O dia estava apenas começando. Acordei com o despertador, escovei os dentes, penteei o cabelo e me direcionei para o quarto de Sabrina. Abri minha mala, peguei um bikini e uma saída de banho, me troquei e voltei para o quarto de Caique, que ainda estava dormindo. Peguei uma almofada que estava no chão e joguei nele.

 –Bom dia! Hora de acordar. Vai perder o melhor sol do dia. -Ele abriu os olhos, pegou a almofada e me jogou de volta.

 –O que eu ganho em troca? - Ponderei por alguns segundos. Era carnaval e estava ferida pelo reencontro com Renan.

 –Se me encontrar lá embaixo em 10 minutos, talvez um beijo. - Disse e fechei a porta do quarto.

 Desci as escadas e quase todos estavam na mesa, só faltava Lucca, Valentina e Caique. Peguei um pão, passei requeijão e dei uma mordida. Mal tinha engolido, senti uma boca na minha. Fechei os olhos e deixei que Caique me desse um beijo não muito lento. Ele sentou ao meu lado como se nada tivesse acontecido e todos ficaram nos encarando tentando entender. Meus olhos pararam Renan, que encarava o café como se fosse a única coisa no mundo.

 Subi para escovar os dentes e Sabrina estava no quarto. Ela começou a falar antes que eu pudesse sair:

 –Estávamos em uma festa, bêbados, e jogando verdade ou desafio. Foi apenas um beijo. -Ela respirou fundo. - Desculpe se não te contei, mas não teve importância para mim e nem para ele. Me desculpa. - Ela parecia sincera.

 –De qualquer forma, não sei se eu gostaria de saber. - Sorri para ela. - Além disso, seria muito estranho dormir no mesmo quarto de Caique depois do que acabou de acontecer lá embaixo. - Rimos.

 –Da onde ele tirou aquilo? - Ela me questionou.

 –Vamos nos arrumar para sair, depois te explico tudo. - Respondi apenas. 

***

 Estava um maravilhoso dia ensolarado de carnaval. Chegamos em dois carros, encontramos um lugar na praia para instalarmos os guarda-sois, eu estendi a minha canga e deitei sobre ela com a barriga para baixo para tomar sol. Lara fez a mesma coisa ao meu lado.

 –Renan, passa protetor nas minhas costas, por favor? - Perguntou Lara. Ele ajoelhou ao lado dela e o fez. - Aproveite que está com as mãos sujas, e passa na minha prima também. - Eu levantei a cabeça em um pulo.

 –Não precisa. - Respondi rapidamente. - Estou tentando pegar uma cor.

 –Pegar uma cor é diferente de um câncer de pele, prima. - Ela retrucou rapidamente. - Vai passar sim.

 Renan se virou para mim lentamente, como se esperasse que eu fosse fugir. Eu abaixei a cabeça e bufei. Não ia adiantar nada argumentar com Lara. Quando senti o primeiro toque das suas mãos em mim, arfei. Meu corpo estremecia. Era como se tivesse finalmente tomando um gole de água depois de dias no deserto. Permaneci imóvel e tentei disfarçar. Ele percebeu meu incomodo e acelerou o processo. Eu o agradeci mentalmente por isso.

 Assim que ele se afastou, meu corpo estremeceu novamente. Era como se tirassem o cobertor num dia muito frio. Fiquei sem conseguir me mexer por alguns minutos.

 ***

 Passamos boa parte do dia na praia, mas por volta das 15horas tivemos que voltar para casa, pois tínhamos comprado ingressos para uma festa ao final do dia. Voltamos no carro eu, Sabrina, Lara, Renan, Lucca e Valentina. Renan estava dirigindo e Lara ao seu lado, quando eles começaram uma conversa:

—Eu tenho uma proposta para te fazer.- Começou Lara. Ele assentiu para que ela continuasse. - Não fique bravo comigo. - Ela respirou fundo. - Eu sei que viemos juntos, e é carnaval, eu quero aproveitar também. E você é um cara legal, mas não temos nada sério. - Ele olhou para ela.

 –Lara, onde, exatamente, você quer chegar com essa conversa? - Perguntou ele parecendo irritado. Eu me afundei no banco na parte de trás do carro. Sempre ficava incomodada quando ele ficava irritado.

 –Eu só queria saber se tudo bem por você se também ficássemos com outras pessoas durante esse carnaval. Sabe.. - Ela fez uma pausa. - Se tudo bem não sermos exclusivos.

 –É isso mesmo que você quer? - Ele perguntou já mais calmo. Ela assentiu- E sabe que o que vale para um, vale para o outro, certo? - Ela assentiu novamente. - Então tudo bem.

 Fiquei em choque ao ouvir aquela conversa no banco de trás. Aquilo significava que Lara não gostava dele tanto assim? Olhei para Lucca, que me encarava. Ele pronunciou uma frase sem som para que apenas eu entendesse: “Não vá fazer merda”.

***

Algumas pessoas, eu incluída, estavam demorando mais para se arrumar do que outras. Por isso, quem foi ficando pronto foi saindo para a festa. Era uma festa a fantasia, minhas preferidas, e a melhor parte para mim era me arrumar. Eu fui com uma fantasia de fada que eu mesma tinha costurado: Um tutu com mistura de tecidos roxo, lilás e verde-água, um top rosa com varias flores coladas, de onde saía uma asa feita com arame e um tecido rosado quase transparente. Para a maquiagem, misturei rosa e verde e tinha uma coroa de flores de plástico na cabeça.

 O último carro saiu comigo, Sabrina, Aline e Rodrigo. Fechamos a casa e seguimos rumo a festa. Como havíamos comprado os convites antecipadamente, quase não pegamos fila. Entramos e avistei alguns dos nossos amigos em cantos separados do espaço. Lara estava conversando com um cara loiro perto do bar, Caique estava na pista com uma garota ruiva, e o restante estava numa mesa no mezanino, com excessão de Renan, que eu não havia visto. Sentei na mesa com eles, conversei, tomei alguns shots, e decidi ir para a pista.

 Eu dançava ao som de “don’t stop the party”, quando alguém com a fantasia de fantasma da ópera apareceu. Ele me aproximou da parede e veio com a boca a minha orelha para me fazer um pedido:

 –Só um beijo. É tudo que eu peço. Me prova que não estou louco e que você está realmente aqui. - Estava um pouco bêbada, mas aquela voz me arrepiou.

 Eu sabia exatamente quem era por trás daquela máscara. Nada negava: sua voz, seus olhos verdes, seu cheiro, seu toque. Mesmo assim, talvez por consequência da bebida, assenti e deixei que me beijasse. Ele me encostou mais contra a parede e trouxe seus lábios com urgência aos meus. Aquele beijo… era como se voltasse para casa depois de uma longa viagem. Me deixei levar por alguns segundos, sentindo apenas seu toque. Suas mãos, uma na minha cintura e a outra na minha nuca, seus lábios nos meus, minhas mãos no seu cabelo. Parecia real demais, parecia certo.

 E foi quando voltei a mim. Abri os olhos rapidamente, o afastei e comecei a caminhar para longe, mas ele me puxou de volta e segurou minhas duas mãos acima da minha cabeça contra a parede.

 –Não vai embora. Nunca mais. Por favor. - Ele pediu suplicante, falando no meu ouvido para que pudesse escutá-lo e pousou seus lábios no meu pescoço.

 Minhas pernas bambearam e eu arfei. Fechei os olhos novamente, ele soltou as minhas mãos e me puxou para beijá-lo novamente, com mais urgência do que antes. Correspondi. Nossas bocas, assim como nossos corpos, necessitavam mais aproximação. Ele passou a mão por baixo da minha saia e apertou a minha coxa. Eu o puxei para mais perto.

 –Loorenaaa. - Disse Valentina ao meu lado. Afastei Renan de mim e olhei para ela. - Finalmente te encontrei. - Ele saiu andando na direção oposta sem olhar para ela e com a cabeça baixa. Minha respiração era pesada.

 –Aqui estou. - Disse ainda sem ar. Ao mesmo tempo odiando Valentina e a agradecendo internamente por ter aparecido. - Vamos voltar para a mesa.