Impossível escrita por kjuzera


Capítulo 13
"Tudo fica mais legal se tiver um nome legal."




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O balançar no lombo do cavalo não era algo que Bakugou estava acostumado. O animal ia caminhando e gerando um movimento característico e repetitivo que por vezes o bárbaro se pegava cochilando sentado. 

Saiu da cidade já no meio da tarde e só de passar as muradas já se sentia muito melhor. A estrada seguia sinuosa ao longe, à esquerda conseguia ver algumas fazendas, bosques e montanhas. À direita, um alto penhasco rochoso o separava do mar agitado.  

Apesar de já estar fora dos muros, ainda estava muito próximo da cidade, então havia bastante movimento. Kirishima não teria onde ficar por ali, precisaria se afastar mais para encontrá-lo. 

Seguiu a estrada por algum tempo e antes do pôr do sol já não via mais casas ou outras pessoas e carroças circulando. Colocou dois dedos na boca e assobiou alto. O som agudo se perdeu no espaço aberto, abafado pelo vento forte e pelas ondas do mar que batiam nas pedras lá embaixo. E nem sinal de Kirishima. 

Bakugou detestava admitir mas estava preocupado sim com o amigo. Era estúpido, ele sabia, mas não conseguia evitar. Kirishima Eijirou era a droga de um Dragão de Cobre, ainda jovem, mas muito grande, cuja couraça era mais resistente do que qualquer coisa que Katsuki já tivesse visto. Qualquer pessoa em sã consciência ficaria bem longe dele. 

Todo mundo dizia que era vermelho, mas o bando de extras que ele convivia não faziam a menor idéia do que estavam falando. Para Katsuki a diferença era clara. Ele podia até ser vermelho na cor, mas eram espécies totalmente diferentes. 

Mesmo sendo praticamente impossível alguém fazer mal para a porra de um dragão adulto, Katsuki conhecia bem o amigo que tinha. A ingenuidade dele alcançava níveis astronômicos. Não se surpreenderia se o encontrasse já com um bando de novos amigos, certamente se aproveitando dele sem ele perceber.

Seguiria cavalgando pela noite que cedo ou tarde o encontraria, não devia estar tão longe. Assobiou alto mais uma vez. 

O cavalo abaixo dele deu uma trotada estranha quando o chão abaixo deles pareceu se mexer. Não era como um terremoto, e sim como se algo muito grande tivesse batido ali. Bakugou pôde ouvir alguns gritos e barulhos estranhos, ainda meio abafados pelo mar e vento, mas que certamente eram novidade. 

A noite, apesar de clara, contava apenas com uma lua minguante, fazendo Bakugou confiar mais em seus ouvidos que olhos. Puxou as rédeas do cavalo o virando na direção do mar, de onde vinha o ruído, e tirou a espada curva do cinto. 

Foi questão de instantes até ele ver a silhueta inconfundível de um dragão. O réptil saiu voando de uma caverna aberta para o mar, para logo fazer a volta e pousar no alto da encosta. 

— Kirishima, seu merda!!!! - Bakugou gritou feliz ao ver finalmente o amigo. Desceu do cavalo sem ligar se o animal iria ficar ou fugir e foi correndo na direção do dragão que já grunhia feliz da vida. - Caralho, que saudade!

Bakugou abraçava o nariz do dragão que nem se continha de felicidade também, cobrindo o amigo de baba, se jogando no chão e rolando de barriga pra cima.  

 - Aposto que você ficou tomando banho de mar enquanto eu me fodia naquele castelo de merda, né, seu bosta!! - Os xingamentos se seguiram entre abraços e lambidas, até o bárbaro perceber que não estavam sozinhos. 

Do penhasco à frente subiram três pessoas, e para o azar (ou sorte?) de Bakugou, ele reconheceu uma delas facilmente. 

Kirishima imediatamente se colocou a chiar e grunhir do seu lado, dizendo como aquelas pessoas o tinham abrigado na caverna delas, que tinham lhe dado comida e que até tinha uma mulher que sabia conversar com ele e que eram seus novos amigos. 

Bakugou não podia estar menos surpreso. Era óbvio que a lagartixa social teria feito um grupinho na sua ausência. Mas era ridículo que ele tivesse acertado o grupo daquela pessoa específica, só podia ser brincadeira.

Os três se aproximaram rapidamente. Era uma mulher jovem de cabelos pretos e lisos, que vinha com um lampião e com um loiro magrelo atrás dela, claramente cochichando qualquer coisa e ela o mandando calar a boca. Atrás deles vinha um homem magro e alto, mas o que mais se destacava em sua aparência era a metade de baixo de seu rosto que parecia ter sido derretida e colada no lugar de volta. Uma cicatriz enorme e horrível, deformando toda a sua pele do nariz para baixo e um tanto perto dos olhos.  

Não havia qualquer dúvida de que aquele era o cara que Hawks tinha implantado em sua cabeça como alvo.  

—  Você deve ser Bakugou. - ele disse oferecendo a mão também coberta de cicatrizes para cumprimentá-lo. Ele sorria fazendo a pele do rosto se deformar de maneira bizarra, mas exatamente como Bakugou esperava pois suas memórias falsas eram boas até aquele ponto. - Todos me chamam de Dabi.

 

*~*~*~*~*~*~*~*~*



Uraraka estava desolada, sentia-se apenas existindo. Ela já não tinha mais plano nenhum para se agarrar, lhe restava apenas o feiticeiro suceder no feitiço e abrir a passagem pro seu mundo. Talvez até a matasse quando chegassem lá e ele percebesse que ela não era ninguém. Como uma adolescente que nem saiu da escola ainda conseguiria armas no Japão? Nem mesmo a polícia de Tokyo portava armas de fogo! 

Depois de mais de dois meses desaparecida, será que já tinham dado ela como morta? Seus pais com certeza não desistiriam dela tão fácil, mas a polícia já deve ter encerrado as buscas. Será que se levasse Hawks até a polícia de seu mundo, eles acreditariam nela? 

E Bakugou ainda era uma constante em seus pensamentos. Teorizava em como o tinham matado, se tinham lhe dado ao menos um enterro digno. Pensava em Kirishima, que eles pediram para que não interferisse, pois eles com certeza dariam um jeito de libertar o bárbaro. 

Já não tinha mais lágrimas para chorar, a culpa estava lhe destruindo. O dragão era tão bonzinho, não merecia aquele sofrimento. Lembrou deles mergulhando no mar, como eram felizes com as coisas mais simples, tinham uma vida boa. Vida que ela tinha estragado.  

Não conseguiu dormir e quando o sol nasceu já tinha um soldado na porta de seu quarto informando que estava ali para escoltá-la até a sala de Hawks. Se levantou no automático e se deixou guiar pelos corredores do castelo pelo soldado. Nem ergueu a cabeça quando o sujeito parou de caminhar à sua frente.

— Eu vou acompanhar a Srta. Uraraka até Hawks, você pode voltar ao seu posto, obrigado.  

Ochako então levantou o rosto e viu o Príncipe Shouto ao seu lado. Como sempre elegante e de postura ereta. Atrás dele vinha Izuku e uma pequena comitiva de uns quatro soldados. 

— Mas, vossa alteza, Hawks disse que-

— E eu disse que você pode ir. - ele se repetiu, interrompendo o soldado, claramente desgostoso com o desafio à sua autoridade. 

Sem opção, o soldado apenas fez uma reverência e pediu licença, se afastando do grupo. Izuku imediatamente se aproximou dela preocupado com a sua aparência lastimável. 

Uraraka se lembrou claramente da ameaça de Hawks, de se livrar também do escudeiro como tinha feito com Bakugou, e tentou se afastar. 

— Não, por favor, fiquem longe de mim, se não ele… - ela não conseguiu concluir a fala, sem quaisquer condições físicas ou emocionais para lhes contar tudo que tinha acontecido. 

Percebendo o estado alterado de Uraraka, Shouto logo entendeu que precisavam sair  dos corredores do castelo imediatamente. Com um olhar sinalizou para Midoriya, e eles a conduziram para um dos inúmeros cômodos vazios do castelo. Os guardas reais que os acompanhavam ficaram guardando a porta, garantindo privacidade ao trio. 

Aos prantos e soluços, Uraraka conseguiu contar que Hawks tinha descoberto tudo, que Bakugou tinha sido executado e que ele inclusive tinha ameaçado Izuku se ela não fizesse o que ele mandasse. 

— Ele está mentindo. - Shouto disse sumariamente. - Nós saberíamos. 

— Nós mantemos registros de todas as execuções e garantimos que as famílias possam fazer os enterros de maneira adequada. - Izuku completou - Não que o rei saiba disso, mas nós fazemos. 

— Então… Ele está vivo? Mas onde? Como? 

Percebendo que tinha alimentado uma esperança talvez muito incerta na cabeça da garota, Shouto logo se retratou. 

— O que estamos dizendo é que ele não foi executado pelas vias do reino. Hawks certamente tem os meios dele.  

Uraraka olhava para os dois ainda absorvendo aquelas palavras, e o que elas significavam de fato. Era óbvio que ela queria muito que o bárbaro estivesse vivo, e se agarraria a essa chance até ter a confirmação. Mas também não mudava o fato de que estava em apuros. Hawks iria abrir aquele portal de qualquer maneira. 

— Tem alguma coisa que a gente possa fazer para impedir ele? 

— Sozinhos talvez não. - Izuku disse esperançoso. - Mas sei quem pode nos ajudar. As pessoas que me ajudaram a esconder o Kirishima, elas são fortes, Uraraka-san! Eles com certeza terão uma alternativa. 

— Você não pode estar falando sério. - Shouto reprimiu prontamente, mas depois considerou. - Está? 

— Nós não podemos não fazer nada, Shouto! Ou você acha que devolver os corpos mortos para as famílias é suficiente? Esse é o momento da gente fazer algo que realmente pode mudar as coisas. Se não, a situação só vai piorar e você sabe disso! 

Uraraka acompanhava o diálogo dos dois sem entender. O príncipe parecia em conflito interno enquanto Izuku seguia argumentando num tom de voz mais alto do que era próprio numa conversa com alguém da realeza. 

— Nossa comunicação é precária demais para elaborar muita coisa. - Shouto disse pensativo. 

— Mas é possível! Se for para evitar mais guerras e mais mortes injustas, tenho certeza que essa será uma aliança forte. Só precisamos fazer direito. 

Mesmo sem parecer totalmente convencido pelas palavras do escudeiro, o príncipe concordou. Combinaram que iriam avisar Uraraka do plano assim que possível, e que ela deveria continuar tentando atrasar a pesquisa de Hawks o quanto conseguisse. Munida de uma nova esperança, por mais que ínfima, Uraraka seguiu sozinha para a sala do feiticeiro. 

 

*~*~*~*~*~*~*~*~*



Bakugou não queria socializar com aquela gente, mas não poderia desperdiçar a chance que o acaso estava lhe dando. Se ele realmente tivesse que matar aquele sujeito, se aproximar não era uma má idéia.  

Como ele tinha imaginado, no penhasco havia uma caverna enorme. Apesar da entrada disfarçada pela irregularidade das pedras, era suficientemente grande para Kirisihima entrar. Óbvio que ele precisava manter as asas fechadas e cuidar para não sair batendo em tudo, mas o espaço amplo da galeria principal permitia que ele ficasse deitado bem confortável. 

Os humanos entravam com a ajuda de uma espécie de escada de cordas fixada nas rochas. Seria uma queda e tanto dar um pisão em falso por ali, caindo direto lá em baixo nas ondas do mar, que batiam fortes contra as pedras.

Logo ao entrar, Bakugou percebeu que o local era bem aproveitado pelas pessoas. Tinha suprimentos, fogueira feita, e um local recolhido do frio que quase parecia um alojamento com várias mantas para dormirem. Não deixou de reparar também num canto que tinha algumas espadas, facas, lanças e arcos, dispostos de maneira organizada. 

Ao todo devia ter ao menos uma vinte pessoas na caverna, a maioria em pequenos grupos se protegendo do frio e conversando baixinho. 

— Bem-vindo à nossa Base Secreta da Resistência Obsidiana! - Disse o loiro que se apresentou como Kaminari Denki, e que Bakugou já queria distância. 

— Ninguém usa esse nome. - disse a moça de cabelos pretos, Kiyoka Jirou, claramente entediada - É um esconderijo, não precisa de um nome. Tem que ficar escondido. 

— Tudo fica mais legal se tiver um nome legal. - o loiro continuou. 

Kirishima grunhiu se deitando num local próximo que aparentemente já tinha adotado como seu. 

— Ele disse que gosta do nome. - Bakugou traduziu, sem ter certeza se devia mesmo dar trela para o loiro tagarela. 

— Você fala com ele sem fazer nenhuma magia? - a moça quis saber interessada. 

Enquanto se acomodavam em volta do fogo, Dabi enchia alguns recipientes com o que parecia ser uma sopa quente e passava entre as pessoas.

— Eu odeio magia. Eu só entendo, sempre entendi. - Bakugou deu de ombros enquanto aceitava uma porção da sopa. 

— Nos conte mais sobre essa mulher de outro mundo. - Dabi disse finalmente se sentando do outro lado da fogueira. 

Bakugou ficou instantaneamente desconfiado. Como diabos aquela gente sabia qualquer coisa sobre a cara de lua cheia? Olhou sério para Kirishima, silenciosamente o acusando de abrir o bico. O dragão soprou, negando. 

— O que tem ela? - Bakugou respondeu, claramente não querendo dar informações. 

O loiro energizado se preparou pra começar a falar pelos cotovelos, mas felizmente Dabi o interrompeu. 

— Foram os nossos amigos do castelo, príncipe Shouto e Midoriya, quem pediram para que guardássemos seu amigo voador aqui no esconderijo. Acho que você os conhece. 

Deku. Sempre metido em tudo aquele merdinha. Ficou apenas encarando Dabi, esperando que ele desse mais informações.

— Foi um tanto de sorte escondermos ele rapidamente porque ele já estava angariando uma legião de fãs depois que descobriram que ele era inofensivo. A notícia de um dragão manso ia se espalhar rápido pela cidade.  

Bakugou levou a mão à testa decepcionado. A única coisa que Kirishima tinha que fazer era existir para botar medo nas pessoas, e aqui estava ele sendo chamado de inofensivo e manso por estranhos. 

— Eles nos contaram sobre uma mulher de outro mundo, parece que querem proteger ela. Disseram que você tentou roubá-la e foi preso. - e ele riu - Uma péssima idéia, eu diria. 

— Só não consegui porque ela não quis vir comigo. - o bárbaro respondeu finalmente, não gostando muito do rumo da conversa. - E o que são vocês afinal? 

Dabi ia continuar falando mas foi interrompido por uma forte explosão vinda do fundo da caverna. Várias pedras caíram do teto, alarmando todas as pessoas que até então estavam tranquilas. 

Bakugou ficou de pé para procurar a fonte do barulho e viu que de uma reentrância no fundo da caverna saía muita fumaça e poeira. Não demorou muito para sair de lá uma mulher correndo e tossindo forte. Ela tinha cabelos tão rosas quanto as bochechas de Uraraka, um tipo de máscara cobrindo seus olhos com lentes e usava luvas grossas. 

— Eu estou bem!!! Cof, cof, cof… Tô viva!!! - ela gritava e tossia - Está tudo bem, foi só uma explosãozinha!! Cof, cof… 

— Você disse que odiava magia, Bakugou… - Kaminari disse colocando a mão no ombro do bárbaro como se fossem amigos de longa data. - Então você vai amar ela!! Vem que eu te apresento. 

— Quem diabos é essa doida? - Bakugou perguntou sem se mover.

— Hatsume Mei. - Jirou disse simplesmente.

— A Feiticeira Suprema da Resistência Obsidiana!!! - Kaminari completou, fazendo Kirishima grunhir empolgado com o nome. 

Bakugou revirou os olhos concluindo que seria uma longa noite.


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Notas finais do capítulo

Entãão...... Muita informação? Muitas teorias? Esperem pra ver o próximo a surra de informações que vou jogar em vocês hahaha Realmente espero que não estejam confusos!

Aos amantes de D&D, dragões vermelhos e dragões de cobre realmente são espécies com particularidades bem diferentes. Nosso baby Kirishima é altamente inspirado na espécie cobre, se vocês catarem a ficha talvez até peguem uns spoilers por lá.

Próximo capítulo: "E você? Qual sua história?"
Dia 27/06, próximo sábado ;)



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