Reza escrita por kamalaisart


Capítulo 1
Mártir


Notas iniciais do capítulo

olá (?)
esse é um texto que eu pensei que nunca sairia das minhas notas, massss aconteceu então cá estou eu ahshah
o poema que está entre os parágrafos é uma obra postada pelo maravilhoso @pencap no tumblr e todos os créditos vão a ele. alguns trechos estão adaptados e eu juro que fiz o meu melhor para o traduzir.
enfim, boa leitura ♥



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por favor, o deixe ser fraco. 

 

Haviam algumas coisas coisas da vida que apenas são o que são. A água ferve a cem graus celsius, o sol se põe todos os dias no oeste, Usopp é um grande mentiroso, Nami vive pelo dinheiro e Roronoa Zoro não clama a deuses. 

Exceto quando ele o faz. 

Não estava em seus planos. Ele nunca se importou com os Deuses, em sua glória majestosa e honra folheada a ouro. Em suas histórias, batalhas épicas ou em rituais a beira do Cefiso. 

Até que eles almejam algo grande demais. Até que eles desejam arrancar de Zoro a única coisa que o espadachim nunca aceitaria perder. 

Até que eles levam Sanji. 

 

 

Eu sei que você o fez,

 com ossos de metal

 e dentes de lobos

Eu sei que você o fez para ser 

 um guerreiro 

 um soldado 

 um herói. 

 

 

Haviam dois garotos. Treinados desde sempre para serem a fúria dos Deuses encarnada e a vontade divina para guerrear até a morte. 

Sempre foi claro; havia uma profecia e um deles seria o Escolhido para defender a honra celestial e cair no compo de batalha. Roronoa sempre foi consciente do seu destino. 

Não era algo que ele gostava. Mas, era algo que era o que era e não podia ser mudado. Os Deuses eram cruéis, afiados e faziam cortes limpos. Estava escrito e assim seria. 

A Profecia apenas não dizia que Roronoa iria se apaixonar pelo outro garoto. 

Qualquer um que conhecesse Sanji e Zoro diria a mesma coisa; Roronoa era o Escolhido. Não haviam dúvidas; ele treinava para aquilo desde sempre. Suas juntas eram de ferro e ele tinha sede pelo caos. 

Sanji era forte. Tão forte como Zoro, mas todos sabiam que a batalha não era para ele. As mãos eram pálidas e macias, uma vez que ele se recusava a treinar com as espadas. Tão diferentes das palmas de Zoro, brutas e ásperas como uma lixa. 

Ele tinha um sorriso bonito, uma lábia boa e uma gentileza que nenhum herói tinha. Ele era tão bonito quando Adônis e tão cheio de graça como Deméter. 

Não foi difícil se apaixonar. 

Apenas era o que era. 

Roronoa Zoro era o Escolhido, Sanji seria seu amante pela eternidade e os Deuses o odiavam. 

Até que Roronoa se deu conta de que quem estava partindo para a morte não era ele. A sensação, no entanto, não trazia ao jovem nenhuma paz. Apenas um terror absoluto se arrastando pelo âmago. 

Haviam dois garotos. E se Zoro não era o Escolhido...

 

 

Mas até o aço pode enferrujar 

e até os dentes de lobo pode quebrar 

e eu não o quero ver destruído

do jeito que coisas quebradas e desgastadas e usadas são

 

 

Zoro traçou os ombros tão fortes, mas que agora perdiam toda a sua imponência. 

Ele lavou com água fria e limpa as feridas abertas, deixando o sangue escorrer até que não houvessem mais manchas na pele pálida de Sanji. Então, Roronoa pressionou ervas — calêndula e barbatimão e babosa e copaíba — sobre os cortes de lâminas e enrolou o corpo de seu amado com bandagens de linho brancas. 

Zoro beijou todos os hematomas negros e roxos sobre as costelas e os quadris, em uma promessa muda de cuidado. Em um toque silencioso que dizia eu estou aqui. 

Ele enrolou os dedos sobre as pernas fortes e Sanji as prendeu atrás da cintura do seu homem. Os dedos pálidos acariciaram cabelos verdes e os lábios deles se tocaram, dançando um no outro. 

As margens do Cefiso, Afrodite chorou. 

 

 

Eu não quero vê-lo ardendo em chamas 

 do jeito que heróis viram mártires.

 

 

A primeira vez que Zoro viu, ele se sentiu enjoado e doente. 

Ele sentiu suas pernas cederem e o estômago cair. 

Sanji parecia a própria Estrela de Sírio. A Alpha Centauri encarnada, ou até mesmo Orion, a imponente morada celestial. 

Zoro tinha certeza que ele era mesmo o abençoado de Ares. Nem Kratos nem Perseu nem Odisseu nem Teseu poderiam se comparar a Sanji. Distribuindo chutes fortes, até que o som de ossos quebrados e de músculos rasgando fosse sugado pelo caos da batalha. A pele ardendo em fogo e exalando uma aura de fúria escaldante. 

Sangue corria como água pelo seu corpo, machucados abertos, bandagens rasgadas agora negras como a noite. Até mesmo os cabelos dele, como fios de ouro coroando a cabeça e caindo sobre os olhos que refletiam o mar Egeu eram cobertos de pó, suor e sujeira. 

Ele, porém, não demonstrava qualquer sinal de exaustão. Ceifando seus inimigos como uma máquina. 

A visão não confortou Zoro, entretanto. 

 

 

Eu sei que você me disse 

que o mundo precisa dele. 

O mundo precisa do seu coração

 e a sua fé

 e a sua coragem 

 e a sua força 

 e seus ossos e seus dentes e seu sangue e sua voz e sua-

O mundo precisa de tudo e ele irá dar.

 

 

Zoro caiu de joelhos a frente de Athena. Os cabelos dela eram vermelhos como o sangue e ela trajava-se do tecido mais branco que Roronoa podia sonhar em ver. Ouro puro adornava a pele morena. 

Esse é o fardo dele”, ela sussurrou. Havia pena em seu tom, uma lástima incalculável, como se ela sentisse o que Zoro sentia. 

“Ele não pediu por isso”, Zoro segredou. Ele ousou olhar para cima e encontrar os olhos majestosos da Deusa. Suplicando

Ninguém pede”, ela respondeu. 

Zoro queria gritar. 

“Qual é o preço? Sempre há um preço. Eu estou disposto a pagar.”

Athena, renunciado por um segundo seu poder glorioso, se ajoelhou a altura de Roronoa. Ela o encarou e Zoro sentiu tudo e nada naquele momento. O que significava? O espadachim nunca foi bom com oráculos. 

Ela trilhou os dedos por entre os cabelos dele e puxou o mortal para o seu peito, no toque mais maternal que Zoro já sentiu. 

Ele não orava a deuses. Mas se permitiu agarrar as vestes da deusa e chorar sobre o colo dela. Apenas naquele momento. 

 

 

Dane-se o mundo. 

 e dane-se você também. 

Dane-se todo mundo que já o pediu alguma coisa,

 dane-se todo mundo que já tomou algo dele,

  dane-se todo mundo que já orou para o nome dele. 

 

 

Zoro foi a um templo. 

Ele nunca havia feito isso. Ele não acreditava em Deuses, nunca o fez. Mas homens desesperados muitas vezes recorrem a medidas desesperadas. 

Ele ofertou ramos de oliveiras e azeitonas a Athena. Rosas e vinho a Afrodite. Penas de pavão e maçãs a Hera e uma vela a Hestia. 

Ele cantou a Apolo. Ele honrou a Ares e suplicou a Zeus. Mas eles pareciam não ouvir. 

Quando ele saiu do templo, ele sentia raiva. Raiva por todas aquelas pessoas orando a aqueles Deuses, raiva por todas as pessoas que clamavam o nome de Sanji em uma oração entrecortada. A todas elas que depositavam a sua fé no seu homem, como se ele fosse indestrutível. 

Roronoa Zoro nunca orou a deuses. Ele orava a Sanji, chamando seu nome em uma reza sem fôlego enquanto Sanji murmurava cantos em seu ouvido. 

Zoro. Zoro. Zoro. Zoro. 

Ninguém ali sabia de nada sobre Sanji. Eles não eram dignos de pedir a benção dele.

 

 

Você sabe que ele dará a eles tudo,

 até que não haja mais nada dele

  até a impressão de poeira 

   onde os seus pés pisaram. 

Você sabe que ele suportará o mundo como Atlas 

 até seus ombros colapsarem 

  e seus tornozelos cederem 

   e ele ser amassado por tudo que carregava. 

 

 

Zoro prometeu a Sanji. Jurou sobre as estrelas e entre os lábios do amante que estaria lá. Segurando suas costas quando ele caísse, dando seu ombro para o apoiar. 

Roronoa nunca deixaria Sanji tombar. 

Mas agora, as coisas que antes Zoro nunca cogitou questionar haviam desmoronado e caído por terra.

Apolo o olhava com o olhar destroçado. Aquele mortal estava bagunçando toda uma estrutura divina e o deus queria fazer algo. Mover seus pauzinhos e dar um final feliz a ele e seu amante, no meio de toda aquela guerra. 

Mas algumas coisas são o que são. 

Sanji estava caído no campo de batalha. Seu peito estava ferido e ele ofegava, tentando se levantar. As pessoas oravam em Atenas e em Tebas e em Delfos e em Mileto. 

Todo o seu corpo doia tanto. Lágrimas estavam secas no canto dos olhos e ele estava tão cansando. Ele não queria mais lutar, ele queria apenas se ajoelhar e ir embora. Sanji não queria ser o herói que eles queriam. Sanji queria Zoro, queria as peles se tocando, queria as juras de amor e queria que Artemis presenciasse o quanto ele amava aquele homem bruto. 

Mas as vezes querer não é o bastante. Então ele apoiou as mãos sobre a terra do campo de batalha e forçou seus tornozelos a aguentaram o peso do corpo. 

As pessoas oravam em Atenas e em Tebas e em Delfos e em Mileto. 

Os Deuses olhavam curiosos o desenrolar daquela história. 

Roronoa Zoro chorava em frente ao Oráculo. 

E Apolo testemunhou a glória da dor daqueles mortais.

 

 

Querido Deus, 

você já fez um Atlas.

Você já fez um Aquiles e um Ícaro e um Hercules.

Você já fez tantos heróis,

e você pode fazer mais tantos. 

Você pode escolher-los. 

 

 

Perséfone encarou Hades. Ele tocou a mão de sua rainha, deixando os lábios beijarem a pele dela. “O que tanto te afliges, minha amada?” 

Os mortais”, ela devolveu. 

Hades ponderou por um momento. 

“Não é justo, é?”, Perséfone divagou. “Ninguém pede por estas dádivas. E então elas se tornam maldições.”

“Pensastes muito sobre isso, não?” ele sorriu, sabendo que a rainha do submundo nunca começava um assunto sem ter um motivo claro para tal. 

“Ele ofertou-me. Buquês de flores perfumados. Mas eu consigo sentir o salgado das lágrimas o fedor do medo. Consigo sentir a angústia de ter uma parte de si arrancada.” 

Hades a encarava. Os olhos perdidos sobre os dela, quase prevendo quais seriam as próximas palavras. Ele acariciou as juntas dela, enviando calor aos ossos de luz. 

“Temos tantos heróis. Um a menos fará diferença?”, ela ofegou. 

Hades tocou os cabelos dela, coroados com estrelas brilhantes perdidas em cascatas negras e flores imortais, em uma ternura que o deus do inferno não deveria ter. Mas tinha. 

As coisas são o que são”, ele afirmou. Perséfone acenou. Mas o Olimpo algumas vezes reconsidera seus caprichos.”

O deus do inferno se levantou de seu ilustre torno de escuridão ouro negro. Ele olhou para sua rainha e, por um segundo, sentiu uma compaixão imediata por aquele mortal. 

Hades também era um apaixonado. 

 

 

Então por favor, eu imploro a você- 

ele é tudo que eu tenho,

e você tem tantos heróis

e o mundo tem muitos mais. 

Deixe-o ser fraco,

e deixe-o ser meu. 

 

 

Hera respirou. Ela encarou Zoro, gélida, mas Roronoa não estremeceu. 

O que você me pede é impossível”, ela riu. “e audacioso. Principalmente para um mortal.”

“Eu não oro a deuses, Senhora dos Mortais”, Zoro declamou. Hera o olhou com mais curiosidade. “Mas por esse homem, eu imploro e me ofereço em alma para pagar minha dívida.”

Afrodite, no canto da sala, observou atenta o modo com que os lábios de Hera se curvaram em um sorriso doce. 

Quem diria que terminaria assim. 

“Então você está disposto a tudo para salvá-lo?” 

“Sim.”

Que assim seja, espadachim de Atenas. Você iria ao inferno e voltaria se este homem o pedisse. Você enfrentaria a ira dos Deuses durante o dia todo, por toda a eternidade, se isso significasse passar as noites com ele. Veja, como posso negar o pedido de um homem que mataria até um Deus para ter consigo seu amado?” 

Hera caminhou até Zoro.

Como posso negar isso, espadachim, quando não pude negar a um cozinheiro que me pediu, com todas as forças, para trocar de lugar com seu amante e assumir o papel de herói, para que você não suportasse nenhuma dor? Oh, espadachim, como eu posso negar a felicidade diante disto?” 

Zoro abriu a boca, em descrença. Hera tocou sua bochecha, envolvendo o rosto com ternura sobre as mãos. Como se selasse um acordo. 

“Eis sua resposta. Eu não posso.”

 

 

                    Por favor, deixe-o ser feliz. 

 

 

Zoro acordou com o aroma de tomilho e manjericão voando até o quarto. Cobertas brancas, limpas e grossas cobriam sua cintura e havia um cheiro de fumaça e perfume inconfundível pairando sobre ele. 

Roronoa se levantou rápido demais e correu até a cozinha. 

Sanji estava lá. 

Com os olhos azuis, com o caderno de receitas manchado e com um sorriso nos lábios. Com cabelos loiros limpos e imaculados e braços pálidos como a luz da lua limpos, sem cortes e hematomas. 

Roronoa Zoro não orava a deuses. 

Mas, quando ele abraçou a estrutura magra de Sanji e o beijou em devoção, misturando saliva e lágrimas grossas que marcavam a pele, Zoro ponderou que sim, talvez ele pudesse reconsiderar isso. 

Uma vela branca, agora sempre acessa, no alto de uma mesa de mármore e uma súplica que morria entre os lábios eram uma dica disso. 

 

 

 

 

obrigado.


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Notas finais do capítulo

sanji é um mártir e se você quiser discordar discorde aí na sua casa
muito obrigada por ler ♥ me desculpe por qualquer erro (principalmente gramatical :p) eu realmente espero que alguém tenha gostado dessa loucura aí KKKKKKKKKK



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