Piedade escrita por Gabinos
Era um ato corajoso. O fazia pensando no prazer, nitidamente. Porém, com Aiolos nunca poderia deixar de pensar nas consequências.
Entregava-se. Enganava a culpa, abafava os sons que o mantiveram acordado por incontáveis noites naqueles anos todos. Iludiu-se às primeiras vezes, imaginando que tão logo poderia sufocar-se na angústia, pagando sua pena, assim que o outro fosse embora. Todavia, o martírio era ainda mais lento e doloroso quando repousava sobre o peito de Aiolos, escutando o mecanismo de seu corpo trabalhando, os pulmões sendo inflados com o ar que partilhavam, naquele mesmo tempo e espaço — um bem específico, por sinal.
Para Shura, as coisas funcionavam muito bem na solidão. O sofrimento era purificador, o tornava um homem melhor.
Entretanto, Aiolos estava a seu lado agora, utilizando de sua paciência e carinho para ensiná-lo que o passado deve ficar no lugar que lhe é devido e, por mais duro que seja, não há redenção sem o perdão que Shura devia a si mesmo.
Não o deleitaria apenas para abandoná-lo, já havia falhado quando partira pela primeira vez. Tornara-se algo completo, não ofertaria a carne sem obrigá-lo a compartilhar o coração. Permaneceria.
Assim como foi capaz de salvar a si, salvaria a Shura também.
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