Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 43
Remediar




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Alfred precisava de férias.

Em tantos anos nesse trabalho vital, foi a primeira vez que ele ele sucumbiu aos pensamentos recorrentes de ir para alguma ilha remota ou uma casa de campo longe da civilização e passar pelo menos alguns dias longe de tudo e todos – longe dos problemas. Porém, antes de qualquer possibilidade de tornar aquele desejo uma verdade concreta, ele precisava cuidar das crianças. Queria que tudo estivesse bem e em ordem, pois daí assim ele conseguiria relaxar.

Por enquanto, quando tudo estava tomado em caos, esses pensamentos é o que o mantinham com a cabeça no lugar. Só assim, distraído, ele conseguia deixar as emoções de lado e fingir que estava apenas fazendo um trabalho rotineiro...

Costurar, imobilizar, examinar... esses atos já haviam virado rotina, de fato, mas a situação era completamente diferente: Damian não tinha se machucado lutando contra o crime ou algo do tipo como o irmão – ele nem ao menos se lembrava de como lutar -, ele se machucou dentro de casa, sozinho, em um terrível “acidente doméstico”.

Estavam negligenciando aquele garoto. Todos. O que não diminuía a culpa que o mordomo sentia.

— Ele... bem? — Tim perguntou quase sem voz quando conseguiu recuperar o fôlego novamente. Ele ainda estava sentado, olhando para Alfred e para o irmão mais novo.

— Sinais vitais estáveis, ferimentos com boa cicatrização... — O mordomo caminhou até os monitores — ... fraturas aparentam mais de 80% de cura.

— ... Ele fi-icar bem?

— É impossível ter certeza — suspirou — Aparentemente ele está ótimo, como da outra vez, mas não temos como saber quando ele vai acordar de novo e nem quais serão os danos colaterais... — Alfred se colocou ao lado de Damian novamente — Temo que a única certeza sobre o estado dele é a de que precisamos nos manter otimistas.

— ... A memória... dele, v-voltar? — o rapaz acabou soltando uma risada baixa depois disso. Felizmente, os efeitos do gás do riso já estavam passando.

— Mestre Tim, por mais que me doa falar algo como isso, preciso admitir: a memória dele é o que menos importa comparado com outras sequelas — Passou a mão pelos cabelos da criança em uma caricia suave, ainda estavam molhados com aquele líquido viscoso. A única marca remanescente do que aconteceu era uma cicatriz pequena na sobrancelha esquerda, o único lugar onde o mordomo julgou não precisar de pontos antes do procedimento.

— ... B? — Timothy perguntou enquanto se deitava na maca mais uma vez.

— ... Patrão Bruce? — Por alguns minutos, Alfred tinha se esquecido completamente do estado de Batman — Céus, que ele não tenha ido patrulhar mais uma vez! — resmungou, saindo do laboratório disposto a manter aquele inconsequente em repouso nem que precisasse o acorrentar em uma das macas.

O mordomo não precisou ir muito longe para encontrar o morcego caído no chão, tentando se arrastar para as escadas enquanto, visivelmente, estava sofrendo de dor. Alfred não quis falar nada e muito menos perguntar o que tinha acontecido – era óbvio, os cigarros, isqueiro e uma arma estavam jogados por perto, provas de que Jason estava realmente fora de si. Ele simplesmente tentou ajudar o cavaleiro a se levantar e caminhar até o laboratório mais uma vez.

— Não... — Bruce murmurou. Tentava a todo custo ir na direção oposta, para a saída, por mais que precisasse se apoiar em Alfred para se manter de pé — Jason!

— Patrão Bruce, por favor! ... Pense no Damian, precisa estar bem para cuidar dele! — O outro pareceu ponderar sobre as possibilidades e então arriscou se soltar do mordomo e ir para as escadas novamente  — Patrão Bruce, não está em condições nem mesmo de ficar de pé! Como acha que vai conseguir correr por aí atrás dele!? — Pennyworth perguntou deixando claro que a paciência estava lhe faltando.

— Preciso! — se justificou com a voz rouca e falhada.

— E eu preciso de férias! — disse irritado — Patrão Bruce, ele vai voltar cedo ou tarde...! Deixe-o ir, pensar no que fez enquanto...!

Preciso! — repetiu uma vez mais, estava nervoso.

— Precisa de que, B? — Dick perguntou se aproximando deles e tentando entender o que tinha acontecido ali – tinha acabado de chegar — Você está péssimo... o que aconteceu? — Quando o rapaz notou as coisas jogados no chão, o rastro de sangue e lama, ele ficou nervoso e perguntou novamente: — O que aconteceu aqui!?

— Muitas coisas... — Alfred suspirou — Não importa agora, o que importa é o estado desse teimoso! Ele se recusa a ir comigo e eu já nem tenho mais forças para me prestar a isso!

— Seu irmão! — Bruce agarrou Dick pelo ombro, se apoiando nele da melhor forma que conseguia. Ele sentia o coração próximo do limite, a visão turva assim como os pensamentos, todos embaralhados — ... Vai... A-Atrás dele!

— Qual irmão? — Grayson o segurou — Tim, Jason? ... Damian? Não, Damian não... ou sim? — Já estava quase tão confuso quanto o pai.

— Mestre Jason saiu e está fora de controle! — Alfred respondeu pelo Wayne.

— O Jay sempre está fora de controle! — Dick tentou fazer uma de suas piadas, mas um aperto mais forte de Bruce o trouxe de volta para a realidade cruel daquela madrugada:

— Ele... s-se machucar... — tentou explicar, mas a garganta mal o permitia falar uma frase completa. Para o desgosto ainda maior, Asa Noturna o segurou com um pouco mais de força e começou a leva-lo para o laboratório mais uma vez. Desesperado, Bruce pediu: — Vai!

— Eu vou ir atrás dele, mas você também precisa de cuidados! — disse em um tom sério o suficiente para manter Bruce calado e cooperando.

Novamente no laboratório, Batman – o que restou dele - foi forçado a se deitar na última maca que ainda estava livre. Ao lado dele estava Damian, desacordado, ainda molhado pelo líquido viscoso e esverdeado; parecia apenas dormir, assim como Tim, que estava na primeira maca.

— Eu vou querer saber tudo o que aconteceu quando voltar... — Dick disse à Alfred enquanto acariciava suavemente o rosto do irmão caçula, imaginando o que teria acontecido só em ver a pequena cicatriz — Vou ir atrás do Jason antes que ele faça alguma besteira... — murmurou cansado, agora indo até Timothy — Deixei o meu comunicador com a Estelar, vou usar o do Tim por enquanto.

— Mantenha-nos informados, Mestre Dick — pediu Alfred, observando-o se afastar.

— Ah, eu quase esqueci: Jon está trazendo ela! Foi infectada pelo gás do riso, mas o antidoto que eu dei não funcionou direito! — avisou sem nem ao menos olhar para trás, queria encontrar o rebelde da família logo.

— Trazendo... ela? — o mordomo repetiu sem entender — ... Poderia ser...? — Permitiu um sorriso bobo aparecer no rosto, com esperanças de que poderia ser a...

— Selina!? — Bruce interrompeu os murmúrios do mais velho, sentando-se na maca e se esforçando para conseguir distinguir as duas figuras que se aproximavam, visíveis em uma das telas do computador pelas câmeras de segurança: uma era a do pequeno Jonathan Kent, já a outra ele tinha mais esperança do que certeza.

— Patrão Bruce, contenha-se! — Pennyworth pediu enquanto o obrigava a se deitar novamente.

Os dois ficaram em silêncio e esperaram os visitantes se aproximarem. Já estavam perto, mas a todo momento faziam pausas – provavelmente por causa das risadas descontroladas que o gás provocava. Quando finalmente chegaram ao laboratório, foi impossível para o mordomo disfarçar a nítida decepção enquanto pedia:

— Por gentileza, jovem Jonathan, poderia levar a sua mãe até aquela cadeira ali? — indicou o acento em que comumente ficava sentado quando precisava tomar conta de algum enfermo — Não deixem a bagunça causar uma má impressão, as coisas estão se resolvendo aos poucos e...

— Não! — Bruce grunhiu sem conseguir conter a frustração e se obrigou a sentar na maca mais uma vez – se tivesse mais forças, teria se levantado dali e ido atrás do filho ou até mesmo do corpo de Selina. Pprecisava fazer algo para se sentir útil, sentir que ainda tinha um motivo para não morrer também e deixar apenas o Batman vivo.

— Não? — Superboy encarou o Wayne e o mordomo em seguida, denunciando o quão aflito estava se sentindo — Dick disse que iriam ajudar a minha mãe...

— E vamos, ela vai ficar ótima! — Alfred tentou soar o mais otimista possível.

— Eu só ficaria ótima depois de um banho com sais, Pennyworth — A jornalista mal conseguiu terminar a frase antes de uma crise de risos e tosse começar. Ela precisou se debruçar ainda mais sobre o filho para conseguir se manter de pé.

— Não é justo! — Bruce encarou Lois mais uma vez, só sentindo o coração se despedaçar ainda mais por ela não ser a sua amada gata ali, viva.

— É o estresse, ignorem... — o idoso pediu em um sussurro.

E assim, o mordomo começou a caminhar de um lado para o outro analisando exames e dados importantes, preparando mais uma remeça de antidoto, tentando colocar coisa ou outra no lugar;

Timmy desfrutava de um sono pesado e merecido;

Lois, sentada na cadeira ao lado do milionário, recebia a bendita medicação – única que fez efeito completo, permitindo-a desfazer o sorriso idiota e acabar com as risadas involuntárias;

Jon tentava controlar a curiosidade e olhar apenas para os próprios sapatos ou para a mãe – por mais tentador que fosse descobrir o que aconteceu com Damian e o porquê de Batman estar chorando em silêncio.

Todos obedeceram, fingiram que Bruce nem ao menos estava lá – em realidade, ele parecia estar em um transe profundo enquanto murmurava palavras sem sentido e permitia que as lagrimas finalmente escorressem. O milionário, de todos naquele lugar, era o único que não estava recebendo cuidados, pois não haviam remédios para a tristeza ou dor da perda, cabendo ao próprio Bruce lidar com a derrota amarga que sentia como achava melhor:

— Filho... gata... sozinhos... Jason fugiu... — Bruce murmurava, remoendo a amargura e esperando o momento em que ela finalmente viraria a força necessária para ele se levantar dali e fazer algo útil — ... Deveria ter sido eu — suspirou.

— Bruce, você está começando a me assustar! — Lois comentou — Pra que tudo isso? Vai ficar tudo bem!

— Nada está bem! — ele a respondeu de um jeito frio, quase ríspido, deixando claro que não queria conversas motivacionais – não queria ser tirado daquela meditação angustiosa.

— Claro que está! — Ela tossiu um pouco antes de continuar: — Cadê o “pai inconsequente” que quer cuidar dos filhos?

— Você não faz nem ideia de como...

— Não sei mesmo o que aconteceu com o Damian! — o interrompeu — Nem dessa vez e nem da outra: não sei o que aconteceu e, sinceramente, não quero saber! A única coisa que eu não estou entendendo é o motivo de você estar aí, sofrendo, ao invés de estar se recuperando pra poder ajudar ele!

— Eu não preciso me recuperar, eu preciso de...

— Precisa se recuperar sim! — Ela o interrompeu mais uma vez, driblando as tosses apenas para chamar a atenção dele: — Olha só esses machucados nas suas costas! — Se levantou e se aproximou mais de Bruce – a essa altura, ela já nem se lembrava mais que precisava ficar com a máscara de respiração.

— Mãe... — Jon a chamou tão baixo quanto conseguiu – se Lois estava começando a ficar assustada, Superboy já estava certo de que o Batman triste é mais assustador do que ele irritado.

— A Selina se arrisca pra arrumar um jeito de te ajudar e para quê? Pra você ficar aí, fazendo esse drama todo, ao invés de só dormir um pouco!? Se você piorar, quem é que vai cuidar dessas crianças? Alfred, como sempre!? Você que é o pai deles!

— Mãe, acho que ele ainda não sabe sobre...

— Ela está morta, meu filho em coma, um está péssimo e o outro saiu descontrolado de casa! Acha que eu consigo dormir!?

— Consegue!

A persuasão de Lois Lane só ficava atrás da coragem – teimosia ou estupidez, o mais conveniente. Ali, ela não via Batman e nem mesmo o milionário que poderia ser dito como “dono” de Gotham, ela via apenas um amigo triste que não estava agindo como deveria agir naquela situação e, como boa amiga que é, ela precisava intervir:

Aproveitando da exaustão do morcego, ela praticamente o derrubou na maca e o prendeu deitado pelos ombros. Por mais irritado que parecesse, Bruce não tinha condições de empurrar ela e se levantar – se tivesse alguma força, ele já teria se levantado há muito tempo.

— Mãe! — Jonathan tentou a repreender, mas foi ignorado.

— ... Vou pegar um calmante! — Alfred avisou, sem deixar claro se era para o morcego ou para a jornalista. Ele caminhou apressado até um dos armários para procurar o bendito sedativo.

— Me solta, Lois! — Bruce grunhiu.

— ... Mãe, solta ele! — Jonathan tentou mais uma vez, abraçando a jornalista descontrolada em uma tentativa vã de deter ela.

— Nem pensar! — Deu uma risada, talvez ainda sob efeito do gás ou porque simplesmente quis rir — Você vai ficar aí, deitado, nem que eu precise amarrar você nessa maca!

— ... Amarrar na maca? Clark vai adorar saber disso... — Selina disse com certa graça observando toda aquela cena da entrada do laboratório. Ela não precisou ser tão silenciosa quanto de costume para surpreendê-los, afinal, ela chegou ali no começo daquela discussão – ninguém a notou, não até aquele momento.


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Notas finais do capítulo

E vocês aí, achando que eu ia matar a gata mais sexy das HQ’s em um Extra! Se for pra matar a Selina de verdade, acreditem, eu vou ser bem mais cruel. Agora sobre matar personagens em Extras: tem alguns que só aparecem em Extras, como a Estelar, por exemplo.
Não que eu vá matar mais pessoas...
Mas que já fique de aviso: os que eu matar agora, continuação mortos.



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