvez. As últimas palavras ditas e das quais repetiam em minha cabeça feito uma maldição tivessem me dado essa coragem. Mas o meu coração que batia forte me fazia duvidar do motivo.

— O quê? — Era baixo e tive vontade de chorar.

— Vamos fazer juntos. — Falei para ele e para mim mesma para me convencer.

Sua reação de parar por um tempo me deixava bem preocupada de que tivesse mudado de ideia e a imbecil aqui veio responder tarde demais. Isso se os seus braços não fossem levantados para apenas parar em minhas costas, se a minha cabeça não tivesse em seu ombro e pudesse sentir o quanto estava quente e se tremendo.

— Vamos. — Apenas isso dito de maneira abafada foi o suficiente para que um alivio tão grande tomasse conta de mim.

Um sorriso pode surgir sem que pedisse e lágrimas saiam dos meus olhos sem parar, era como se estivesse contendo muito tempo e me deixava sem entender o que fazer e até envergonhada. Foi quando ouvir o seu soluço perto de mim e notar que não queria de jeito nenhum que visse ele ao me apertar mais ainda quando tentei me afastar de seu abraço, me fizeram sacar que não era apenas eu que estava desse jeito.


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Notas finais do capítulo

Que acharam do capítulo? Como vai ser a partir de agora?

Apenas para avisar que a imagem não é minha. Caso tenham percebido algum erro de português podem me avisar que irei revisar.

Caso queiram comentar fiquem a vontade, ficarei muito feliz com isso, adorarei saber a opinião de vocês.



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