Correio Elegante escrita por remoonyy


Capítulo 1
Capítulo único




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— Esse é o primeiro dia dos namorados com mais pessoas dentro da escola do que fora, pouquíssimos confirmaram os nomes para Hogsmead. — Declarou Lily em tom de desânimo, sentada na ponta da enorme mesa central do salão dos monitores. —  Ou todos resolveram fazer um voto de castidade esse ano, ou…

— Ou estão com medo da guerra. — Fora James quem completou, crispando os lábios. 

Lily suspirou fundo, sentindo um arrepio correr por sua nuca ao concordar. 

Era um sentimento inevitável, visto que todos os dias, a garota acordava com medo do que iria encontrar no Profeta Diário. O número de mortos pelas mãos de comensais da morte crescia a cada minuto, com atendimento preferencial à trouxas. 

Não havia um dia durante o último ano que Lily não temesse acabar por ler o nome de sua família no jornal. 

— Todos estão com medo da guerra. — Benjy Fenwick, monitor da Corvinal, afirmou de forma quase silenciosa. — Os ataques triplicaram de um mês pro outro, e parece que eles não se importam mais se você é nascido trouxa, mestiço, puro sangue… eles não ligam. A guerra ‘tá estourando, e ninguém mais se sente seguro lá fora.

A sala ficou em silêncio pelo que pareceram alguns minutos, antes de James se pronunciar novamente.

— Então vamos fazer o possível para entreter as pessoas aqui mesmo, dentro do castelo. Alguma coisa boa o suficiente que faça as pessoas que já confirmaram a ida para o vilarejo repensarem. Quanto mais tempo conseguirmos ficar aqui dentro, melhor. Não existe lugar mais seguro do que Hogwarts, certo? — Afirmou com total segurança em sua voz, sem desviar o olhar de seu foco. — Alguma sugestão?

Não demorou para que a sala se enchesse com murmurinhos, fazendo James sorrir com o canto dos lábios. Ele e Lily eram os únicos em silêncio durante a pequena discussão.

Quando sua carta de monitora chefe foi entregue, Lily sentiu como se não pudesse estar em maior êxtase. Nos primeiros anos, nunca se imaginou conseguindo um cargo tão grande no colégio, simplesmente por não acreditar que alguém como ela, nascida trouxa, poderia ser melhor que todas aquelas pessoas com histórico de magia na família. Seu pensamento obviamente acabou mudando com o decorrer dos anos, sua convivência com vários grupos diferentes de pessoas a havia mostrado isso. 

No entanto, seu êxtase foi tomado por uma enorme surpresa no momento que leu o nome do monitor chefe que cumpriria tarefas ao seu lado. James Potter.

O mesmo James Potter que, por alguns anos, a azucrinava com cantadas baratas e completamente foras de moda, com pedidos para sair nas horas mais inoportunas do dia, e com apelidos que por muitas vezes a fizeram revirar os olhos com uma força consideravelmente fora do normal. Mas, ao mesmo tempo, o mesmo James Potter que desde o final do sexto ano apenas a cumprimentava com um sorriso torto no rosto, seguido de um “tudo certo, Evans?”.

A primeira pergunta dirigida à Mcgonagall no início do ano letivo fora, justamente, “Você tem certeza que ele é a melhor opção?”. Porém, ao ouvir como resposta que James Potter havia sido indicação direta de Dumbledore, tudo que lhe restava era apenas aceitar. 

No final das contas, o diretor não havia errado afinal. Todos ficaram surpresos com o desempenho de James no cargo, mas não mais do que Lily. A princípio, o julgava como alguém que não levaria a monitoria a sério, de forma que a usaria como pretexto apenas para livrar seus amigos e a si mesmo de detenções. 

Porém, após algum tempo trabalhando lado a lado, Lily percebeu que talvez não fosse uma ideia de todo ruim ter Potter por perto. Suas rondas com ele eram milhares de vezes melhores que aquelas em que fazia sozinha, ou com um monitor qualquer de outra casa. Suas conversas que antes não passavam de meros cumprimentos a distância, evoluíram para gargalhadas nos corredores, conversas intermináveis durante um turno, e até mesmo olhares significativos durante as aulas.

Ela não estava errada quando pensou que ele livraria seus amigos de detenções, mas sua maldita lábia era tão boa que até mesmo Lily de vez em quando se perguntava se não estava pegando pesado demais com os alunos.

Apesar disso, não podia negar que, realmente, James era um líder nato. Sabia escutar todos os lados de uma conversa, apesar de se impor quando necessário. Com ele, as reuniões passaram a ser muito mais que a mesmice de sempre, levantando sempre ideias novas, projetos novos, soluções novas.

Como naquele momento. 

James estava em pé ao seu lado, com os dois braços apoiados em cima da mesa. A manga do uniforme havia sido amarrotada até a altura do cotovelo, como se estivesse prestes a realizar qualquer tipo de trabalho braçal e precisasse evidenciar os músculos de seus braços. Aquela aparentava ser sua pose preferida, pois era a mesma em todas as reuniões, algo que deixava Lily furiosa (com ela mesma).

Não era como se pudesse controlar todas as vezes em que, inevitavelmente, seus olhos se fixavam em James e na forma como seu maxilar contraia quando estava preocupado ou estressado com algum problema, ou em seu pescoço que sempre estava jogado para o lado, tornando a área completamente livre. Na maioria das vezes, seu cérebro percebia o que estava fazendo e era rápido o bastante para desviar sua atenção para qualquer outra coisa menos interessante que ele. 

No entanto, também havia momentos onde James parecia sentir seus olhos queimando sobre ele, e quase que instantaneamente sua atenção se voltava para Lily, enquanto um sorriso irritantemente travesso brincava em seu rosto.

Nessa reunião, Lily percebeu ter lhe sobrado a segunda opção.

— E você, Evans? Alguma ideia?

A sala automaticamente se afundou no mais completo silêncio, e a ruiva se viu sendo o foco de todos os olhares do cômodo. Fez uma nota mental para que mais tarde se lembrasse de enfiar seu pé no rostinho bonito de James.

— Ah, bem… tem algumas brincadeiras que os trouxas costumam fazer no dia dos namorados, mas não sei se teria muita graça já que não envolve magia. — Dá de ombros, como se dissesse para esquecerem o assunto. No entanto, sua fala apenas chamou mais atenção. 

— Coisas trouxas, é claro! Podemos fazer um correio anônimo! É uma brincadeira de dia dos namorados, super divertida, e todo mundo consegue participar, não só quem namora. — Marli Smith, uma também nascida trouxa monitora da Lufa-Lufa, empolgou-se dando a ideia. — Consiste em uma barraquinha, onde os alunos deixam recadinhos anônimos para qualquer pessoa que esteja afim, e quem estiver cuidando da barraca fica responsável por entregar pessoalmente o bilhetinho para o destinatário, sempre de forma anônima. 

James se desencostou da mesa, como se uma luz tivesse ascendido em seu cérebro. 

— Perfeito, um correio do amor! Acho que o Remus me explicou uma vez como funcionava, é uma ideia incrível! — Verbaliza, gesticulando com as mãos. — A gente pode dividir da seguinte forma: cada casa fica responsável por duas barracas, em diferentes cantos do castelo. Por exemplo, se fulano quer mandar um correio para alguém da Corvinal, precisa procurar pela barraca do Benjy ou da Emmeline para que eles entreguem, e a mesma coisa para as outras casas. Faz sentido? Vocês concordam?

Todos assentem com a cabeça, com exceção de Lily, que seguia desviando o olhar de uma pessoa para a outra como em uma partida de ping pong. 

— Lily? — James chamou por sua atenção, em um tom quase que cuidadoso. — O que acha?

Apesar de ser tão monitor chefe quanto ela, isso era algo que o garoto fazia com muita frequência. Sabia tomar decisões, dar palpites, se impor, mas no fim, era sempre Lily quem tinha a palavra final. Era como se ele fizesse questão disso.

A garota suspirou fundo, rindo de leve pelo nariz assim que o encarou. 

— Eu acho… uma ótima ideia!

A sala comemorou, ao mesmo tempo que James soltava um sorriso capaz de rasgar o canto de seus lábios (e de amolecer as pernas de Lily).

— Certo, preciso que todos tenham tudo organizado para o final de semana. Se vocês tiverem amigos que os ajudem nas barracas, podem contar com eles também. Vai ser ainda mais divertido se todos trabalharem juntos. 

— Acho que por hoje foi só isso, então. Estão dispensados. — Completou Lily, observando os monitores levantarem de suas cadeiras, emplacando conversas animadas entre si em direção à saída. 

Como sempre, James e Lily haviam sido os últimos a deixarem a sala, visto que precisavam organizar a bagunça que sempre acabava sendo deixada para trás. A garota apenas notou quanto tempo haviam gasto jogando conversa fora, quando James se aproximou, colocando uma das mãos em sua cintura para lhe chamar atenção, gesto que a fez dar um pequeno pulo no próprio lugar

— ‘Tô indo nessa, acho que a gente já acabou por aqui. — Falou, aparentemente ignorando a vermelhidão repentina no rosto de Lily. — Vem cá, você realmente gostou da ideia? Eu pensei em deixar os monitores separado nas barracas porque se alguém quisesse enviar alguma coisa para algum deles, ia conseguir manter o anonimato. Mas se você não quiser eu posso ficar com você, eu até prefiro, sendo bem sincero. 

— Não, você tem razão, foi uma boa ideia a gente ficar em barracas separadas. Vou obrigar a Marlene a me ajudar, de qualquer forma, então não vai ter problema. Eu vou ficar mais algum tempo, pode ir na frente. — Dá de ombros, arrumando alguns últimos papéis em cima da mesa. — Boa noite, James. 

— Boa noite, ruiva. 

Assim que ele passou pela porta, Lily respirou fundo em busca de seus materiais no canto da sala. 

A proposta era realmente muito boa, e provavelmente seria algo que manteria uma grande parte dos alunos dentro do colégio. 

Não havia nada com o que se preocupar, certo?

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Errado. 

Na cabeça de Lily, aquela possivelmente havia sido a pior ideia já colocada em prática em todos os anos em que prestou monitoria. E parando pra pensar, nesses últimos três anos, o que não faltavam eram ideias idiotas que deram extremamente errado, e que foram um sacrifício para consertar depois. 

Fazia mais de uma hora que ela e Marlene montavam a pequena barraca no primeiro andar do castelo, tentando deixá-la com o máximo de clima de dia dos namorados possível. Haviam corações coloridos colados por toda a extensão da mesa, além do cartaz chamativo em rosa escrito “correio do amor” em letras garrafais. Lily estava extremamente orgulhosa de seu trabalho, e sequer sentiu muita inveja quando, ao dar uma pequena passada pelo terceiro andar apenas para verificar o andamento das coisas, percebeu que James, Sirius, Remus e Peter realmente faziam jus ao favoritismo que Mcgonagall direcionava à eles. 

No início, não pôde negar que aquilo estava sendo verdadeiramente divertido. A proposta era o conteúdo dos cartões ser, obviamente, sigiloso, porém não podia se esperar muito de Marlene nesse quesito e Lily sabia disso. 

— Se liga nesse aqui. — A amiga falou, entre risadas. — “O crime só compensa se for ‘pra roubar uns beijos seus”. Sério, eu fico impressionada com a não-capacidade dos homens de flertar. Pobre Mary Mcdonald.

— Sabe, isso era pra ser algo anônimo sabia? Se você ler todos os bilhetes das outras pessoas não vai ter graça. 

— Não vai deixar de ser anônimo só porque eu li, Evans. Inclusive, não é como se ela não fosse contar pra todas as amigas dela sobre o quão horrível foi essa cantada. 

 — Marlene, você nem é amiga dela. 

Mas eu poderia ser! E se eu fosse, ela me contaria. Estou só reagindo à todas as possibilidades.

A única resposta possível naquele momento era um rolar de olhos, e foi exatamente isso que Lily fez antes de receber mais um dos cartões com um sorriso animado no rosto. 

Porém, sua animação durou exatamente duas horas. O tempo exato até ela perder a paciência com o monopólio dos marotos sobre os correios, e principalmente, a quantidade de bilhetes que chegavam com destino a um deles em específico. 

— Ei, você pode entregar esse para o James Potter? — Hestia Jones, uma sonserina, havia acabado de lhe abordar, com uma careta tímida no rosto. 

Lily suspirou pesadamente. Décimo do dia, e contando.

Assentiu para a garota, pegando o pergaminho de suas mãos. Sequer havia feito questão de abrir qualquer um dos bilhetes que já havia entregue, de forma contrária ao que Marlene lhe sugeria. Tinha certeza de que, se lesse, provavelmente faria James engolir todos os papéis. 

Ao contrário do que se esperava, Lily não estava imaginando uma forma de assassinar James Potter e encobrir os rastros apenas por conta da quantidade de bilhetes que ele estava recebendo, de forma alguma. Ela não ligava realmente para isso. 

A verdadeira questão era ela não ter recebido nenhum cartão sequer. 

Sabia que tudo isso se devia ao seu lado competitivo falando mais alto, porém não podia evitar. Ver o sorriso convencido de James toda vez que ela lhe entregava um cartão era demais para o seu próprio ego. 

Bateu com força no tampo da mesa assim que voltou de mais uma entrega, o que fez Marlene se sobressaltar. 

— Tem alguma coisa errada. — Lily sussurrou, fazendo a amiga franzir o cenho. 

— O que foi? Lily, você sabe que seu sexto sentido anda meio falhado nos últimos, sei lá, dezessete anos…

— Não, Marlene, eu ‘tô falando dessa brincadeira. É impossível que eu não tenha recebido um bilhete sequer, e não, eu não estou sendo egocêntrica, é apenas o óbvio! O Amus já passou por aqui e ficou me encarando umas três vezes, como se esperasse uma reação minha pra algo que eu nem sei o que é. Tem alguma coisa errada… 

Marlene suspirou fundo, aproveitando que a fila estava vazia. 

— Lily, eu duvido muito. Eu já recebi uma caralhada de bilhetes, você viu, o que exatamente você acha que pode ter acontecido? Eles estarem extraviando apenas os seus cartões, especificamente? 

— Não sei, quem sabe? Pode ser uma pegadinha deles pra cima de mim, é a cara deles fazer isso. — Pronuncia exaltada. — Mas eu vou descobrir o que está acontecendo. 

— Ah é? E como a senhorita justiceira pretende fazer isso? 

Lily franze os lábios por uma fração de segundo. Não podia fazer nada por ela mesma para não levantar tantas suspeitas porém…

Olhou para Marlene com um sorriso ladeado no rosto. 

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Maldito seja Godric Gryffindor e seu senso estúpido de lealdade, pensou a loira enquanto esperava qualquer boa alma aparecer pelos corredores.

Marlene havia bufado pela que parecia a décima vez desde que havia parado ao lado daquela estátua estranha do terceiro andar. Pensava seriamente em como diabos ainda insistia em sua amizade com Lily, afinal aquela não era a primeira e muito menos seria a última vez em qual a melhor amiga a colocava em uma situação completamente comprometedora.

O plano era fácil. Tudo que Lily Evans queria era saber o paradeiro de seus supostos bilhetes perdidos. Por isso, encarregou Marlene de ela mesma mandar um pergaminho anônimo para Lily. 

“Você só precisa pagar algum garoto do segundo ou do primeiro ano com alguns cicles para mandar o correio ‘pra mim, é simples. Não sei do que você tanto reclama, já que até o dinheiro eu estou dando.” fora o que Lily lhe disse, antes que Marlene quase a azarasse. 

E era exatamente isso que estava fazendo escorada naquela estátua, de braços cruzados enquanto observava James e Remus super entretidos com a grande demanda de bilhetes. O bilhete anônimo que as duas haviam forjado estava preso entre seus dedos, pronto para ser entregue pelo primeiro pirralho que aparecesse, e com o mínimo de interesse de ganhar dinheiro fácil.

Sua primeira isca estava na mira. Um garoto atrapalhado da Lufa-Lufa, primeiro ano, que dizia ao colega que estava louco para mandar algo à alguém, só ainda não sabia para quem. Marlene estava prestes a abordá-lo, porém alguém fez isso com ela mesma antes.

— Se escondendo de alguém, Mckinnon? 

Marlene estancou no próprio lugar no momento que reconheceu a voz afundada em ironia atrás de si. Fez uma careta enquanto se virava lentamente, dando de cara com ninguém menos que Sirius Black, vestindo sua usual jaqueta de couro e os dois braços cruzados em frente ao corpo. 

Além de carregar, claro, o irritante sorriso despretensioso em seu rosto

— Não, de jeito nenhum. Não sou nenhum de vocês que a cada passo que dá precisa se esconder do Filch ou daquela gata problemática dele. — A loira rebate, o que faz o sorriso de Sirius aumentar ainda mais. 

Antes que pudesse responder o corte, seus olhos foram diretamente para o papel que jazia nas mãos da garota. 

— Isso é um correio? — Pergunta, se aproximando a fim de roubar o bilhete de suas mãos. 

Marlene arregala os olhos, tentando tirar o papel de sua vista. 

— Não. É só um pedaço de pergaminho que está na minha mão, e eu vou obviamente jogar no lixo. 

Tentou se desvencilhar de Sirius, porém no momento que deu um passo para o lado, o garoto rapidamente tomou sua frente, trancando a passagem. Marlene levantou o braço em desespero, mas devido a diferença de altura, o movimento apenas o ajudou ainda mais a conseguir alcançar o papel. 

— Devolve essa porra, Black. 

— Mas você acabou de dizer que ia jogar no lixo, só vou poupar você do trabalho. — Diz em um tom ingênuo - e obviamente falso. Marlene bufa quando Sirius revida o movimento que ela mesma havia feito, erguendo os braços para o alto de uma maneira que ela obviamente não pode alcançar. Enquanto Marlene tentava a todo custo pular na direção do papel, Sirius abriu facilmente o pequeno pergaminho com uma das mãos, enquanto a outra se mantinha ocupada em impedir Marlene. — “Nem precisa acender a luz ‘pra ficar claro que eu quero você”. Cacete Marlene, eu sempre pensei que você fosse boa em flerte, mas isso é no mínimo decadente…

— Você realmente acha que isso é meu? Sabe, falando assim você até chega perto de me ofender. Foi um aluno que pediu pra eu entregar o bilhete, ou você esqueceu que eu também estou trabalhando nisso?

— Eu até poderia acreditar nisso se: — Sirius ergueu um dos dedos, tentando dar ênfase á sua contagem. — 1) Você não estivesse claramente bisbilhotando nossa barraca a, no mínimo, uns vinte minutos. 2) Você não houvesse tentado me impedir tão arduamente de ler esse cartão. E por último e mais importante, se essa não fosse sua letra. E você sabe que eu reconheço até os seus piores garranchos, Mckinnon. 

Marlene ouviu a última sentença lívida e com a boca entreaberta em descrença. 

Por isso luxúria é um pecado. Se ele não fosse malditamente gostoso eu nunca teria trocado bilhetes com ele e esse tipo de situação não estaria acontecendo, pensou enquanto cruzava os braços.

Pensou por um segundo em dedurar Lily, para salvar o resquício de dignidade que ainda lhe restava, porém a ideia logo desapareceu. Amaldiçoou mais uma vez os princípios de Godric Gryffindor. 

— Ok, Sirius. E o que exatamente você pretende fazer com essa informação?

O garoto crispou os lábios, dobrando o bilhete em suas mãos. Sem desviar o olhar dela, guardou o pergaminho no bolso da calça. 

— Agora? Nada. Mais tarde? — Sorri travesso, se afastando um passo. — Eu te mostro que eu também não preciso de luz ‘pra deixar claro que quero você. 

Assim que ele se afastou, Marlene precisou de no mínimo alguns segundos para trazer seu corpo de volta ao comando de seu cérebro, e enfim andar de volta para a própria barraca.

Antes que pudesse dar oportunidade para Lily voltar a falar, Marlene apenas ergueu um dedo. 

— Não, nós não vamos falar sobre isso. E eu vou te cobrar minha terapia.

Lily não ousou voltar ao assunto, afinal, no tempo que a amiga estivera fora, o que mais havia aparecido eram pessoas desesperadas para que seus bilhetes fossem entregues. 

Suspirou fundo ao perceber que ainda haveria muito trabalho pela frente. 

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Ao fim do dia, tudo que Lily mais queria era sua preciosa cama quente que lhe esperava em seu dormitório. Foi um longo dia entregando os mais diversos cartões amorosos, e claro, sem receber nenhum. Em algum momento, chegou até mesmo a imaginar que o problema estava nela. No entanto, a hipótese foi logo descartada, já que era muito mais fácil culpar os outros do que destruir sua auto estima por algo bobo.

Havia acabado de organizar as últimas coisas que faltavam no salão dos monitores quando se jogou na cadeira ao lado da mesa, colocando a mão nos olhos. Estava pior do que trapos. 

Ouviu a porta se abrir, mas não fez questão de levantar o olhar até o invasor se identificar com a própria voz.

— Tudo certo aí, Evans?

Lily levantou a cabeça, ao ouvir a voz de James e sorriu de leve. 

— Defina “bem”.

James apenas riu, se jogando no sofá do outro lado da sala.

— Muitos admiradores secretos? — Perguntou ele, e se não fosse seu extremo cansaço, Lily podia jurar que ouviu um teor de humor em sua voz.

— Nenhum, na verdade. Ao contrário de você Potter, que me fez andar pra lá e pra cá pra te entregar dezenas de cartõezinhos românticos. 

— Nem foram tantos assim. Mas vem cá, tenho uma coisa para melhorar seu humor.

Lily franziu o cenho no momento que James se levantou do sofá e se aproximou, retirando um pedaço de pergaminho rasgado de dentro do bolso direito de sua calça. Parecia velho, e de longe, conseguiu perceber alguns garranchos na letra. O encarou com receio a princípio, enquanto ele revirava os olhos. 

— Qual é, eu juro que não azarei o papel. — Responde, passando uma das mãos pelos cabelos. James sorri travesso logo em seguida, dando de ombros. — Bom, pelo menos não esse. 

Agora fora a vez de Lily revirar os olhos, apesar de não segurar a risada. Pegou o papel com um sorriso derretido no rosto, que se estendeu por toda sua leitura. 

"Teus olhos são verdes como sapinhos cozidos. Teus cabelos, ruivos como fogo ardente em um caldeirão. Um dia eu terei você, como um pomo de ouro, que só pertence a uma pessoa durante toda a vida."

— Merlin, isso parece ter sido escrito por um garoto de 12 anos. — Lily ri, voltando seu olhar para James novamente, que parecia envergonhado. Isso serviu apenas para que seu sorriso aumentasse ainda mais. — Espera, isso é seu?

— Sim… quer dizer, fui eu que escrevi, mas em minha defesa, você não tava errada quando disse que parece ter sido escrito por um garoto de 12 anos. — James dá de ombros, se encostando na parede atrás de si. — Achei isso no meu caderno de transfiguração do segundo ano. Tinha uma página inteira com vários poemas desse mesmo calibre, ‘pra várias pessoas.

— Até para o Sirius?

— Se esse segredo sair daqui Evans, eu vou saber que foi você

Lily caiu na risada, sendo seguida por James.

— Merlin… eu nem sei o que dizer. 

James deu de ombros, se desencostando da parede atrás de si para se aproximar no máximo três passos.  

— Não precisa dizer nada. Mostrei isso pra você entender de uma vez por todas que, desde que eu escrevi esse bilhete, até o dia de hoje, eu nunca mudei de ideia. — Lily entreabriu os lábios, olhando para cima para o encarar nos olhos. — Sempre foi você, e sempre vai ser você, Lily. Você já me tem a muito tempo e nunca teve noção disso, mas… agora acho que você sabe. 

Lily não sabia se seu interior estava prestes a congelar ou a ferver. Depois de tanto tentar convencer a si mesma de que James havia desistido de tentar qualquer coisa com ela após tanto tempo, foi como se uma chama acendesse em seu corpo, ao mesmo tempo que um balde de água fria era despejado em cima de sua cabeça. 

Foi impossível controlar o impulso de se levantar da cadeira, e simplesmente acabar com a distância entre eles. Percebeu a confusão na expressão de James, e tinha certeza que os neurônios de seu cérebro estavam passando pelo mesmo nível de processamento. Por um segundo ele a devorou com os olhos, sem evitar que suas pálpebras se arregalassem um pouco no momento que Lily alcançou seu rosto com as duas mãos, e enfim levou seus lábios de encontro aos dele.

Nenhum dos pensamentos de James se comparava a real sensação de beijar Lily Evans. A boca quente dela entrando em sincronia com a sua, suas mãos brincando com os cabelos que ela tanto insistia em reclamar algum tempo atrás, a forma em que ela não exitou ao ser puxada de encontro a ele quando James a abraçou forte pela cintura.

Lily teve certeza que suas pernas fraquejaram no momento que se separaram para tomar ar. 

Foi inevitável não sorrir ao encarar seus olhos por trás das lentes levemente embaçadas dos óculos. Suas mãos foram novamente para a lateral do rosto do garoto, pousando-as em seu maxilar tenso.

— Eu estou apaixonada por você. Mas algo me diz que você já sabia disso...

James fez uma careta antes de assentir, recebendo um tapa de Lily no ombro como resposta, apesar de ela também estar sorrindo. Dessa vez, ele quem fez questão de capturar os lábios da ruiva para si.

Apesar do beijo ter sido mil vezes mais calmo, Lily não pode deixar de suspirar no momento que os dois se afastaram minimamente, mais uma vez. 

— Se eu soubesse que você teria essa reação por causa do meu lado poeta de doze anos de idade eu teria te dado esse bilhetinho mais cedo. 

Lily revirou os olhos, sem tirar seus braços do redor de seu pescoço.

— Talvez funcionasse, talvez não. Vai ver meu intelecto não estivesse pronto antes para uma obra dessa profundidade. — Deu de ombro, fazendo ele gargalhar. 

— Mas então, falando em bilhetinhos… — James exclamou de repente ao se separar dela um pouco mais, colocando uma das mãos no bolso esquerdo. — Você até que recebeu alguns hoje. Eu meio que esqueci de entregar mais cedo.

De sua calça, o garoto retirou um bolo de papéis embolados os jogando na mesa em seguida. Pareciam ter, no mínimo, uns 15. 

Lily encarou os bilhetinhos em sua frente boquiaberta. 

— Você escondeu eles de mim? 

— Claro que não! Que tipo de cara você acha que eu sou? — Dramatiza, colocando uma mão no peito em sinal de ofensa. — Eu apenas os confisquei por algumas horas a fim de não ofuscar meu poema muito bem estruturado, óbvio que eu ia te entregar depois. Totalmente compreensível. Apesar de que, depois de ler alguns deles, eu nem sei porque eu estava preocupado... se você achava minhas cantadas ruins, você deveria ver o que escreveram aí, Evans.

— Potter! Eu fui obrigada a te entregar uns 20 bilhetes diferentes, e você não se deu ao trabalho de me entregar os meus?

— Se serve de consolo, eu não li nenhum dos meus bilhetes, porque pela sua cara irritada eu sabia que nenhum deles era seu. Foram todos direto pro lixo. — James piscou um dos olhos em sua direção, deixando um beijo estalado em sua testa antes de se afastar em passos rápidos até a porta. — Bom, acho que deu minha hora. Durma bem, Lily.

Lily seguia com o queixo caído, sem conseguir acreditar no que havia acontecido. 

Tinha todos os motivos do mundo para ficar brava com James, e se ocorresse alguns anos atrás, provavelmente ficaria. 

Mas, por algum motivo, assim que ele saiu um sorriso bobo se fixou em seu rosto. 

Balançou a cabeça em negação enquanto encarava os papéis dispostos sobre a mesa, sem pensar duas vezes antes de pegar todos os bilhetinhos recém ganhos e jogar na lixeira mais próxima. Menos, é claro, um deles. Esse, Lily fez questão de guardar cuidadosamente em seu caderno de transfiguração assim que pisou em seu dormitório aquela noite.

Afinal, Lily Evans só tinha interesse em um admirador. 

E ele nunca fez questão de ser tão secreto assim.


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Notas finais do capítulo

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