Apenas amigos escrita por Moon


Capítulo 1
Nossos postos completamente platônicos


Notas iniciais do capítulo

Há quem diga que o amor nasce da amizade. E há quem acredite que os amores vem e vão, enquanto as amizades permanecem. Para alguns uma amizade pode ser destruída pela falsa ilusão de um amor. E para outros, não há amor melhor do que aquele que nasce de uma bela amizade.
Mas todos, apesar de suas diferentes versões e variações, já se pegaram questionando sobre os tênues limites entre o amor e a amizade...

Espero que a história desses dois amigos possa ser uma boa distração de todas as perturbações da dúvida do verdadeiro questionamento: "somos apenas amigos?"

Espero que gostem... Boa leitura!



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Ele tinha aparecido para o jantar da família de domingo - como já era de costume - e riu, conversou, interagiu com todos, até que só restávamos nós, e meus pais na sala silenciosa.

Ele dormiria na sala naquela noite. Num colchão forrado e preparado por minha mãe que se despediu dele com um beijo na testa e de mim com um abraço antes de atravessar o longo corredor até seu quarto. Ela já havia nos deixados sozinhos ali por diversas outras vezes, sempre confiando na certeza que eu e ele jamais poderíamos ser mais que amigos.

Diferente do habitual, a casa parecia mais quieta. Meus tios haviam partido cedo, antes mesmo do sol de por, e minha irmã e irmão se recolheram e silenciaram em seus respectivos quartos antes mesmo que o jornal tivesse acabado. Quando meu pai deixou a sala para juntar-se a minha mãe, não houveram "despedidas". Não tinha nada além do silêncio. E ele também estava em silêncio.

Eu iniciei uma despedida sem jeito e ele pediu que eu ficasse um pouco. Perguntei-me se havia algo que ele quisesse me contar. Mas não o questionei apenas me sentei ao seu lado. Esperei que ele dissesse algo, ou me explicasse seu pedido, mas ele não o fez.

— O que foi? - Perguntei.

— Eu só quero que você fique um pouco. - Ele comentou como se aquele pedido não fosse nada.

Hesitei e relutante me deitei ao seu lado. Ainda acreditava que houvesse mais alguma coisa por trás daquele pedido. Que havia uma razão. Que ele diria algo. Mas não pareceu ter nada mais.

Ele me envolveu com um dos braços, seus olhos fechados e o silêncio me negando qualquer explicação. O observei imaginando o que se passava por trás daquela quietude repentina.

Ele me puxou para mais perto, seu braço me apertou contra seu corpo. Outra vez o olhei e ele permanecia com seus olhos fechados.

Deixei-me ser aninhada. A sensação era de ser acolhida em casa após um dia difícil encarando o mundo. Eu deitei minha cabeça em seu peito, com seu coração batendo tão forte que parecia estar dentro da minha cabeça e não sob meu ouvido. Ali não havia temor, não havia ansiedade, não havia hesitação.

Enquanto meus músculos relaxavam encontrando uma posição confortável, seus dedos traçavam desenhos aleatórios nas minhas costas sobre a blusa. Mudei de posição ainda envolta por seu braço, deixei a ponta do meu nariz tocar seu pescoço. Remexi mais entrando debaixo do cobertor, em parte por causa do frio, e ele não pareceu se importar com minha inquietação.

Quando me aquietei, ele voltou a traçar linhas imaginárias com seus dedos na blusa do meu pijama. Fechei os olhos e senti meu corpo amolecer com a proximidade. Ele continuou até encontrar um pouco de pele. Minha cintura descoberta provavelmente enquanto eu me mexia. Ele se agarrou àquele pequeno espaço. Traçando ali, com seus dedos leves, o que quer que estivesse passando em sua cabeça. Até que parou. Sua mão repousou ali, com seus dedos agora me segurando com firmeza.

Em um momento de coragem - ou insanidade - arrisquei-me a fazer mesmo que ele, passando meus dedos por sua barriga sobre a camisa. Ele apertou o abraço e encostou seus lábios em minha testa. Senti seus músculos contraírem diante dos meus dedos e levantei a cabeça imaginando que o encontraria - outra vez - de olhos fechados. Mas não. Ele me observava. Nossos olhos se encontraram, como daquela primeira vez que nos vimos.

Ele acariciou minha bochecha com a mão e trouxe meu rosto para mais perto. Parando quando estávamos a centímetros de distância. Seus olhos fixos aos meus. Demorei a entender que ele estava esperando que eu o autorizasse a prosseguir. Sorri quando entendi e me aproximei um pouco mais.

Ele entendeu meu gesto como o sim que eu queria, mas não conseguia dizer, e então beijou meus lábios suavemente, como se já tivéssemos feito isso antes. Seu braço passou por baixo da minha blusa enquanto sua outra mão segurava meu rosto. Não houve mais suavidade. Não houve um selinho tímido antes de se tornar um beijo de verdade. Assim que sorri e me aproximei, ele colou nossos lábios.

Eu sabia que ele era muito mais experiente, mas isso não pareceu influenciar em nada. Ali não havia passado, nem futuro. Éramos só nós, completamente despidos de expectativas, ou temores, ou responsabilidade.

Ele tateava meu corpo cuidadosamente. Ele parecia tentar conhecer cada milímetro de mim. Uma das minhas mãos passeava por baixo de sua camisa enquanto a outra segurava seu cabelo. Movíamos-nos em sincronia, como se nossos corpos e nossas línguas também fossem velhos amigos.

Ele mordeu meu lábio inferior interrompendo o beijo em busca de um pouco de oxigênio, levemente ofegante. Ele respirou fundo com seus olhos ainda fechados e um sorriso brincalhão nos lábios. Ele hesitou, sua boca entreaberta com palavras pairando sobre seus lábios como fantasmas.

Perguntei-me se seria aquilo e ponto, se prosseguiríamos. Ele ainda me abraçava, mas também permanecia em silêncio.

Se for para cometer um erro, faça com que ele valha a pena! - Lembrei do ensinamento que eu ignorei quando minha mãe o disse e voltei a beijá-lo. Seus lábios, sua nuca.

Ele me puxou para ficar sobre ele, retribuindo as carícias. Um arrepio percorreu minha espinha quando ele mordeu meu ombro levemente enquanto eu beijava sua nuca. Minhas pernas envolvendo as laterais de seu corpo tencionaram e ele hesitou outra vez.

Segurou-me pelos ombros, impedindo que eu progredisse e me forçando a olhá-lo nos olhos.

— Não é justo. - Ele sussurrou recobrando o fôlego. - Não é justo com você.

— Não é justo o que?

— Deixar isso acontecer... - Ele indicou a proximidade entre nossos corpos com o olhar. -  E então partir.

O silêncio pairou outra vez.

Eu não sabia como reagir à notícia de que ele iria embora. Eu sempre soube que esse dia chegaria. Ele veio ficar um tempo aqui, mas depois sua família voltaria para sua cidade. Eu sempre soube. Desde o dia 1 eu sabia que ele não ficaria. E eu me preparei para deixá-lo ir. Mas nunca imaginei que seria tão rápido, nem que seria depois disso.

Meu coração encolheu no peito.

— Você vai quando? - Perguntei sem me mover.

Ele me envolveu com os dois braços, apoiou o queixo no topo da minha cabeça e respirou fundo.

— No fim da semana. - Ele disse.

— Então ainda temos algum tempo. - Eu observei.

Ele pareceu surpreso com minha resposta. Talvez ele esperasse raiva, talvez lágrimas. Qualquer que fosse s reação que ele esperava, não tinha sido a que eu tive. Ele acariciou meu rosto, sua expressão surpresa se desfazendo e um sorriso de lado.

Sentei-me sobre ele. Não havia qualquer constrangimento ou desconforto.

Ele passou a mão pela lateral da minha coxa permanecendo deitado. O deixei tocar-me. Ele parecia tão concentrado, seus olhos vidrados, os lábios curvados. Sua mão deslizando por baixo da blusa na minha barriga e cintura e então sobre o sutiã enquanto passeava sobre meus seios. Sua mão parou em meu rosto. Ele me olhou nos olhos e sorriu.

Deitei-me sobre ele para mais um beijo. E mais toques.

Ele hesitou mais algumas vezes até eu convencê-lo de que não sou de porcelana e que ele não me partiria em cacos.

Ele precisava que tudo estivesse claro, que eu soubesse que ele não queria ultrapassar qualquer limite, nem me desrespeitar, nem me iludir e principalmente, que ele não estava me usando para depois ir embora.

— Eu vou ficar bem. - Eu disse diante de suas preocupações expostas bravamente num momento de vulnerabilidade.

Ele me beijou intensamente e então me encarou outra vez.

— Mas talvez eu não fique. - Ele confessou.

O abracei com força como se eu pudesse protegê-lo de qualquer coisa, até mesmo da dor da despedida. Nenhum de nós pareceu se importar em continuar o que havíamos começado. Simplesmente o acolhi em meus braços, deixei que repousasse sua cabeça em meu peito e escutei sua respiração acalmando até que caísse no sono. Um único pensamento passou pela minha cabeça. Eu o tinha. E o perderia.

E assim foi.

Eu o tive. E o assisti partir.


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Notas finais do capítulo

Com amor,
Moon.



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