Quatro anos antes, Michel veio para a Colombia como promotor de eventos por uma firma parceira de Catalina em um hotel em Bogotá. Como o  francês também trabalhava com eventos, era bom profissional animado e fazia o ambiente ficar leve, Catalina o chamava sempre para algum trabalho.  Não demorou muito para que Michel e uma das colegas de Catalina, Ana Sierra, começassem a sair juntos, então, sua presença tornou-se ainda mais constante nos eventos. O romance não durou muito, o que acabou deixando Michel bem triste, pois já havia se transferido para a Colômbia, para ficar com a garota.

Em um trabalho pela costa do praía, viu como sua pele branquíssima ganhou um tom avermelhado e apaixonou—se. Decidira, então, que iria usar seus conhecimentos na área de promoção de eventos para continuar trabalhando, inclusive para Catalina quando precisasse e juntar dinheiro para investir no que mais gostava: cozinhar. Seu sonho era montar um restaurante francês e ter uma cadeia deles pela costa e quem sabe, Capital. Depois de anos sonhando, chegou a hora: havia juntado o suficiente para ter seu primeiro restaurante.

Michel, estava tentando superar, fingia não ver. Catalina nada comentava e ele tampouco, perguntava. Já sabia a resposta: Betty, a mulher fascinante que havia se tornado um belo cisne às suas vistas havia se casado. Viu algumas noticias em jornais e colunas sociais, que agora era obrigado a acompanhar, sobretudo a Revista JET-SET e Caras, além de revistas de Turismo. O motivo é que queria buscar fregueses diferenciados para seu restaurante, e não apenas leitores assíduos de revistas de Gastronomia. 

Os Mendoza, como uma das famílias mais ricas da Colômbia, por conta da Ecomoda, sempre apareciam em revistas assim, seja por conta dos desfiles, ou até fofocas. No entanto, desde que Armando e Betty se casaram (quando fizeram cobertura completa sobre o casório de um dos solteiros mais cobiçados da Colômbia) as matérias sobre eles, antes recheadas de fofocas sobre o relacionamento de Marcela e Armando e  demais envolvimentos amorosos agora focavam mais nos desfiles e a gestão bem-sucedida de Betty (parece que homem fiel e casamentos felizes não dão tanta notícia). Além disso, o casal pouco saía de casa, por conta do nascimento de Camila. Esta sim, estrela da matéria de Natal, a qual Michel guardava na gaveta. Lá tinha uma bela foto de Betty grávida e outra do casal com Camila em casa, eram fotos oficiais, produzidas pelo  fotógrafo da Ecomoda e enviada para a revista, pois estavam de acordo em não expor a intimidade da família na revista, apenas deram uma entrevista rápida. O casal estava lindo na foto, orgulhoso de sua bebê, à época recém-nascida. 

 Michel havia anotado o telefone de contato dos anunciantes, e o contrato do anúncio, exatamente dentro desta revista na página onde Betty sorria à frente da mesa de Presidência da Ecomoda, parecia mais linda que de costume. "Estava, de fato, feliz pela primeira vez ou era apenas pose?" -pensou Michel.

 Contava poder conquistá-la, pois a moça parecia disposta a mudar de ambiente e juntar-se a ele no sonho gastronômico. Romance viria com o tempo, com a convivência confiava em conquistá-la. Ela era fascinante. Inteligente, educada, tímida e agora também belíssima. Aparte de perder uma grande gerente, estava triste de não poder ser nem amigo intimo dela já que percebeu quanto Armando parecia ser louco de amor por ela e muito provavelmente ciumento. Este tipo de sentimento não se lembra de ter tido, nem por Betty,  nem por Ana Sierra, sua ex colombiana. Nem por suas ex francesas, Na verdade, apesar de estar longe de ser um conquistador barato da categoria de Mario, Michel gostava de curtir a vida também: dançar, viajar, beber, conversar com as moças belas turistas que conhecia, mas Betty chamou a atenção por ser uma moça inteligente com uma história fascinante.

Michel acordou cedo naquele dia, e logo foi ao seu escritório, estava ansioso por conta da inauguração. Seu escritório, localizado alguns andares acima do restaurante estava longe do que falara a Betty. Apesar do janelão, a vista era lateral e o sol não batia o tempo todo, mas era claro, arejado e bem-decorado. Ligou várias vezes para Catalina, mas ela ainda não havia chegado ao seu escritório. O telefone dela estava ocupado.  Apenas Mirella, sua assistente, ex-secretária de Armando atendia, o que o deixava ainda mais impaciente, como nunca estivera.

—Queria falar com Catalina, mas o celular dela só dá ocupado. 

—Sim, Seu Michel! Ela já chegou, mas no momento está falando com um cliente no celular, por isto está ocupado.

—Por favor, avise que a chamei.

—Sim. 

Catalina desligou o telefone, após falar com Aura María. Estava feliz. Gostava de ajudar as pessoas. E saber que Betty confiava nela para ajudar na formação de Aura Maria a deixava feliz.

—Oi, Dona Catalina! Algum problema?

—Não, pelo contrário! Acabei de falar com Aura María em Ecomoda!                    

—Ah e está tudo bem lá?

—Sim. Semana que vem irei à Bogotá e terei que deixá-la aqui, ajudando Michel. Mas fique tranquila, já está preparada para isto!

—Tem lançamento na Ecomoda?

—Só mês que vem! Mas tenho que ir lá ajudar Betty a organizar tudo e aparte disso passar umas dicas à Aura maria! Sabe que Ecomoda vai financiar que as funcionárias mais antigas possam estudar e formar-se em carreiras correlatas à Moda?

—Mas que boa ideia! Pena que quando trabalhava lá não investiam nisso...

—Sim, mas pode ter certeza que isto é ideia de Betty!

—Pensei que fosse coisa de seu Armando.

—Logicamente tem o dedo e o apoio dele, são como um só, combinam em tudo!

Mirella ficou meio triste, pois ainda sente algo por Armando. Deve pensar que largou Ecomoda e desistiu muito rápido.

—Que foi?

—Nada, dona Catalina.

—Então, apronte-se, Michel nos está esperando!

—Sim ligou insistentemente o dia todo!

—Ah sim! É que é o primeiro e tem medo de errar. Logo chegarão os jornalistas e não sabe o  que falar... Vou ligar para ele!  

—Michel, mon amour, Acalme-se Michel! Eles não chegarão antes das seis, dá tempo. Sei o que estou fazendo! Coloque seu terno azul e gravata prata hoje, Sei que não é seu estilo, mas separei este para você, pois tem que estar impecável!  Beijo! Au Revoir!

Michel, então procurou se acalmar, fazendo o que Catalina lhe dissera.

Mirella e Catalina continuaram a conversar, enquanto juntavam as coisas para o encontro com Michel. 

—Ele está ansioso como nunca esteve. Mas não há motivo. Este evento será até simples. Pior é um desfile que moda que tive que organizar na inauguração de um restaurante milanês!  Para este teremos a coletiva, a apresentação dos pratos e apresentação musical.

—Eu pensei ter ouvido falar que para esse também iria bolar um desfile de moda, na inauguração do restaurante.  

—Sim, pretendo fazer, um desfile aqui, mas não no restaurante de Michel!

—Por que não? Não tem um bom espaço?

—Sim, mas prefiro fazer em um hotel.

—Mas Dona Catalina...

—Entenda, Mirella tenho motivos para não fazer este desfile no restaurante de Michel!

—Mas por quê?

—Mirella, por favor. São segredos profissionais, sim?

Catalina não sabe que Mirella saiu de Ecomoda por ter atração por Armando, mas sabe que o afilhado de casamento sente muito ciúmes da amizade de Michel com Betty, logo, como amigo dos três não iria expor a intimidade deles com uma quarta pessoa.

Ainda mais o que pretende fazer é  um lançamento de Moda praia e não achou o sofisticado restaurante de Michel adequado para isso. A parte disso visto que trabalhava para vários clientes, mas no seguimento de Moda, tem exclusividade com a Ecomoda.  Julgava ser muito cedo colocar no mesmo local Michel, Betty e Armando, mesmo por razões profissionais. Afinal, Cartagena disponha de vários locais mais propícios e não convinha expor seus amigos.

Depois da conversa, as duas se arrumaram e foram encontrar-se com Michel, que esperava ansioso. Pela primeira vez estava nervoso com algo. 

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