Assim que volto ao acampamento encontro uma carruagem que provavelmente é do chalé de Apolo e perto delas estava o Júlio, Tainara, Math e os outros dois semideuses.

  Como o Júlio e Tainara já sabiam do meu disfarce eles não ficaram surpresos, mas o sátiro se espantou ao ver que minha cicatriz tinha sumido e o meu cabelo estava preto, a minha sorte foi que antes que ele pudesse dizer qualquer coisa a respeito um dos semideuses tomou sua frente.

  Ele olhava diretamente para mim e veio em minha direção.

 -Nós estávamos te esperando, seus amigos disseram que você tinha ido atrás de uma ninfa que roubou sua espada.

 -Sim, ela pegou enquanto eu ia atrás das harpias que já haviam nos roubado.

  Encarei Math achando que ele ia me delatar, mas ao invés disso o sátiro abaixou a cabeça e ficou quieto.

 -Mas isso não importa agora. Eu sou Jason Grace e essa é a Piper.

 -Jason Grace?

 -Sim.

 -Grace?

 -É cara foi o que eu disse, Jason Grace.

 -Desculpa, é que seu nome é muito familiar. Não querendo me intrometer muito, mas você é filho de Zeus?

  -Não exatamente, eu sou filho de Júpiter que tecnicamente falando é Zeus, é um pouco complicado, porém logo irão te explicar tudo.

 -Tudo bem, é que eu suspeitei um pouco, por conta do cabelo loiro, olhos azuis e uma tatuagem de águia.

 -Bom você é um ótimo analista, e em certa parte suas suspeitas estão corretas, mas vou deixar as explicações para Quiron. Então vamos?

 -Claro, já enrolamos demais.

  O sátiro entrou primeiro, seguido de Júlio, depois Tainara, eu, a garota e por último Jason. Haviam acontecido tantas coisas que eu nem tinha perguntado para Tainara se ela estava bem ou se Júlio tinha conseguido descansar, mas bastou apenas que trocássemos olhares uns com os outros que já havíamos entendido o recado.

  Depois de um tempo o silêncio se tornou incomodo e o sátiro começou a contar a história dele com o outro semideus antes de nos encontrar, como salvamos a vida dele e até a parte em que Tainara quase morreu (uma parte que para mim poderia deixar em off), os outros dois pareciam muito interessados na história, já que não pararam de fazer perguntas que ele respondia com a maior alegria de todas, e quando finalmente falou de sua conversa com Quiron foi à vez dele de perguntar.

 -Como foi que vocês nos encontraram?

  Piper pegou uma faca do bolso e disse:

 -Com a minha Katoptris.

  Júlio logo se interessou. -Como assim? Ela é mágica?

 -Pode se dizer que sim, já que ela foi dada pela minha mãe á Helena de Tróia. Quando cheguei no acampamento me identifiquei com a faca e desde então ela é minha, fora que tem sido de grande ajuda nas minhas últimas missões.

 -Sua mãe é Afrodite? A deusa da beleza e amor?

 -Sim. Por quê?

 -Por nada não, é que eu não gosto muito dela, sem querer ofender.

 -Se não estiver me intrometendo muito, eu posso saber do por que você não gostar dela?

 -Digamos apenas que da vez em que nos encontramos, não foi muito legal para nenhum dos dois.

 -Tudo bem, também não gosto muito de algumas atitudes da minha mãe.

  E com isso a conversa se encerrou, pois Júlio virou sua cabeça para a janela e não disse mais nada, Tainara estava com o olhar fixo no chão com se estivesse concentrada demais para dizer algo, o sátiro voltou à cabeça para a janela e também não disse uma única palavra, Jason ficou com o olhar fixo na porta e deu a mão para Piper que me encarava. Eu a ignorei e comecei a mexer com a minha faca que logo, logo voltaria a sua antiga dona.

 -Como é o seu nome?

  Parei, olhei para os lados e depois para frente, me deparando com ela encarando novamente.

 -É que todos já se apresentaram menos você.

 -Desculpa, meu nome é Tobias.

  Esse nome foi inventado pela minha querida amiga Áqua que além de me ajudar com o disfarce me deu um nome também. Ela parecia convencida e estendeu a mão para mim em forma de cumprimento; fiz o mesmo.

 -Prazer em te conhecer Tobias.

 -O prazer é meu.

  Piper me lembrava um pouco de Tainara, já que ambas tinham traços indígenas e olhos castanhos, a única coisa que as diferenciava era o cabelo. O de Tainara era preto e um pouco mais longo que o de Piper que tinha o cabelo em forma de trança e castanho.

 -Você vai adorar o acampamento, é um dos poucos lugares seguros no mundo para um semideus.

 -Não era o único? Pelo menos foi o que eu ouvi falar.

 -Então você já sabia do acampamento?

  Arregalei os olhos e me xinguei mentalmente por ter delatado um pouco de meu passado (apesar de ser bem insignificante), e tive que arrumar uma saída.

 -Mais ou menos, para mim era apenas uma lenda inventada pelos monstros para que eles nos capturassem. 

 -Até dois anos atrás, sim.

  Antes que Piper falasse qualquer coisa em relação ao fato de eu saber sobre o acampamento, Jason entrou na conversa e respondeu a minha primeira pergunta. Piper o encarou com uma expressão de dúvida.

 -Não era apenas há um ano?

 -Faz mais de um ano que os acampamentos pararam de brigar, porém nós já nos conhecemos há dois.

  Ela parou, pensou, assentiu com um ar de felicidade e depois lhe deu um beijo no rosto. Ele ficou um tempo á encarando e depois se virou para a porta, onde seu sorriso se alargou mais ainda.

 -Bom, Quiron irá te explicar tudo, nós chegamos.

  Eu olhei para a cara do Júlio e de Tainara e não precisamos dizer nada para saber que a hora havia chegado e iríamos descobrir se o feitiço funcionaria e nos permitiria entrar.

  Jason abriu a porta com ela ainda no ar, pegou Piper nos braços e disse:

 -Volto para buscar vocês depois.

  Então ele pulou da carruagem e sumiu. Tirando o sátiro nós todos ficamos espantados. Ele voltou pegou na mão de Math e desceu novamente.

 -Júlio você consegue nos tirar daqui sem ser desse jeito?

  Ele no mesmo instante citou algumas palavras e fez com que descemos as mãos e fechássemos os olhos; senti alguns tremores e um frio enorme na barriga, mas quando abri os olhos novamente estávamos são e salvos no topo da colina onde se localizava o pinheiro de Thalia.

  Olhei para cima vi que naquele exato momento a carruagem explodia no ar. Enquanto encarávamos aquilo sem entender nada, Jason desceu até nós com um ar de espantado.

 -Como vocês fizeram isso?

 -Dê o crédito todo para ele.

  Apontei para Júlio que fazia pose de super-herói. -Anos de pratica, jovem gafanhoto.

 -Foi bem a tempo se não um de vocês não sairia de lá.

  Quando olhamos para cima novamente não encontramos nada, nem mesmo os cavalos; Tainara foi a primeira a perguntar.

 -O que aconteceu com os cavalos?

 -Eles estão bem, o raio do meu pai atingiu só a carruagem desta vez.

 -Como assim desta vez? E por que seu pai fez isso?

 -É um pouco complicado, Quiron irá explicar tudo depois, vamos que estão nos esperando.

  Antes de descer dei uma olhada no acampamento e notei o quanto ele estava maior e com bem mais chalés também, ao descermos me surpreendi com a quantidade de semideuses novos, e alguns eram realmente novos em uma faixa etária de oito a dez anos, o que era muito estranho, já que antes os semideuses que sobreviviam ou não fugiam de casa chegavam aqui com no máximo doze anos e não passavam dos dezoito (a não ser que morram e voltem de novo, daí já é outra história). Porém ainda tinha muitos rostos conhecidos, mas estavam diferentes, não só na fisionomia como também em suas camisetas laranja. Abaixo do nome do acampamento estava escrito Monitor/Professor. E no meio de todos os campistas Quiron apareceu.

 -Vocês demoraram. Aconteceu alguma coisa? Estão todos bem?

  Jason apareceu atrás de mim, juntamente com Piper e Math que foram cumprimentá-lo.

 -Estamos todos muito bem, é que uma ninfa havia roubado a espada de um dos nosso mais novo integrante.

 -Entendo, e você gostaria de falar o nome, idade e de quem são filhos.

 -Claro. Essa aqui é Tainara, tem dezoito anos e é filha de Perséfone.

 -Certeza? Até onde eu sei ela não tem filhos meio sangues.

 -Eu também havia duvidado, mas ela nos fez uma pequena demonstração, fora a confirmação de Math sobre seus poderes.

  Quiron fez menção de que iria protestar, mas pelo jeito ele confiava plenamente na palavra de Jason e fez um gesto para que continuasse.

 -Esse aqui é o Júlio, ele tem dezenove anos e é filho de Hécate. E o último é o...

 -Luke?

  Todos pararam e começaram a encarar uma voz que vinha do fundo da multidão, eu estava torcendo para que não fosse ela, mas assim que se aproximou pude vê-la... Depois de tantos anos, seus cabelos loiros e encaracolados estavam mais longos, ela estava mais alta do que me lembrava também e seus olhos cinza cheios de espanto me encaravam....

 -É você mesmo? Mas como?

  Tentei falar algo, mas as palavras não saiam da minha boca...

  Como ela poderia ter descoberto?

  A minha vontade naquele momento era de abraça-la e implorar pelo perdão de uma Irmã que eu amava muito, mas isso iria destruir meu plano e delataria para todos quem eu era, e que poderia ser uma ameaça, principalmente acompanhado de outros dois semideuses poderosos. Comecei a tremer sem saber o que dizer, até que Jason me salvou e disse:

 -Não, esse daqui é o Tobias.

  Depois disso sua expressão mudou várias vezes, hora para incerteza, em outros momentos de raiva e por fim para frustração e tudo isso em apenas um segundo, depois ela forçou um largo sorriso e tentou se desculpar.

 -Me perdoem, é que tem acontecido tanta coisa ultimamente que eu ando vendo coisas, mas isso não importa agora. -Ela fez uma pausa. -BEM-VINDOS ao acampamento meio sangue, meu nome é Annabeth, tenho dezoito anos, sou filha de Atena, professora de matemática e artes e sou também vice-diretora do acampamento.

  Resolvi entrar no papel me esforçando para que ela não percebesse mais nenhuma semelhança (apesar de eu não fazer ideia de como foi que ela percebeu).

 -Olá, como você já ouviu meu nome é Tobias, tenho vinte e um anos e sou filho de Hermes.

 -Nossa como foi que você sobreviveu por tanto tempo assim lá fora?

 -Assim que descobri de quem era filho, encontrei o Júlio que faz muitos feitiços para nos proteger, fora que sei um pouco de esgrima.

 -Isso é muito bom, pois estamos precisando do maior número de semideuses possível, principalmente filhos de Hécate, mas irei deixar que Quiron explique tudo, se me dão licença vou preparar minhas aulas, foi um prazer conhecê-los.

  Depois que ela se afastou, Quiron continuou. -Peço desculpas por ela, é que está tudo uma bagunça por aqui.

 -Tudo bem, só queria saber quem é esse tal de Luke.

 -É uma longa história, mas digamos que foi ele quem á trouxe para o acampamento e cuidou dela e depois que ele mudou de lado ela ficou muito decepcionada... -Um silêncio se fez por alguns segundos. -Mas isso é uma história para outra hora, vocês devem estar famintos e cheios de perguntas.

 -Opa. Fazer tanta magia assim me deixou com muita fome mesmo.

 -Eu entendo, querem me acompanhar, que enquanto lanchamos eu conto o que aconteceu. Quanto aos outros, de volta a seus afazeres.

  Toda a multidão se dispersou e nós três seguimos Quiron, que nos levou direto a casa grande, mas antes passamos por diversos lugares que eu nem sequer reconhecia, depois de uma longa caminhada chegamos a entrada da casa que aparentemente não tinha mudado. Apenas um pequeno detalhe que era estranho... não havia mais latas de coca diet espalhadas pelo chão e na cadeira onde antes sentava um deus do vinho furioso e cercado por sátiros, agora estava vazia.

  Assim que entramos pude notar a grande diferença, a sala principal que antes continha apenas uma mesa com um único computador e telefone, algumas cadeiras e uma lareira da qual encima tinha a cabeça de um animal que adorava comer. Agora estava se parecendo com aquelas salas chiques e modernas.

  Acima da lareira havia uma televisão enorme, mais dois sofás e uma poltrona que formavam um quadrado da qual se encontrava um tapete que cobria todo aquele perímetro, mais para o canto da sala tinha um frigobar e dois jogos de fliperama e nas paredes havia fotos com vários semideuses junto com Quiron, em um deles estava um menino moreno, com olhos castanhos, cabelos encaracolados e um cinto com vários bolsos em volta da cintura, outro com Jason e Piper um de cada lado de Quiron, mas o que mais chamou a minha atenção foi um em que estavam o Percy e a Annabeth de mãos dadas e ambos sorrindo.

 -Tobias, está ouvindo?

 -Desculpe, pode repetir.

 -Esta, como podem ver, é a sala de estar, nós fazemos jogos durante a semana e o vencedor fica com a sala só para ele e mais dois acompanhantes de sua preferência durante o final de semana inteiro. Entrando neste corredor ficam os escritórios e na última sala é o local onde fazemos as reuniões semanais junto com o representante de cada chalé.

  As coisas tinham mudado tanto que parecia até outro lugar, cada porta que dava para um escritório estava com um nome diferente, o do diretor era Quiron, vice-diretora Annabeth, coordenador Frank, gerente de missões Hazel e monitor de jogos Percy.

  Os únicos que eu ainda não conhecia era o Frank e a Hazel.

 -O que o Jason e a Piper são?

 -Eles passam a maior parte do tempo no acampamento Júpiter, Jason era pretor, mas cedeu seu lugar a Frank, porém Piper é conselheira e ele faz questão de acompanha-la.

 -Mas Frank é pretor e coordenador?

 -Há dois pretores no acampamento Júpiter, quando Frank não está, Reyna toma conta sozinha. Mas com todos os ataques fica difícil de eles irem e voltarem. -Quiron deu de ombros. -Hazel é líder da quinta cote no outro acampamento, porém como Jason e Piper recusaram os cargos de coordenadores e gerentes, tivemos que apelar para eles.

 -E como fazem para exercer as duas funções?

 -Eles fizeram um acordo entre os quatro, além do mais, Piper queria trabalhar no acampamento Júpiter também.

 -Como assim?

 -Qual dos dois?

 -Nenhum, e sim do acampamento júpiter.

 -Eu devo estar deixando vocês muito curiosos mesmo, vamos voltar para a sala que irei pedir para alguém nos trazer os pratos.

 -Senhor Quiron, desculpe a pergunta, mas o que tem no andar de cima?

  Eles estavam tão calados que quase me esqueci deles, ambos olhavam para a escada e Júlio incrementou a pergunta de Tainara.

 -Verdade, o senhor nos mostrou a sala principal, que a propósito é muito irada e os escritórios, mas não disse nada lá de cima.

 -Lá estão alguns quartos e o porão onde estão guardadas algumas lembranças de guerras e o antigo lar do nosso ex-oráculo.

 -Ex?

 -Exatamente senhor Júlio, é que agora ela prefere ficar em uma caverna com vista para o mar.

 -Não entendi muito bem, mas toda essa conversa está me deixando com muita fome, então se o senhor quiser terminar de explicar lá na sala eu agradeço.

 -Eu concordo, vamos então?

  Voltamos o corredor e nós três sentamos no sofá, já Quiron continuou em sua cadeira de rodas, ele pegou um controle e apertou o primeiro botão, alguns segundos depois uma ninfa apareceu trazendo pratos, copos e talheres e depois que agradecemos, ela saiu.

  Eu já sabia como o sistema funcionava, mas eles não, e tecnicamente falando o Tobias também não, então esperei que um deles perguntasse, não demorou muito até que Júlio fez as honras.

 -Então, aqui vocês comem pratos?

 -Não meu rapaz, é só pensar no que deseja comer e beber.

 -Beleza.

  Ele fechou os olhos e em seu prato apareceu feijão preto, com carne e farinha em cima, depois ele os abriu.

 -Que loco mano! É como se fosse um gênio mágico de comida.

  Ele colocou uma colherada daquela gororoba na boca e fez uma cara como se fosse a coisa mais maravilhosa do mundo.

 -E o que seria isso?

 -Isso, meu amigo, se chama feijoada, é um prato típico do Brasil, e é muito bom, quer experimentar?

 -Não obrigado.

 -Bom. Não sabe o que está perdendo, e você, Tainara?

  Nós dois olhamos para ela, que estava ocupada demais saboreando outra coisa que eu não fazia ideia do que era. Ela arregalou os olhos e falei:

 -Júlio tinha perguntado se você queria um pouco de feijoada?

 -Não, obrigada.

 -E o que é isso que você está comendo?

 -Se chama Sururu.

 -Me deixa adivinhar, é um prato típico do Brasil?

 -Na verdade é bem mais comum na minha tribo.

  Quiron a olhou com cara de confuso. -Vejo que vocês têm muito o que me contar também, mas eu começo. Tobias não irá comer nada?

  Assenti com a cabeça e fechei os olhos imaginado um X-Tudo com um copo de Coca-Cola, assim que os abri comecei a devorar o meu lanche.

 -Bom, enquanto todos comem irei contar a história, e caso tenham alguma dúvida depois que eu acabar podem perguntar, ok?

  Nós três concordamos e ele começou.

 -Cinco meses atrás a nossa oráculo lançou uma nova profecia onde graças à escolha de um semideus uma nova hera iria começar, porém se escolhesse o lado errado as coisas iriam parecer fluir, mas ao final o mal iria reinar sobre a terra e tudo de bom sumiria para sempre, já se a escolha certa fosse feita as coisas iriam de mau a pior e os caminhos seriam difíceis, porém no final tudo daria certo e a paz reinaria. Pelo menos foi isso que conseguimos interpretar da profecia, depois de meses analisando.

  O problema foi que isso chegou aos ouvidos dos seres da natureza e em menos de uma semana todo o monte olimpo já sabia da história, inclusive Zeus que ficou tão nervoso que acabou convocando todos os deuses e fechando as portas do olimpo de novo, depois disso é quase que impossível entrar em comunicação com qualquer deus e nem se sabe mais deles, mas Zeus não parou por ai, ele ficou tão paranoico que puniu todos os que se opuseram a ele, não permitiu mais que deuses tivessem filhos com mortais e passou a matar qualquer semideus que ele encontrasse...

  Quiron pareceu ficar um pouco sombrio e perdido em lembranças naquele momento...

 -Nosso acampamento passou a ser atacado quase todos os dias por milhares de monstros, então tivemos que tomar providencias. Todos os filhos de Hécate de ambos os acampamentos se juntaram para fazer um feitiço que nos protege por certo tempo, o problema é que isso suga demais seus poderes e quando estão muito cansados, os monstros atacam novamente. Começamos também a espalhar sátiros disfarçados pelo mundo todo para resgatar o máximo de semideuses possíveis, mas como Zeus também os está caçando, fica cada vez mais difícil de um sátiro ou semideus voltarem com vida. Antes nós permitíamos que os campistas ficassem até certa idade e depois eles tinham a escolha de seguirem suas vidas da melhor maneira possível do lado de fora ou ficarem e se tronarem professores de alguma atividade, isso foi antes de conhecermos o acampamento júpiter, daí uma nova opção foi colocada que era eles começarem uma nova vida no outro acampamento, mas infelizmente eles já não tem mais opções. Assim que se completa dezenove anos você automaticamente ganha uma profissão em um dos dois locais para ajudar; e por conta de todas essas mudanças tivemos que expandir o acampamento para que suportasse não só os ataques como também a quantidade de semideuses...

  Ele finalmente tomou ar para respirar e tomar seu café, mas depois de alguns goles, prosseguiu.

 -É isso meus jovens, estamos passando por momentos difíceis e contamos com a ajuda de todos.

  Enquanto ele falava eu havia devorado meu lanche, dois pedaços enormes de pudim de chocolate e mais dois copos de Coca-Cola, não fazia ideia do quanto estava com fome. Outra coisa que também nem sequer imaginava era como as coisas estavam difíceis por aqui, sabia que tinha muito mais história do que apenas isso, mas antes que pudesse fazer qualquer pergunta Júlio e Tainara começaram a fazer o jogo de encarar para ver quem falava primeiro, e como sempre ela ganhou.

 -Quiron, o senhor disse que Zeus fechou as portas do olimpo de novo, ou seja, ele já tinha feito isso antes? Por quê?

 -Da primeira vez foi na guerra contra Gaia, ele as fechou porque Hera tinha sido sequestrada e para que isso não acontecesse novamente Zeus tomou suas providencias.

 -Mas...

 -Mas nada, é minha vez de falar Tainara.

  Ela o fuzilou com os olhos e fez um gesto para que ele perguntasse.

 -Que guerra foi essa? Quando aconteceu?

 -Essa foi a guerra em que juntou os dois acampamentos, na época o oráculo havia soltado a profecia de que sete meio sangues iriam salvar o mundo da destruição, entre esses semideuses três eram romanos e Hera deu um jeito de nos juntar a eles, no começo foi difícil e quase que nos destruímos, mas no final deu tudo certo e estamos todos em paz uns com os outros. Isso já faz um ano que terminou.

 -Sua vez Tainara.

 -E quem são esses três?

  Antes que Quiron dissesse qualquer coisa, Júlio levantou a mão.

 -Deixa adivinhar. Um deles é o Jason que tem uma tatuagem de águia e diz ser filho de Júpiter e não de Zeus. Estou correto?

 -Sim, ele na verdade foi o primeiro romano a aparecer aqui, foi um plano de Hera para nos juntar.

 -Mas e os outros dois?

 -Frank, filho de Marte mais conhecido por nós como Ares e Hazel, filha de Plutão ou se preferível chamar de Hades.

  Nós três olhamos para a cara um do outro e foi a minha vez de fazer as perguntas.

 -Como assim filha de Hades?

 -Na verdade de Plutão, mas eu não sei se posso sair contando a história dela para todos, então caso estejam interessados em saberem algo mais, vocês terão que perguntar a ela. 

 -E como o senhor mesmo disse, ela faz parte do acordo entre os quatro, certo?

 -Exato! Antes de Zeus tentar matar a todos ela morava mais no acampamento júpiter e vinha para cá de vez em quando, mas como falei, ela desempenha um papel aqui.

 -Tudo bem, tenho uma última pergunta. -Quiron fez sinal para que eu prosseguisse. -Eram sete semideuses, três romanos e quatro gregos. Certo?

 -Sim.

 -Quem são os gregos?

 -Piper que como vocês devem saber é filha de Afrodite, Annabeth filha de Atena, Leo filho de Hefesto e Percy filho de...

 -Posseidon!

 Os três me encararam e eu me amaldiçoei (mais uma vez) mentalmente pelo que havia feito.

 -Você o conhece?

 -Na-Na-NÃO, é que eu chutei,  já que todos os nomes que o senhor disse ou estavam na porta ou eu já conhecia.

  Enquanto eu torcia para que ele não percebesse nada, Tainara me salvou com outra pergunta para que ele não prestasse mais atenção em mim.

 -Verdade eu só não vi esse tal de Leo, onde ele está? No outro acampamento?

  Quiron baixou a cabeça, e vi que a notícia não era boa. -Na última guerra contra Gaia, ele se sacrificou para nos salvar.

  Depois de um tempo o silêncio havia se tornado incomodo, pois nenhum de nós sabia o que falar, já havíamos passado por situações assim inúmeras vezes e pra mim nesses momentos a melhor coisa a se fazer era permitir que a pessoa ficasse com suas lembranças boas e familiares.

  Depois de um tempo Quiron prosseguiu.

 -Bom meus jovens, eu lhes contei toda a história e respondi á suas perguntas, então, a não ser que tenham mais alguma dúvida irei pedir para que alguém leve cada um para o seu chalé e amanhã vocês serão avisados de suas obrigações para que a noite possam passar pelo teste.

 -Que teste?

 -Eu achei que Jason tivesse explicado, mas não precisam se preocupar, nós apenas queremos ver o quanto vocês dominam de suas habilidades.

 -Nós?

 -Sim, todos do conselho. Mais alguma pergunta?

 -Na verdade está mais para uma proposta.

  Júlio se acomodou no sofá e esfregou as mãos. -Agora vai ficar interessante.

  Quiron nos encarou com cara de preocupado. -Como assim?

 -E se eu disser para o senhor que nós arrumamos um jeito de proteger os dois acampamentos da fúria de Zeus.