Luar Puro escrita por Zena Faith


Capítulo 8
Indomada


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer a todos aqueles que colocaram a história em suas listas de leitura e estão acompanhando, e também aos que favoritaram ou apenas leram (leitores fantasmas são uma fofura), fico feliz de poder tomar um pouco do tempo de vocês com minhas palavras.
Espero que continuem apreciando.
Fiquem bem.
Beijos L.



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Eu sabia que estávamos indo em direção ao sul, mas não fazia ideia de para onde especificamente o cargueiro estava indo até ele ancorar, quando o navio aportou eu deixei que o movimento explodisse, e esperei até que ele começasse a diminuir, não me importei sequer quando o contêiner em que eu estava foi movido para o solo. Assim que a madrugada deslizou pela noite eu forcei a abertura do contêiner até o aço ceder, sai sem nenhuma cerimônia, não me importava se alguém me visse, eu era um fantasma.

Vagueei pelo porto em busca de direção até o fluxo de movimento humano aumentar, a luz do sol castigando as minhas retinas, clamando a atenção dos meus olhos, depois de passar dias dentro da escuridão do contêiner, era difícil não me sentir cega ao ver a luz novamente. Andei entre homens de todas as cores, homens de olhares concentrados e expressões famintas, homens com cenhos franzidos e o cansaço pesado como a culpa debaixo das pálpebras, homens que escondiam sorrisos maliciosos nas dobras de um sorriso sujo.

Cansada, com sede e com fome, eu usei o que me restava de força e corri de lá, corri dos olhos curiosos e do amargor do deslumbramento.

Me escondendo atrás de prédios estranhos e coloridos, observei os humanos.

Eles eram tão diversos, energéticos e barulhentos.

Livres

A pedra fria debaixo dos meus pés fazia cócegas nos meus dedos, os cheiros pareciam picantes e cheios de especiarias e frutos do mar, era tudo tão... lindo… brilhante.

Contando agora para os Cullen, eu podia ver em suas expressões, podia ver na imobilidade vampírica, a forma como o vazio era substituído pelo brilho de concentração nos olhares, podia sentir enquanto meu peito se derramava em palavras, o sentimento crescente de esperança preenchendo o vazio no meu coração. Eles se importam. 

Eu via, eu sabia disso, estive tão vazia de tudo ao longo dos anos, por isso é tão fácil absorver as novas emoções, eu sou uma criança de novo, uma criança faminta, devorando cada pedacinho de humanidade que me era oferecido.

Talvez destino realmente existisse, por quê mais todas as tragédias da minha vida me guiaram até aquela praia? Por quê mais eu seria encontrada quando mais estive perdida? Por que seriam eles?

Tudo que senti enquanto perambulava vazia e cansada em direção a praia foi esse fraco fio que me chamava como a morte o fazia, eu simplesmente me agarrei a isso, seguindo hipnotizada em direção à praia, como se uma grande força da natureza tivesse erguido suas mãos ao vento, me levando para a salvação.

Não poderia ser coincidência, não.

O cheiro veio para mim.

Aquele adocicado amargor no qual eu vivi emergida a vida toda, a única parte do meu ser que sempre iria me conectar a minha mãe, o meu legado em forma de maldição.

Mãe

Eu me tornei assim que o reconhecimento bateu como ondas congelantes de água, o frio se alastrou pelos meus ossos e carne, meu corpo sendo bombardeado de adrenalina, minha força dando impulso para que me movesse. Meus pés se afundavam com força na areia, o vento e o sal empurrando meus cabelos para longe.

E então, minha alma estava rompendo através de uma casca, levada pelo frenesi que fluía dos sentidos do animal eu corri em direção ao cheiro.

Assim que cheguei ao começo da plataforma consegui identificar o que estava no final do píer, cautelosa eu hesitei ao ver as figuras, meu coração se partindo e se transformando em desespero. 

Era muito claro, impossível, terrível e maravilhoso.

Minhas patas arranharam a madeira no momento em que comecei a correr, cega pela imagem deles, dois fantasmas do meu passado, dos quais eu sentia falta como sentia da morte, todo o meu sangue retumbando no corpo, queimando nas veias, um rugido primitivo de socorro ecoando.

Minha visão estava embaçando, trêmula e bagunçada, eu não conseguia distinguir.

— Você estava alucinando.

Edward me interrompe, seu olhar atento a minha reação, não tinha percebido que minha voz estava tão baixa e abafada, ou que minha respiração tivesse acelerado, como se eu estivesse revivendo tudo de novo.

— Jacob se sentiu ameaçado com a sua aproximação, seus instintos sempre agem antes.

Eu assenti enquanto tentava respirar fundo, sentia meu corpo pesado, meus olhos pesados e sonolentos.

— Talvez seja melhor deixá-la descansar...

— Não, eu preciso... preciso terminar.

Alice estava preocupada, a percepção disso fez meu corpo tremer.

Bella veio até meu lado e seus olhos procuraram por algo, ela deu um olhar significativo para seu companheiro.

— Deixe Edward fazer isso por você.

Minha cabeça balançou, podia sentir o movimento levar todo o resto do meu corpo, se Bella não estivesse ao meu lado, teria caído sem o apoio de suas mãos nas minhas costas, ela olhou nos meus olhos em busca de permissão enquanto me tocava, eu apenas assenti enquanto controlava o calafrio que suas mãos geladas despertaram.

— Não posso, se eu deixá-lo, então ficarei presa novamente, meus sentidos estão no controle... eu apenas, vou tentar ser mais breve.

— Tudo bem, leve o tempo que precisar.

— Obrigada.

Minhas mãos se seguraram sobre a bancada, tentei respirar algumas vezes até conseguir ver claramente, as mãos de Bella começaram a fazer círculos tímidos nas minhas costas, foi uma sensação estranha e ao mesmo tempo reconfortante, podia sentir nos meus músculos, que se soltavam e relaxavam  aos poucos.

— Eu estava tendo uma alucinação, estava debilitada demais para perceber que meu cérebro tinha associado a imagem de Jacob e Renesmee com a de meu pai e mãe... afinal, eu não mais controle sobre meus corpo e mente, não depois de os exaurir por dias… a culpa era minha por me deixar tão vulnerável… mas eu não podia negar a  semelhança, era inegável... Tenho certeza que se eu tivesse visto a forma como estava, também me consideraria uma ameaça... não culpo Jacob por ter se transformado. Na verdade, sua transformação era a única coisa que poderia me parar naquele momento.

— Por quê?

Emmett estava me surpreendendo, cada vez mais, suas perguntas não tinham mais qualquer tom hostil, apenas uma curiosidade infantil e crescente.

— Por que eu nunca tinha visto outro antes.

— Você nunca tinha visto um lobisomem? Mas você é um.

Carlisle limpou sua garganta como se fosse algo que ele sempre fazia, mas ainda assim pareceu estranho demais.

— Suponho que o que ela quis dizer foi que nunca viu um lobisomem alfa, tenho certeza de que não foi a primeira vez que escutou o termo lobisomem, estou certo?

Carlisle era perceptivo, me senti aliviada quando ele conseguiu interpretar minhas frases cansadas e confusas, assenti em agradecimento e continuei.

— Eu soube assim que ele se transformou que era meu semelhante. Foi diferente de todas as vezes que senti a transformação, num momento eu estava correndo e no outro era como se meu corpo estivesse sendo puxado para baixo, curvando-se, assim que ele estava acima do meu corpo eu soube que aquela força invisível vinha dele, emanando em ondas de... poder.

Eu odiava essa palavra, odiava que ela evocava eles, que me fizesse sentir como um animal arredio novamente.

— Você não está mais presa Ayira, você está livre agora.

As palavras de Edward não me confortaram, mas foi o suficiente para não me deixar cair num buraco negro onde só encontraria lembranças sombrias.

— Ele atacou você?

Esme parecia preocupada.

— Não, antes que algo ruim acontecesse, ele já tinha me subjugado… nunca senti nada igual, minha submissão sempre veio por coação… nunca dessa forma gentil e natural. Só percebi mais tarde que apenas me rendi porque sentia ser certo, não existia medo, apenas reconhecimento e respeito. O momento foi longo o suficiente para Renesmee intervir, escutar a sua voz, isso quebrou o transe em que estávamos presos, assim que acabou eu perdi o controle, eu precisava chegar até ela, mesmo que significasse lutar contra Jacob. Nós lutamos, e mesmo que sentisse que ele era um oponente mais forte eu usei tudo de mim.

— Você foi ferida.

Assenti para Edward.

— Sim, fui ferida o suficiente para não ter mais forças, eu me rendi a sua autoridade, mas ele não me matou, mesmo que eu tivesse desejado muito que o fizesse.

— Ele viu misericórdia em seus olhos, por isso parou, porque sabia o que você queria e não iria te sacrificar, pois ele ainda possui seus princípios.

Edward agora era como um narrador, sempre terminando meus pensamentos. 

Eu não sabia o que pensar sobre o que ele dizia, os termos ainda não eram claros, mesmo que Jacob tenha tentando me explicar tudo sobre o que éramos, eu sabia que ele mesmo não sabia como me classificar na sua hierarquia.

— Assim que ele hesitou, eu senti que poderia usar aquilo ao meu favor, para derrubá-lo e chegar até ela... Eu só não esperava que meu corpo entrasse em choque e voltasse a forma humana.

— Foi nesse momento que eu consegui vê-la.

A voz de Alice flutuou sobre nós com candura, seu rosto cheio de uma felicidade brilhante, meus olhos perseguiram aquele sentimento nas linhas do seu rosto.

— Alice teve uma visão sobre Ayira, ela ligou para Renesmee, por isso ela foi até você e Jacob, e impediu que algo pior acontecesse.

Edward lançou um olhar orgulhoso para Alice, que parecia estar lutando contra seu próprio corpo enquanto segurava uma risada.

— Sim... ele parou, e então ela estava perto e eu podia ver que não era quem eu almejava que fosse... Eles estavam chocados, Jacob em particular parecia... perdido, como se não pudesse acreditar no que via assim que sentiu o cheiro que vinha do meu corpo humano.

— E então eles a levaram para ilha de Esme, e você contou sua história.

— Sim, eu dei-lhes instruções para que a fizessem vir até nós, e então os mandei para Zafrina, pois era a única forma de mantê-los seguros.

Os vampiros eram sempre os mesmos, suas expressões mostravam o que os outros queriam ver, mas as emoções não chegavam aos olhos, e nos cantos dos lábios habitava apenas a fome.

Os Cullen não eram como todos os vampiros... eles ainda possuíam humanidade.

As expressões de dor se desfaziam desde as sobrancelhas de Esme, até os olhos de Bella e então se derramava nos cantos dos lábios de Alice, era terrível e maravilhoso, como uma obra de arte perfeita. Então havia a concentração no cenho de Carlisle, compadecimento nos lábios cinzelados de Edward, entendimento no queixo erguido de Jasper. E claro, havia Emmett, sua expressão atenta se desmanchando em um olhar distante e confuso, um complemento ideal do rosto perfeito de sua companheira que expunha os dentes em reconhecimento.

Eu estava fascinada, perdida na descoberta dessa nova face do lobo em pele de carneiro.

Os olhos escuros de Mario brilharam na névoa escura dos meus pensamentos, meu coração vacilando em dúvida, minha expressão se fechando em gelo.

— Como posso saber?

Todos os outros estavam perdidos demais em seus pensamentos para entender o sentido da minha inquisição dolorida. Mas eu vi, como os olhos dourados de Jasper brilharam sobre mim.

— Eu vou procurar por informações nos arquivos policiais, você saberá.

E assim ele saiu da sala, apenas o vento deixado para trás anunciava a sua ausência, Alice trouxe para perto de minha mão um guardanapo fino e elegante, seu pequeno rosto demonstrando compaixão.

— Não se preocupe Ayira, você o ajudou, talvez ele tenha uma chance.

Meus olhos escaneiam seu rosto em busca de omissão, de qualquer parte de algo fantasioso.

— No mundo dele talvez sim...mas não no meu, não no nosso.

Meus olhos se fixaram na parede.

Eu precisava continuar, ainda tinha muito que precisava saber, muito que precisava contar.

— Você não precisa continuar, por hoje está bom, prepare um quarto para ela.

Seus olhos seguiram para Esme, que assentiu em seguida me dando um sorriso gentil e saindo do recinto.

— Eu aguento...

— Eu sei, mas como disse, seus sentidos estão no controle, se você se forçar logo estará se transformando novamente, sem contar que acabou de se recuperar da fratura.

A voz de Edward era cheia de paciência, tão diferente da sombra do seu poder espreitando na minha cabeça.

Assim que ele disse as palavras, fragmentos dolorosos explodiram na minha cabeça, meu corpo convulsionando e estalando cada osso enquanto meu lobo e corpo lutavam contra a transformação. Eu tinha me esquecido que tinha passado por isso, sugando uma respiração profunda, eu  tentei espantar as imagens dolorosas.

— Desculpe por isso.

Meus olhos se levantaram cuidadosamente para Emmett e dessa vez não vi nada mais do que um pedido sincero de desculpas. Meu temperamento estava calmo demais, era perigoso, então medi minhas palavras.

— Você estava protegendo sua família.

E assim, com acenos mútuos, nós tínhamos perdoado um ao outro.

No momento seguinte eu estava sendo levada por Alice até um quarto ostensivo, assim que me deitei ela cobriu meu corpo com três camadas de tecido, um mais cheio e pesado que o outro, meus olhos seguindo todos os seus atos com atenção.

— Eu não quero os colocar em perigo.

Alice parou de ajeitar o meu travesseiro e se sentou ao meu lado, sua mão indo até meu cabelo com cautela, pedindo permissão com seus olhos, eu apenas continuei a encarando, meu silêncio foi o suficiente, e assim ela afastou meu cabelo de cima dos meus olhos.

— Eu já estive tão perdida quanto você, uma vez.

— E o que a salvou?

— O que me libertou Ayira... o que me libertou foi uma visão, assim como aconteceu para você.

Meus olhos estavam pesados e eu não queria fechá-los, mas o sono estava ganhando.

— Eu nunca vou estar liberta... eles nunca vão me deixar ir.


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Notas finais do capítulo

Sei que é um saco ficar pedindo, e normalmente apenas desisto para não pressionar ninguém, mas seria um prazer conhecer vocês, principalmente aqueles que estão acompanhando regularmente, quero saber a honesta opinião de vocês sobre a fic, e também o apoio de vocês em forma de críticas ou correções, só tenho a aprender com isso.
Comentem apenas se sentirem que querem, só o fato de estarem lendo já satisfaz meu coração.



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