Terra à Vista escrita por Brigadeiro


Capítulo 1
Terra à Vista


Notas iniciais do capítulo

Há algum tempo atrás, eu conheci essa pessoa que dizia que Harry e Uma eram o melhor casal de Descendentes. Eu discordei, porque claro que o melhor casal é Evie e Doug. Mas dai ela encheu a minha galeria de imagens, videos e argumentos de porque esses dois eram o amor da vida dela e mereciam muito mais.

Desde então eu tenho planejado isso, pra dar a ela um pouco desse "mais" que eles merecem. Eu nunca escrevi sobre Harry&Uma antes, eu não fazia a menor ideia do que estava fazendo, não sei porque a história seguiu esse rumo ou porque de repente eu estava abordando esse assunto. Eu só sabia que queria deixar a Juliana feliz, e tornar o aniversário dela um tiquinho mais especial com algo puramente Huma, e só fui seguindo a estrela.

Então, esta história é um presente. Não apenas dedicada a ela, mas totalmente dela. Espero que goste.

Feliz aniversário, Ju ♥



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Enquanto terminava de vestir suas luvas de couro vermelhas, Harry lançou um último olhar para a linda morena deitada em sua cama.

Ela ainda dormia, sem notar a ausência ao seu lado.

Antes de pegar seu gancho, ele se aproximou novamente da cama e afastou os cabelos cheios da frente do que certamente era o rosto mais lindo no qual ele já tinha tido o prazer de colocar os olhos. Ele ficou tentado a beijá-la, mas seria melhor não arriscar com que ela acordasse. Por isso apenas passou o polegar de leve pela bochecha escura, sentindo-se completo.

E o pirata não podia deixar de abrir um sorriso convencido sempre a admirava, pensando que ela era mesmo a coisinha mais linda na qual ele já havia posto os olhos. E, de algum modo, era sua. Ele nunca entenderia tamanha sorte.

Satisfeito, ele deixou-a e saiu da cabine, fechando a porta com cuidado para não fazer barulho e subindo as escadas para encontrar um belo céu ensolarado acima dele. Ao pisar no deck do navio, ele inspirou fundo. Não havia nada como o ar puro do alto mar para limpar seus pulmões.

— Harry!

Atendendo ao chamado, seus olhos encontraram Uma e ele alargou seu sorriso. Sua capitã estava pendurada no mastro das velas, o pé se equilibrando com habilidade nos pinos, as mãos se esforçando para puxar a corda de ambos os lados da vela.

— Mexa seus pés preguiçosos até aqui e me ajude — ela gritou.

Harry soltou uma risada frouxa e foi até lá. Uma não parecia estar no melhor dos humores, ela nunca tinha sido uma pessoa matinal e as manhãs raramente traziam o melhor dela. Ele já estava mais do que acostumado. Entretanto, Harry pensou, aquela era uma manhã diferente.

Avançando contra o mar calmo da costa, o Vingança Perdida se aproximava cada vez mais de volta a Auradon. Depois de anos de viagens pelo reino, explorações oficiais e aventuras perigosas, o navio que foi palco das melhores lembranças e aventuras do filho de James Hook estava agora rumando para mais uma.

Estavam indo para casa.

— Pensei que já tinha aprendido que esse é um trabalho para dois — Harry disse enquanto subia no mastro rapidamente, com toda a habilidade de um pirata experiente, alcançando Uma lá em cima. Ele se apoiou no pino mais próximo a ela e segurou a segunda corda. — Você precisa de mim, bebê.

— Até parece — ela resmungou e revirou os olhos, mas aceitou a ajuda. O modo como Harry acordava sempre estranhamente bem disposto a irritava na maior parte das vezes, mas ela também já estava habituada com seu charme. — No três. Um...

— Dois...

— Três!

Eles estiaram a vela juntos, forçando a corda até que o tecido se esticou e abriu por inteiro, revelando o símbolo idêntico ao do Jolly Roger, lembrando-os que o Vingança Perdida tinha um dia pertencido ao grande Capitão Gancho.

Aquilo trouxe saudosas lembranças aos dois, dos dias na Ilha quando ele a tinha ensinado a como manejar as velas do navio no primeiro dia deles com a embarcação. Por um momento, trocaram um olhar cheio de significado e nostalgia, que até mesmo fez os lábios de Uma se repuxarem para cima em um sorriso parcial, que fez Harry sorrir ainda mais de volta. Mesmo que pequeno, cada sorriso de Uma era sempre uma dádiva para ele.

Uma vez que a vela estava aberta, o vento fez seu trabalho, começando a puxar o barco com um solavanco.

O corpo de Uma foi levemente jogado para trás, mas impedido de ir muito longe pelas mãos de Harry, que a envolveram firme pela cintura.

— Opa.

Uma observou o rosto de Harry próximo do dela. Havia mais nele aquele dia do que apenas bom humor matinal. Ele parecia feliz como nunca antes. E por mais que tivesse grandes ressalvas quanto ao que estavam prestes a fazer, ela tinha que admitir que era legal vê-lo tão bem.

Ela esticou a mão livre até o rosto dele apertou sua bochecha até que se formasse um bico ali. Quando Harry fechou os olhos, certo do que viria a seguir, ela o soltou.

— Você está com bafo — foi a resposta dela.

Ele abriu os olhos, frustrado.

— O que um pirata tem que fazer pra conseguir um beijo por aqui?

Harry pulou no mastro de uma vez só, aterrissando com um baque duro no chão do convés. Uma desceu pino a pino, e quando Harry estendeu a mão para ajudá-la, ela lhe bateu.

— Você já teve muitos ontem à noite.

Involuntariamente, ambos olharam em direção a cabine principal, onde o terceiro membro daquela tripulação ainda dormia.

— Eu a deixei sozinha no quarto para vir te ajudar, sabia? — Harry fez drama, cruzando os braços.

A Capitã segurou um palavrão e mordeu os lábios, e ele recuou. Tinha dito algo errado.

Harry estava ligeiramente confuso sobre Uma nos últimos tempos. Ela parecia subitamente odiar a ideia de voltarem para Auradon. Mas a ironia era que a ideia tinha sido dada por ela mesma. Mal os tinha chamado para voltar e fazer parte do conselho, representando o povo da Ilha, era algo importante. Ela tinha ficado absurdamente empolgada no início, o que animou Harry ainda mais, mas então de uma hora para a outra ela parecia irritada com a coisa toda. Quanto mais se aproximavam do reino, mais nervosa ela ficava. Quando ele perguntava, ela apenas dizia que estava nervosa pela mudança.

Uma ainda encarava ele com os olhos escuros faiscando.

— Ela é linda demais para que eu tenha coragem de acordá-la tão cedo — ele se justificou, com um biquinho.

Uma respondeu com apenas um olhar duro e lhe deu as costas, seguindo para a polpa do navio. Ela se apoiou na antiga grade de madeira e respirou fundo, deixando o vento salgado do mar lhe encher os pulmões. Ah, como sentiria saudades daquilo. Estar ali sabendo que seria seu último dia em alto mar a partia por dentro. Ela simplesmente amava a vida que vinha levando nos últimos anos. E se nada mais fosse como era até então?

Sua vontade era pular na água e se transformar em polvo, e explorar o fundo do mar de Auradon como nunca antes. Já fazia algum tempo que ela não assumia sua forma mágica, também. E nem poderia assumir tão cedo, lamentou-se.

{...}

Ele esperou até que fosse seguro ir até ela novamente. Com o sol já um tantinho mais alto no céu, sua Capitã estava agora sentada na varanda que tinham construído próxima ao calado, no ponto mais baixo possível do navio. Tinha levado um tempo até encontra-la, a não se surpreendeu quando a encontrou encostada no balaústre, com os pés na água que corria conforme o navio avançava e com uma expressão fatalítica no rosto. Ela sempre ia para lá quando não estava muito bem.

Ela sentiu quando Harry se aproximou, e então as mãos dele estavam em sua cintura.

— Você está brava comigo?

Uma cruzou os braços, analisando a florzinha que ele lhe estendia pelas costas.

— Você tirou isso daquela coroa de flores ridícula que insistiu em trazer de Motunui, não foi?

— São as únicas flores a bordo — ele deu de ombros. — E ficou linda na maruja.

Uma rolou os olhos, mas puxou a flor e colocou no bolso da saia de couro verde que usava.

— Você é um rendido — foi o que ela respondeu.

— O que posso dizer? — ele deu de ombros — Ela tem meu coração.

Uma não respondeu, só voltou a alinhar os olhos com o horizonte. Se ela o olhasse como estava olhando para o mar, ele pensou, se sentiria o homem mais desejado do mundo.

— Ela precisa acordar para tomar café — ela resmungou quando ele não foi embora.

— Relaxa, bebê — Harry subiu as mãos até os ombros dela, e começou a massagear o local. — É o nosso último dia no navio. Deixe-a aproveitar como quiser. Dormir até tarde é uma felicidades da vida.

Ela se virou para ele, ficando entre seus braços, as costas apoiadas na madeira do parapeito. Era perigosamente excitante o quão fácil seria cair no mar ali, e Harry quase ficou tentada a jogar-se com ela. Estariam de volta ao navio em pouco tempo como em todas as outras vezes, mas a expressão sombria de Uma o fez repensar a brincadeira.

— Você acha que eu não me importo com a felicidade dela — não foi uma pergunta, o que fez Harry arregalar os olhos de surpresa.

— Não! Claro que eu não acho isso! De onde tirou uma coisa dessas?

Ela não respondeu, mas parecia arrependida do comentário.

— Se dormir até tarde é tão bom, o que está fazendo aqui comigo logo cedo, então?

Ele abriu um sorriso sedutor, aproximando o rosto do dela.

— Cumprindo a parte do ser feliz — ele puxou a cintura dela, trazendo-a mais para perto. — Não consigo ficar muito tempo longe da minha capitã.

Ela o empurrou novamente.

— Você é um galanteador barato — ela bufou.

— Eu tenho que ser. É como eu sobrevivo nas suas mãos — ele riu e se aproximou de novo, mas ela lhe virou as costas.

Antes que pudesse se afastar totalmente, ela ouviu um barulho metálico que a fez olhar para trás e checar o que quer que Harry estivesse aprontando.

Ele estava parado, em posição de ataque, apontando-lhe seu gancho de mão como se fosse uma espada. Ela ergueu uma sobrancelha.

— O que é isso?

— Vou ter que duelar por um sorriso seu? — ele sacudiu o gancho na frente dela, um olhar tão sério quanto como se aquela fosse a arma mais mortal de todas.

A ponta dos lábios de Uma se forçaram involuntariamente para cima, finalmente cedendo um pouco ao humor contagiante de Harry.

— Ai está — ele aprovou, abaixando sua arma.

Pegando o Hook de surpresa, ela avançou e o abraçou, enterrando o rosto no peito dele. Confuso, ele prendo o gancho de volta na cintura e apenas retribuiu, sem entender muito bem o que tinha dado em Uma. Ela nunca foi dada a abraços, preferia mil outras formas de carinho àquela. E essas formas nunca vinham seguidas de um dia de mau humor. Mas quando ela suspirou contra sua camiseta, ele apenas beijou o topo da cabeça dela e não falou mais nada, deixando-a processar o que quer que a tenha levado àquele rompante.

Segundo depois, ela apenas o soltou sem dizer mais nada. Puxou os pés da água e cruzou as pernas, mantendo distância de Harry.

— Vá acordar sua maruja. Ela tem que tomar café — Uma deu o veredito, afastando o olhar para longe novamente, e abandonou a flor no chão de madeira.

Harry olhou para onde ela olhava, na direção do mar, acompanhando o movimento das ondas.

— Ainda estamos muitos longe? — ele checou.

Ela negou.

— O jantar de hoje já será em Auradon.

Harry a observou, sentindo seu coração se afundar ao notar sua expressão. Uma estava triste. E isso dilacerava o pirata por dentro.

— Uma...

— Não — ela respirou fundo, sentindo o vento bater em seu cabelo solto. Mais uma coisa da qual sentiria falta. — É necessário — ela passou os braços ao redor de si mesma, suspirando.

— Por que está agindo como se estivéssemos indo para a prisão, babe? Eu não entendo.

Ela ficou em silêncio por um minuto inteiro, e Harry tinha certeza de que seria ignorado quando ela finalmente respondeu.

— Eu só tenho medo de que as coisas mudem demais. A vida no mar, as aventuras e a liberdade, esse era o plano.

— Ninguém além de você está dizendo que precisamos fazer isso — Harry argumentou. — Por mim, podemos viver no mar pra sempre, ou onde você quiser, contanto que estejamos juntos.

Os lábios de Uma foram pressionados em um sorriso contido, e ela teve que segurar sua língua para não falar demais. Ao invés disso, deixou sua mente vagas pelas lembranças que lhe traziam paz.

— Lembra, quando navegávamos com esse mesmo navio, mas não podíamos ir mais longe do que a barreira nos permitia? A primeira coisa que eu quis fazer quando ela foi quebrada, foi pegar o Vingança Perdido e sair pelo mar sem rumo.

— E nós fizemos isso. Não imediatamente, mas fizemos — confirmou Harry. — Tem sido incrível.

— Tenho medo de que percamos o rumo. De que esqueçamos das nossas raízes. Somos piratas, afinal.

— Você sabe que não vamos nos perder. É só continuar seguindo a estrela em frente até o amanhecer.

Aquilo era algo deles, uma frase código criada anos atrás, quando se lançaram no mar. A estrela eram seus corações. O amanhecer era o futuro que sempre assustava. Não era uma direção que os guiava para a Terra do Nunca. Os levava um para o outro.

— Hm.

Harry ficou em silêncio, olhando-a. Desde quando ela se esquecia de como ser pirata? Eles tinham passado anos vivendo em Auradon antes dos anos que agora viviam no navio, e voltar a ele deu medo na época, mas acabou sendo natural como o nascer do sol.

Uma estava tão estranha nos últimos dias. Desde o momento que tinha decidido por todos que iriam voltar para Auradon e fixar residência em terra firme, ela parecia outra. Um dia parecia animada com a ideia, no outro, ficava triste como se a mudança fosse o equivalente à perda de um ente querido, daí no dia seguinte acordava irritada, culpado o mar e os céus por seu destino, como se a proposta de Mal não tivesse sido aceita por ela mesma no instante em que foi feita.

Harry tinha adorado a proposta no instante que a ouviu. Claro, ele gostava do mar, e gostava da vida que vinha levando nos últimos seis anos, mas a ideia de firmar morada em solo, representar todo o seu povo falando por eles no palácio e poder construir seu lar o ganharam no instante em que Uma disse sim. Desde então, só pensava em tudo o que iria viver em Auradon, coisas novas, e tudo o que poderia proporcionar à sua linda maruja que ainda dormia. Nada do que ela tinha visto naqueles anos que viveu no navio com eles se comparava com tudo que ele poderia proporcionar a ela em terra, e ele estava ansioso para começar.

Mas, se aquilo significasse a tristeza de sua capitã, ele já não tinha mais certeza se queria ir.

— Uma, me escuta — ele pediu, fazendo-a finalmente desviar o olhar do mar para encontrar os olhos dele. — Eu estou preocupado com você. Quando a proposta surgiu, você estava feliz com a ideia. Agora, parece que vamos morrer assim que ancorarmos — ele pegou as mãos dela nas suas. — Se formos, não precisamos aposentar o navio. Vamos tirar uma semana de férias por mês, se você quiser. E não precisamos ir se você não quiser. Eu vou pra onde você for.

Uma negou com a cabeça, parecendo que alguém a tinha condenado a forca.

— Precisamos, Harry.

— Por quê?

Ela desviou o olhar.

— Você sabe, ela precisa... Aprender coisas... Precisa viver tudo que puder. Não vou aprisionar ninguém a uma vida que não seja de sua escolha, não quando sei exatamente o que é crescer presa.

Uma motivo comovente. Pena que Harry não acreditava em nenhum deles.

— Você está exagerando. Nós podemos conhecer o mundo inteiro nesse navio. Podemos ensinar tudo o que qualquer um precisar aprender, você é inteligente o bastante pra isso — ele insistiu, começando a ficar ligeiramente desesperado para mudar a expressão dela, que piorava a cada segundo. — Hey, prometemos nunca seguir obrigações, apenas a intuição e o coração, lembra?

Ela negou.

— Vamos precisar de ajuda, Harry! Você não entende.

— Então me explica!

Uma queria gritar. Harry era tão teimoso quando queria descobrir algo!

Involuntariamente, ela lançou um olhar cauteloso para baixo, um olhar preocupado de quem queria manter um segredo. Mas longo o suficiente para que Harry captasse.

Os olhos do pirata se arregalaram. Ele conhecia aquele olhar, nunca se esqueceria do que significava aquela expressão no rosto de Uma, que só tinha marcado sua face uma vez antes daquilo.

Agora, tudo fazia sentido.

— Uma...

— Droga.

— Você está gravida?!

Ela abriu um sorriso amarelo para ele, o olhar acuado de quem tinha sido descoberta.

— Surpresa.

Harry se levantou num átimo, envolvendo Uma num abraço, surpreso e feliz demais para notar a expressão dela. Seus braços fortes a levantaram do chão com uma facilidade ridícula e ele fez a coisa toda, de beijos a giros, como ela sabia que seria. Era como viver um dejavu, e era disso que tinha medo.

Ela o deixou ter seu momento, e depois de alguns minutos de exclamações, rodopios e beijos, ele finalmente prestou atenção no rosto dela.

— Uma?

— O quê?

— Você... Não está feliz?

O peso das palavras atingiu os dois ao mesmo tempo.

Uma cerrou os lábios e lhe deu as costas, entrando para a saleta que antecedia a varanda, e sentou-se no sofá de madeira que Harry tinha construído sozinho. Ela adorava aquele sofá. Adorava todo o ambiente daquele cômodo, na verdade. Harry o tinha construído em três dias, só para ela, para ajudá-la a enfrentar seus piores dias com privacidade. Não ter mais acesso a ele todos os dias a assustava também.

Tudo, desde que a descoberta há duas semanas, a assustava.

Ela estava ficando um pouco cansada de sentir aquilo sozinha.

— Eu estou com medo — ela finalmente admitiu em voz alta.

Harry, é claro, a tinha seguido até a cabine e pegado seu lugar ao sofá do lado dela. Seus olhos verdes a encararam com interesse e preocupação.

— Ok. Medo do quê?

— De acontecer o que aconteceu da última vez — ela desviou o olhar, escondendo o rosto nos cabelos verdes ao mirar seu próprio colo, onde seus dedos já se apertavam uns nos outros. — De estragar tudo de novo. Foi a pior época da minha vida, Harry, eu não quero reviver aquilo.

— Uma! — Harry puxou o rosto dela em sua direção. — Você não estragou nada.

Ela chacoalhou a cabeça, cansada daquelas frases de consolo prontas.

— Eu sei que você lembra, Harry. Você finge que não e eu finjo que não, mas eu sei que lembra porque eu lembro — ela enterrou o rosto nas mãos, em parte em vergonha e em parte para tentar controlar a respiração que estava presa na garganta, causando falta de ar pela ansiedade que as palavras traziam ao reviver as memórias. — Eu não quero me tornar aquela pessoa de novo. A angústia, a aversão e aquela culpa terrível, eu não quero sentir aquilo novamente.

Certo, ele não estava mais apenas ligeiramente desesperado. Estava bastante desesperado. Uma tinha razão quando dizia que eles não falavam sobre aquilo, ao ponto de ele pensar que ela até tinha esquecido.

— Babe, não vai acontecer de novo.

— Você não sabe! — a voz dela aumentou de volume. — Por isso precisamos ir pra Auradon, porque você não vai conseguir fazer isso sozinho de novo, e eu não quero que faça. Não quero ter que te ver sobrecarregado de novo e nosso bebê sofrendo por minha culpa, só porque eu não sou uma boa mãe.

Harry estava boquiaberto.

— Pelas marés, desde quando você pensa assim? Isso é coisa nova por causa da gravidez? Me diz que é.

O suspiro que ela deu chegou até o coração de Harry, e ele quis abraçá-la, mas sabia que ela não gostaria daquilo naquele momento.

— Harry, você se lembra bem de tudo o que aconteceu. Não finja que não foi nada.

Harry passou a mão nos cabelos, nervoso.

É, ele se lembrava bem. Não tinha como esquecer-se dos momentos mais difíceis da vida, eles ficavam gravados tantos quanto os mais felizes, talvez ainda mais.

Eles ainda moravam em Auradon, ajudando o pessoal da Ilha na adaptação mesmo anos após a quebra da barreira, quando descobriram sobre a vinda de Mareena, e no mesmo instante decidiram juntos que queriam que ela nascesse no mar. Já era um plano deles fazer aquilo eventualmente, então o casal apenas adiantou tudo, reformaram o mesmo navio onde tinham se casado um ano antes, e zarparam de Auradon para o estilo de vida que queria ter desde sempre.

Mas não foi tão simples quanto pensaram que seria, porque Uma não ficou bem após o nascimento da filha. Harry nunca entendeu o que houve, ele só sabia que Uma chorava toda vez que olhava para a filha deles, se cobrava demais todos os dias e não conseguia cuidar dela. Aquilo durou muito mais do que acharam que duraria, e no final do primeiro mês de vida de Mareena, quando Uma ainda mal conseguia segurá-la sem chorar e dizer que queria pular no mar como polvo e sumir, ele percebeu que o que estava acontecendo era mais sério. Foi quando ele construiu a cabine daquela saleta, bem baixa e próxima ao mar, para Uma ter um refúgio contra si mesma, e se virou com Mareena até que sua esposa voltasse ao normal.

O que aconteceu em pouco mais de dois meses depois. Nos primeiros dias ela passava quase o dia inteiro na saleta e na varanda, sozinha, olhando o mar e sendo ela mesma, longe da agitação das mudanças que a vida com um bebê a bordo trazia. Mas era difícil fazê-la entender que não era a pior pessoa do mundo por estar vivendo a utopia que tinha imaginado. Ela se comparava constantemente com Mal, que também tinha tido seus filhos meses antes deles e era excelente com eles, de forma que ele teve que cortar as chamadas de vídeo com a rainha por algum tempo. E o maior medo de Harry naquela época era que ela cumprisse as promessas que fazia de voltar a sumir no mar, porque se lembrava de como era ficar sem ela e não queria repetir a dose.

O tempo tinha levado aquela onde embora como levava todas as outras. Aos poucos, ela começou a sair do cômodo durante o dia, e ia para perto de Mareena, observá-la, niná-la, às vezes apenas cantarolar para o bebê. Então esses períodos começaram a aumentar, até que ela estava cuidando da filha sem mais nem pensar sobre aquilo, chegando até a ser superprotetora e causar ciúmes em Harry. E nada mais tinha desandado desde então e eles simplesmente pararam de falar do assunto, fingindo que nunca tinha acontecido. Ele não fazia ideia de que ela ainda se culpava por aquilo, ou que achava que tinha causado algum dano irreversível.

Não tinha sido só ele a relembrar os dias sombrios – como eles chamavam – durante aqueles minutos de silencio, porque de repente os olhos de Uma refletiam a umidade das lágrimas que ela se recusava a deixar cair. Teimosa.

— O que eu sei é que nada do que aconteceu foi sua culpa, e que você venceu aqueles sentimentos ruins em poucos tempo e voltou pra nós e ficou tudo bem. Ainda está tudo bem. Mar nem se lembra disso, forem só seus primeiros dias.

— São os mais importantes pra formar uma conexão, Harry! — Uma xingou. — Eu perdi algo muito importante com ela por ser idiota, e vou acabar perdendo com esse bebê também.

— Não vai acontecer de novo, babe.

— Para de repetir isso. Você não pode prometer isso, pode? — o olhar ela faiscou em desafio. — Nós desejamos Mareena, amamos cada segundo da gestação dela e olha no que deu.

— O que deu? Temos uma filha linda que amamos, foi nisso que deu — ele argumentou, e então suspirou quando viu que suas palavras e nada estavam surtindo o mesmo efeito. Ele conhecia Uma. Seria quase impossível fazê-la se sentir segura contrariando suas suposições. — Tá, vamos seguir sua linha de raciocínio. É uma linha idiota, mas vamos segui-la.

Ela ergueu uma sobrancelha para ele, que o pirata ignorou totalmente e continuou.

— SE acontecer, o que não sabemos porque isso é aleatório e não dá pra se prever, vamos fazer dar certo como fizemos dar certo com Mareena. Vamos seguir em frente até o amanhecer, como sempre fazemos. Você só precisa se lembrar que não está sozinha, ok? Se sentir vontade de gritar, joga pra mim e eu te dou cobertura.

Uma apoiou-se em seus joelhos, olhando para cima, para o teto da cabine. Harry não entendia. Era exatamente o que ela não queria. Vê-lo cuidando de tudo e fazendo o que ela era incapaz. Sim, ele era incrivelmente compreensivo e apoiador, mas aquilo acaba apena piorando a culpa dentro dela. Ela só queria ser capaz de fazer as coisas direito, e só. Nada tinha sido mais devastador do que só sentir pânico, e não uma onda de amor imediato pelo bebê deles, quando a viu pela primeira vez. Sim, ela amava Mareena mais do que a vida agora, mas aquilo tinha sido construído após meses de sentimentos opressivos e desesperadores. E ela não estava pronta para sentir aquilo de novo.

— Uma? — Harry chamou, a voz mais branda agora enquanto capturava uma lágrima fugitiva da bochecha dela com seu polegar. — Eu conheço esse olhar. Não foi sua culpa.

 Ela estava cansada de ouvir aquilo.

— Você passou os primeiros dias da Mareena cuidando dela sozinho e onde eu estava, Harry? Trancada numa sala, fugindo da minha filha, perdendo tempo longe do ser mais precioso que já pisou nessa terra. Como você chama isso? — a voz dela aumentou de volume conforme seus sentimentos vinham à tona. — Ela era a coisinha mais linda e pura na qual já coloquei os olhos, e eu a ignorei e não consegui amá-la como deveria, exatamente como minha mãe fez comigo, e estraguei nossa relação pra sempre. Por isso precisamos ir pra Auradon, porque você até pode conseguir fazer isso de novo, mas eu não quero que faça.

Harry não podia acreditar no que estava ouvindo. Ok, ele entendia todos os sentimentos complexos, a culpa e o medo de passar por tudo aquilo de novo, mas havia uma mensagem velada por trás de tudo que ela estava dizendo que não fazia sentido algum.

— O que você acha que perdeu com a Mareena? — ele questionou, tentando entender aquilo, porque não fazia sentido. — Babe, sim, aquele tempo foi ruim, mas passou e você é a melhor mãe do mundo para a Mar. Ela ama você!

— Ela gosta mais de você, e você sabe disso — havia um traço fino de ressentimento em sua voz. — Vocês são muito mais ligados.

— Tá maluca? Você é a heroína dela!

— Sou nada.

— Você está sendo irracional.

— Não estou.

— Me diz um dia sequer em que ela demonstrou que amava mais a mim — ele lançou o desafio.

Uma ficou calada por alguns instantes, e Harry aproveitou para se aproximar mais e envolver os ombros dela com seus braços. Cedendo, ela suspirou e encostou a cabeça no peito dele após enxugar outra lágrima estúpida quando não conseguiu responder a pergunta objetivamente como achava que poderia.

— Ela prefere lutar com você — Uma finalmente respondeu, em tom acusatório.

— Só porque eu ensino manobras mais perigosas e deixo ela me espetar — ele a cutucou nas costelas, forçando-a a sorrir por dois segundos. — Ela não gosta de mergulhar comigo.

— Porque você sempre vai em direção a peixes feios que assustam ela. Ela gosta dos corais.

— E eu gosto de provocá-la. Mas pra quem ela corre sempre que tem algo errado?

— Pra você.

— O quê? — Harry deu um peteleco nela. — Ela corre pra mim quando faz algo errado porque sabe que a bronca será menor, como quando ela tirou o navio da rota porque estava brincando com o leme. Ela corre pra você quando tem algo errado com ela ou algo que a assusta. Ela confia em você pra cuidar dela mais do que a mim, porque sabe o quanto você a ama. E sabe que você é mais durona e ameaçadora também, mas acho bom você entender isso agora de uma vez porque eu nunca mais vou repetir.

Uma bufou, mas o choro tinha cessado. Ela rolou os olhos.

— Ficar medindo habilidades parentais não vai resolver isso.

— Eu discordo — ele puxou as mãos dela para si, chamando seu olhar para ele também. Ela já parecia um pouco melhor, mas ainda precisava entender. — Você não estragou nada. Sim, cometemos muitos erros com ela, eu também cometi e eles não forem maiores e nem menores do que os seus, porque é o que se espera de pais de primeira viagem, a gente não sabia o que estava fazendo. Mar foi nossa cobaia. Caramba, eu quase a deixei cair no mar brincando de Titanic com a pirralha, lembra disso? Você quem a pegou a tempo — ele riu quando Uma o acompanhou e ficou satisfeito, ainda que a risada tenha soado meio triste. — Uma, aquele dias sombrios foram horríveis pra mim também, mas não por ter que cuidar da Maruja. Foi porque sem você eu não sabia nem mais pra que lado ficava o norte. Literalmente. Tive que deixar o navio parado para não nos perdermos. Eu não tenho estrela pra seguir sem você do meu lado. Mas agora... Somos bons e a Mareena é melhor ainda. Cada erro valeu a pena, nós nos ajustamos por eles. Ela tem sorte de ter você, e eu tenho sorte de ter você, e nós dois estaríamos perdidinhos sem você. Você é a nossa bússola.

— Harry...

— Não, espera. Eu sei que dá medo, sinceramente estou com medo também. Bateu aquele pânico básico na hora em que percebi o que estava acontecendo com você, minutos atrás. Mas aposto que se você perguntar à Mal, à Evie ou qualquer um dos outros, eles vão dizer que ficaram com medo também. Essa coisa toda é aterrorizante, a vida. Acha que eu não pensei que tinha estragado tudo quando te dei um doce flambado com vinho pra comer nos seis meses da Mareena?

Uma riu, dessa vez com humor de verdade. Listas suas trapalhadas era sempre algo divertido.

— Eu nunca te vi tão surtado.

— Pois é. Temos nossos momentos. Mas nenhum deles destruiu nada, porque olha só o que temos aqui. Se você quiser ir pra Auradon, vamos pra Auradon, mas se está fazendo isso só por medo de que ao estar no navio você vai repetir algum tipo de ciclo, esqueça. Você sabe que eu vou pra onde você for, mas só te deixo ir se estivermos seguindo a estrela, e não o medo, okay?

Uma soltou o ar que segurava, apertando as mãos de Harry nas suas. O brilho verdes dos olhos dele lhe lembravam as águas do oceano, e tal qual, lhe passavam segurança.

Devagar, ela assentiu.

Mais aliviado, ele pousou uma das mãos na barriga dela.

— E vai ficar tudo bem como novo marujo ou maruja junior, okay?

Ele esperava outro “okay” de resposta. Ela revirou os olhos, descrente.

— Como você sabe?

Ele deu de ombros.

— Sabendo. Um pirata sabe — ele se inclinou para a frente e a beijou, sendo retribuído com um pouco de marra, mas não se importava. Ele conseguia sentir nos lábios dela a confiança retornando.

— Que bom que eu tenho o melhor de todos os piratas comigo então — ela sussurrou entre os lábios dele ao se separarem.

Harry estava prestes a beijá-la novamente quando um barulho soou no cômodo de cima. Era o quarto deles. Algo tinha caído no chão.

— Vá checá-la — Uma empurrou Harry, afastando-o de repente.

Harry resmungou, contrariado.

— Ela está bem, está dormindo.

— Ela estava dormindo há uma hora atrás. Não pode garantir isso agora.

— Ela não precisa de supervisão constante, você sabe.

— Da última vez que você afirmou isso, quase afundamos.

Foi quando um grito agudo, prolongado e assustado chegou até eles, vindo da cabine principal do navio. Uma e Harry se entreolharam por meio segundo de olhos arregalados antes de saírem correndo até a fonte do som.

Harry chegou primeiro, escancarando a porta da cabine já pronto para sacar sua espada e lutar. A menina estava sentada na cama, envolta por cobertas grossas. Ela esfregava os olhos úmidos, coberto por lágrimas.

Uma empurrou Harry para passar por ele, correndo até a cama com aflição. A menina pulou no seu colo quase no mesmo instante em que ela chegava e a tomava nos braços.

— Mareena! — Uma exclamou, tirando os cachos grossos da frente do rosto a filha enquanto a acalmava. — O que aconteceu?

Mareena apenas chacoalhou a cabeça, fazendo com que os cabelos recém arrumados pelas mãe voltassem a ser uma bagunça em torno de seu rosto. Harry se aproximou devagar e sentou-se ao lado de Uma.

Ele passou o polegar pela bochecha da menina, por cima de uma lágrima, e levantou seu queixo até que pudesse ver os olhos tão verdes quantos os dele.

— Pesadelo?

Ela assentiu, fazendo um bico.

Uma suspirou de alivio, e relaxou o aperto em torno da criança.

— Quer nos contar o que sonhou? — ele tornou a perguntar, mas viu que seria inútil quando tudo que ela fez foi esconder o rosto nos cachos verdes de Uma.

— Hey, garotinha — Uma a cutucou nas costelas, fazendo-a se encolher ainda mais. Ela espiou a mãe pelo canto do olho. — Pesadelos são só isso. Pesadelos. Eu sei porque costumava ter também.

O tom de sussurro atraiu a atenção dela, que levantou o queixo para espiar os pais pela fresta dos fios. Harry se aproximou, sentando ao lado das duas na cama.

— Você? — ela sussurrou de volta.

— Sim. Quando eu era mais nova, lá na Ilha. E depois de grande também, quando estava com muito medo.

— Você ficava com medo? — os pequenos olhos verdes se arregalaram. — Do quê?

— Ah, de muitas coisas. Mas a maioria das vezes, era de ficar sozinha — Uma levou o dedo indicador aos lábios com uma expressão conspiradora no olhar. — Mas não conta pro seu pai, é segredo.

Mareena riu.

— Mas ele ouviu.

Harry se fez de distraído subitamente, olhando para o teto e assobiando. Ele piscou para a filha.

— Não sei do que você está falando.

— O importante é que — Uma a fez olhá-la novamente. — Garotas fortes também sentem medo. Mas sabe o que faz a gente ser forte?

— O quê?

— Não deixar o medo para a gente. Ter medo nunca pode ser o motivo pra você não fazer alguma coisa, certo?

— Certo!

— Certo — Harry ecoou, olhando-a significativamente.

Uma escondeu um sorriso, estreitando os olhos para ele. Tinha entendido o recado.

E Mareena também, porque agora estava em pé se equilibrando nas pernas da mãe, completamente acordada agora. Uma a firmou pela cintura quando quase caiu, e a garotinha pulou de seu colo pro chão.

Mar correu até a escotilha da cabine, abriu a porta de vidro e se equilibrou no banquinho próximo à cômoda para cheirar o ar salgado do oceano, como fazia em quase todas as manhãs. Ela olhou com expectativa para os pais.

— Ah, não — Harry sacudiu a cabeça, e a tirou de lá, segurando a menina de lado debaixo dos braços como um saco de batatas.

— Papaaaai!

— Você acabou de acordar, Maruja.

— Mamããããe — ela apelou.

— Hoje não. E você precisa tomar café — Uma tocou na ponta do nariz dela ao negar. — O mar não gosta de garotinhas que não tem força pra nadar.

— Eu tenho força — ela fez um bico emburrado. — E não importa. Ele é meu, não pode não gostar de mim.

Os dois prenderam suas risadas, assentindo como se aquela fosse uma questão muito séria a ser debatida. Desde os dois anos Mareena achava que era a dona do mar. Ela estava aprendendo a nadar e Harry a tinha incentivado dizendo que o mar era “todo dela” quando a soltou, e ela finalmente conseguiu nadar sozinha. Então ela achava que ele a pertencia.

Ela continuou argumentando quando Harry a arrumou nos braços e os três saíram da cabine para o convés, dando boas vindas novamente ao calor do sol que já brilhava alto nos céus. Antes que Uma pudesse ir até a cozinha pegar o café da manhã da mocinha que já tinha sido preparado há algum tempo, Mareena começou a gritar e sacudir as pernas, apontando para a água.

— TIMOTHY!

Olhando na amurada do navio para baixo, um golfinho de estimação de Mareena estava abaixo, esguichando água. Desde a primeira vez que tinha colocado os pequenos pezinhos de bebê dentro da água, Mar atraía golfinhos, que adorava brincar com ela. Alguns seguiam o navio, e os que costumavam aparecer mais vezes ela nomeou de Timothy. Timothy nem sempre era o mesmo golfinho, haviam pelo menos sete Timothys diferentes, e nenhum dos dois sabia se a filha realmente tinha consciência daquilo, mas nunca contaram.

Harry a colocou no chão e Mareena se reclinou sobre a amurada do navio, gritando para o bicho e gargalhando em resposta a cada esguicho.

Sorrateiramente, Harry envolveu seus braços ao redor de Uma, mas ela não se afastou daquela vez. Em vez disso, relaxou no abraço e descansou a cabeça no peito dele. Ambos ainda olhando para Mareena dando tchau pro golfinho.

— Ainda não estou completamente convencida, mas você pode estar certo. Em partes — Uma suspirou, pegando Harry de surpresa.

Ele a girou para poder olhá-la, mas parecia mais decidida agora. A sombra tinha saído dos seus olhos.

Ele levou as mãos ao coração, fingindo-se de ofendido. Uma sorriso torto nos lábios.

— Em partes?

— Eu ainda estou com medo, e isso não vai passar tão cedo. Mas não quer dizer que não vamos seguir em frente — ela desviou o olhar para Mareena, solene.

Harry sorriu.

— É só dar as instruções, Capitã.

Uma ia abrir a boca para responder, mas foi interrompida.

— MAMÃE! — Mareena gritou, e agora estava apontando para a proa.

Harry e Uma foram para o lado dela, olhando para onde ela apontava. O golfinho agora estava longe, nadando bem à frente do navio, mas Mareena não olhava mais para ele. Com o vento batendo jogando seus cachos grosso para trás, olha olhava para o contorno de Auradon surgindo no horizonte.

— Terra à vista — Harry declarou, e olhou para sua capitã. — Em frente ou meia volta?

Ela prendeu a respiração por um momento. Sabia o que ele estava perguntando. Pra que lado estava a estrela? Pra que lado seu coração indicava?

— Onde é? — Mareena questionou, alheia à conversa dos pais.

— É Auradon, meu amor — Uma se abaixou próximo ao ouvido da filha, observando o reino surgir para eles.

Varrendo metade do medo deles pra debaixo do tapete, Mareena se levantou e começou a pular, quase caindo na água. Uma a segurou antes que caísse e a firmou no chão do convés novamente, mas ela ainda saltitava.

— É LINDO!

Uma soltou a respiração. Mareena tinha acabado de facilitar a decisão.

— É pra lá que vamos, então — ela declarou sua resposta para Harry, apertando a mão dele com firmeza. — Tínhamos decidido ir antes de eu descobrir a novidade, e eu quero estar lá para ver o povo da Ilha crescer no reino, quero voltar a ser a porta-voz deles. Eu só... Você estava certo quando disse que Mareena ama a vida que temos aqui, e eu só não quero decepcioná-la de novo, sabe?

Harry assentiu. Isso ele podia entender, e muito.

— O barco vai estar sempre pronto pra partir. Se ela não se adaptar, voltamos ao mar na mesma hora. De acordo?

Harry ofereceu o dedo mindinho para ela, que sorriu e encaixou o seu próprio no dele. Uma promessa antiga, algo dos dois.

Eles sorriram um para o outro.

— Içar velas, Capitã? — ele ergueu uma sobrancelha sugestivamente, fazendo-a rir.

— Segunda estrela a direita e em frente até o amanhecer.

Harry roubou um beijo de Uma.

Auradon, ai vamos nós.


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Notas finais do capítulo

Obs: a Mareena é uma criação da Juliana que eu peguei emprestada. Créditos a ela, sempre. Afinal nem de Huma eu gostava antes de conhecê-la.

Eu te amo, Ju. Você não só me fez amar Huma junto com você, mas me inspira e renova minhas energias pra escrever em toda conversa. E sempre me faz rir. Siga sempre sua estrela até o seu próprio amanhecer.

Happy birthday ♥



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