Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 59
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— Então, Bruce, eu deveria começar com o que todos querem saber: “O que aconteceu com Bruce Wayne e seu filho, Damian Wayne?” — Clark murmurava enquanto pegava seu bloco de notas na maleta, pouco antes de encarar o milionário destruído sentado diante de si —, mas vou deixar essa parte para depois e perguntar como seu melhor amigo: você está bem?

— ... Somos melhores amigos?

— ... Claro que sim?

— Eu nunca parei para pensar nisso: o que diferencia um melhor amigo de um amigo?

Soaria filosófico se o contexto ajudasse. Infelizmente, uma pessoa aparentemente no fundo do poço rodeada de destruição e pegando uma caneca sobre a mesa com os dizeres “Papai Coruja Morcego” e bebendo seja lá o que estivesse dentro sem nem ligar era insuficiente para ser contemplativo.

— Bruce, você está bem? — O jornalista perguntou novamente. Estava realmente preocupado.

— Estou pior do que já estive na maior parte da minha vida, mas estou melhor do que nos últimos dias.

— Está melhor do que nos últimos dias? — Em resposta, o outro apenas acenou positivamente — Não consegue nem responder uma pergunta simples de forma direta e está melhor? — Dessa vez, o Wayne apenas suspirou e se preparou para começar a entrevista.

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Dia 24, 5:40, Ala Médica da Batcaverna.

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Eu não cheguei a dormir depois da confusão, apenas fechei os olhos por alguns momentos... horas. Talvez eu tenha dormido um pouco, de fato.

Alfred e Selina estavam falando ao longe sobre deixar o Jonathan vir visitar o Damian. Também ouvi aquele rapaz de pele verde, Garfield Logan, ele estava mais perto murmurando pedidos de desculpa. Também notei aqueles sons dos aparelhos que ouvi por tanto tempo, enquanto Damian ainda estava desacordado.

Eu sabia que não era ele, mas agi sem nem mesmo pensar: me levantei, arranquei tudo o que estava grudado em mim e só consegui retomar o raciocínio quando provei a mim mesmo que a pessoa deitada naquela cama não era o meu filho.

De qualquer jeito, eu me senti culpado por ela estar naquela situação. Sei que agiram sem medir as consequências, mas concordo com Selina: parece ter sido uma jogada do Richard para não sujar as próprias mãos.

— ... A Ravena vai acordar, não vai?

Acho que a pior característica das pessoas que estão sempre de bom humor, é o peso que elas têm na expressão quando estão tristes. Eu sei disso porque o Dick é assim: quando fica desanimado, tudo fica com um ar depressivo – além do normal.

— Vai.

Ele tentou sorrir, mas a falta de esperanças nele era nítida.

Para a surpresa de nós dois, porém, Rachel realmente começou a despertar. Primeiro piscou algumas vezes com um aspecto de confusão, depois tateou a testa até ter certeza de que a joia vermelha ainda estava lá. Por fim, ela me encarou como se quisesse falar alguma coisa, mas aquele rapaz fez o favor de atrapalhar, gritando a primeira idiotice que passou pela cabeça dele:

— A PALAVRA DO BATMAN É MINHA NOVA RELIGIÃO!!

Aquilo bastou para que o semblante dela virasse uma expressão de medo e horror. Depois disso, só lembro de ver uma luz escura atravessar meu corpo, se é que isso é possível. Eu sei os tipos de poderes essa garota tem, mas nunca imaginei que seriam tão... indescritíveis. Ela é perigosa o suficiente para requerer atenção, principalmente na Batcaverna ou perto dos meus filhos.

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Dia 24, 11:06, Ala Médica da Batcaverna.

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Eu apaguei. Foi uma das sensações mais estranhas que já passei. É como se toda a minha energia tivesse sido drenada... eu estava vazio.

As coisas não se tornaram menos estranhas depois que abri os olhos: Rachel estava segurando a minha mão de um lado e Selina do outro. Não sei em que momento aquele rapaz esverdeado se sentiu suficiente à vontade para dormir com a cabeça na minha maca, mas acredito que nenhum tipo de intimidade justifique acordar com a baba de uma pessoa empoçando perigosamente perto de si – o lado animalesco dele deve explicar a quantidade.

Ao fundo, eu consegui reconhecer a voz do Alfred, Dick, Koriand’r... a Batcaverna está deixando de ser um local secreto para se tornar um polo de reuniões, aparentemente. Bastou que eu me mexesse um pouco, tentando ouvir com mais clareza o que eles falavam, para que Rachel acordasse na mesma hora e acontecesse algo que até agora não sei se foi real ou não:

Ela me abraçou.

Não foi só o abraço inesperado, estou começando a ficar mais receptivo a eles. O problema veio com a clara confusão mental que aquela garota desenvolveu, provavelmente, só por encostar no Damian:

— Eu fiquei preocupada... mas agora está tudo bem, não é? E podemos ir brincar lá fora, com o Titus e com o Ace?

Soava ridículo tentar se lembrar que ela tinha, literalmente, um demônio preso na testa e que havia me atacado. Ela estava sorrindo com aquele mesmo jeito infantil que o meu Damian tem, o Damian depois da perca de memória.

— Está... bem...

Minha voz mal saia e eu estava desconfiado com a situação, se era algum tipo de ataque psíquico. Acabei me rendendo, era apenas um abraço no fim das contas.

Mesmo sentindo que com qualquer movimento brusco eu poderia apagar mais uma vez, me esforcei para colocar a mão sobre a cabeça dela, do mesmo jeito que faço com o meu filho, e bagunçar o cabelo. Os dois tem o cabelo parecido, aliás: preto, liso... É estranho, mas é como se eu visse nela alguma coisa dele.

— Nem pensar, mocinha. Combinamos que assim que o seu pai acordasse você iria ir sem se preocupar, não foi? — Selina já estava de pé, fingindo a absoluta naturalidade. Nesse momento, eu precisei piscar algumas vezes até ter certeza de que tudo não passava de um pesadelo causado pelo estresse. Eu estava atordoado, mas acordado.

— Mas por que...? — a garota contestou.

— Porque sim. Depois você volta para ver como ele está, agora precisamos ir — A Gata estendeu a mão.

— Você nunca me fala a verdade! Nunca responde as minhas perguntas! É por isso que Azarath está destruída!

Por alguns segundos eu consegui ver ela emanar aquela luz escura mais uma vez. A diferença é que ela não ia me atacar, ela ia atacar Selina. Por sorte, instinto ou qualquer coisa que supra a falta de preparo, eu lidei com a situação tentando acalmá-la do mesmo jeito que tento lidar com o Todd quando ele está em suas crises:

— Está tudo bem agora... — Já conseguia sentir minhas mãos dormentes pelo esforço, mas mesmo assim eu puxei a bruxa mais perigosa que já vi para um abraço. Novamente a comparei com o meu filho: ela era pequena, não tanto quanto Damian, mas era só uma garotinha.

— Mas...

— Vai continuar tudo bem. Prometo que nada de ruim vai acontecer, só precisa escutar a... — Se as memórias dela estavam misturadas com as do Damian, provavelmente Selina estava fazendo o papel de: — ... a sua mãe. Ela está certa.

— Mas eu quero ficar aqui com você! — Parecia uma criança fazendo birra, chegava a ter os olhos marejados.

— Eu sei, eu sei... — Mais uma vez eu afaguei o cabelo dela como faço com o Damian.

Ela pode ser poderosa, perigosa, portal para o inferno ou seja lá o que for; para mim, naquele momento, ela não passava de uma criança assustada igual à qualquer um dos meus filhos... Acho que a reivindiquei pertencente à família naquele momento.

— Rachel, querida, a Estelar está esperando... — Selina tentou soar doce, mas a preocupação dela era palpável. Ela deve ter passado tempo considerável lidando sozinha com a situação.

— Vamos fazer assim então: você vai com a Estelar e, quando eu puder ir até o jardim, você volta para brincarmos com o Titus e com o Ace. — Consegui fazê-la olhar para mim com interesse na proposta, então foi o momento de colocar meus dotes de negociador em ação: — E depois tomamos sorvete.

— Promete!?

— Prometo. — Com a minha confirmação, ela sorriu, se soltou do abraço e saiu saltitante puxando Selina pela mão. Parecia querer ir logo para poder voltar o mais rápido possível... um pensamento pueril.

Me permiti esboçar um pequeno sorriso com a cena. Já fazia algum tempo que eu resolvia algum conflito ao invés de cria-lo. Também já fazia algum tempo que eu não “adotava mais uma criança teimosa”, como diz Alfred...

— Senhor Batman, senhor... — Garfield finalmente se fez ser notado mais uma vez, aproveitando o súbito bom humor para uma pergunta idiota: — Eu posso ir tomar sorvete com vocês também?

Gosto de pensar que ele estava mais dormindo do que acordado ou apenas delirando para perguntar aquilo. Qualquer coisa naquela situação atipia servia como justificativa.

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Dia 25, 01:40, Ala Médica da Batcaverna.

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Não lembro bem o que aconteceu depois que os “convidados” foram embora, mas de madrugada eu fui acordado com uma verdadeira briga acontecendo do meu lado. As crianças devem ter aproveitado a ausência do Alfred...

— É claro que ele não vai adotar a Rachel de verdade, o pai dela é um demônio e está grudado na testa dela! — Tim tentava ser o racional entre os três.

— Seus pais também eram vivos quando você foi adotado — Richard cruzou os braços, irritado com a própria constatação.

— Ele não consegue nem cuidar do Damian que não tem poderes, imagina mais uma... — Jason estava incrédulo, o que não o impedia de ficar enciumado: — E eu já sou o filho problemático, o Dick é o primogênito, Tim é nerd, Damian é o caçula...

— Eu sou a sensata, Steph é a divertida, Cassandra é a calada, Duke é o excluído... Rachel vai ser a endemoniada — Barbara completou.

— Sete filhos e ele ainda adota a Rachel! De quebra, Garfield e os outros também vão acabar sendo adotados com o tempo! — Dick se sentou na beira da maca, encarando o chão e tentando pensar no que faria.

— É o que eu estou falando: ele não vai adotar a Ravena sem pensar muito bem antes! — Timothy constatou mais uma vez que a garota não seria adotada.

— Eu acho que ele não pensou muito bem antes de me adotar — Jason ergueu os ombros — O velho eu divido, mas o Alfred é só meu e do Damian.

— Por que o Alfred seria só seu e o Damian!? — a única garota presente chegou a se sentir ofendida: — Alfred é de todos!

— Esquece, Babs. As vezes precisamos aceitar que o Jason acaba sendo o preferido de todo mundo só porque é o problemático.

— Melhor do que ser o coitadinho com história trágica! — Jason rebateu o irmão mais velho.

— História trágica, eu!? Você que fica falando aos quatro ventos que foi morto pelo Coringa! O B dava boa noite para as suas cinzas todos os dias e eu sou o que tem a história trágica pra ficar me apoiando, é!?

Nesse momento, os irmãos mais velhos começavam uma briga enquanto os outros dois conversavam paralelamente:

— Parece que os cargos de filhos preferidos já foram preenchidos por eles, né, Babs?

— Nem tenta vir com essa, CEO mais jovem das Empresas Wayne.

— Mas isso não tem nada de especial...

— Já falei para parar, Tim! Você e o Jason são os que adoram se fazer de coitados para chamar atenção!

— Eu não me faço de coitado!

— “Uh! Olhe para mim, eu vou me atirar da janela porque ninguém entende quando eu falo em matemática!” — Ela imitou zombeteiramente o mais novo dos quatro, depois riu e completou: — O B ficou arrasado quando você fugiu com a Steph depois de se fingir de morto, tá lembrado, filho pródigo?

— E você só aparece pra usar os equipamentos dele, nem da família de verdade você é!

Enfim, em algum momento daquela briga, eu fui acertado pelo que pareceu ser o bastão de ferro do Robin Vermelho. Eu não sei quem foi, não faço questão de saber... continuei fingindo dormir para evitar ainda mais discussão.

E não, não vou adotar aquela garota. Apesar dela despertar interesse o suficiente para ter um plano contingencial próprio.

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Dia 26, 13:55, Quarto Principal da Mansão Wayne.

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Por muitas vezes eu já me senti culpado com o distanciamento afetivo que impus aos meus filhos. Nunca imaginei que seria tão sufocante ter eles juntos o tempo inteiro, ainda mais em algum tipo de competição idiota...

— B, está com sede?

— Não Dick, obrigado.

— Bruce, quer que eu ligue a televisão?

— Não, Tim.

— Velhote, quer um travesseiro para colocar embaixo da perna, para descansar as varizes?

— Eu não tenho... esquece. Muito obrigado, Jason, mas eu não preciso de absolutamente nada. Podem ir fazer o que sempre fazem o dia todo, eu estou perfeitamente bem.

— Papai, quer que eu traga o Titus e o Ace para ficar com você?

— Não precisa, filho...

— Quer o Alfred?

— É, talvez o Alfred seja uma boa companhia agora, eu realmente quero falar com... — Antes que eu conseguisse assimilar que o tal Alfred era o gato, não meu mordomo fiel, Damian já tinha saído correndo para procurar o animal pela casa.

Enquanto Jason e Timothy tentavam não rir pelo meu erro grosseiro, Dick ficou emburrado e se sentou na cama, perto, me encarando como se eu tivesse cometido uma falta terrível. Vi aquele olhar de reprovação pouquíssimas vezes.

— Por que você só chama o Dami de filho agora? Não somos mais seus filhos? Ou é porque ele é seu único filho de verdade?

Eu poderia ter perdido longas horas explicando a complexibilidade por trás daquele costume adquirido recentemente, mas preferi ser objetivo e certeiro, tanto quanto o golpe que deixou o meu olho roxo:

— Porque ele é o único que me chama de pai.

Eu pude sentir os ares ficarem pesados, quase tão pesados quanto a magia da pequena Rachel é capaz de fazer ficar. Eles se entreolharam ansiosos e imóveis, parecia uma cena de duelo triplo em um filme de Velho Oeste.

— Eu te chamo de pai quando esqueço o pau no cu que você é...

— Eu não gosto de chamar você de pai, Bruce, e fingir que temos a proximidade que não temos.

— Eu te chamava de pai, mas você não gostava.

Infelizmente, os três atiraram em mim.

— Dick... E eu gosto de você como meu filho e sempre gostei. Você é o meu filho primogênito, foi por sua causa que adotei os outros.

— Então eu posso dormir com você as vezes? Tipo, igual quando eu era mais novo?

— Dick... — Tentei não soar repreensivo, mas grande parte de mim pensava naquele tipo de coisa como uma brincadeira de péssimo gosto deles, para tentarem me fazer acreditar que ainda estava alucinando.

— Eu sinto falta de ficar até tarde assistindo futebol com você comendo batatinhas! Desde que a Selina chegou fica monopolizando o seu tempo livre e...

— Tudo bem, tudo bem! Uma vez por semana passa a ser o dia futebol! — Foi preciso me concentrar muito para entender que aquele tipo de reclamação era uma consequência direta da completa falta de limite que dei a ele quando pequeno. Alfred tinha razão. Agora restavam dois: — Timmy, eu deixei as Empresas Wayne nas suas mãos, realmente acha que não somos próximos?

— ... Desde que o Damian chegou você não liga mais pra mim. Nem o Dick. Nem o Jason. Nem o Alfred. Nem a Stephanie fala mais sobre a gente depois das fotos do Damian e...

— Quem foi o único que prestou atenção na sua explicação sobre linhas divergentes? — Foi o suficiente para arrancar um sorriso contido. Restava um: — Jason, eu...

— Mata o Coringa que a gente conversa!

— Quantas vezes eu já fingi não notar você roubar equipamentos? — Ele saiu irritado batendo a porta, significava que ele não tinha argumentos contra mim. Mesmo assim voltou segundos depois pronto para mais um ataque, mas fui mais rápido: — Em quem eu já dei mais abraços? — Ele bateu a porta mais uma vez.

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Dia 28, 18:33 da noite, Quarto Principal da Mansão Wayne.

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Não previ que o dia do futebol com batatinhas fosse cobrado tão rápido, mas era um jogo importante dos Gotham Rogues. Sinceramente, eu nunca gostei de futebol, eu só assistia aos jogos para me aproximar do Dick quando ele era pequeno... ele continua sendo pequeno.

Não sei ao certo em que ponto eu concordei que o meu quarto iria servir de ninho para todas as crianças, até porque eu tinha me preparado para lidar apenas com a gritaria histérica de Dick. Nem mesmo Selina estava disposta a me ajudar com aquela provação. Novamente, eu tive a impressão de que era apenas uma armação deles para me irritarem.

No começo, tudo parecia ir tranquilamente bem: Damian dormiu nos primeiros quinze minutos de jogo, Tim ficou mexendo no computador, Jason ficou xingando o quarterback e Dick, o mais eufórico dos quatro, fazia análises sobre as jogadas e falava comigo como se em algum ponto eu realmente compartilhasse daquela paixão por esportes... e eu comia batatinhas, porque não se fala com a boca cheia.

Em algum ponto eu perdi a consciência como anda acontecendo, o que é um incômodo. Alfred diz que eu apenas cochilo, mas isso nunca aconteceu com tanta frequência antes. Devem ser os calmantes que ele me obriga a tomar...

Acordei com Damian acertando meu olho roxo novamente, ele é sonambulo. Acredito que Richard gritar pelo comunicador com Stephanie e Cassandra sobre o jogo tenha ajudado nesse tipo de ação. Tim e Jason estavam mexendo nas maquiagens que a Selina deixa pelo quarto, provavelmente estavam pintando o rosto com as cores do time adversário para implicarem com o Dick.

No fim das contas, uma discussão acalorada sobre ser ou não uma boa ideia permitir apenas humanos de participarem nos jogos resultou em uma guerra pequena guerra, com todos sendo expulsos do quarto por Alfred.

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Dia 29, 05:04, Jardim da Mansão Wayne.

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Nunca pensei que fazer uma caminhada pelo jardim pudesse ser tão perigoso, nem na parte mais ao fundo, onde começa o bosque. Não poderia nem imaginar que os problemas do dia surgissem antes mesmo do sol e, tão pouco, que todas as oitenta e quatro táticas de fuga que tenho para aquele local não funcionariam.

Me apoiei em um dos pinheiros para amarrar melhor o tênis e, propositalmente ou não, um tiro de espingarda derrubou uma colmeia na árvore ao lado. Tive tempo apenas de correr e me jogar no riacho, algumas chegaram a picar minhas costas.

O culpado de tudo isso, segundo Jason, era Alfred: ele comentou que precisava se livrar de uma colmeia antes que Damian ou os animais acabassem se machucando, mas não explicou como iria fazer isso. Meu filho só quis fazer uma boa ação se livrando logo da colmeia a longa distância.

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Dia 29, 12:22, Salão de Refeições da Mansão Wayne.

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Damian não anda comendo adequadamente. No começo eu tinha certeza de que eram os remédios que o faziam ter enjoos, mas descobri recentemente que todos da casa dão doces para ele. Todos. Até mesmo Titus e Ace dividem com Damian seus biscoitos – e sim, ele aceita.

Depois do banho frio pela manhã, mais desperto que nunca, vigiei para que ninguém desse nenhum tipo de petisco ao meu caçula entre o desjejum e o almoço. Falhei miseravelmente e várias vezes. Ele conseguiu me despistar o dia inteiro, correndo por toda a mansão enquanto eu mal conseguia descer as escadas sozinho.

Ele não almoçou como deveria, mas comeu a sobremesa dele, do Jason e a minha. Era torta de morango, ele adora morangos. E, aparentemente, eu não sei recusar nada quando ele fica me encarando muito tempo.

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Dia 29, 15:17, Painel Central da Batcaverna.

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Timothy e Barbara continuavam com a competição de qual dos dois merecia ser mais meu filho que o outro. Aparentemente, por ambos terem ainda família quando os conheci, eram de uma categoria diferente dos demais.

Eu não participei da discussão. Eu fiquei mais de uma hora encarando o mapa de Gotham em silêncio escutando um desenvolvimento bizarro de teorias envolvendo a justificativa principal de cada um:

Enquanto Timothy argumentava que Barbara ainda tinha o próprio pai, portanto não precisava de mais um. Barbara argumentava que Stephanie é considerada minha filha e, portanto, ele não poderia ser meu filho, pois resultaria em incesto.

No fim, quando já tinha se tornado uma gritaria entre os dois, alguém resolveu começar a usar a decoração da caverna como artilharia de guerra. O estrago feito pelo T-Rex foi maior em número, mas o estrago feito pela moeda gigante foi maior em preço – ainda não sei como ela caiu em cima do jato.

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Dia 29, 17:40, Sala de Jogos.

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Eu já estava mais calmo, Tim estava de castigo longe da Batcaverna e Barbara em casa. Damian estava desenhando no quarto dele usando Selina como modelo.

Pela primeira vez no dia eu ia relaxar e passar algum tempo de lazer em família com meus dois filhos mais velhos: Jason e Dick. Alfred admitiu ter comentado algo sobre a colmeia, além de proteger Jason alegando que ele poderia ter incendiado o bosque se tentasse fazer da maneira certa.

A primeira rodada de Dirt Rally começou bem. Na segunda, quando os rapazes já pareciam desanimados com suas derrotas, resolvi apimentar as coisas colocando à prêmio um dia inteiro com Damian sem interferências minhas. Mais uma vez eles perderam.

Ao invés de aceitarem a derrota, resolveram culpar um ao outro por perder. Jason achou que o controle sujo de batatinhas estava atrapalhando a jogabilidade dele e Dick achou injusto a pontuação de Jason porque ele tomou vários atalhos.

Em poucos minutos a televisão estava com um dos controles encravados na tela, o videogame estava em chamas e o sofá foi derrubado no chão me levando junto.

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Dia 29, 22:01, Quarto Principal da Mansão Wayne.

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Selina achou que seria uma boa ideia se todos praticassem o perdão ao invés de ficarem de castigo. Ela me convenceu facilmente porque, afinal de contas, nenhum deles me levava mais a sério para obedecerem aos castigos. Eles fingiram que aprenderam algo e eu fingi que isso não seria usado posteriormente.

Acreditei que tudo estava resolvido e que, enfim, eu poderia me deitar na minha cama macia, com meu travesseiro macio, relaxar e dormir. Em algum pequeno momento entre pensar e agir, os quatro causadores da minha insônia invadiram o meu quarto armados de travesseiros, cobertores e o livro de Alice no País das Maravilhas.

Primeiro pensei que fosse uma piada, só me dei por vencido quando já estavam todos amontoados na cama. Agradeci mentalmente por ser o dia de ronda da Batgirl e Selina estar a ajudando da caverna, caso contrário aquela cena ridícula teria vários registros.

Quando terminei de ler o décimo segundo capítulo do livro, já estava vendo a situação de uma maneira bem promissora. Infelizmente, imprevistos acontecem e bastou que um deles tivesse que se levantar para ir ao banheiro para desarranjar todos os outros. Começou o coro de reclamações e, no final, decidiram acertar o culpado com os travesseiros assim que ele saísse do banheiro. Nesse ponto agradeci mentalmente por ser o Damian, caso contrário atirariam objetos muito mais perigosos.

Como todos estavam de pé e, aparentemente, despertos, imaginei que iriam procurar alguma atividade e me deixar dormir em paz. Porém, começaram uma guerra de travesseiros que terminou em uma competição de saltos artísticos em cima da cama. Emendaram outras duas ou três competições estranhamente criativas para que o pequeno Dami participasse também.

Tudo terminou com a cama quebrada, a poltrona arremessada pela janela, um abajur em curto e a minha porta arrancada da parede. Foi nesse momento que descobriram que se dividissem a culpa em partes razoavelmente iguais, ninguém sairia como culpado.

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Dia 30, 07:23, Salão de Refeições da Mansão Wayne.

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— Eu entendo que foram dias... incomuns? Acredito que essa seja a palavra adequada. Apesar disso, você me parece muito bem, er... — Clark encarou o amigo completamente destruído diante de si — ... bem com seus filhos.

— ... É.

— E o que aconteceu depois do seu quarto ser destruído?

— Eu me escondi na biblioteca, daí eles me encontraram lá e começaram a reorganizar todos os livros por ordem de cor, porque segundo o Damian ficaria mais legal. Quando começaram uma discussão para saber onde os laranjas e os cor-de-rosa deveriam ficar, eu fugi e me “escondi” aqui. Alfred preparou o café, vocês chegaram...

— Toda essa destruição aconteceu ontem?

— Sim.

— Alfred já...?

— Sim, ele já viu e já chamou a atenção de todos. Selina está trancada no meu escritório escolhendo os móveis novos do quarto.

— Eu... eu realmente não sei como te ajudar eu...

— Acho que eles gostariam de passar alguns dias na fazenda.


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Notas finais do capítulo

Eu poderia estar aqui falando do que a falta de sono é capaz de provocar numa pessoa que já sofre com o estresse, como o Bruce. Que talvez tudo isso que ele disse ter passado pode ser só um delírio ou de fato aconteceu. Porém, eu vou falar de uma personagem da DC que tem um desenvolvimento que vai de 0 a 100 com justificativa e propriedade, mas, infelizmente, é mal aproveitada: Angela Roth, também conhecida como Arella, a mãe de Rachel.
Ela tem aquele tipo de história completamente clichê, mas que não é ruim: foi abandonada ainda bebê e trocou de lar várias vezes, por isso o desapego emocional; sem encontrar apoio na fé, se revoltou e entrou para uma seita satânica; foi enganada por Trigon para carregar o futuro portal dele entre o inferno e a Terra (Ravena); em uma reviravolta, foi acolhida em Azarath, um mundo onde pessoas pacifistas viviam e queriam ajudar ela quanto ao Trigon; trocou o nome para Arella e foi obrigada a se afastar da filha...
É tão interessante a ordem em que tudo aconteceu e o quão plausível as circunstâncias foram, mas não tem tanta coisa sobre ela. Na verdade, a maioria das coisas muda de uma cronologia para a outra e a falta de aproveitamento dela continua... talvez a melhor aparição dela seja em New Earth, onde bem ou mal ela apareceu algumas vezes em ocasiões diferentes.
Quero urgente alguém escrevendo sobre ela, o distanciamento emocional que ela foi obrigada a ter da filha e como isso contribuiu para a destruição de Azarath e, de quebra, quero a Ravena usando e abusando dos poderes. Obrigada a quem fizer – que provavelmente será eu mesma.



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