60 Segundos - CIP escrita por Casais ImPossíveis


Capítulo 1
Capítulo Único - 60 Segundos




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Duas semanas.

Faziam exatas duas semanas desde o dia em que Marcelina Guerra havia criado coragem para ter A Conversa com seus pais para se assumir como lésbica.

Claro que foi um momento difícil e muito emotivo já que a adolescente passara todos os dezesseis anos de sua vida sendo apegada em seus pais como se fossem unha e carne, então ela tinha medo de perder essa conexão, mas, apesar das lágrimas que rechearam fartamente os longos minutos de diálogo, seus pais não a rejeitaram e fizeram questão de abraça-la forte para dizer que, superado o choque, eles a amavam e nada iria mudar.

No entanto, agora que estava fora do armário, havia outro assunto para resolver.

Desde que Marcelina se entendeu e se aceitou como lésbica, ela nunca chegou a chamar uma garota para sair. Sempre acabava ficando nervosa demais ou pensando que estaria traindo a família se tivesse um encontro antes de se assumir para eles. Mas já fazia alguns meses que estava muito a fim de uma garota em especial. Óbvio que ela já tinha vontade de falar a verdade sobre si mesma para os pais por vários e vários outros motivos, entretanto querer finalmente se permitir chamar sua paixonite para sair se tornou uma razão bem forte nos últimos tempos.

Porém ela ainda estava ali, a covarde Marcelina Guerra contemplando de longe a beleza estonteante de Maria Joaquina Medsen no refeitório da escola sem um pingo de coragem para ir até lá e fazer o convite.

— Vai ficar só olhando mesmo? — Valéria perguntou ao seu lado, chamando a atenção dela para si. — Eu escuto o seu blábláblá de “tenho que me assumir primeiro” desde os quatorze anos e, que surpresa, você saiu do armário e não mudou nada, nadica de nada, necas de pitibiribas.

Valéria Ferreira foi a única pessoa que soube sobre a lesbiandade de Marcelina antes de seus pais e seu irmão Paulo, não pela garota ter contado sobre isso, e sim por serem melhores amigas e Val passar tempo demais junto a ela para não perceber todos os sinais, pois não havia interferência de ser da família e esperar algo diferente dela.

— Não é tão fácil assim. Eu nem sei se a Maria Joaquina gosta de meninas. — Marcelina respondeu com um ar hesitante. — Sem falar que ela é super popular e eu sou bem comum. Eu posso sair humilhada dessa operação.

— Primeiro: você nunca vai saber se não tentar. Segundo: levar um fora é normal, só se torna humilhante se ela te desdenhar fazendo ceninha na frente dos amigos. Se esse for o caso, vai ser um alívio descobrir logo que ela é esse tipo de pessoa escrota ao invés de ficar perdendo mais tempo criando expectativas. Você não acha? — a pergunta de Valéria veio acompanhada de um sorriso incentivador enquanto estendia a mão por cima da mesa e segurava a da amiga em apoio.

— Tem razão, Val. Aliás, você sempre tem, né? — Marcelina disse, sorrindo de volta.

— Fazer o que? É um dom.

— Mas...

— Lá vem. — Valéria revirou os olhos e cruzou os braços.

— Desculpa, tá? Eu só... — Marcelina olhou para sua paixonite mais uma vez, suspirou e voltou a encarar a amiga. — Não acho que é o momento certo. Mas eu juro que vou. Um dia.

— Quer saber? Você quer fazer isso há meses e tem que parar de ser trouxa. Perdi minha paciência com você. — Valéria pegou o celular e abriu o aplicativo do temporizador. — Eu vou marcar aqui um minuto e se nesses 60 segundos você não for lá e voltar com um “sim” ou um “não”, eu mesma vou lá e chamo a Maria Joaquina pra sair.

— Pera aí, que?!

— Isso mesmo que você ouviu. Eu posso não ser uma sapatão fofa e gostosa como você, mas toda garota tem curiosidade algum dia e eu posso matar a minha antes dela aparecer. E eu tenho muito charme, modéstia à parte. Se a Maria Joaquina gostar da fruta tem chance real de rolar alguma coisa.

— Você não faria isso.

Valéria virou a tela para a amiga e disse. — Tique-taque. Agora são cinquenta e cinco segundos pra você descobrir se eu faria ou não.

Marcelina conhecia a melhor amiga muito bem e sabia que quando ela enfiava alguma coisa na cabeça nem o próprio Lúcifer seria capaz de impedi-la, então preferiu não se arriscar e engolir logo um punhado de coragem para fazer o que tinha que fazer.

Depois de uma profunda respiração, a garota Guerra levantou e andou a passos apressados até a rodinha de amigos com os quais sua paixonite estava conversando perto da entrada/saída do refeitório.

— O-oi. Com licença.

Maria Joaquina a olhou de forma séria e distante, quase fria, então disse. — Pois não?

— Me-meu nome é Marcelina...

— Eu sei. — a garota Medsen interrompeu, erguendo uma sobrancelha. — Estudamos na mesma sala desde os oito anos.

Marcelina comprimiu os lábios um instante na tentativa de não surtar por ela se lembrar disso, mas tratou de se recompor logo, pois não tinha muito tempo.

— Sim, é verdade. Enfim, eu queria saber se você não tá a fim de sair comigo. Tipo, ver um filme no cinema e comer em algum lugar legal.

Um sorriso de canto bem discreto se apossou dos lábios de Maria Joaquina, suavizando sua expressão fria. — Isso soa como um encontro pra mim.

— É. Essa é a ideia. — Marcelina sorriu nervosa, sem saber de onde tirara coragem para dizer aquelas palavras.

— Marcelina. Você é bem bonitinha, mas tem que se arrumar melhor.

— Ah. Entendi. — seu sorriso murchou com a resposta.

— Então é bom que quando aparecer na minha casa você esteja melhor vestida, porque uma futura estilista como eu não pode ser vista com alguém que não esteja à altura. Não pense que eu não teria coragem de fechar a porta na sua cara. — Maria Joaquina sorriu mais e era a primeira vez que Marcelina a via corar, ainda que de leve. — Me pega às cinco?

Marcelina estava em um estado de euforia total por dentro, no entanto tentou manter o mínimo de dignidade na presença de sua paixonite e os amigos dela, então apenas respondeu.

— Tá. Tá. Pra mim tá ótimo. Às cinco então. Te vejo a cinco. Er... Então tchau.

Em seguida praticamente correu de volta para sua mesa, sentando com a exata marca de oito segundos restantes. Por fim ela pode surtar com a melhor amiga não só por ter conseguido ir lá e fazer o convite como por ter recebido uma resposta positiva.

De canto de olho Maria Joaquina observou a cena do outro lado no refeitório. Um sorriso tímido tomou seus lábios, mas ela logo balançou a cabeça e tentou voltar a atenção para seus amigos outra vez.


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