Luar Puro escrita por Zena Faith


Capítulo 15
Tentada


Notas iniciais do capítulo

Acho que se eu tivesse me prometido postar todas as terças, nem assim postaria, então, vou manter o que sempre digo, postagem as sextas, por que só essa psicologia reversa para me ajudar a postar da sexta á terça.
Queria agradecer sinceramente a todos que estão lendo e favoritando, até mesmo aos que me seguem, fico muito feliz.
Nunca pensei que faria tanta gente ler algo que eu escrevi, mesmo que eu não seja dona da história de verdade.
Eu sou apenas uma sonhadora.
Enfim, espero que gostem, como sempre.



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La Push não era nada do que eu tinha imaginado, talvez fosse só a noite cobrindo tudo, escondendo a beleza natural da reserva que Bella fizera questão de falar sobre em detalhes, mas quando vi pela primeira vez, senti que havia muito mais, uma parte que eu ainda não tinha percorrido por ser proibida, e também havia o mar, praticamente abraçando ao redor da floresta.

E só foi graças às sombras da noite que eu fui capaz de ver eles, os olhos brilhantes emergindo da escuridão da floresta, enormes lobos caminhando para perto do fogo, onde pessoas estavam reunidas em um círculo ao redor da fogueira.

Seus corpos deslizavam como numa dança de guerra, o fogo iluminando suas faces, criando uma ilusão de máscaras de animais diferentes.

Mas eram apenas lobos, não eram?

O bando de Sam, agindo como era previsto desde o começo, eu não culpava eles pelas medidas tomadas para a proteção dos seus, eu soube que eram eles assim que a brisa gelada trouxe seus cheiros, cada um deles impregnado no carro de Sam em algum momento dos últimos anos. 

Estão em sete, sete imensos lobos transformados, me esperando. 

A bagunça de cheiros não termina só neles, não, havia outras crianças lobo, estas estão em quatro e cheiram mais a humanidade e incerteza, seus olhos grandes e arregalados nublados de indecisão sobre se transformar ou não, estão com medo. 

Meu coração se compadece de empatia, se eu fosse como eles também teria a mesma idade humana, e sentiria medo pelo desconhecido.

Os adultos são outra coisa, lobos enormes postados em lugares estratégicos para proteger os mais velhos que deduzi serem parte do conselho dos anciãos, não eram muitos, e só possuíam uma característica que os identificava.

Humano

O conselho era composto apenas de membros humanos.

Por quê?

— Está pronta?

Não, eu não estava, mas ele não me daria ouvidos, visto que colocou uma mão nas minhas costas e me impulsionou para uma caminhada curta e assustadora.

Mesmo antes de estar perto o suficiente eu já podia sentir os rosnados reverberando por meu corpo, eu não era bem-vinda e não estava surpresa com isso, apenas desconcertada com a sensação de não ser, eu sabia que isso poderia acontecer, só não me sentia preparada o suficiente para lutar contra eles, não antes de saber mais.

Os lobos abriram caminho para Sam, se curvando em reverência, sua matilha original, assim como Jacob preverá.

Mesmo numa posição tão vulnerável, os olhos brilhantes e ferozes acompanharam cada passo que dei ao lado do líder da alcateia.

Minha pele estava esquentando cada vez mais, podia sentir cada pelo do meu corpo eriçado, e meus dedos se contraiam contra as palmas das mãos como se procurando por minhas garras, a qualquer momento alguém me atacaria, com ou sem o consentimento de Sam.

Quando ele parou no começo do círculo meu corpo bombeou incerto em um passo para frente, o braço de Sam me estabilizou, mas seu olhar estava em outro lugar, fixo em uma mulher do outro lado da fogueira.

Ela era linda, com pele apenas um tom mais claro que a de Sam, mas ela havia sido tocada por um horror, as garras sempre seriam fáceis de reconhecer, envergadas na lateral do seu rosto um dia perfeito.

Seu rosto cheio de adoração retribuiu o olhar de Sam.

Amor

A palavra estranha viajou por minhas entranhas como um invasor.

A mulher não veio até Sam, ela continuou sentada no mesmo lugar, mas em seus olhos e nos de meu mentor havia esse cordão, uma ligação infinita cheia de palavras não faladas compartilhadas, e um sentimento crescente de...

Meus olhos se desviaram, o fogo que subiu por minha face foi diferente dessa vez, de vergonha.

Eu não queria continuar olhando para Sam e sua amante, era devastador, ver todos aqueles sentimentos sem conhecer qualquer um deles, sem entender como é se sentir assim.

Quando levantei meus olhos novamente, todos ainda me miravam com desconfiança, até mesmo os seres humanos presentes, meus ombros se encolheram em desconforto, mas não abaixei o olhar, não conseguia me submeter, mesmo me sentindo uma fraude.

— Ela é como Renesmee?

Minha espera por algum tipo de iniciação foi quebrada pelo questionamento da humana com cabelos compridos e lisos, sua pele tão bonita quanto à de Sam, seu olhar apesar de doce possuía algo duro, vivido.

— Não, ela não é como Renesmee.

Não foi meu mentor quem respondeu, e assim que meus olhos encontraram os dele eu soube quem ele era, os olhos, os traços do rosto, até mesmo a expressão denunciava sua semelhança, eu o reconheceria mesmo se não estivesse procurando por ele.

— Você é o pai de Jacob.

Confusão nublou seu semblante, suas grossas sobrancelhas se franzindo em descontentamento.

— Pensei ter ouvido de você que ela não sabia nada sobre nós.

— E ela não sabe.

Sam se virou com sua calma controladora, pedindo explicações.

Ignorei seu olhar cheio de sermão e procurei pelo rosto do pai do meu amigo.

— Você e ele são muito parecidos, me desculpe por confundi-lo – procurando pela mulher de olhar doce eu pisquei os olhos algumas vezes antes de responder – Não sou como Renesmee, não de todo.

— Ela está aqui para contar sua história, e vamos ouvir antes de julgar.

Sam parecia querer interromper o breve momento de distração, o pai de Jacob assentiu de forma relutante e indicou minha deixa.

— Assim seja, nos conte.

Minhas mãos suavam de nervosismo, já tinha me preparado com Edward antes, e iria contar o bastante para fazer eles acreditarem em mim. 

Observei de escanteio os lobos do bando se movimentarem inquietos ao redor, minha respiração saiu de forma nervosa, as palavras se atropelando pelos meus lábios.

— Meu nome é Ayira, é uma honra estar aqui.

Não era a coisa mais inteligente a ser dita, não de acordo com o bufar de uma das crianças lobo que parecia se contorcer para segurar a risada, um dos seus companheiros ao lado lhe deu um safanão de advertência.

O pai de Jacob lhes dirigiu um olhar de censura e se voltou logo em seguida para mim. 

Estar imobilizado em uma cadeira de rodas não diminuiu seu poder sobre a tribo, as crianças abaixaram suas cabeças envergonhadas.

— Por quê?

Quando respirei fundo tentei ignorar todos os cheiros, era demais, minhas mãos afrouxaram o aperto forte que pressionava as unhas contra a pele, trazer sangue à tona com tantos lobos ao redor não era uma boa ideia.

— Por que significa que eu finalmente vou entender o que sou, e se vocês estão aceitando esse encontro apesar de tudo é porque sabem mais.

— Porque devemos confiar em você?

— Porque seu filho o fez – meus olhos procuram incertos pelos de Sam, ele dá um aceno leve encorajamento– porque Sam confia.

— O que você é Ayira?

— Neste momento, tudo que sinto é algo borbulhando, prestes a explodir, como se meu corpo fosse entrar em combustão.

— Então você é loba?

Um senhor mais velho, com a aparência de um guerreiro lendário, se dirigiu a mim. 

Sua voz é rouca, gasta por vários anos contando histórias.

— Não, eu nunca poderia ser uma loba... metade do que sou pertence a minha mãe.

Sua expressão não se alterou em nenhum momento.

— E o que seria isso?

— Minha mãe é uma das crianças híbridas, como Renesmee.

— Vampira, você quer dizer.

O senhor parecia ter feito sua cabeça com rótulos definidos, como se preto no branco fosse a única forma de ver o mundo e suas criaturas, mas eu sabia como podia ser diferente.

— Ela não era apenas vampira, ela também era humana, e sua humanidade sempre foi mais presente.

Eu não deixaria a última imagem da minha mãe ser apagada pela forma que os Quileutes viam os vampiros, não, eu a conhecia, sabia quão boa ela tinha sido em sua breve vida.

— Era?

O pai de Jacob pareceu muito interessado, não tinha percebido estar falando no passado até ele perguntar, minha intenção não era a de contar sobre minha mãe.

— Ela se foi...

A névoa vermelha serpenteia pelos meus pensamentos, fazendo as batidas do meu coração ficarem mais rápidas, bombeando freneticamente o sangue nas minhas veias.

Não pergunte, não pergunte, não pergunte...

— Como?

Eu precisava contar tudo que podia, só não queria trazer à tona esse pensamento, não quando me sentia tão instável em relação aos meus poderes.

— Os vampiros... eles...

Minha voz falhou em fraqueza, a sensação de cair em um abismo de dor tão próxima que me faz soltar uma respiração afiada, Sam entra na minha frente, tomando a palavra.

— Não acho que isso seja necessário, nós já sabemos que a mãe dela era uma híbrida e o pai um lobo.

— Lobo não, filho da lua.

Minha insistência parecia deixar Sam desconfortável, ele ainda não sabia como lidar com o que eu contara sobre os filhos da lua.

— O que isso significa?

O senhor pergunta inquieto, como se não se importasse realmente com a resposta.

— Eu não sei, o pouco que descobri foi com os Cullen, mas eu sabia que meu pai não podia se transformar o tempo todo...

— Então o que você quer dizer é que os contos sobre lobisomens que se transformam com a lua cheia são reais? Que balas de prata podem nos matar?

Seu sarcasmo é acompanhado de exclamações muito semelhantes a risadas do resto da alcateia, eu o observo até que seu rosto se volte para a minha direção de novo, seus olhos negros me desafiando.

Quando percebe minha seriedade ele procura Sam, que tem um olhar sério em seu rosto.

— Ah, eu vejo.

Não faço ideia do que significou a troca de olhares, ou suas palavras misteriosas.

— Então o que você quer dizer é que há uma espécie de lobisomem com uma maldição da lua?

O senhor parece cético, ele não acredita em mim.

— Eu esperava obter mais respostas com suas lendas, o que sei é muito pouco... não tive tempo o suficiente com meus pais.

Eu não queria falar, não iria, não sobre o que aprendi com eles.

— De onde você é?

A pergunta era direta e exigia uma resposta rápida.

— Eu não sei... eu só conheço o lugar onde sempre estive.

Escuro

— E que lugar seria esse?

Calabouço

— Itália.

Prisão

— Há quanto tempo sabe que é uma loba?

Dor

— Oito anos.

Indecisão parecia fechar minha garganta, minhas respostas saindo de forma sufocada e dolorosa, era difícil omitir tanto, era o mesmo que estar mentindo.

— Com quem você esteve antes dos Cullen?

Eu não queria, não queria dizer a eles, pois era ruim demais. 

Meus olhos procuraram os de Sam, em busca de conforto, de segurança, de algo que me fizesse acreditar que dizer aquela próxima coisa não fosse ser o veredito de que eu não seria aceita depois de tudo.

— Não precisa temer Ayira, apenas diga.

Meus olhos se fecham para conter a queimação que as lágrimas não caídas provocavam, inspiro vacilante, meus lábios tremendo. 

É como uma faca passando por minha garganta, as palavras ferindo.

— Eu estive com os Volturi.

Todos os lobos rosnaram em indignação, as crianças lobo se encolhendo e o conselho demonstrando vaias em temor.

O ataque veio de forma cega, Sam viu primeiro e se desviou da grande massa cinzenta e escura, enquanto eu fui jogada para o ar com uma cabeçada, a dor deslizando do meu estômago para o resto do corpo, junto a uma sensação de gelo percorrendo minhas veias.

Quando atingi o solo estava totalmente transformada, podia sentir meus ossos mais duros, minha pele petrificada quase como mármore, meus olhos e garganta queimando.

Afastei minhas pernas e encarei o lobo, meus braços estendidos à minha frente para impedir o próximo ataque.

Ele não atacou. 

Ninguém mais se mexeu, o silêncio era morto e assustado.

— JÁ CHEGA!

O grito de Sam foi o único som que retumbou ao nosso redor quebrando o silêncio, o lobo retrocedeu com o tom ameaçador do alfa, mas em seus olhos havia uma promessa, ele não tinha desistido.

Quando meus ombros relaxaram e o olhar de Sam confirmou que era seguro eu saí de minha posição de ataque, mas os rostos dos outros... eu não achei que veria aquilo outra vez, não esta noite.

Medo, descrença, desdenho...

— Me desculpe.

Minha voz tremeu fraca nas palavras, desviei meu olhar do rosto de Sam e encarei meus pés, tentando fazer meus batimentos cardíacos aumentarem.

— Não peça desculpas, não foi você que agiu como um animal descontrolado.

Ele se virou para o lobo e não pude ver seu rosto, mas sua voz, todo o nojo e indignação despejando.

— Eu espero que você não tenha a intenção de passar por cima da minha autoridade novamente, pois se fizer de novo, então sofrerá as consequências.

O lobo se curvava cada vez mais, seu corpo se deitando no chão, uma força invisível o pressionando a se render, provavelmente a força que fazia de Sam o alfa.

— Agora, todos vocês irão voltar a suas formas, e agir como seres humanos decentes, ela é apenas uma. E se vocês se sentem ameaçados por apenas uma criança só mostra quão inseguros são consigo mesmos... AGORA!

Os lobos se dispersaram instantaneamente, cada um indo em uma direção diferente da floresta, o lobo que me atacará não foi imediatamente, ele se levantou lentamente diante do olhar de Sam e quando estava prestes a se virar mirou-me com seus olhos, cheios de promessa e violência.

— Paul...

A advertência foi o suficiente para ele rosnar e ir correndo para a floresta.

Meu mentor se virou para mim. Seus olhos estavam analisando todo o meu corpo à procura de machucados, e quando suas narinas dilataram eu soube que ele não procurava por sangue, e sim pelo cheiro que eu estava provocando no ar.

Cheiro de vampiro.

Eu estava prestes a me desculpar novamente quando ele meneou a cabeça e indicou os lugares vagos perto da mulher do outro lado da fogueira, eu esperei até que ele chegasse até onde eu estava para acompanhar, assim que ele se sentou ao lado de sua amante eu me sentei do lado dele no toco.

— Por que não fazemos as apresentações enquanto os garotos se arrumam?!

A mulher foi quem sugeriu com o tom ameno, seus olhos no meu rosto, um sorriso tímido se abrindo em seus lábios.

— Eu sou Emily, esposa de Sam, é um prazer te conhecer.

— Olá Emily, é um prazer.

Eu só não sorri de voltar por estar distraída quando olhei para Sam procurando respostas, ele me ignorou, sua expressão rigorosa olhando para um ponto qualquer perto da fogueira.

A próxima pessoa a tomar a iniciativa foi uma mulher bem mais velha, que ainda possuía a beleza dos cabelos lisos e longos, assim como uma pele de cor profunda e impecável, as fêmeas da tribo pareciam bem mais acolhedoras do que os machos.

— Eu sou Sue Clearwater, meu marido era parte do conselho antes de eu assumir o seu lugar.

Estava lá, mesmo que implícito na frase, sua voz entregava a perda de uma pessoa uma vez muito amada. 

Eu sabia qual era o sentimento. 

Antes de me impedir de ser inconveniente, as palavras já estavam deslizando.

— Sinto muito por sua perda.

O choque em seu rosto não poderia ter me deixado mais envergonhada pela minha presunção.

— Como você sabe?

Eu abri a boca uma vez e então uma segunda, me senti esmagada por seu sentimento de desconfiança, tão impresso no rosto bondoso.

— Eu reconheço a perda quando a vejo... me desculpe.

O sorriso triste confirmou meus pensamentos é claro, ela desviou seu olhar do meu rosto e refletiu, meu coração se apertou em decepção, tinha acabado de dar mais um mau passo.

— Este é Billy Black, pai do Jack, mas você já sabe.

Sam indicou o líder da tribo com um floreiro, fazendo piada da situação de antes.

Os outros nomes nunca se fixaram como os dos primeiros, não depois da minha breve demonstração.

Um de cada vez os lobos de antes saíram da floresta, vestidos em jeans, bermudas e moletons, cada rosto mais expressivo que o outro, uma mulher carrancuda passou para o lado de Sue, dando um beijo carinhoso em seu rosto, ela não simpatizou bem comigo pela forma que me olhava, no final, não eram todas a fêmeas tão acolhedoras.

— Estes são Leah Clearwater e Jared Cameron.

Um homem formado caminhou até o lado de uma mulher de cabelo curto e pele morena, quando ouviu seu alfa o chamar ele deu um sorriso predatória na minha direção, seus olhos se divertindo com a situação, ele parecia um pouco arrogante, a sua companheira, deduzi quando ele se sentou ao seu lado beijando seu rosto ruidosamente, lhe deu uma cotovelada de volta e murmurou para que ele se comportasse.

— Quil Ateara.

Uma montanha de músculos se apresentou antes que Sam o anunciasse, ele caminhou para a roda sem pressa, seus olhos curiosos presos em mim. Um homem esguio e alto se sentou ao lado de Quil, ele não parecia inclinado a se apresentar, seu rosto quieto apenas observava.

Sam limpou a garganta ruidosamente, chamando a atenção do homem quieto, este desviou seu olhar e resmungou o próprio nome.

— Sou Embry, Embry Call.

Dois jovens adultos entram no círculo fazendo gracinha um com o outro e se empurrando, os dois parecem estar na casa dos vinte, seus sorrisos ainda são leves e despreocupados.

— Esses moleques são os caçulas do bando, Collin Littllesea e Brady Fuller, digam “olá” pestinhas.

Os dois responderam de forma simples seus cumprimentos, o primeiro tinha a pele mais escura e o cabelo característico dos Quileutes, enquanto o segunda tinha a pele mais clara e cremosa, com um cabelo revolto que cobria os olhos.

— ... E Paul.

Ah, o que me atacará. 

Sua expressão era fechada como um punho, tensão franzindo o cenho, a boca cinzelada em violência mostrando onde toda sua raiva se concentrava. Seus olhos me vigiando todo o caminho até o lugar onde se sentaria, olhei de volta segurando seu olhar com um sentimento de questionamento latente vibrando em meu peito.

Ele caminhou até um lugar perto de Billy Black, logo ao lado de uma mulher com os traços de Jacob, provavelmente uma de suas irmãs que ele contou sobre, Paul se colocou ao lado dela e continuou a me encarar daquela forma horrível.

Por quê?

Eu não tinha feito nada para ele, não ataquei ou feri ninguém, minhas motivações eram as melhores possíveis, se fosse necessário apenas ter a ajuda da tribo sem me relacionar com mais ninguém eu ficaria feliz em lhe dar esse conforto, mas por quê?

Ele não tinha motivos para sentir esse ódio todo por mim.

— Estes são os primeiros lobos da alcateia a se transformar, e as crianças se transformaram durante a sua chegada.

Meu rosto se virou de supetão para o de Sam.

— O quê?

Sua expressão ficou muito quieta, mas o pesar em seus olhos negros dizia mais.

— Quando um novo vampiro chega à cidade é isso que acontece, mais de nós se transformam.

— Eu não sou uma vampira.

— E o que aconteceu agora a pouco? Você cheirava a vampiro sem dúvida, não há como negar.

Paul destilou todo seu veneno em minha direção, seus gestos tão violentos quanto, minha boca se abriu em choque, ainda não conseguia entender o porquê de Sam não ter me contado sobre esse fato.

— Eu não sabia do que era capaz até vir aos Cullen, de acordo com eles eu posso projetar, ambas minhas partes, lobo quando quero, vampiro como agora há pouco, mas...

Meus olhos se fixaram em Sam, e me odiei pela mágoa que deixei transparecer, seu rosto bombeou em irritação momentânea.

— Eu não podia te contar nada até ter a aprovação do conselho, e além de tudo, agora eu sei o que você é, não tenho certeza se foi sua chegada que provocou novas quatro transformações depois de não acontecer nenhuma em anos.

Meu coração caiu em meu estômago com a revelação de suas palavras, um medo frio e rastejante acendendo meu vampiro, terror congelando minhas veias, eu não podia mais sentir meu próprio rosto.

Ele achava que havia outros aqui... vampiros de verdade.

Não

O pânico parecia começar a crescer, um desejo desesperado e irresistível de correr para sempre tomou conta, minhas mãos seguraram em minhas coxas com força.

Está tudo bem, você está bem... não são eles... não podem ser… ainda não...

— Ayira... você está bem? Não precisa se preocupar, não há nada além, eu me certifiquei disso, é apenas você.

Sua voz pode ter me distraído do meu terror momentâneo, mas não faria a possibilidade de algo mais ir embora tão cedo.

— Tudo bem?

Consegui sentir meu rosto novamente e atendi a pressa do seu olhar que buscava pelo meu, assenti levemente e tentei respirar algumas vezes.

— E por que não se transformar num lobo quando foi atacada?

— O quê?

A pergunta surgiu em meio ao silêncio, e não era uma pergunta ruim, era apenas curiosidade formal vinda do quieto Embry, ele me encarou com paciência e fez a pergunta novamente.

— Por que não se transformou em um lobo?

Pisquei meus olhos algumas vezes e passei a língua pelos lábios secos, buscando palavras para explicar minha condição.

— Desde o momento em que cheguei tudo que senti foi minha metade lobo, mas fiquei distraída por outras coisas... e quando me atacam neste estado, meu instinto age antes, contra um ataque surpresa ser vampira é mais eficaz, me torna uma... armadura.

Não tive certeza se ele entendeu, mas era como com os Cullen, quando estive ao redor deles nas primeiras vezes sempre recorria ao lobo para me proteger, era apenas reverso com os Quileutes.

— Então, vamos acabar logo com isso, se transforme!

Se ele tivesse cuspido em meu rosto não teria sido tão maldoso, Paul parecia querer me mostrar de todas as formas que não confiava em mim. Diferente de Emmett que sempre mais brincara do que insultara, Paul não estava preocupado em mascarar seus sentimentos, como se quisesse reafirmar seu ódio.

— Não é tão simples, não depois...

— Ah sim, aquele velho papo de enrolação...

Minha respiração engatou com a acusação tão crua de que eu estava tentando enganar todos, meu corpo todo tremeu.

— Sam me viu, ele é seu alfa, vocês veem através dos olhos dele.

Sabia que a ligação do bando permitia que uns vissem os pensamentos uns dos outros, sabia que Sam os permitirá ver tudo o que estava acontecendo desde o começo, da mesma forma que Edward tinha tantas vezes expressado os meus pensamentos para sua família.

EU não duvido da capacidade dele, esse é o motivo da reunião, se você não vai falar tudo, então precisamos ver se é verdade.

Ele tinha se levantado e apontava um dedo acusador em minha direção, saliva espirrando de sua boca com as palavras sendo jogadas rudemente, em vez de rebater ou me defender tudo que sinto é esse grande e silencioso espaço vazio dentro do meu peito.

— Por que me odeia tanto? Você nem me conhece.

Seus olhos faíscam raivosos, os ombros crescendo como se ele quisesse se projetar acima de mim. 

Como se quisesse me intimidar.

— Eu não preciso te conhecer para saber que cheira errado.

Eu entendia todas as ofensas de Emmett,  Rosalie ou Sam, mas aquele estranho não sabia da minha existência até algumas semanas atrás, ele nunca vira algo como eu, não sabia pelas coisas horríveis pelas quais passei, na sabia da minha dor e da minha perda, não sabia qualquer coisa do inferno que eu passei para chegar aqui, buscando apenas uma coisa: aceitação.

Não podia mais aguentar, eu não conseguia controlar, com um grito de indignação meu corpo explodiu em fogo, o grito terminando num rosnado raivoso e doloroso, meu corpo pesando sobre a terra, cada garra se cravando no solo com uma ira descontrolada, minha cabeça zunia com o poder crescente dentro do meu peito.

Estou cansada

Paul sequer se dera o trabalho de parecer estupefato com minha transformação, ele já estava explodindo em uma nuvem de prata, assumindo uma forma gigante de lobo cinza escuro, antes que ele se estabelecesse meu corpo atingiu o seu, nossos dentes lutando entre mordidas desleixadas e apressadas, um engalfinhamento de garras e presas.

Nossos corpos se atrancarando diversas vezes, os rosnados retumbando pelo ar, minha mandíbula se fechando contra suas costas a procura de um ponto fraco, o ganido de dor e em seguida o rosnado de ataque quanto ele obteve vantagem se pondo sobre meu corpo, me imobilizando pela garganta. 

Meus olhos rolam como loucos, o fogo ainda ardendo em cada pedaço do meu ser, eu não seria derrotada, não por ele, não hoje, não enquanto ele me odiava por algo que eu não era.

Usando um golpe covarde eu usei minhas garras para rasgar por seu estomago ferindo em longos rasgos, quando se esquivou eu me recuperei e com força joguei seu corpo contra o chão, minha mandíbula se cravando em seu pescoço até sentir o sangue tocar minha língua e rasgar todos os meus sentidos.

Lobo, lobo, lobo, lobo...

Seu lamento foi alto e doloroso, podia sentir a vibração de uma artéria importante na carne em que minhas presas se afundavam, por apenas alguns centímetros eu estava prestes a matá-lo, mas eu sabia que podia controlar, sabia que não chegaria a esse ponto, eu só precisava provar que podia.

Com seu sangue manchando a minha boca eu rosnei em advertência uma última vez, e quando ele ganiu de volta eu soube que estava fraco demais para lutar, me afastei bruscamente dele, dando espaço entre nossos corpos para evitar um ataque sorrateiro, assim que meus ouvidos voltaram a ouvir o som da floresta, também me concentrei nos espectadores.

Meus sentimentos embriagados com o gosto de Paul procuraram entre todos pelo meu mentor.

Sam estava parado, em sua forma humana, o corpo pulsando em excitamento pela briga e violência, explodindo em sua própria febre, mas em seus olhos, um brilho de orgulho queimava, em seus lábios um sorriso lupino.

Orgulho

O som de uma moto muito barulhenta chamou a atenção de todos, quebrando o momento tenso, ela estacionou logo ao lado do carro de Sam.

A movimentação de Paul me distrai do recém chegado, o vigiando de perto enquanto se ergue sacudindo o corpo e rosnando ao se afastar.

— Eu não acredito, seu pirralho!

O som de sua surpresa e felicidade rasga no ar, e tudo volta ao normal, como se nada tivesse acontecido.

Leah saiu correndo em direção ao estranho e Sue se levanta em seguida para acompanhar a filha, um sorriso genuíno de felicidade se abrindo em seus lábios.

Observo o corpo de Leah se chocar contra o do estranho, a intimidade do abraço é palpável, ele a abraça de volta e levanta seu corpo do chão, girando-a no ar em meio a gargalhadas de felicidade.

Meus pelos se eriçam com o som da alegria.

— Por que você não disse que viria? Eu poderia ter te buscado.

— E perder todas as expressões de deleite em ver meu lindo rosto?!

Eles só podiam ser amantes, assim como Sam e Emily.

Meus olhos se abaixaram apenas o suficiente para ver suas pernas.

— Olha só se não é o garoto prodígio.

Sam foi na direção do estranho e eles trocaram um abraço camarada.

— Você nunca se cansa de me zoar não é? Eu já tenho vinte e quatro seu velhote!

— Velhos hábitos nunca morrem, venha.

Ainda podia sentir a adrenalina da luta correndo pelas minhas veias, não me dei ao trabalho de me sentir envergonhada por explodir, afinal, era isso que eles queriam o tempo todo, apenas uma prova do que eu estava falando.

O som dos passos se aproximando fez meu corpo parar de vibrar.

A sensação cada vez mais crescente e estranha do ar ao redor foi atenuada, a terra parecia mais substancial entre minhas patas.

O que é isso?

A brisa vem como uma canção, surgindo de lugar nenhum, mas de todas as direções, trazendo o cheiro característico de Sam e o ainda recente de Leah.

Quando o cheiro estranho entra em meu olfato minhas narinas se dilatam com violência, buscando por mais, preenchendo meus pulmões.

Terra molhada

Chuva

Fogo

Vento

É como estar submersa, minha audição sendo abafada pela pressão da água, fazendo minha mente flutuar, se desprendendo do resto de mim.

Meus olhos se desprendem do chão e seguem instintivamente a causa deste estranho efeito.

Lar

Meus olhos pousam na figura distraída pelos amigos, toda sua presença trazendo uma luz ao redor, caindo sobre mim.

A sensação é tão repentinamente esmagadora, quase dolorosa de tão boa, que faz um som abafado sair do meu peito e ecoar pelo lobo.

Como se eu o tivesse chamado, o estranho parou de sorrir e ergueu seus olhos em minha direção.

Seu rosto, seu corpo,  seu ser paralisaram assim que seus olhos se fixaram em mim.

É como a gravidade, toda a força dela muda

De repente não é mais a terra que te prende

Você faria qualquer coisa, seria qualquer coisa que ele precisasse

Um amigo, um irmão, um protetor, um amante...

A sensação é devastadora e faz todo o mundo sumir, como se galáxias, planetas ou o universo não fossem mais importantes... não, não há mais nada além dele, deste estranho que possui minha alma, meu ar, meus olhos, meu coração...

Eu sou engolida pela sensação mais estranha e maravilhosa que já senti.


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Notas finais do capítulo

Me falem se houver algum erro, ou um fato errôneo, eu sempre tento me certificar de estar escrevendo os fatos existentes da forma correta dos livros e filmes, estudo bastante e pesquiso, mas as vezes algo foge.
Bem, a resposta que todos queriam está ai, haha, espero que alguns estejam felizes e que os outros não me matem por mais uma vez fazer uma fic sobre o Seth.
O que acharam?



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