O tempo é mesmo relativo escrita por annaoneannatwo


Capítulo 2
Capítulo II




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/790850/chapter/2

Ele entrou no vestiário e o assunto morreu. Já é a terceira vez que essa merda acontece essa semana, e ele já tava desconfiado desde a primeira. Então assim que ouviu as risadinhas, Katsuki esperou um pouco, apoiando-se cautelosamente na porta pra tentar confirmar o que já suspeitava.

O assunto era ele. E não que o loiro se importe sobre o que falam, mas o que ele ouviu foi tão absurdo que é quase impossível não derrubar essa porta no soco e descer a porrada nesses imbecis. Que porra é essa?

— Qual é, Kirishimaaaa! O que mais você viu? — essa é a voz do Pikachu, com certeza.

— Já disse, cara. Ela tava em cima dele, os dois ficaram super sem-graça quando eu abri a porta e ela saiu correndo, ele ainda ficou uns segundinhos lá sentado e puto. E foi só.

—Eu também ia ficar puto se alguém empatasse a foda daquele jeito… ainda mais com a Uraraka, cara.  — E esse é o Fita Crepe, ele reconhece não pela voz, mas porque não é a primeira vez que ele escuta o idiota fazer um comentário esquisito sobre a Cara de Lua.

— Foda? Cê acha que eles…? Não é possível, a Uraraka não ia fazer uma coisa dessa!

— O Bakugou muito menos, né? — ele se pergunta de onde o Kirishima arrumou tanta certeza pra falar alguma coisa sobre o que ele faria ou deixaria de fazer, mas não é como se o Cabelo de Ouriço estivesse errado. O que quer que eles achem que ele e a Uraraka fizeram naquela porra de armário, não é verdade.

Mas ele não tá nem aí pra isso. Por que se importaria? Eles nem fizeram nada, e mesmo se tivessem feito, não teria nada a ver com o Curso de Heróis, com o Exame de Licença Provisória, com as novas técnicas ou com qualquer coisa relevante pra vida dele. Só é irritante pra caralho como os três palhaços param de falar no minuto que ele chuta a porta e entra no vestiário, eles se encaram por alguns segundos e Katsuki ignora o Cabelo de Ouriço falando “Oi!” pra ele, passa direto pra pegar suas coisas e ir pro chuveiro.

O barulho da água não abafa as vozes dos outros idiotas que entram no vestiário uns minutos depois, então ele ouve claramente uma voz irritante pra cacete falando merda, pra variar.

— Então o negócio da Uraraka com o Bakugou é sério mesmo? É verdade que ela mordeu ele?

— Mineta, fala baixo, cara! Ele tá aí…

— Só me fala se mordeu ou não!

— E eu que sei? De onde você tirou isso?

— Eu ouvi umas gatinhas da turma B comentando lá perto do vestiário feminino. Se as meninas tão falando, deve ser verdade, né?

— E o que cê tava fazendo perto do vestiário feminino, hein?

— Pesquisa de campo, obviamente. Cara… eu até imaginava que a Uraraka tivesse um lado meio selvagem assim, mas o Bakugou deixar… é coisa de louco! A não ser que ele não tenha deixado, hein?

— Que que cê tá falando?

— Até faz um pouco de sentido, né? A Uraraka não ser tão fofinha quanto parece e o Biriba na verdade ser um pamonha, aí ela vem e dá um trato nele e-

— Mineta, basta desse assunto.  — essa é a voz do Quatro-Olhos, e pela primeira vez, Katsuki sente que o cara falou algo que preste. —  Se eu soubesse que chegaria a tal ponto, eu teria acatado o pedido deles de girarem a garrafa novamente...

— Iida, você não acha mesmo que…? A Uraraka não faria isso, o Kacchan muito menos… — e essa voz, claro, só pode ser do merda do Deku. Outro espertão que acha que sabe demais.

— É claro que não acredito, Midoriya. Não se preocupe, eu terei uma conversa com ela mais tarde e elucidarei a situação.  — Caralho, por que diabos eles se importam tanto com o que ela fez ou deixou de fazer naquele jogo idiota? Por que ninguém segue com a vida e vai arranjar algo mais útil pra fazer?

Ah, e ele não pode esquecer: o Cabeça de Uva o chamou de pamonha, vai ter volta pra esse cuzão, pode apostar.

Katsuki desliga o chuveiro e, de novo, o assunto morre. Ele enrola a toalha na cintura e anda até os armários, enfiando-se no meio do Quatro-Olhos e do nerd pra esbarrar neles de propósito.

— Bakugou, sua presença não poderia ser mais oportuna! Nós estávamos falando sobre você. — o Quatro- Olhos põe a mão no ombro dele.

— E eu com isso, otário? — e ele revida, sacudindo o ombro pra fazer o cara tirar a mão dele.

— Bom, é que… eu não pude deixar de ouvir certos… rumores sobre você e outra colega de sala no que diz respeito ao Jogo da Garrafa, realizado no último sábado, e francamente, o teor dos rumores me deixa consternado, não apenas como representante de classe, mas como… amigo próximo da aluna em questão.

— Problema seu, babaca. — ele se vira pra andar pra longe desse imbecil, mas o Quatro-Olhos volta a pôr a mão no ombro dele, dessa vez com mais firmeza.

— Bakugou, se você fez algo que possa difamar a integridade dela… não, se você fez algo para machucá-la, eu serei obrigado a tomar medidas extremas. — é uma ameaça, mas ele tá sem um pingo de medo. Pra falar a real, Katsuki tá até animado pra ver o que o Presida da classe ia fazer contra ele. Dar uma advertência? Ui, que meda!

Não é sempre que ele vê o engomadinho tão irritado, então Katsuki quer zoar com ele só pra ver até onde o Quatro-Olhos vai.

— A Uraraka é bem grandinha e sabe se virar sozinha, até onde eu sei. Não precisa ficar defendendo ela não.— e ele dá uma olhada rápida pro Deku, que parece tão incomodado quanto o mauricinho, hum… interessante — Aproveita que você vai trocar uma ideia com ela depois e pergunta o que rolou de verdade naquele armário, era ela que tava por cima de mim, não esquece.

O Quatro-Olhos tá tão perplexo que solta o ombro dele, todos os caras parecem prender a respiração enquanto ele tranquilamente vai até o armário pra se vestir. Dando uma última olhada na direção dos perdedores, Katsuki vê o Deku fuzilando-no com o olhar. Trouxa.

A última coisa que ele ouve antes de sair do vestiário é o taradinho sussurrando: “Não falei? A Uraraka é uma dominadora por natureza, tá todo mundo me devendo um almoço agora!” e uma voz muito parecida com a do Kirishima respondendo: “Mineta, na boa, cala a boca.”

 Katsuki jura que não se importa, mas a palhaçada que rolou no vestiário tá fazendo as mãos dele arderem, loucas pra explodirem qualquer merda que aparecer em sua  frente. Bando de otários, perdendo tempo com uma bobeira dessas quando podiam estar treinando ou fazendo qualquer outra coisa mais útil que ficar especulando o que aconteceu com duas pessoas nada a ver numa porra de um jogo imbecil. 

Mas sabe o que é mais irritante? O Quatro-Olhos achando que pode falar com ele daquele jeito e o merda do Deku o olhando  como se ele fosse um vilão. Nerd do caralho, nem quando eles lutaram ele pareceu tão puto! Foi só falar na Cara de Lua e de repente ele ficou todo valente. Essa parte até foi um pouco engraçada, e ele se arrepende de não ter falado mais nada pra continuar provocando, mas todo o resto foi patético, e Katsuki não vê a hora de cair no pau com todo mundo que tava falando merda. 

Que história é essa de que a Uraraka o mordeu? Quem inventou isso? Com certeza não foi ela. Desde o tal jogo estúpido, ele não falou com ela — não que eles conversassem muito antes —ele mal tem visto ela, mas dá pra entender o porquê pelo jeito que ela saiu correndo quando o Kirishima abriu a porta: ela tá morrendo de vergonha, e, por mais que seja besteira e não deva satisfação pra ninguém, ele não pode achar ruim que ela reaja de um jeito diferente ao dele.

Mas que é besteira, é. Nem aconteceu nada! A Cara de Lua caiu em cima dele e… bom, ela tava bem perto… tão perto que dava pra sentir o cheiro dela, tão perto que ele conseguiu sentir o quanto ela é macia, tão perto que a respiração dela se confundiu com a dele, e quando ela falou o nome dele “Bakugou…?” bem baixinho, foi quase como se  sussurrasse em seu ouvido, mas e daí? Foi só isso! Teria sido mais se eles tivessem mais tempo? Bom...

Quem se importa? Ele, não! E ela também não deveria!

Katsuki é interrompido por batidas na porta dele. Deve ser o Kirishima vindo encher o saco pra treinar com ele. Ou com sorte, é o Presida querendo tirar satisfação. Ah, tomara que seja! Ele nem precisa de motivo pra arranjar briga com esse otário, mas já que o cara deu motivo…

Só que é alguém ainda melhor pra arrumar briga: Deku.

— Kacchan, a gente precisa conversar!

— Que caralhos você quer? Morre, seu merda! — ele faz que vai fechar a porta na cara dele, mas o merdinha põe o pé no vão da porta pra impedí-lo.

— Não antes de a gente conversar. —  ele empurra a porta pra abrí-la de novo — É sobre a Uraraka.

— Eu não tenho assunto com você, muito menos sobre ela. Agora vaza!

— Kacchan, você vai pedir desculpa pra ela!

— É O QUÊ, SEU MERDA!?

— Eu sei muito bem que não aconteceu nada entre vocês no jogo, e você também sabe! Por que você deu a entender que teve alguma coisa quando o Iida te perguntou? O Mineta saiu falando pra todo mundo que você confirmou que os boatos são verdade! Você falou aquilo de propósito, Kacchan! Por quê? — Deku ameaça se aproximar, tensionando os ombros como um gato tentando parecer maior para intimidá-lo.

— Que… não é da sua conta, babaca! — mas Katsuki também sabe usar esse truque, enfiando as mãos nos bolsos e crescendo pra cima do outro.

— É da minha conta se alguém sai espalhando mentiras sobre a minha amiga!

— Eu não menti porra nenhuma!

— Mas também não fez nada pra desmentir, o que dá na mesma!

— Ah, já entendi…  — ele dá uma risada sádica — Isso é ciúme, é? Você tá putinho porque não era você no armário com ela?

— N-n-não é nada disso! — o nerd é tão previsível que fica todo vermelho e a voz dele afina, que imbecil! Mas um segundo depois, ele fecha a boca e franze o cenho, lançando um olhar afiado —  Isso não tem nada a ver comigo, tem a ver com ela! Você sabia que as meninas não param de fazer perguntas pra ela? Que tem meninos de outras classes falando pelas costas dela?

Hum… não, ele não sabia.

— E daí? É só ignorar!

— Ela tá tentando, mas fica difícil quando a escola toda fica olhando e cochichando como se ela tivesse feito alguma coisa de errado… —  Deku suspira — A Tsuyu me falou que a viu chorando no banheiro depois do almoço.

Caralho… isso é uma merda mesmo!

— Eu me desculpar com ela não vai fazer diferença se a escola inteira tá comentando… — ele murmura, evitando encará-lo.

— Não, mas pelo menos ela vai saber que você tá do lado dela nessa. Falando sério, Kacchan, eu te conheço há um tempão, você pode ter esse jeitão, mas você não é uma pessoa ruim, especialmente com alguém que não tem nada com isso. Ela tá bem magoada, e eu, o Iida, o Todoroki, as meninas, já fizemos tudo que a gente podia. Agora é sua vez de fazer o que é certo. Pede desculpa pra ela. — o tom do bostinha é suave, completamente diferente de como ele tava um minuto atrás.

— Você não é ninguém pra me dar sermão! E não vem com esse papinho que eu sei bem qual é a sua, Deku! Você se faz de santo, mas eu te conheço, sei que você quer ficar bem na fita com ela e-

— EU JÁ FALEI QUE ISSO NÃO É SOBRE MIM! — Katsuki nem disfarça, se afastando um pouco quando o Deku berra — Ela é minha melhor amiga, e eu tô preocupado, sim, e desde o começo eu não quis que ela fosse pro armário com você, m-mas… não é justo que ela fique aguentando essa barra sozinha, Kacchan, independente do que estarem falando ser verdade ou não.

— Hum, antes você parecia ter muita certeza que não rolou nada entre a gente…

— E-eu tenho certeza que… ela não te mordeu. Isso foi um boato que alguém inventou… mas… enfim, não importa. Você tá certo, eu não sou ninguém pra te dar sermão, só que eu tenho certeza que você sabe o que um herói tem que fazer. Até mais!

E com isso, o nerdzinho de merda sai andando.

As mãos dele ainda ardem, implorando pra explodirem alguma coisa. E por incrível que pareça, não é por causa do Deku pagando de esperto na porta dele.

É por causa da Uraraka chorando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O tempo é mesmo relativo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.