A normal life escrita por Dark Angel


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Não, eu não morri ainda, apenas me dei férias. Longas e necessárias, sabe? Mas a minha companheira, a ansiedade, continuou me importunando. Alguém sabe como se livrar dela?
Espero que você aproveite este pequeno capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/790255/chapter/5

Eu sabia que meu avô era ocupado, tinha percebido isso desde o primeiro dia em que estivem em sua casa, mas não posso negar que fiquei um pouco decepcionada quando ele teve de ir embora antes do previsto por problemas no trabalho. Apesar disso, tentei dizer a ele que estava tudo bem em me deixar ali com Phasma, que eu gostaria de aproveitar o mar mais um pouco – o que era parcialmente verdade. Eu não sabia qual era o cargo oficial de Phasma, mas sabia que ela não ia gostar de ser deixada de babá, tentei dizer que ficaria bem ali, sozinha, mas vovô não quis me ouvir, voou de volta para a cidade deixando nós duas aqui. 

Eu tentei convencê-la a vestir um biquini e se juntar a mim, mas ela parecia se sentir melhor em seu terno banco.  

A imagem da mulher alta usando uma roupa obviamente cara sob aquele guarda sol me fez sentir um pouco culpada. Ela devia ter trabalho mais importante para fazer, isso era bastante evidente. 

Como se para confirmar o que eu havia acabado de pensar, o telefone dela tocou. Observei ela atender ao aparelho celular e depois de dar uma última olhada na minha direção ela se virou, de costas para mim. 

De dentro do mar, observei a mulher atarefada ter de voltar para o seu trabalho de verdade, não o de minha babá e percebi que não era tão legal assim estar sozinha ali. 

Saí da água riscando “conhecer o mar’ de minha lista mental de coisas para fazer antes de morrer e fui surpreendida por uma brisa fria que arrepiou todo meu corpo. 

Apressando o passo, tratei de voltar para o hotel. Caminhei por algum tempo, achando já estar perto do prédio, quando eu ouvi um barulho de metal caindo.  

Segui em direção ao som, achando poder ser alguém precisando de ajuda, mas me deparei com um homem em um carro esporte. 

Ele parecia irritado enquanto olhava para o motor do automóvel. 

—Porcaria de carro – ouvi ele dizer.  

Olhei ao redor para ver se encontrava alguém além dele, mas havia apenas nós dois ali. Ele estava falando sozinho. 

Antes que eu pensasse se devia ou não interagir com um estranho ele me surpreendeu usando a chave de roda para golpear o motor. 

“Isso é sério? Como isso ajudaria o carro a funcionar novamente?” Pensei. Ou pelo menos, achei que pensei. 

Agora ele estava olhando para mim. Diretamente para mim. 

Senti minha garganta fechar enquanto outra brisa fria acertava meu corpo ainda gelado pelo contato com a água minutos antes. Um arrepio se alastrou por minha pele e tomei consciência de que ainda estava vestindo apenas o biquini. 

“Eu esqueci meu vestido!” pensei, enquanto abraçava o próprio corpo. 

O homem esquisito desviou os olhos e endireitou a postura. Ele era alto. “Alto não, grande.” Corrigi a mim mesma.  

Ele fez a volta no carro e pegou algo lá dentro.  

“Ufa, vou ser ignorada.” Pensei, desviando os olhos do estranho. Quando a areia havia acabado? Eu estava em uma calçada, como isso é possível? 

O alívio estava tomando conta de mim quando eu ouvi a voz novamente: 

—Na verdade, não vai.  

Ele estava mais perto agora, e com o braço esticado em minha direção. Havia uma peça de roupa preta em sua mão, sendo ofertada silenciosamente a mim. 

Eu não sabia se devia aceitar ou não uma roupa de um estranho. Quer dizer, todos te alertam para não aceitar doces, mas e quanto as roupas? 

Outra rajada de vento foi soprada contra nós e eu decidi aceitar, estava frio demais para pensar com clareza agora. 

Sussurrei um patético ‘obrigado’ que saiu quebrado quando meus dentes começaram a bater. 

—E obrigado por me chamar de grande – disse ele, fazendo-me ficar tão constrangida quanto é possível. - Foi a primeira vez que gostei de ouvir isso. 

Olhei atentamente para ele. Não havia um sorriso grande ali, era mais como um pequeno curvar de lábios. Tão pequeno que quase não se fazia notar. Mas eu notei. E gostei. Ele era bonito.  

Ele pareceu desconcertado enquanto eu o olhava, colocou as mãos nos bolsos da calça social e separou os pés. Eu podia apostar que se houvesse uma pedra ali ele a chutaria agora. 

—Qual é o problema com o carro – perguntei.  

Eu sabia que ele provavelmente não saberia a resposta, afinal ele estava literalmente golpeando o carro com uma chave de roda, mas achei que isso o faria menos desconfortável. 

Deu certo. Ele tirou uma das mãos do bolso e passou pelos cabelos negros. “Nossa. Isso parece uma propaganda de shampoo.” 

Dessa vez ele riu de verdade, me dando certeza de que eu havia dito em voz alta. 

Mas o que estava errado comigo hoje?! Eu não era sempre assim. Um pouco estranha, sim, mas não nesse nível. 

—Desculpe - pediu ele, me deixando confusa. - Eu não quis rir de você. E eu não tenho a menor ideia de qual é o problema com o carro. Vou ligar para o seguro para ver se podem fazer algo. 

Ele saiu de onde estava e se curvou sobre o carro conversível, procurando algo entre os bancos. 

—Posso olhar o motor? - perguntei. 

O corpo dele travou. Observei ele endireitar a postura e me olhar novamente. Me senti meio ofendida. Ele pensava que eu não era capaz de consertar um motor? 

—Não acha melhor procurar um lugar quente para ficar? Vai acabar pegando um resfriado. 

Ele tinha razão. Mas meu ego estava ferido agora. 

—Eu vou ser rápida - disse eu, indo para a frente do motor, sem esperar nenhum tipo de permissão. 

Enquanto olhava as válvulas do motor me perguntei como ele achou que a chave de roda ajudaria em algo.  

Verifiquei o virabrequim, o óleo e a água. Os cabos do freio estavam um pouco gastos, o que indicava que ele costumava dar freadas bruscas, mas não era exatamente um problema. Quando estava quase desistindo e dizendo para o cara ligar para o seguro, minha mão esbarrou na bateria e ela se moveu um pouco. O cabo da bateria havia se soltado. Reconectei o fio no lugar certo e disse para ele tentar ligar o carro. 

Com uma cara de quem não põe muita fé no que vai fazer, ele adentrou o carro e girou a chave na ignição. Funcionou. O carro ligou acendendo os faróis e iluminando.  

Ele saiu do carro e parou a minha frente. “Nossa, mais alto do que eu pensei.” 

—Achei que eu era grande, não alto – disse ele. Agora eu tinha certeza de que havia algo errado comigo. - Eu me chamo Ben, e você? 

—Rey – disse eu, aceitando a mão que ele havia estendido em minha direção. “Tão quente”. 

Ben me puxou para mais perto dele, eu quase podia sentir o calor emanando do corpo dele. 

—Eu acho que tem alguém te seguindo – disse ele, baixinho. 

“Oh, droga” 

—Entre no carro – disse ele, soltando minha mão e contornando o carro. 

Eu devia fazer isso? Ele era um estranho afinal.  

Olhei ao redor e encontrei um homem de camisa vermelha olhando em nossa direção disfarçadamente. 

Droga. Era real.  

Então sem pensar muito, eu entrei no carro de Ben. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se leu até aqui, obrigado.