O Crime da Rainha escrita por Lilium Longiflorum


Capítulo 11
No casebre de palha




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Kitana e Jade passaram o dia inteiro juntas, passeando pela cidadela central. Por mais que a figura de uma princesa fosse como alguém intocável e em algumas culturas até idolatrada, Kitana fazia questão de ser acessível a todos. Conversava com alguns camponeses, brincava com suas crianças e dava sempre uma assistência aos que precisavam. Jade a acompanhava e também procurava interagir com o povo. O dia foi curto para tantas coisas que fizeram.

Pela tardinha, as duas chegaram ao palácio, cansadas de tanto andar. Sua Alteza deixara a barra de seu vestido se sujar da poeira da cidade e não percebera, mas seus sapatos também se sujaram. Ao ver a sua situação soltou uma risada e disse a sua guardiã:

 — Mamãe vai me matar ao me ver toda suja assim.

— Olha a minha situação — Jade olhou feio para a barra de seu vestido que tinha a marca de uma pequena mão feita de barro.

As duas olharam uma para outra e riram. Como se fosse ensaiado, elas subiram para seus quartos para se trocar. Sheeva estava atrás de um dos biombos e viu quando as duas chegarem, ficou a observar Kitana sorrindo enquanto conversava com Jade. Colocou a mão no coração e sentiu um aperto nele, a sua memória foi preenchida pela notícia que ouvira na noite anterior. Ainda não acreditava que Sua Majestade tinha coragem de fazer tal coisa com sua própria filha, desejou que aparecesse alguém que a alertasse e que a remissão viesse em seguida. Queria contar para Kitana, mas prometeu com sua própria vida que não falaria ninguém sobre aquele relacionamento sigiloso. Saiu de onde estava e foi para o jardim.

(...)

Enquanto Jade se despia, passou pela sua memória tudo o que passou naquele dia com a princesa. Mas aquelas memórias se misturaram com aquele momento em que vira a rainha sair junto com Liu Kang do seu escritório. Desejou que toda aquela desconfiança ficasse apenas nisso e que Sua Alteza não passasse por mais essa dor. A vida dela já fora muitas dores e mentiras, tinha medo que ela não suportasse essa pena. Tomou banho e vestiu-se com uma blusa verde sem mangas, calça e botas pretas. Amarrou o cabelo em um simples rabo de cavalo alto e saiu logo do quarto, ao perceber que a princesa não havia saído de seu quarto desceu as escadas rapidamente, viu um dos guardas que estava aposto em uma das portas que dava para o jardim ocidental, o abordou perguntando onde estava Sheeva. Ele, sem olhar para a guardiã para não cobiçá-la com os olhos respondeu:

— Eu a vi saindo em direção ao jardim oriental, mas não tenho certeza se ela está lá.

Jade sorriu para o guarda e agradeceu, saindo a passos firmes pelo corredor que dava para o jardim oriental do palácio. Enquanto ela se arrumava teve a ideia de ir ao encontro da shokan para saber o que realmente estava acontecendo, por sorte ela a encontrou conversando com um dos criados responsável de carpir as erva daninha que insistia em crescer em um dos canteiros. Abriu a porta de vidro e fechou devagar atrás de si, caminhou a passos lentos até chegar próxima a Sheeva. Ao ver Jade o criado fez reverência e curiosa Sheeva foi ver quem era e se surpreendeu ao ver a jovem ali. Pelo olhar de Jade, percebeu que ela queria conversar. O criado por sua vez fez reverência as duas e saiu em direção à cozinha.

— O que você deseja? — perguntou a shokan com um olhar desconfiado para a guardiã.

—Preciso perguntar algo a você — respondeu Jade enquanto passava seus olhos verdes ao redor de onde estavam — Mas acho que não seria adequado aqui.

Sheeva lançou lhe um olhar de desdém e disse:

— Se é alguma fofoca ou um assunto tolo não...

— Eu não viria até você por um motivo fútil. É sobre Sua Alteza.

— O que tem ela?

Jade respirou fundo, procurou palavras acertadas e respondeu:

— O que você sabe sobre o encontro entre o noivo de Sua Alteza e a rainha tiveram na manhã de ontem?

Sheeva ficou imóvel naquele momento, não esperava que Jade perguntasse tal coisa ou estivesse preocupada com aquele assunto.

— Por que a pergunta? Por acaso é algum assunto que lhe interessa? Pelo que sei Liu Kang veio procurar a rainha para conversar sobre o casamento dele com Sua Alteza. Não sei se conversou algo a mais.

Jade notou que havia certo nervosismo na voz de Sheeva, sabia que estava escondendo algo. Não quis prolongar a conversa, não queria colocar sua suspeita à mostra, pois aquilo poderia resultar até em sua própria condenação. Olhou firme nos olhos flamejantes de Sheeva e disse:

— Não vou tomar mais seu tempo. 

Ouviu-se alguns passos pelo jardim e ao se virarem, era Sua Majestade Sindel caminhando lentamente com toda sua elegância. Sheeva e Jade fizeram reverência e permaneceram caladas diante da rainha. Esta se virou para Jade e perguntou:

— Nunca a vi conversando com Sheeva. É algo que está acontecendo com Kitana?

A guardiã não ousava cruzar o seu olhar com o de Sindel, respondeu sem olhar para ela, apenas com a cabeça enterrada no peito:

— Não é nada importante, Majestade!

— Certo. Você já terminou a conversa que tinha com ela?

— Sim, majestade. Vou me retirar.

Assim que falou, Jade fez uma vênia e se retirou.

Sindel ficou acompanhando-a com o olhar até sair de seu campo de visão. Virou-se para Sheeva, deu-lhe um sorriso sagaz e disse mostrando a carta que recebera:

— Olhe quem me convidou para um passeio noturno.

Sheeva sentiu estremecer o seu interior, pelo olhar de Sindel já sabia quem era e não ousou falar o nome do rapaz. Resolveu não prender seu olhar em sua majestade e ficou calada. Sua Majestade respirou fundo, sabia que Sheeva reprovava tal comportamento, mas reinava uma desculpa em seu coração quando pensava na opinião de Sheeva: “Ela nunca se apaixonou de verdade, por isso pensa assim.”.  Olhou novamente para a shokan e disse:

— Ordene que algumas criadas preparem um bom banho para mim. – dizendo isso se retirou.

A shokan nunca se sentira tão culpada por omitir tamanha infâmia. Voltou o olhar para o sol que já estava quase se pondo e se perguntou: “Até quando terei que guardar esse terrível segredo?”.

(...)

Liu Kang já estava há uns quinze minutos encostado debaixo de um carvalho. A lua já estava alta, o tempo estava agradável, algumas corujas piavam e os sapos coaxavam em um lago próximo. O shaolin estava ansioso a espera da rainha, não acreditava que aquilo estava acontecendo e às vezes ria sozinho em pensar sobre tudo isso. Alguns passos se fizeram ouvir pelas folhagens do bosque, a silhueta de alguém se aproximava. Liu forçou um pouco sua visão para ver se não era nenhum guarda, mas era possível ver que era uma silhueta feminina, estava com um manto sobre os ombros e um capuz sobre a cabeça. A figura se aproximava e o shaolin podia sentir o odor familiar de Sindel, esta ficou frente a ele e tirou o capuz. A luz da lua resplandecia sobre o rosto majestoso da rainha, os olhos marcantes, e os lábios cheios, pintados de uma cor rósea se destacavam. Liu Kang apenas sorria e não sabia o que dizer. Ela também sorria e perguntou:

— Pensou que eu não viria?

— Como acha isso de mim, Majestade?

Sindel pegou em uma das mãos do shaolin e disse:

— Vamos passear um pouco?

Ele apenas sorriu e começou a caminhar ao lado dela pelo bosque. Andaram tanto que não percebeu o tempo e a distância que haviam percorrido, chegaram então em um casebre de palha. Liu Kang ficou a observá-lo e disse:

— Tão bem feito, rico em detalhes...

— Eu costumava ficar aqui quando eu lia alguns romances — respondeu Sindel sorrindo — é um lugar tão tranquilo e me remete a várias lembranças.

— Vamos entrar nele? — perguntou Liu olhando para ela.

Os dois entraram sem desgrudarem as mãos um do outro. Sindel pegou uma lamparina e acendeu com cuidado, colocando-a em um suporte próprio para ela, isso permitiu que o ambiente ficasse iluminado o suficiente. O ambiente era pequeno dotado de apenas duas janelas nas laterais. Dentro havia duas cadeiras de madeira, uma mesa pequena e um futon largo, onde dava para tirar um cochilo depois do almoço. Liu andou um pouco pela casa e disse:

— Que lugar aconchegante. Ficaria horas aqui sem perceber. Kitana nunca me mostrou esse lugar.

Sindel se lembrou da filha e também do que Sheeva falara de perguntar quando oficializariam aquela união. Ela sentou-se no futon e pediu para que ele também se sentasse, ele obedeceu. Sindel segurou nas mãos do shaolin e perguntou:

— Quando poderemos tornar público tudo isso que sentimos?

Liu Kang respirou fundo, não havia pensado nada a respeito. Tudo estava acontecendo tão rápido e não deu tempo de pensar sobre isso.

— Eu... Ainda não sei. — ele respondeu.

— Estou pensando aqui — disse Sindel com a mão no coração — como minha filha irá reagir diante de tudo isso.

Liu Kang acariciou o rosto macio de rainha e disse fitando-a nos olhos:

— Vamos pensar nisso mais tarde.

Ela sorriu enquanto passava a mão em seu braço musculoso e forte. Liu aproximou mais seu rosto do dela e os lábios se tocaram em um beijo apaixonado. O mundo lá fora foi esquecido e ambos se entregaram em naquela paixão proibida, sem perceber que estavam cometendo um crime cruel a um coração inocente.


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