Normalmente eu tenho sonhos em que não posso voar, minhas asas se tornam peso morto em mim e só me atrasam e me pesam. Como se estivessem encharcadas de petróleo. Não importando o quanto eu me esforce, eu nunca consigo alçar voo. Meus pés sempre batem de volta contra chão.

As vezes eu penso que talvez se alguém me ajudasse eu conseguisse sair dali. Eu sempre acabo por procurar ajuda. Ninguém aparece. Como se as pessoas me vissem mas não ouvissem. Eu estou ali. Elas olham para mim, sorriem pra mim, mas eu não sou ouvido. Sinto que não existo.

Eu tive um sonho estranho hoje. Eu estava preso, acorrentado em algo muito pesado. Eu tentava de tudo para voar, escapar dali. Cada segundo que passava a corrente ficava mais curta e apertada. Cada segundo que passava, eu perdia mais meus movimentos, minha liberdade.

Você estava lá. Eu me lembro. E olhava de longe. Você parecia gostar.

Perceber isso pesou mais que as correntes. Doeu tanto que eu esqueci até que elas estavam lá. Eu quis tanto fugir de você que as correntes não aguentaram. Elas cederam. E eu voei. Para bem longe de você.

Eu nunca me senti melhor.