Impossível escrita por kjuzera


Capítulo 11
"Uma mentira desse tipo tem um preço alto"




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Era hoje o dia. Tudo estava preparado. Uraraka esperou a noite cair, até os corredores do castelo ficarem silenciosos. Trancou a porta do quarto de hóspedes em que estava alojada e respirou fundo. Tentaria o feitiço que ela vinha praticando para ir para casa pela enésima vez. 

A verdade é que ela ainda era muito amadora na feitiçaria e aquele era um feitiço complexo e muito acima do seu próprio conhecimento. Com ajuda de Hawks vinha aprendendo os conceitos básicos de magia, mas surpreendentemente ela já havia entendido mais sobre o funcionamento daquela "ciência" do que achava que fosse possível. Ela inclusive vinha treinando exaustivamente um truque de conjuração simples que o feiticeiro lhe ensinou como primordial. 

Sentou se no chão, bem no centro do quarto. Esticou a mão à frente e projetou sua conjuração como já tinha treinado um bilhão de vezes. Da sua palma se formou uma mão espectral, que tranquilamente flutuou até sua estante pegando os itens que ela usaria para compor o feitiço e os posicionando na frente dela. 

Um pergaminho contendo instruções claras para uma magia de fogo que ela encontrou na biblioteca. Uma pintura belíssima mas não muito grande que ela tinha retirado de um dos inúmeros quartos do castelo, cuja moldura dourada parecia bastante autêntica e ninguém deu falta. Por último, uma garra de dragão que era maior que a própria mão dela, que ela também tinha surrupiado da parede de algum corredor menos frequentado. 

Pelas pesquisas dela, aqueles itens tinham o valor suficiente para obter a magia bruta exigida pelo feitiço que, teoricamente, abriria um portal para o mundo dela. Assim que liberasse a magia, o efeito seria desencadeado instantaneamente, abrindo a passagem para o exato lugar que ela desejava ir.

Na teoria, era brilhante. Na prática, ela já tinha destruído várias obras de arte do castelo, bem como vários ossos de dragões que retirou das paredes, sem qualquer sucesso. Com as últimas anotações que leu de Izuku sobre como moldar essas magias nos padrões que ela precisava, ela se sentia mais confiante. 

Usou sua mão mágica para que traçasse um círculo em volta das peças com uma pedra branca. Se posicionou sentada sobre a borda do círculo e juntou as duas mãos em frente ao peito, tocando apenas as pontas de cada dedo. 

Respirou fundo uma última vez antes de começar a recitar as palavras mágicas que tinha decorado e praticado arduamente. Era uma sequência curta e repetitiva num idioma desconhecido para ela, que ela repetia acrescentando o local para onde queria ir. Tóquio, Japão. 

Sua mente se concentrando na conjuração, na padronização dos elementos, na proclamação exata das palavras, na imagem perfeita da sua cidade natal. Sempre que tentava ela começava a sentir seu estômago embrulhar, uma náusea e ânsia de vômito subindo de seu âmago.

Ela mal tinha começado a sentir a magia fluir quando ouviu um barulho alto. O susto a fez parar repentinamente. Abriu os olhos para ver os objetos de valor à sua frente virando pó. Na porta, agora aberta, do seu quarto, estava Hawks, sorrindo largo e a mirando através de seus óculos com olhos de rapina. 

 

*~*~*~*~*~*~* 



Os dias seguintes foram muito diferentes do que Uraraka poderia imaginar. Quando Hawks a pegou em flagrante tentando voltar pra casa com um feitiço completamente diferente daquele que ela vinha reportando, ela pensou que seria imediatamente punida. 

Se viu presa e acorrentada em uma das celas vazias próximas à do Bakugou, esperando a própria morte sem nunca mais ver seus pais ou amigos. Quando isso não aconteceu, ela ficou aliviada, claro, mas nada a preparou para o que se sucedeu. 

Hawks não denunciou suas mentiras para o rei, pelo contrário. Tomou sua pesquisa verdadeira para que eles tentassem juntos abrir o caminho para o outro universo. Uraraka nunca tinha estado na sala particular do feiticeiro, e era, no mínimo, impressionante.

A sala contava com uma coleção própria de livros, estantes e mais estantes de ingredientes e artefatos que ela tinha medo até de respirar perto. Estava localizada acima da biblioteca, contando inclusive com um acesso direto para facilitar as pesquisas do feiticeiro. Eles passavam agora boa parte do tempo ali, estudando os escritos antigos, e outra parte do tempo testando na prática.

Diferente de Uraraka, Hawks tinha acesso quase ilimitado a ouro e gemas preciosas, e ele não tinha qualquer escrúpulos ao tentar o feitiço e ver o valioso patrimônio virar poeira a cada falha. 

Com o conhecimento e habilidades muito superiores, Hawks estava muito próximo do sucesso. Só estava faltando alguma coisa que estabilizasse o feitiço, pois ele não estava se mantendo por tempo suficiente. O homem estava obstinado e dedicava todo o tempo que tinha disponível naquela pesquisa. 

Uraraka, por outro lado, já não sabia mais o que fazer. Seu plano inicial de levar o conhecimento de como abrir aquele portal com ela, impedindo assim que qualquer um ali pudesse segui-la, ou usar o portal para invadir outros planos, falhou miseravelmente. 

Com ou sem ela, Hawks ia abrir aquela porta. Podia ser pra outro mundo até, que não o dela, mas ele iria fazer. 

Ela nunca o tinha visto em ação, mas a fama que o precedia no castelo era de que era muito poderoso. Quando questionou Izuku e Shouto sobre a extensão dos poderes do mago, o príncipe se limitou a responder. 

— Bom… Ele é o mago da família há quase três gerações. - ele disse olhando para cima com seus olhos heterocromáticos. - Ninguém sabe exatamente quantos anos ele tem, de onde veio. Acho que ele sempre esteve por aqui. 

— Ele é…. imortal então?! - Izuku ficou quase tão surpreso quanto Uraraka com aquela informação. 

— Não! - Shouto descartou aquela possibilidade facilmente. - Ele provavelmente tem poder mágico suficiente para se manter vivo por mais tempo, manter o corpo jovem. Realmente não sei explicar, mas o fato é que ele ser tão poderoso é o motivo de meu pai aceitar os conselhos dele. Se ele não fosse forte, meu pai não o respeitaria. 

Uraraka temia o que um feiticeiro tão poderoso faria com acesso a outras dimensões. Do que ele seria capaz? Que guerras travaria? Poderia ele até mesmo se voltar contra o Rei Todoroki, ou faria tudo em nome dele? 

A única coisa que ela tinha certeza era que ele não tinha falado nada pra ninguém. Os dois passaram as últimas três tardes desde que ela fora descoberta juntos, pesquisando e testando o feitiço. Ele tinha dito que não tinha avisado ao rei ainda, que iria avisá-lo quando tivessem obtido sucesso. 

Uraraka só conseguia ver uma única alternativa para proteger os (possíveis) múltiplos universos existentes de pessoas tão perigosas e gananciosas. Ela precisava apagar aquele conhecimento pelo bem da humanidade de todos os universos. E se ela precisasse derrubar Hawks para isso, ela faria. 

Ochako jamais foi uma pessoa violenta, mas naquele momento ela se via sem alternativas. Cada dia que passava era um dia mais perto da completude do feitiço. Hawks não ia parar até conseguir. Ela precisava ser forte e dar um jeito de matá-lo. 

Aquele pensamento a corroeu desde o primeiro instante que passou por sua cabeça, até o momento que concluiu que não tinha outra alternativa. Precisava bolar um plano. Ela, com seu conhecimento pífio de magia, jamais seria capaz de fazer nada que superasse os poderes do feiticeiro. Precisava de uma alternativa. 

Pensou nos filmes de aventura e de super heróis que tanto assistia no seu mundo e teve uma idéia. Um feiticeiro como Hawks certamente usava magia para atacar e se defender, e provavelmente seria fraco contra ataques físicos. 

E Uraraka sabia exatamente com quem ela poderia contar quando o assunto era força bruta.  

 

 

*~*~*~*~*~*~* 



Bakugou ouviu passos se aproximando da porta de sua cela. As visitas esparsas de Uraraka eram o ponto alto de sua existência nos últimos tempos. Era basicamente quando ele lembrava que ainda estava vivo. Por mais que ela falasse pouco, e que ultimamente se demonstrasse cada vez mais fechada, esperar por ela era a única coisa que o estava mantendo são. 

Ele sentou no chão para esperar a porta abrir, na esperança de quem sabe ver a cara redonda dela não tão cansada. Para sua surpresa e até pavor, quem entrou na cela não foi a garota. Era um homem loiro, de sorriso fácil e estrutura mediana, que Bakugou reconheceu rapidamente pelos óculos esquisitos que ele usava, como aquele que tinha ficado ao lado do rei durante a pequena audiência que teve na corte. 

O loiro parecia muito perspicaz pois percebeu a cara de surpresa e decepção com que Bakugou o olhou. 

— Desculpe por te desapontar… Acho que não sou quem você queria ver. - ele disse sorrindo e ajeitando os óculos estranhos no rosto e mantendo uma distância. 

Bakugou tentou analisá-lo, mas não teve muito sucesso. Apenas pelas vestes e pela maneira que ele evitava tocar em qualquer coisa certamente suja daquele ambiente, o bárbaro pôde perceber que o homem era alguém importante. Ele aparentemente estava desarmado, e, com aquele corpo esguio, não seria uma grande ameaça para ele.

— Você pode relaxar pois eu vim em missão de paz. - ele disse como se lesse a mente do bárbaro. - Na verdade, vim fazer um acordo com você. 

O bárbaro não gostava nenhum pouquinho do tom que o loiro falava, nem da maneira como ele parecia saber exatamente o que se passava na cabeça dele. Por via das dúvidas ficou de pé, fazendo barulho com os grilhões que o prendiam, e assumindo uma postura ereta. Sorriu um pouquinho de lado percebendo que era pelo menos uma cabeça maior que o outro. 

O estranho assobiou em falsa admiração, enquanto simulava algumas palmas impressionadas.

— O povo bárbaro sempre produziu guerreiros excelentes, seria realmente lamentável desperdiçar esse corpo aqui dentro. - Ele disse segurando a lateral dos óculos e o olhando exageradamente dos pés à cabeça, claramente se referindo a forma física excelente de Bakugou - Eu estou disposto a te libertar, Katsuki Bakugou. 

O estranho experimentou o nome como se fosse algo que ele nunca tivesse pronunciado antes, como se fosse uma comida exótica, uma iguaria. 

— E o que você ganha com isso? - Bakugou sabia que tudo naquele lugar tinha um preço. Naquele momento só conseguia pensar em uma pessoa que o ajudaria a troco de nada.

— Sua namoradinha vem prestando um serviço importante para o reino, então pensei em fazer um agrado. - ele respondeu simplesmente. - Mas você sabe como essas coisas são… Vou ter que mentir para o rei sobre isso, e uma mentira desse tipo tem um preço alto. 

— Para logo de enrolação e diz logo o que você quer. 

— É simples! Eu digo para o rei que você foi executado conforme ele espera, você some daqui para nunca mais voltar e aproveita essa sua liberdade para me fazer um favorzinho singelo. 

Bakugou não tinha paciência para aquela falação enrolada, tentou se aproximar sendo segurado pelas correntes. 

— Fala logo tudo, porra. O que eu preciso fazer?

— Você só precisa matar uma pessoa pra mim. - o sujeito disse casualmente - Nada que você não tenha feito antes. 

Bakugou riu sarcasticamente. Era óbvio que seria algum serviço sujo daquele tipo. Ponderou que estando livre, poderia sumir e foda-se a "missão" que esse sujeito estava lhe passando, nunca mais iria vê-lo mesmo. Pensou também que se ele realmente estava trabalhando junto com a lua cheia, talvez aquilo fizesse parte do plano dela. Ela não disse que estava dando um jeito em tudo? Que depois ia sumir sem deixar nada pra trás? Que não precisava ser salva?

— Eu faço. - Bakugou concordou num resmungo. - Mas você precisa me dizer quem diabos é você e se a Uraraka está bem. 

— Oh, ela está ótima, nunca esteve melhor. - Ele disse sem dar importância. - Todos me chamam de Hawks. 

O loiro fez uma mesura se apresentado e Bakugou jurou que o viu piscar em pleno ar. Em instantes ele estava ao seu lado, uma mão firme segurando seu pulso esquerdo e a outra puxando sua cabeça pra baixo pelo escalpo. O bárbaro não o viu se mover nem tão pouco conseguiu reagir à súbita proximidade.

— Eu vou lhe mostrar agora quem você deve matar, mas nem se preocupa que vai ser impossível esquecer.

Bakugou sentiu sua cabeça receber informações que ele não tinha sobre uma determinada pessoa. Não era como se ele visse a imagem, como uma ilusão, era como se ele recebesse memórias. Sentia que se recordava perfeitamente do seu alvo, de sua aparência, trejeitos e até de sua voz. 

O bárbaro piscou várias vezes, se recuperando enquanto Hawks se afastava. Os grilhões se abriram sozinhos e Katsuki sentiu seu corpo voltar a funcionar normalmente. No seu pulso esquerdo, onde ele o tinha segurado, sentiu uma queimação leve. Viu uma mancha escura no local como um hematoma por entre suas tatuagens. 

Hawks jogou na direção dele um saco de pano grande que ele abriu e prontamente reconheceu todos os seus pertences. 

— Você tem até a próxima lua cheia para matá-lo. - Hawks disse já se dirigindo para a porta.

— Ou se não…? - Bakugou perguntou, mesmo sentindo que não queria saber a resposta.

Hawks deu uma risadinha.

— Eu acredito que você seja inteligente o suficiente para descobrir sozinho. 

Bakugou viu ele sair, deixando a porta aberta. Por mais que quisesse, ele não conseguia tirar a imagem daquela pessoa de sua cabeça, e a mancha em seu pulso seguia queimando de leve. Ele odiava magia com todas as forças, por isso teve certeza que aquele tal de Hawks tinha armado uma arapuca pra ele.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: "O sol já nasceu faz tempo"
Dia 13/06, sábado!



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