Te quedaras escrita por Bubuh 2008


Capítulo 1
Capítulo Único




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Assim terminei a carta que eu ia entregar a ela. Dulce estava indo para o outro lado do mundo, sem saber quando voltaria. Eu precisava vê-la, precisava dizer o quanto ela era importante pra mim e como me faria falta.

—Cheguei! Aonde você está, Dulce? -eu disse olhando pra todos os lados, perdido, naquele aeroporto enorme.

—Acabei de chegar também. Estou no terminal B, no segundo andar. E você, está aonde?-olhei para a placa pendurada na parede que me mostrava a minha localização.

—Estou no mesmo terminal que você. Vou ao seu encontro!

—Não, espere! Vou descer. Fique em frente ao café.

Ansioso, ao invés de procurar o café, fui em direção às escadas rolantes e, sem demora, lá estava ela. Vindo cheio de malas e enrolada, como sempre. Em poucos segundos, já estava em meus braços. Senti o perfume de seus cabelos e beijei sua testa. Ao reencontrar seu olhar, vi tanto amor que tudo o tanto ensaiei para dizer, sumiu. Apenas acariciei seu rosto.

—Dul...

—Ponchinho, que bom que você veio! Demorou muito?

—Não. Só que, de alguma forma, pareceu uma eternidade...

—Mas agora estamos aqui. Juntos! Obrigada por vir me fazer companhia. Ficar o dia todo, no aeroporto, sozinha não é nada legal.

—Imaginei! Por que você nunca me ouve? Eu disse que subia, olha o tanto de bagagem que você tem. Deixa eu te ajudar... –peguei suas malas, a deixando apenas com uma mochila.

—Você sabe o quanto sou teimosa... Vamos tomar um suco? –eu não conseguia ficar bravo com ela por muito tempo. Sua cara de bebê tinha o dom de me dopar.

—Por mim, tudo bem.

Já no café, arranjei uma mesa para nós enquanto ela fazia os pedidos. Olhei para suas malas e dei um profundo suspiro, parecia que eu estava sonhando ou vivendo um pesadelo. Sua almofada de pescoço, de Minnie Mouse, estava em minhas mãos. A apertei e coloquei no meu pescoço. Papeamos sobre coisas aleatórias até eu entregar o presente que levei pra ela. Uma caricatura sua e uma carta.

—Poncho, que incrível! Amei! –ela disse citando cada detalhe do desenho.

—Que bom que você gostou.

—Não, eu A-MEI! Muito obrigada. –me deu um beijo na bochecha. -Está perfeito! Eu sabia que você desenhava bem mas não tanto. –ela disse admirando o desenho e pegando o envelope, querendo abri-lo.

—Não abra ainda. Só abra quando o avião decolar.

—Ok! –ela concordou aos risos, guardando a carta em sua mochila e prosseguimos conversando.

Como o aeroporto era grande, decidimos procurar o local em que ela faria “check in” e despacharia suas malas. Andamos toda uma ala do aeroporto e, no final, descobrimos que o tal local era no final da outra ala.

Com a hora do almoço se aproximando, decidimos ir a um restaurante e dali seguir para o terminal correto. Após muita cerimônia, conseguimos escolher nossos sanduíches. Nós nos divertimos, contamos casos, minhas piores e melhores piadas, tudo pra que ela guardasse ótimas recordações de suas últimas horas antes de viajar. 

Dulce tirou o desenho da mochila e voltou a admirá-lo. Nisso, um senhor que limpava as mesas em volta, parou também para olhá-lo.

—Que lindo! É você, né, moça?

—Sim! Ele que fez... –disse sorrindo e me mostrando, toda orgulhosa, para aquele homem.

—Você tem um dom especial, meu rapaz! Nunca o deixe de lado... Eu também tinha um amigo desenhista mas ele parou de desenhar e se tornou um homem infeliz.

—Que triste..-foi tudo o que eu consegui dizer. Não me imaginava sem poder desenhar. Se bem que há alguns meses, também não me imaginara sem Dulce e naquela hora estava me despedindo dela.

—Nunca desista do que te faz feliz! Boa sorte em sua caminhada, você tem muito talento!–disse o senhor indo embora.

—Viu? Você tem muito talento, Poncho! Não é apenas minha opinião. –ri todo sem graça.

Terminamos de almoçar e fiz questão de pagar o almoço dela. Com uma mão, puxei uma das malas de Dulce e com a outra, segurei sua mão. E fomos andando assim, até entendermos que a tal ilha não chegava.

—Tem certeza que fica nesse aeroporto? Esse lugar não chega nunca! –brinquei.

—Será que não é aqui? Esse é o único aeroporto internacional da cidade, Ponchinho! Não me confunda! –Dulce disse aos risos, dando um tapa em meu braço.

Depois de vinte minutos, de passar por várias esteiras e corredores, finalmente chegamos na ilha correta. Parecia realmente outro mundo e outro aeroporto. Olhei no relógio e meu coração disparou. Faltavam poucos minutos para a despedida. Eu tinha hora para retornar e ela para ir.

“Check in” feito, malas despachadas, tempo correndo e um silêncio nos sufocando.

—Então... Chegou a hora.-eu disse todo cauteloso.

—É, eu vou ficar na sala vip.

—Meu ônibus já deve ter chegado...-disse sem mover um músculo.

—Sim... –ela segurou minhas mãos e me olhou nos olhos. –Mais uma vez, obrigada, Poncho!!! Você não imagina o quanto é importante pra mim você ter vindo. Estou muito feliz por isso. Sentirei muito a sua falta. –beijei suas mãos, nos demos um abraço forte e, por um tempo, me esqueci que estava em cima da hora e o tanto que eu teria que andar naquele aeroporto.

—Vá tranquila, pequena! Tudo vai dar certo pra você lá... Promete que não vai deixar de me mandar notícias. –levantei o dedinho da mão esperando a confirmação do pacto.

—Com certeza! Se cuida, Ponchinho. – ela confirmou, demos o último abraço e tirei uma foto meio tremida da gente. Beijei sua testa, me segurando pra não chorar.

—Adeus, Dulce! –acenei pra ela, já andando de costas.

—Até mais, Ponchinho. –disse com um sorriso tão meigo que me fez querer impedí-la de ir. Mas eu sabia que não tinha esse poder, pelo menos, achava que não tinha.

Comecei a andar pelo terminal fazendo o caminho de volta. E vendo que não era suficiente, corri pelos corredores e esteiras a dentro. O que antes havia feito em vinte minutos, agora fizera em cinco. E assim, fui o último a entrar no ônibus.

Assustado, respirei fundo, ouvindo apenas minha respiração cansada e meu coração descompassado. Apesar de lutar muito, não aguentei e chorei durante a viagem de volta a minha cidade.

—Poncho idiota! Por que você não falou? Como consegue ser tão estúpido? - falei comigo mesmo.

Assim que cheguei na rodoviária, olhei pro relógio e, pela hora que era, pensei em ligar pra Dulce. Mas na hora que decidi fazer a ligação, meu celular começou a tocar. Era ela.

— Aonde você está, Poncho? –por sua voz, notei que ela estava ansiosa.

—Acabei de chegar na rodoviária e já ia te ligar. –disse saindo da plataforma de desembarque.

—Foi rapidinho!-ela concluiu.

—Sim, e você? Já vai embarcar? –resolvi sentar em um dos banquinhos que havia perto do ponto de internet naquele saguão.

—Sim, falta pouquinho. Só que antes eu queria ver se você estava bem. –ouvi um profundo suspiro.

—Estou, Dul! Cheguei bem. –aquele silêncio que havia acontecido no aeroporto, se repetiu. Só que dessa vez, foi interrompido por Dulce.

PONCHO IDIOTA! POR QUE VOCÊ NÃO FALOU? COMO CONSEGUE SER TÃO ESTÚPIDO? — gritou comigo.

—O que foi que eu fiz, garota? Pirou?

—A carta... -gelei. -Eu li a carta!

—Não era pra ter lido! –desconversei. -Por que você é tão teimosa? –ela ficou um tempo em silêncio. –Dulce? Você está aí?

—Em mim estão tatuadas as linhas de sua pele. E se começarem a sangrar, certamente sou eu, chorando por nós dois, lágrimas de solidão. –ouvi sua voz chorosa. -E de onde estiver, chegarei a ti como um sinal. Em outras vidas, em outros mundos, na eternidade, nós voltaremos a nos ver. Não me esquecerei de ti, Poncho, pois em meu coração você ficará!

FIM


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