Reviver escrita por LaviniaCrist


Capítulo 16
Relações




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— Não estou falando sobre nossa relação, se é que existe alguma! Eu só quero saber sobre o Damian! — Selina disse exatamente a mesma frase pela terceira vez. Faziam quinze minutos desde que entrou no quarto do morcego e o encurralou exigindo respostas.

— Ele está como antes, desacordado!

— Então onde ele está!? — A mulher bateu o pé contra o chão, impaciente e sentindo que sua inteligência estava sendo subestimada ao extremo — A menos que você consiga me convencer de que saiu dirigindo daquele jeito por nada depois de pegar o Coringa ontem à noite, é melhor me contar o que aconteceu com o seu filho, morcego!

— Ele é meu filho, gata, não seu! — Bruce já estava perdendo a pouca paciência que ainda tinha. Aquela ladra simplesmente se sentia no direito de exigir respostas depois de o interromper no banho.

Selina se calou.

Não havia o que contestar ali: pelo visto, os dois não tinham nem ao menos relação. Quais direitos ela tinha para exigir respostas?

Ela suspirou, pensou no que poderia falar e acabou abaixando a cabeça, deixando a ideia de lado.

— Alfred não deveria ter deixado você entrar aqui... — O milionário murmurou, andando até a janela — ... Não sem me consultar!

— ... Como se eu precisasse de alguém para abrir as portas por mim! — Selina disse com parte da raiva que estava sentindo transparecer na voz, e continuou: — Não se preocupe, não pretendo voltar aqui. Nem mesmo sei para que me dei ao trabalho de vir visitar o seu filho. Eu só... só imaginei tantas coisas depois do seu sumiço misterioso, depois de encontrar tudo vazio lá embaixo que... — Ela se calou novamente, não queria pensar no pior — De qualquer jeito, aparentemente isso não é mais da minha conta!

Notando que havia passado dos limites, Bruce tentou concertar as coisas explicando mais uma vez:

— Não é isso, é que depois do que aconteceu a nossa relação não é exatamente a mesma, mal conversamos e...

— Não é sobre a nossa relação, morcego! — ela disse irritada, quase quebrando a maçaneta da porta quando a abriu para ir embora. Entretanto, quem ela viu parado em frente ao quarto a fez estagnar no lugar enquanto processava o que estava acontecendo.

— E-Eu não estava ouvindo! Eu ouvi, mas eu não fiquei ouvindo por querer! — Damian se apressou para explicar — Eu só queria falar com o meu pai, mas ele ainda não estava no escritório e a porta do quarto estava fechada, eu pensei em bater, mas vocês estavam ocupados e eu... Desculpa! — A culpa que ele sentia estava estampada no rosto, além da vergonha por ter sido “enxerido”. A verdade é que ele queria saber quem era aquela mulher que estava no quarto do pai e, pelo que conseguiu entender, já tinha uma resposta na ponta da língua.

— Filho, o que falamos sobre andar pela casa sozinho? — Bruce tentou ao máximo não soar repreensivo, quando na verdade ele queria prender sua criança em um quarto seguro e nunca mais a deixar sair.

— Eu queria te mostrar o desenho que eu fiz...! — Damian tentou soar o mais adorável possível, sorrindo e estendendo o desenho para o pai ver.

— Ficou muito bom! — Bruce sorriu, pegando o papel e bagunçando o cabelo do filho — Vou pedir para o Alfred emoldurar, vai ficar ótimo no meu escritório.

Selina continuava no mesmo lugar, uma pessoa à parte ignorada pelos dois. Ela olhava aquela cena e tentava entender em que parte da discussão foi transportada para um universo alternativo onde os Wayne agiam como uma família normal e afetuosa.

Tudo indicava o contrário do que estava acontecendo: o mau humor de Bruce, o encerramento de uma patrulha após mal ter começado, a falta de respostas, ele não ceder tão facilmente nem mesmo enquanto ela o encurralava em uma banheira... Tudo indicava que Damian havia piorado ou até mesmo morrido.

Porém, ele estava ali.

Ele estava de pé.

Ele sorria, como se nada tivesse acontecido.

— Damian? — Selina o chamou, se abaixando para ficar na altura dele — Damian, você está bem? Se sente bem? — Quando recebeu um aceno afirmativo, ela respirou fundo e tomou coragem para fazer algo que queria há muito tempo, desde quando o rapazinho havia sido encontrado: ela o abraçou, praticamente o levantando do chão, enquanto o enchia de beijinhos pelo rosto e ameaçava: — Dá próxima vez que você me deixar assim tão preocupada, seu...! É melhor estar preparado para uma gata irritada com unhas afiadas!

A criança, sem entender ao certo o que estava acontecendo, se entregou aos carinhos em meio à um riso contagiante. Ele também a abraçou, o que fez com que demorasse até aquela explosão sentimental acabar.

— Prometa para mim, Damian... — Ela suspirou, segurando o rosto dele pelas bochechas e pediu tanto por si quanto pelo seu morcego: — Prometa que nunca mais vai nos deixar tão preocupados!

— Eu prometo, mamãe — O mais novo respondeu sentindo o rosto esquentar pela timidez em falar aquilo, em chamar uma “desconhecida” de um jeito tão próximo. Ele queria ter ela por perto, mesmo que fosse problemática...

— Não, Damian! — Transtornado, Bruce falou no mesmo tom frio e apático de quando era Batman — Essa não é a sua mãe... — Tentou explicar, já em seu normal. Porém, antes que conseguisse falar qualquer outra palavra que fosse, Damian o interrompeu:

— Por que não?

— Porque não é. Selina e eu tínhamos uma espécie de relacionamento, isso não faz dela a sua mãe.

— Mas se quiser, pode me chamar de mãe! — ela sorriu, abraçando mais uma vez a criança — Prometo que vou tentar ser uma para você de agora em diante e...

— Selina! — Beirando a instabilidade completa, o milionário tentou intervir antes que aquilo virasse uma bola de neve: se nem mesmo ele conseguia ser um pai centrado, como uma gatuna iria conseguir desempenhar um bom papel como mãe!?

— Oh, morcego! — ela murmurou manhosa, agarrando Damian e o pegando no colo como se fosse capaz de o roubar para si. Ele estava tão mais leve... seria fácil fugir com ele.

— Sem brincadeiras, gata! — o mais velho avisou, estava se contorcendo em ciúmes: como ela ousava ter a confiança de Damian tão facilmente!? — O estado do meu filho ainda é delicado, eu não quero que você deixe ele ainda mais confuso!

— E que tipo de monstro eu seria para deixar o nosso filhote confuso, heim? — ela sorriu, zombando da cara dele.

— Se vocês estão juntos, ela pode ser a minha mãe... — Damian incentivou, esperançoso para que reatassem qualquer relação que tivessem antes. A verdade é que a criança já estava começando a ficar desconfortável por estar entre os dois: se sentia o culpado por atrapalhar seja lá o que tivessem, principalmente porque, pelo que tinha escutado, aquela discussão começou por culpa dele.

— Você não precisa de uma mãe, precisa de paz! — Bruce respondeu ríspido, estava perdendo a compostura — E não éramos namorados!

— Éramos noivos! — A mulher completou com certa graça, fugindo do quarto com a criança no colo.

Depois disso, tudo aconteceu rápido.

Selina correu pelo corredor levando Damian consigo. Ela tomava cuidado, mas cuidado algum a impedia de descer os degraus praticamente saltando alguns;

Bruce ia atrás dela como Batman, apesar de não estar vestido a caráter. Ele tinha perdido a paciência, estava transtornado e não era para menos: ela cruzou todos os limites que ele poderia permitir;

Aconteceu tudo rápido demais para que Damian conseguisse entender perfeitamente.

Ele se abraçava à sua “mãe” como podia, mas estava assustado.

Ela tinha marcas de arranhados pelos ombros e uma marca rocha no pescoço, ao menos foi isso que Damian conseguiu notar enquanto tentava esconder o rosto. O cabelo estava molhado, escorrendo e molhando a bochecha dele...

O pai, revoltado com toda aquela situação, tinha as feições idênticas à um dos desenhos inacabados que Damian tinha visto antes: ele em meio à escuridão com um olhar pesado... um olhar de julgamento. Bruce estava o julgando como um “filho ruim” por querer fugir com a mãe.

Tal fuga terminou rápido, antes mesmo que Selina conseguisse chegar até a porta: Dick a encurralou no fim da escada e resolveu entrar na brincadeira também, tomando Damian do domínio dela:

— Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão! — ele se justificou, fugindo para um esconderijo seguro com a pequena criança no colo.

— Gata! — Bruce chamou, a segurando pelo antebraço — Temos muito o que conversar... — Ele mantinha a austeridade, afinal, ela tentou roubar o filho dele.

Damian, cujo a última coisa que viu foi o pai levando a namorada pelas escadas, se desatou a chorar. Ele não queria que brigassem mais uma vez, principalmente porque o motivo seria ele.


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Notas finais do capítulo

Antes de mais nada, uma advertência: o relacionamento da Selina Kyle (Mulher Gato, cujo apelido carinhoso é “gata”) e Bruce Wayne (apelidado por ela de “morcego”) não é abusivo, pelo menos aos meus olhos. Claro, ela e Bruce tem muitas idas e vindas, declarações furadas, brigas e finais completamente sem nexo, mas sempre estão próximos. Bem próximos. Próximos nos telhados de Gotham.
Na fanfic, sem seguir a cronologia correta, temos que os dois eram namorados e aparentemente terminaram (porque o Bruce não sabe lidar com duas coisas ao mesmo tempo: quase casamento e filho em coma). Porém, Selina continuou se importando com Damian e conseguiu notar o comportamento diferente do Batman. Ela estava tão surpresa por ver o “filhote” de pé que nem notou a perda de memória.
Acreditam que Selina apareceu na primeira edição da HQ do Batman!? Coringa também estava lá, aliás.
Falando no palhaço preferido de muita gente doida (como eu) na edição 49 de Batman (Renascimento), Coringa explica o motivo pelo qual Batman nunca irá construir um relacionamento duradouro: para ele funcionar de forma eficaz como Batman, ele não pode ser feliz, como alegou estar no capítulo 35.
Agora vamos ao relacionamento da Selina com o Damian: é um relacionamento bem razoável, levando em conta que ele é um garoto ciumento. Acredito que os dois se vejam como amigos e que confiam um no outro, independente de qual cronologia seja. Aliás, tem até uma história narrada pelo nosso amado Alfred onde Damian é sim filho de Selina com Bruce (o que faz meus dedinhos coçarem muito para escrever sobre isso).
Falando em filhos: os dois (Selina e Bruce) têm a filha canônica da Terra-2, Helena Wayne (Caçadora), que apareceu a primeira vez em DC Super Stars n. 17. Também temos o filho deles que provavelmente é apenas uma alucinação da mente ciumenta de Damian, o Aion, aparecendo unicamente em Batman: Prelude to the Wedding: Robin vs. Ra’s al Ghul n. 1 (também tem cenas adoráveis do Damian provando a roupa para o casamento do pai com a Selina – bônus para quem leu até o fim: tem ela dizendo que Damian não precisa chama-la de “mãe”, mas que ela sempre será alguém que ele pode confiar).



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