Sozinho escrita por Urano


Capítulo 1
sozinho




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No funeral de James e Lily Potter, muitas poucas pessoas apareceram. Eles haviam passado o último ano se escondendo — e isso era ainda mais triste, agora que todo o esforço era fracassado — e se afastaram de muitas pessoas. Aqueles que poderiam se importar um pouco estavam comemorando: “Você-sabe-quem está morto! O pequeno Harry sobreviveu!”. Entre aqueles que realmente se importavam… Apenas um deles estava ali. E Remus estava sozinho.

Remus Lupin era um homem que sabia tudo sobre estar sozinho.

Ele mal conseguia se lembrar de como era não ser um lobisomem. Ele era muito, muito jovem. Quando Remus olha para uma criança — e é nisso que ele pensa quando olha para uma mãe ajudando seu filho pequeno em seus passos vacilantes, não muito longe de onde ele estava (é Molly Weasley, ele percebe, ela havia participado da ordem, e estava acompanhada apenas de uma de suas crianças hoje)  —, ele vê olhos brilhantes e curiosos, bochechas coradas pela idade e ele não consegue deixar de pensar que ninguém tão jovem deveria conceber qualquer ideia de dor. De perda. De medo.

A lembrança mais antiga de Remus é sobre todas essas coisas.

(Ele se lembra de dor e o terror; Alguém, algo sobre ele e doia, doia, doia tanto.)

(Ele se lembra de ouvir sua mãe chorando na sala ao lado, durante tantas noites. “Ele nunca vai poder estudar”, ele a ouvia dizer para seu pai.)

(“Lobisomens são criaturas das trevas e devem morrer.”).

(Remus pensa no pequeno Harry. Em como ele é apenas um bebê e em como, agora, ele já conhecia a perda.)

Molly Weasley pega o filho pequeno no colo. Ele não consegue se lembrar se aquele era Fred ou Ron. Ou talvez Percy. Remus não se lembra qual era a ordem de todas as crianças. Ele acabou de notar que eles eram todos ruivos e que, mesmo que tudo seja diferente, aquilo o faz se lembrar de Lily. Ou de James divagando durante horas sobre cabelos ruivos. E céus, tudo dói. Cada lembrança dói. 

Remus Lupin era sozinho desde que ele conseguia se lembrar, porque ele era um lobisomem — e, então, ele vai para Hogwarts, porque Dumbledore virou diretor e ele faz os melhores amigos possíveis. Ele demora muito tempo, ele tem medo de baixar a guarda (ele estava condenado a ficar sozinho). Ele tem James, ele tem Sirius, ele tem Peter e ele também deixa Lily entrar, depois, na proximidade forçada pela monitoria. Eles descobrem sobre ele, eles sabem e eles não vão embora. Remus tem esperança e ele ainda está sozinho para o mundo — ele nunca vai conseguir um emprego, há uma guerra lá fora — mas dentro do mundo particular que eles construíram para si, Remus pode se permitir acreditar. Harry chega e Harry o chama de “Tio Oony” e, tudo bem, talvez ele possa vencer tudo isso.

Em dois dias, ele perdeu tudo.

James. Lily.

Peter. 

Sirius.

Ele nem ao menos pode ver Harry, não sabe para onde ele foi e não pode levá-lo consigo (ele é um monstro).

Remus era um homem que sabia tudo sobre estar sozinho. Ele gostava de pensar que estava preparado para quando acontecesse.

Mas James e Lily estavam mortos. Foram traídos por Sirius. E então, Peter estava morto também. Sirius foi quem o matou. 

(Era algum tipo de piada cruel?)

“Remus.” ele ouve alguém chamar, atrás de si. Ele olha e é olhado de volta por cabelos ruivos. Molly e seu menino — ele agora tem quase certeza que aquele é Ron — se aproximaram cautelosos, os olhos tristes. “Sinto muito pela sua perda.” ela diz, a voz suave e Remus assente, sem achar que encontraria em si algo para responder. “James e Lily. É muito triste.”

Remus concorda. É muito triste.

(Era o funeral de James e Lily Potter. E Remus estava sozinho.) 


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Notas finais do capítulo

Depois de dois anos de uma cabeça barulhenta e bagunça demais para conseguir escrever, estou tentando de novo. Isso é curto e é melancólico, mas me deixa feliz por estar ai.
Muito obrigada por sua leitura ♥