Impossível escrita por kjuzera


Capítulo 19
"Eu não esqueci o que eu te disse"




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Uraraka estava contente com os avanços que estava fazendo com Mei. Ela explicava mais ou menos o que entendia do pensamento por trás do feitiço e a feiticeira deduzia o que ela estava tentando dizer. 

Outra agradável surpresa era que, apesar de ser o vivo estereótipo de “cientista maluca”, a feiticeira sabia administrar bem os recursos que tinha à disposição, com métodos de experimento que não precisavam ficar gastando componentes materiais aos montes como Hawks fazia. Ela usava a tal matéria escura como componente genérico para tudo. Nada de valioso era destruído ou sequer utilizado no processo. A resistência não podia se dar ao luxo de esbanjar itens de valor. 

Um pouco antes da hora do almoço, Uraraka deixou a oficina de Mei para se juntar à pequena aglomeração em volta da fogueira, onde a sopa do dia estava borbulhando e espalhando um cheiro delicioso pela caverna. Ela observou Bakugou no canto dele, mascando uma lasca de carne seca e sem se misturar com o restante do grupo, como sempre. Ele normalmente não era de conversar, mas hoje parecia um tanto inquieto. Olhava para os lados, atento a todos os movimentos. Era estranho.

Depois de ter contado o segredo dela para o bárbaro, Ochako estava se sentido bem mais aliviada. Não que a situação dela tivesse mudado, mas só pelo fato de dividir aquele peso com alguém, ela já se sentia infinitamente melhor. O bárbaro tinha dito que estava do lado dela, e ter um aliado naquela situação era muito reconfortante. 

No entanto, era Izuku quem tinha se provado ser sua melhor companhia desde que fugiram do castelo juntos. O escudeiro já tinha recuperado um pouco do ânimo, e apesar da clara tristeza em seu olhar, ele estava sempre disposto a conversar. 

Ochako percebia claramente o quanto Izuku sentia falta do príncipe, mas ele nunca demonstrou qualquer arrependimento por ter salvado ela e perdido seu cargo no castelo, sua liberdade e, se ela estava lendo as coisas corretamente, perdido a chance de viver um amor que sempre foi difícil mas que agora parecia ser impossível. Ela se sentia terrivelmente culpada por colocá-lo naquela situação, então agora o mínimo que podia fazer era oferecer ao rapaz o conforto de um ombro amigo. 

— Midoriya, vamos almoçar! - ela o chamou com um sorriso.

— Oh? Vamos, hoje o cheiro está muito bom! - ele disse guardando a espada que estava usando para ensinar Kaminari e caminhando com o mesmo em direção à fogueira. 

Os três se serviram e prontamente se juntaram à conversa amigável do grupo. Izuku estava agora no mesmo barco que aquelas pessoas, não podiam voltar para a cidade por terem cometido crimes contra a coroa. 

Um refugiado comum, civil, certamente poderia ficar escondido por um ou dois meses e voltar, pois conseguiria se camuflar no meio dos plebeus e passar pela guarda com tranquilidade. Mudando de trabalho e de casa poderia voltar a ter uma vida relativamente normal. Alguns aliados da resistência falsificavam os papéis de documentação e conseguiam devolver a vida normal para os fugitivos. 

Já Izuku, bem conhecido de toda a guarda real, certamente não teria a mesma facilidade. Teria que esperar a poeira baixar por mais tempo, e certamente encontrar outro trabalho em outra cidade. Provavelmente nunca mais poderia pisar no castelo, pelo menos não entrando pela porta da frente e em plena luz do dia. Quando o grupo conversou sobre isso, ele apenas deu de ombros e reafirmou que fez a coisa certa e que faria tudo outra vez caso fosse  necessário. 

Dabi se aproximou da fogueira e serviu duas porções da refeição, uma pra ele e outra para Mei. Tentando manter o clima positivo, ele brincou dizendo que a feiticeira se esquecia de comer se eles não a lembrassem. Fez questão de levar a comida para ela pessoalmente.  

O herdeiro real perdido ainda era uma incógnita para Ochako. Apesar de ser sempre muito cortês com todos e nunca pressioná-la diretamente, era bastante óbvio que ele queria resultados logo. Várias vezes ele ia conversar em particular com Mei depois que Ochako saía da oficina, certamente para saber sobre os avanços da pesquisa. 

— Argh… Vocês vão todos derreter comendo só essa gosma quente. - Bakugou tinha surgido em meio ao grupo, desdenhando a comida grosseiramente. - Kirishima! Vamos providenciar uma comida de verdade.  

O dragão imediatamente levantou a cabeça animado. Rastejando desajeitadamente, ele começou a se mover aos poucos para a saída da caverna, evitando de bater nas paredes e teto irregular. Uraraka imediatamente lembrou de um cachorro ansioso para ir passear. 

— A sopa está bem boa, Bakugou, você devia experimentar antes de falar mal. - Uraraka repreendeu. 

Bakugou começou a caminhar de um lado para o outro, impaciente. Olhava ao redor inquieto, na direção da sala de Mei, às vezes na direção de Kaminari e Jirou, que tinham se afastado para ver alguma coisa no cantinho reservado ao casal.

— Os deuses me protejam dessa sopa, comida de gente velha e doente! Eu tenho dentes!

Uraraka olhava o bárbaro com desconfiança. Que ele era completamente sem modos e tinha certas crenças bizarras em relação à comida não era novidade para ela, mas aquele comportamento estava um tanto exagerado. E pensando bem, ela já tinha visto ele comer a sopa cheio de vontade… Por que só estava reclamando agora? Por que ele olhava para os lados, como se estivesse com pressa? 

Ela, Izuku e as demais pessoas que comiam ficaram olhando para ele confusas mais alguns instantes, até que Kirishima grunhiu o chamando, já a postos na saída da caverna. Bakugou fez um sinal qualquer pro companheiro, se voltando de novo para o grupo.

— Eu vou, eh, caçar. - ele disse, parecendo óbvio. - E, lua cheia, eu não esqueci o que eu te disse antes. 

Ochako ficou ainda mais confusa quando o bárbaro agilmente correu até onde Dabi guardava seus pertences, levantou uma manta e pegou um pequeno baú com cadeado nas mãos. 

— Ei! O que ele está fazendo?! - alguém gritou.

— Está roubando! Parem ele!

— O quê?! 

Quando a pequena confusão se formou, já era tarde. Bakugou correu com a pequena caixa até o dragão e subiu nele num pulo. Os gritos alarmaram todos, mas quando se levantaram e foram atrás dele, já era tarde demais. Quando Kaminari e Jirou alcançaram a entrada da caverna, Kirishima já voava alto e inalcançável.  

Uraraka e Izuku estavam em choque diante do acontecido. Foram instantes até Dabi ouvir a comoção e ir correndo até suas coisas. 

— … Merda! - ele disse jogando a manta pro lado.

Kaminari, Jirou e mais alguns foram correndo até ele.

— O que ele levou? - Jirou olhava a pequena bagunça sem conseguir reconhecer o que faltava.

— A varinha. - Dabi disse entre os dentes. - Ele levou a varinha mágica. 

Kaminari ia fazer alguma piada, mas Jirou foi mais rápida em beliscá-lo, aquele não era o momento. 

O olhar claramente raivoso de Dabi se virou lentamente para a direção onde Uraraka e Izuku estavam. Imediatamente todos olharam pra eles também, esperando alguma resposta.

— Pessoal, por favor, não vamos nos exaltar. - Izuku disse prontamente, tentando apaziguar os ânimos. - Uraraka e eu estamos tão chocados quanto vocês. 

— Antes de ir, o bárbaro disse para ela não esquecer do que ele disse. - informou um dos refugiados. 

— E o que ele te disse? - Dabi perguntou incisivo. 

Uraraka engoliu seco. Todo mundo a olhava acusadoramente, como se ela soubesse o que se passava na cabeça de Bakugou. Como se eles fossem cúmplices ou qualquer outra coisa. Ela realmente achava que eram, afinal ele sabia o maior segredo dela! Mas aparentemente ela não sabia nada sobre ele. 

— Eu não… eu não sei, ele não me disse nada! Nós mal nos falamos e… eu não… - ela gaguejou nervosa. 

Mas que diabos o bárbaro estava pensando em fazer?! Que diabos era uma varinha? Ela estava mais perdida do que qualquer um dos presentes. 

Izuku passou o braço pelos ombros dela a confortando. 

— Fica calma, Uraraka, você não precisa saber. Eu acho que talvez saiba alguma coisa que pode ajudar. - Izuku ofereceu.

— Pode começar a falar. - Dabi disse não conseguindo disfarçar como estava com raiva.

Midoriya respirou fundo, com calma, indicando para Uraraka se sentar e sentou também. A última coisa que queria era inflamar ainda mais os ânimos de todos.

— Ontem ele me fez algumas perguntas estranhas sobre maldições. - ele contou.

— Mas ele odeia magia. - Jirou observou - Por que ele queria saber sobre maldições?

— Ele não me disse. - Izuku disse sincero - Mas eu disse pra ele que quando uma bruxa amaldiçoava uma terra, por exemplo, a solução era matar a bruxa. 

— Você tá querendo dizer que o Bakugou roubou uma varinha mágica pra salvar alguma terra amaldiçoada por uma bruxa? - Kaminari perguntou confuso.

— Não... - Izuku disse pensando e finalmente conectando os pontos e deduzindo - Ele provavelmente quer matar Hawks. 

— ELE O QUÊ?! - Dabi gritou muito surpreso.

O susto foi grande por parte de Uraraka, mas também surpreendeu todos os presentes. Hawks era bastante conhecido por todo mundo, e qualquer um sabia que matar o feiticeiro real não era algo factível. 

— Como você chegou a essa conclusão? - Jirou quis saber.

— Nós nunca soubemos como ele escapou do castelo. - Izuku disse e Uraraka confirmou. - Ele deve ter sido liberto. Hawks deve ter libertado ele. 

Todos olhavam para o escudeiro, aguardando mais explicações. 

— Ele foi preso e seria executado, mas Uraraka convenceu Hawks que ele seria útil para o feitiço do portal. - Ele falou recapitulando e Uraraka confirmou. - Depois que ele descobriu que era uma mentira, Bakugou sumiu do calabouço, a guarda real disse que ele foi executado, mas não foi. Hawks poderia facilmente manipular a cabeça de qualquer guarda pra isso acontecer.

— Mas o que Hawks ganhou libertando ele? Não faz sentido. - Dabi tentava acompanhar o raciocínio do escudeiro. 

— A maldição. - Deku concluiu o pensamento - Hawks deve ter feito alguma coisa, amaldiçoado ele de alguma forma. 

Dabi observava o escudeiro, digerindo todas aquelas informações. Com um suspiro cansado, ele simplesmente voltou à sala da feiticeira e a trouxe para o grupo, contando em poucas palavras o que tinha acontecido.

— Poxa vida, eu sempre perco quando coisas interessantes acontecem! - ela disse chateada. - Se bem que vocês sempre perdem também os nascimentos incríveis dos meus bebês. 

— Mei, foca na gente. - Dabi chamou a atenção dela -  Hawks pode ter amaldiçoado Bakugou de alguma maneira?

— Certamente. - ela disse dando de ombros. - Há uma infinidade de tipos de maldição, eu poderia preparar uma aula para todos vocês, poderíamos até mesmo praticar com algumas plantas, quem sabe um cavalo, ou que tal demonstrar com…

— Mei! - Dabi chamou de novo. - Não será necessário. Você pode voltar a fazer o que você estava fazendo, sim? - ele se rendeu, era um tanto inútil contar com a objetividade da feiticeira. 

— Eu só espero que ele não faça nenhuma besteira muito grande, tem uma Bola de Fogo naquela varinha. Nível máximo! - ela disse orgulhosa. - Mais um bebê meu que não verei em funcionamento…

— Bola de Fogo?! Que demais! - Kaminari se empolgou para logo ser repreendido por Jirou. 

— Ele provavelmente vai se matar. - Dabi concluiu fatalmente, levando a mão à testa. - Ele não vai conseguir vencer Hawks, nem mesmo com a varinha. Ele pode até se matar com a varinha antes de chegar no castelo! E se Hawks queria alguma coisa dele que ele não está cumprindo, o gavião certamente vai matá-lo.

— Bakugou pode não entender de magia, mas ele não é estúpido.  - Izuku defendeu. - E ele é muito forte! Eu não sei o que ele está pensando, mas... ele certamente vai precisar da nossa ajuda. 

Uraraka precisava concordar, queria muito concordar. Lembrou-se da facilidade com que o bárbaro torceu o pescoço franzino do mercador de escravos, e depois da cena sanguinária que ele performou na biblioteca do castelo, facilmente lutando desarmado contra vários soldados. Ele era sim muito forte. 

Mas Hawks? Hawks era outro departamento. Ela não tinha a menor noção da extensão dos poderes do feiticeiro, nem como ele se comportaria numa luta. Talvez Bakugou o vencesse numa disputa de força física facilmente, mas aquela certamente não seria uma luta baseada nisso. Não sem uma estratégia. Ela temia pelo bárbaro, não queria que ele morresse, não de novo! Não suportaria.

— Eu não entendo o que Hawks pode ganhar amaldiçoando um bárbaro! Não faz sentido! - Dabi reclamava, tentando extrair mais alguma conclusão brilhante de Izuku.

— Eu acho que Bakugou é estúpido. - Falou Kaminari dando de ombros - Como que ele vai sequer chegar no Hawks? Vai entrar pela porta da frente e pedir pra falar com ele? - disse debochado. 

— Não pela porta. - Izuku disse com um sorriso um tanto satisfeito. - Ele vai pela torre e não vai pedir, vai mandar. 

Ninguém além de Uraraka entendeu completamente o significado das palavras de Midoriya. A garota visualizou o bárbaro entrando com o dragão pela torre do castelo e demandando ser atendido, como fizera da última vez. Ninguém ousaria discordar dele. Ela também não conseguiu evitar de sorrir satisfeita. 

— Bárbaro estúpido. - Dabi praguejou - Mei, traga alguns equipamentos. Denki, Kyoka, Midoriya, peguem armas e vamos atrás dele. Preciso tirar essa história a limpo. 

— Eu vou também! - Uraraka se prontificou. - Eu… eu posso ser útil! 

— Não, você fica, é um risco completamente desnecessário. 

— Ela pode ir comigo. - Izuku ofereceu. - Eu posso manter ela segura. 

— Se vocês não me levarem, vão ter que me amarrar, pois eu vou de qualquer jeito! - ela disse com tanta autoridade e determinação que até ela mesma ficou surpresa. Ela não aguentaria ficar parada esperando eles voltarem, ou até mesmo não voltarem, não ia aguentar. Bakugou devia explicações a ela tanto quanto devia a eles. Se ele não morresse nas mãos do Hawks, ela mesma mataria aquele idiota cabeça dura. 

O rosto todo queimado de Dabi se contorceu em desgosto. Sabia que a garota não se daria por vencida, certamente teria que amarrá-la mesmo. Não era uma idéia que abominava, mas também não era sua primeira opção. Ponderou que talvez ela pudesse ser útil na tarefa de dissuadir o bárbaro de enfrentar Hawks. Suspirou fundo, irritado demais para discutir.

— Que seja. Vamos logo antes que a gente não chegue a tempo nem para o enterro. 

Todos se colocaram em movimento. Mei distribuiu alguns de seus bebês para cada um deles, fazendo explicações mais do que breves de como cada equipamento funcionava. Uraraka recebeu um par de luvas com algumas pedras nos punhos e fios conectando os dedos a elas. Mei disse apenas para ela tocar para ativar e juntar os dedos para desativar. 

— Você sabe ler, Izuku? - Mei disse entregando para ele uma bolsa cheia de frascos. 

— Sssim, sim! - ele respondeu nervoso, olhando cautelosamente o conteúdo da bolsa. 

— Leia os rótulos na viagem, não misture nenhum e me traga de volta o que sobrar. - E essa foi toda a explicação de Mei. 

Enquanto Uraraka estudava seu equipamento, Mei explicou o dos outros e quando se deu por conta eles já estavam escalando a lateral rochosa e montando os cavalos. Olhando para as luvas estranhas, Uraraka se sentiu a criatura mais inútil de todos os universos possíveis.

O que diabos ela estava pensando? Mal sabia o que aquele equipamento fazia, que utilidade ela teria? Hawks sobreviveu a uma granada, que mal lhe faria uma par de luvas? Se Hawks a encontrasse nem saberia do que ele seria capaz. Estava indo na direção da própria morte. Ele mataria ela, mataria todo eles, mataria Bakugou. Era inútil, ela devia desistir de tudo, esquecer que um dia teve uma família, amigos, uma casa. Ficar longe de todos e parar de causar mais problemas para as pessoas.

— Ochako. - Izuku chamou, já montado no cavalo e oferecendo uma mão para ajudá-la a subir. 

Ela viu Dabi montado em outro cavalo, Kaminari e Jirou num terceiro, todos já prontos para sair, e ela estava apavorada. Já tinha sentido a dor de ter perdido Bakugou uma vez, não queria perdê-lo de novo. Não queria arriscar Izuku, nem nenhum deles. Só queria que tudo parasse. Queria voltar no tempo e impedir Bakugou de fazer coisas tão estúpidas.

— Ele não vai morrer, ele é muito mais forte do que você imagina. - Izuku disse insistindo para que ela pegasse sua mão. - Nós vamos até lá pra trazer ele de volta.

Uraraka pegou a mão do escudeiro e montou no cavalo ainda incerta. Lembrou-se de Bakugou dizendo que a ajudaria, e repetindo que não tinha esquecido daquelas palavras antes de fazer aquela besteira. De algum modo, na cabeça do bárbaro, o que ele estava fazendo era para ajudar ela. 

Izuku guiou o cavalo aos trotes atrás dos outros dois, a obrigando a se segurar nele. Da próxima vez que ela encontrasse Bakugou, deixaria bem claro que ele a ajudaria muito mais ficando vivo. Vivo e do lado dela.


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