É só uma coisa implícita escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 35
Capítulo 35 – Eu te amo mais do que tudo


Notas iniciais do capítulo

Só relembrando que demorei mais pra publicar dessa vez pra postar 35 e 36 de uma só vez, ou tenho certeza que vocês cogitariam me jogar em Vormir. xD Ficarei feliz se comentarem esses dois capítulos. ;D Boa leitura! ♥



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Capítulo 35 – Eu te amo mais do que tudo

— Eu não tinha visto essa mensagem antes. Parece que é do mesmo lugar que tentaram nos contatar naquele dia e não tinha som – Peter disse a Drax.

— A pessoa deve ter morrido.

— Que pessimismo, cara.

— Se não voltou a entrar em contato ou não foi engano, e era urgente, o que mais pode ter acontecido?

Peter deu de ombros, e abriu o arquivo, que após um segundo revelou inúmeras fotos tiradas por um dispositivo mini, geralmente utilizado por turistas ou em emergências. Ele e Drax se entreolharam diante das várias fotos de um bebê recém nascido loiro.

“Tudo vai ficar bem.”

As palavras daquele vendedor ecoaram na cabeça de Peter quando reconheceu o macacão marrom que o bebê usava, com um sapinho bordado no centro do peito. O coração de Peter acelerou, e ele mexeu no cursor, fazendo as imagens se moverem, revelando mais fotos de momentos diversos, porém todos no mesmo lugar, um quarto aparentemente.

— Será da pessoa que tentou pedir ajuda?

Peter não respondeu.

— Quill?

Peter estava passando as fotos, começando a reconhecer cada detalhe na fisionomia do bebê ao perceber que fios cor de rosa se misturavam ao loiro. E ali estava! Uma foto que quase fez seu coração explodir no peito. O bebê dormia serenamente no peito de alguém, que devia ter tirado a foto de cima. Um braço amoroso de pele verde envolvia a criança, e muitas outras fotos como essa estavam ali. Peter travou na primeira em que podia ver o rosto dela. Gamora estava sorrindo, enquanto segurava a filha, ainda mais sorridente no colo, ambas acomodadas numa cama. Atrás delas paredes num tom de marrom. Nas fotos seguintes, Meredith parecia um pouco maior e a cor de seu cabelo estava mudando, de loiro para ruivo, exatamente o mesmo tom de ruivo de Peter, apenas o rosa permanecendo igual.

O medidor na barra de rolagem indicava que ainda havia muitas imagens a serem vistas, mas olhando para o lado, Peter viu Drax agora calado, e tão boquiaberto quanto ficava ao dormir e roncar. Um bip característico chamou a atenção dos dois. Peter secou os olhos e respirou fundo, atendendo imediatamente a chamada de voz da Tropa Nova, ouvindo a voz de Nova Prime invadir o convés.

******

Adam abriu os olhos, sentindo-se tonto e atordoado por alguns minutos.

— Está tudo bem, meu filho – uma voz familiar lhe disse.

Olhando em volta, ele se viu deitado num oceano infinito, tão laranja quanto o céu. Ao longe havia alguma estrutura que parecia pertencer à entrada de um templo, mas era apenas isso, não havia templos à vista. Adam sentou-se devagar, tentando descobrir onde estava, apesar da sensação ser muito familiar. Então ele se lembrou...

— Foi aqui que você as buscou, se lembra? – Uma voz desconhecida, bonita e suave, falou dessa vez.

Adam olhou para a frente, vendo um casal de soberanos de pé. A mulher era muito familiar. O homem tinha um sorriso belo e gentil, e um olhar sereno e alegre ao mesmo tempo. Seu cabelo era curto e liso, penteado para a direita.

— Ava... – o nome veio de repente.

Ava sorriu.

— É muito mais fácil lembrar quando saímos do corpo – ela respondeu, estendendo a mão para ajudá-lo a levantar.

Adam aceitou, e encarou os dois novamente, sentindo uma conexão que não sabia explicar.

— Você e sua irmã fizeram um excelente trabalho investigando, mas já é hora de saber algumas verdades, e você vai se lembrar desta vez. Vamos ajuda-lo com isso. Sua irmã pode aprender em seu próprio tempo.

— Não tenho irmãos biológicos.

— Até onde você sabe, meu filho – o homem respondeu.

— Quem são vocês?

— Você já viu nossos nomes antes, nos arquivos.

Adam pensou por alguns momentos antes de se lembrar.

— Ava... E Levi... Warlock.

— Sim – Ava respondeu, parecendo muito feliz – Adoraríamos contar isso a você e Alia de uma forma mais calma, mas você precisa correr. Foi o nosso DNA que foi usado pra gerar Alia, em acordo com o conselho. E depois, você.

— Alia é minha irmã?! Mas por que manter isso em segredo?

— Muito tempo atrás, alguns de nós acharam que a joia que nosso povo guardava podia ajudar nosso planeta a evoluir. Extraímos fluidos dela e fizemos alguns testes. Coisas simples inicialmente. E deveria ter parado aí.

— Alguns queriam ir mais longe – Levi continuou – O conselho estava dividido sobre os benefícios e riscos. Entre muitas discordâncias, alguém tentou extrair fragmentos da pedra, e ela explodiu. Depois que nossos amigos de trabalho estavam mortos, e nós presos aqui, percebemos que a explosão também foi um transporte. A joia foi parar em Vormir, não nos achando mais dignos como seus Guardiões. O conselho proibiu todos de falarem a respeito, nos velaram, e o caso foi esquecido tempos depois. O fluido restante permanecia em segurança no laboratório. Daí em diante, Ayesha foi a primeira soberana criada pra governar uma sociedade mais organizada após falhas em modelos mais flexíveis, seu único defeito foi seu rancor cego.

— Isso que aconteceu... Foi uma dessa falhas?

— Eles colocaram na conta do que acham que atrapalha o desenvolvimento de uma sociedade correta e bem organizada – Levi respondeu – O fluído estava praticamente esquecido, até Ayesha usá-lo em você, unindo-o ao nosso DNA. Por isso você tem habilidades que não sabe de onde vieram e consegue vir até aqui. Isso podia ter matado você, mas esse fragmento líquido da joia aceitou sua alma. Faz muito tempo que você está nesse universo. Seu amor pelos outros não veio do nada. Continue assim e vai aprender a dominar uma a uma das suas habilidades, mesmo as que ainda não sabe que tem.

— Por que a joia prendeu vocês ao invés de mata-los?

— É assim que ela funciona, com trocas – Levi respondeu – Nós extraímos o poder dela, e ela nos levou como parte disso. Foi o principal motivo de se tornar um assunto proibido. Pra nunca mais ninguém tentar algo parecido, pra nunca procurarem a joia. Só existiram três pessoas que sabiam do paradeiro dela por muitos anos, e uma delas era Gamora. Nem temos certeza de quem foi o contato que a deixou ciente dessa informação.

— Como vocês sabem disso? Gamora encontrou vocês aqui? Ela nunca falou sobre isso. Se bem que ela perdeu as memórias de quando nos conhecemos depois que a levei de volta.

— É normal. Apesar de ser a mesma alma de duas épocas diferentes, ainda há um conflito quando se unem, e perda de algumas memórias é uma das consequências. Talvez seja temporário – Ava explicou.

— Então a Gamora que conheci na prisão agora vive numa parte adormecida da alma dela?

— É algo bem confuso, Adam. Mesmo nós, não temos todas as respostas. Talvez não dormindo, mas se resguardando, se adaptando à fusão, sentindo e se acostumando a tudo que ela deve ter descoberto quando as duas se encontraram. Elas são de duas épocas diferentes, e são uma só ao mesmo tempo. Nossos cérebros mortais limitados não conseguem dar conta disso – Ava riu com carinho – E como sabemos sobre Vormir? Há mais alguém aqui que conhece Gamora. Mas você poderá saber mais sobre isso depois, ainda nos encontraremos quando tudo isso acabar.

— Ayesha deve estar preocupada. Ela é fria e parece uma vilã atrapalhada, mas...

Os três riram juntos em concordância com o comentário de Levi.

— Ela ainda te criou, e no fundo se preocupa com você. Acho que se ela começar a dar ouvidos a você e sua irmã, pode haver um futuro melhor do que o esperado pra ela.

Adam concordou.

— Vou tentar convencê-la disso, pai.

O olhar de Levi se inundou de emoção, especialmente surpresa e alegria.

— Por muito tempo, eu achei que esse lugar laranja seria nosso fim eterno. Então vieram Alia e você. E muito parecidos com a gente. Também não gostavam muito de como éramos. Colocava em risco o super controle da população perfeita. Isso nos deixou tão felizes... Mas não esperava ouvir isso de você agora, tão rápido. Mas obrigado por dizer – o homem sorriu.

Adam sorriu.

— Vá até Xandar. Gamora, Meredith e Alia estão lá.

— Meredith? Elas a acharam?!

— Não, a criança soube encontrar seu próprio caminho pra casa – Ava respondeu – Ela viu a tia enquanto fugia, e foi levada ao restante da família. A conexão com o pai foi instantânea. Ela está bem.

— Tia? Nebulosa?

— Não. Mantis, meio irmã biológica de Peter Quill.

Adam acenou positivamente com a cabeça.

— Como eu volto?

— Achei que se lembrava de como fez com Gamora?

— Fui levado pelo momento. Não tenho ideia de como fiz aquilo.

— Você vai aprender no tempo certo. Por enquanto podemos te ajudar.

O jovem dourado assentiu, olhando uma última vez para seus pais, e voltando a sorrir ao conseguir enxergar seus próprios traços físicos, e também os de Alia, no rosto de ambos.

— Até mais tarde, mãe.

As emoções nos olhos de Ava brilharam intensamente, e ela se aproximou de Adam, puxando-o num abraço. Isso não era muito comum entre os soberanos, mas a sensação foi maravilhosa, e o jovem abraçou sua mãe de volta, logo sentindo seu pai envolver os dois e afagar seu cabelo. Adam não sabia descrever, mas parecia tão intenso, de uma forma boa, e talvez um pouco assustadora. Mas aparentemente era algo muito comum para outros seres na galáxia, incluindo Gamora e Meredith. É disso que seu povo as tinha privado por tantos anos? Adam se sentiu livre, confuso e revoltado pela descoberta ao mesmo tempo.

— Calma... Nada de bom vem das sombras – ouviu sua mãe dizer baixinho.

— Você já sabe há tempos. É só corrigir agora – seu pai lhe disse.

Fechando os olhos e respirando fundo, Adam sentiu seu corpo entorpecer, e tudo ficou nublado. Por um momento ele parecia não ter mais um corpo, e sim ser apenas uma consciência à deriva no universo, até que de alguma forma sua consciência sabia que ele estava de volta a Merx, o planeta onde estava com Ayesha. Não quis, e nem sentia, vontade de abrir os olhos nesse instante. Sentiu-se flutuar de forma tão suave de volta a seu corpo que poderia acreditar estar em qualquer manhã calma e feliz em seu quarto no palácio soberano. Seu corpo levou mais alguns instantes adormecido, sem vontade de abrir os olhos ou se mover, mesmo quando a voz e o toque preocupado de Ayesha em seu rosto foram percebidos. Aos poucos a luz do dia se fez presente, e Adam abriu os olhos, ainda levando alguns segundos para se mexer.

— Adam! – Ayesha o chamou preocupada, segurando seu rosto com as mãos enquanto se ajoelhava ao seu lado.

Ele não respondeu ainda, tomando seu tempo para fixar as memórias do que tinha acabado de viver no mundo da Joia da Alma. Ele encarou Ayesha, tentando descobrir como se sentia agora que tinha posse de tantas informações extras, mas era cedo demais para saber. Ele se virou para o lado, tentando se sentar devagar.

— Você está bem? – Ayesha perguntou.

Adam assentiu.

— O que aconteceu?

— Naves de Aster nos atacaram. Perdemos metade da nossa frota – a sacerdotisa lamentou, escondendo o rosto numa das mãos por um momento – O conselho não vai perdoar isso.

— Vamos dar um jeito. Mas só depois de determos Aster. Se ela continuar com isso e fugir, vai continuar descobrindo habilidades novas sem nenhum limite e sabe-se lá a que futuro isso pode nos levar.

— Ela pode ter ido a qualquer lugar, inclusive voltado ao reino. Tudo isso pode ser uma armadilha.

— Xandar. Os Guardiões estão lá, não é? Todo mundo deve ter ido pra lá. Vamos rastrear da nossa nave. Ela foi danificada no ataque? A senhora está bem?

— Estou. Você foi rápido.

Ayesha ficou de pé, depois estendendo a mão para ajuda-lo a levantar. Adam aceitou e a acompanhou, tomando uma nota mental do quanto a sacerdotisa se tornava mais colaborativa e gentil em situações de emergência.

— Você costuma falar mais do que eu espero. Por que acordou calado? Tem certeza que não se feriu na queda?

— Sim, só... Pensando.

— Em que?

— Não é importante agora. Mas eu gostaria que todos nós... Nós dois e Alia, sobrevivêssemos pra conversarmos depois. Mas, prioridades primeiro – ele disse, sentando-se na cadeira do piloto e acionando comandos no painel.

Ayesha concordou em silêncio, apesar de sustentar o olhar sobre ele por algum tempo.

— Eu sei que tem muito peso nas suas costas agora, sacerdotisa. Mas eu e Alia não somos só seus aprendizes e ajudantes. Vamos apoiá-la mesmo que tenha cometido erros. É mais uma coisa boa que aprendi com Gamora e Meredith – Adam sorriu.

— Como?

— Meredith nos ama, eu e Alia, mesmo com tudo que ela e a mãe passaram. Nós dois éramos os únicos presentes quase sempre em quem elas podiam descarregar a raiva. Gamora muitas vezes o fez, e aguentou isso da filha quando ela ficava frustrada. É uma criança inteligente. Ela gosta de nós, apesar de tudo... E é maravilhoso. Devia pensar sobre isso.

Ao contrário do que ele esperava, Ayesha continuou em silêncio.

******

Gamora sentiu o vento empurrar o capuz de sua cabeça e fazer seu cabelo esvoaçar enquanto se escondia nas sombras da cobertura de um edifício residencial em Xandar, pois certamente seria descoberta rápido se escondendo na própria sede da Tropa Nova. A preocupação com Meredith não parava de martelar em sua cabeça. Seu coração doía, e parte dela se sentia horrível por ter se separado da filha, por mais que Adam e Alia já tivessem provado serem confiáveis mais que o suficiente. Precisava acabar com isso, encontrar Peter, contar a verdade, encontrar sua filha, pedir ajuda à Tropa Nova e acabar com essa longa palhaçada de quatro anos. Se Meredith não estivesse aqui, poderia estar na Terra, e Gamora sabia que o principal motivo de estar observando a sede era querer ver a filha. E por esse mesmo motivo não ficara na sede de imediato. Se Aster estava mesmo vindo para Xandar e Meredith estivesse lá dentro, não levaria esse risco para sua filha. Quanto aos soberanos, ainda tinha em mente buscar e entregar as baterias restantes, e tentar apelar para qualquer bom senso que Ayesha pudesse ter que isso fosse suficiente para abandonar a perseguição aos Guardiões. Mas agora que haviam fugido, não tinha em mente retornar ao cativeiro.

Ao longe, a guerreira viu o criminoso que enfrentara em Merx ser levado pela Tropa Nova, o próprio Dey estando entre os agentes. Isso fez o coração e os olhos de Gamora queimarem de emoção.

“Xandar foi dizimada.”

Esse fora um dos pensamentos que mais a atormentaram nos últimos quatro anos. Xandar era uma segunda casa para os Guardiões. Eles até estavam discutindo a possibilidade de adquirirem realmente uma casa no planeta para períodos de descanso e reestabelecimento antes da guerra contra Thanos. Talvez, talvez.... Agora houvesse uma possibilidade de retomarem essa ideia, caso ela conseguisse reunir a família de novo, caso todos estivessem bem e ainda juntos e... Não! Ela precisava parar de pensar nessas coisas. Era apenas um rastro da autossabotagem que lhe fora ensinada por Thanos. Às vezes sentia raiva por perceber que tantos anos depois ainda lhe restava algo dos anos com ele, mas não hoje. Hoje era o dia de morrer ou retomar sua vida. Se Dey estava vivo, outros amigos e sua família também poderiam estar. Ela ouvira as vozes de Peter e Nebulosa afinal.

Sua atenção foi chamada novamente quando uma nave dourada familiar surgiu ao longe, e Gamora puxou seu capuz de volta.

— Esse não era o plano. Eu devia lutar com Aster sozinha ou em outro lugar, onde poderia chamar reforços sem Meredith por perto – disse para si mesma enquanto acompanhava o trajeto da nave até à sede da Tropa Nova, e via Alia sair carregando a mochila que deixara com ela e Adam em Merx.

Um barulho a tirou de seus pensamentos quando naves da Ordem Negra surgiram no céu. Ainda eram pontos distantes, mas Gamora as reconheceria e veria até numa distância maior com sua visão aprimorada. Na sede da Tropa Nova, agentes e naves começavam a ser mobilizados. Um grupo responsável pela segurança saiu pela porta principal, seguindo para um dos lados da rua. Estava começando de novo. Mais uma batalha perigosa por motivos totalmente evitáveis. Gamora olhou mais uma vez para a sede, onde não havia qualquer sinal de Alia, Adam e Meredith. Se sua filha havia entrado no prédio, fora no momento em que se distraiu com a Ordem Negra. A guerreira bufou de indignação, e começou a descer do local onde estava. Tinha certeza que os soberanos viriam atrás dela depois, Ayesha ou seus subordinados, assim que ela notasse a falta daqueles que já estavam fora do planeta. Ainda não havia sinal deles, mas esse era o momento para se posicionar e decidir o que era melhor fazer primeiro.

******

Peter e os demais Guardiões entraram às pressas na sede da Tropa Nova, Mantis carregando a sobrinha no colo, e todos com um olhar que parecia pegar fogo, como Dey e Nova Prime não viam há anos, especialmente Peter, que em muitos momentos nos últimos anos parecera viver como um morto vivo ou uma sombra do que um dia fora o Senhor das Estrelas. O som de seu riso e sua voz desaparecera nas comemorações de sucesso após missões difíceis, e a música também. Quando Rock ou Groot tentavam animá-lo escolhendo alguma para tocar, não raramente os olhos verdes do terráqueo se enchiam de lágrimas e ele saía andando sozinho sem dar explicações, embora não fosse necessário. Todos sabiam que quase todas as canções que tinham o faziam se lembrar de Gamora. Horas depois o líder da equipe era encontrado dormindo em seu quarto na Benatar ou no Quadrante, ou em profundo silêncio observando as estrelas no convés de uma das naves.

— Talvez ele esteja de volta – Dey murmurou para Nova Prime com um sorriso discreto e sincero.

— Eu espero que sim – ela também sorriu.

— O que aconteceu? – Peter quis saber, sua voz muito mais viva do que tinham ouvido em muito tempo.

— É uma história bem doida. Combina com o padrão de vocês.

Peter sorriu com a brincadeira do amigo, apesar da situação urgente.

— Tentando resumir – Dey começou após um olhar de autorização de Nova Prime – Alia está aqui. Está colaborando, e trouxe uma mochila cheia de coisas de Gamora e Meredith, que eu guardei no quarto de vocês aqui na sede.

— Até meu ursinho?! – A menina sorriu, fazendo Mantis rir de alegria ao captar as emoções da pequena.

— Sim, querida. Celeste está lá – Nova Prime lhe disse com um sorriso – Eu o vi. Parece mesmo com você.

Meredith exclamou em comemoração.

— Bem – Dey sorriu para a criança e continuou – Ela nos confirmou tudo que Meredith disse. E nos falou sobre a Ordem Negra.

— Achei que todos eles tivessem morrido na guerra.

— Sobrou alguém – Dey respondeu a Rocket.

— Então diga logo onde está pra que possamos remover a espinha dele e arrancar o mal pelas sementes.

Todos olharam para Drax.

— É arrancar o mal pela raiz— Peter corrigiu.

— Foi o que eu disse.

Todos deram de ombros e voltaram sua atenção para Dey novamente.

— Então era verdade? Havia uma criança.

— Sim, acho que estamos falando da mesma coisa – Dey disse a Nebulosa – A menina se chama Aster, afirma querer vingança pela morte de seus pais na Terra, Próxima Meia Noite e Corvus Glave. E que depois de acabar com vocês vai atrás dos Vingadores. Ela passou anos tentando negociar Gamora com a líder dos soberanos, mas sem sucesso, já que as duas querem a mesma coisa. Ela concordou em esperar Meredith crescer quando soube da existência dela, mas agora perdeu a paciência, e também cresceu nesse tempo. É uma adolescente agora.

— Papai...?

— O que, docinho?

— Mamãe tá perdida lá fora. E se Aster encontra-la primeiro?

— Sua mãe é uma das mulheres mais fortes e ferozes que eu conheci na minha vida. Ninguém vai conseguir pegá-la.

— Mas os soberanos pegaram.

Peter se virou para a criança e segurou suas pequenas mãos, olhando-o profundamente.

— Ela já lhe disse como isso aconteceu?

— Ela tava confusa e sem memória.

— Ah... Alia nos explicou sobre isso. Não entendemos muito bem – Dey falou – Alguma coisa sobre a Joia da Alma e união de almas.

— Eu sou Groot?

— Sim, por mais confuso que isso pareça.

Peter tentou ignorar o quão abismado e confuso estava agora, e voltar a encarar sua filha.

— Sua mãe sabe quem sou eu? Ela já falou de mim pra você, não foi? Sobre as tranças, as músicas, as histórias.

— Sim.

— Ela se lembra de tudo agora, ninguém vai conseguir pegá-la – o Senhor das Estrela prometeu, deixando um beijo na testa da filha antes de se voltar para Nova Prime e Dey novamente.

— O que mais sabemos?

— Que eles já estão no planeta, por isso solicitei a presença imediata de todos vocês – Nova Prime respondeu – E provavelmente Gamora está por perto também.

A respiração de Peter fez um barulho quando travou na garganta, seu rosto ficou pálido e os Guardiões se preocuparam que ele pudesse perder a força nas pernas. Nebulosa pode ouvir o coração do terráqueo disparar, e a respiração curta e fraca que surgiu, numa tentativa inconsciente do corpo de controlar os batimentos.

— Como sabem disso? – Mantis perguntou, querendo continuar a conversa rápido e reacender a mente do irmão.

— Essa Aster reuniu seguidores nos últimos quatro anos, e de ontem pra hoje ela atacou o planeta dos soberanos e Merx, um planeta de população comercial diversificada que fica longe daqui. Alia acredita que o objetivo era capturar Gamora.

— O homem do estacionamento na feira.

— Ei! Gamora estava lá o tempo todo que nós também estivemos?!

— Sim – Meredith disse ao pai – Ela me deixou com Adam e Alia. Tínhamos combinado o plano, mas eu fiquei com medo e fugi. Era pra eles me trazerem pra cá ou pra Terra.

— Por que a Terra, amor?

— Pra os amigos de Nat.

— Nat?

— Ela era dos Vingadores – Nebulosa respondeu – Tinha muita força e espírito.

— E como Gamora poderia conhece-la?

O olhar dolorido de Rocket e Nebulosa foi suficiente para responder.

— Então é tudo verdade... – Peter concluiu – Mas como?

— Nenhum de nós tem essa resposta ainda – Nova Prime lhe disse – Mas o que ocorreu é que o homem que entrou em combate com Gamora em Merx foi deixado amarrado e ferido na nossa porta, e também sua nave. Estão ambos apreendidos e sob custódia.

— Senhora... Acho que estamos ficando sem tempo – Dey falou alarmado, olhando com receio para o lado de fora, onde naves podiam ser vistas pousando em um dos jardins mais movimentados da cidade, e também um dos mais próximos à base.

— É, estamos sem tempo – Peter confirmou, se virando para Mantis e pegando a filha no colo – Querida, nós vamos resolver isso, e até voltarmos você fica aqui em segurança com Nova Prime e Dey. Não saia de perto deles de jeito nenhum. Vamos derrotar os vilões, encontrar a mamãe e trazê-la pra você.

— Mas eu quero ver a luta!

— Não. Essa não é uma das histórias que você ouviu, é muito mais perigoso do que parece. Quando tudo passar nós todos vamos te ensinar a se defender.

— Mamãe já fez isso.

Peter sorriu. Essas eram suas garotas! Ambas com uma força de vontade imensa.

— Eu sei. Ainda lembro da surra que você me deu mais cedo.

Meredith riu junto com os adultos.

— Mas vamos te ensinar outras coisas também. Cada um de nós é bom em alguma coisa, e você vai aprender todas. Mas também precisa crescer e repetir tudo isso muitas vezes até conseguir se proteger sozinha. Foi assim com todos nós, e houve muitas coisas que não gostamos até nos tornarmos os Guardiões da Galáxia. Mas tudo valeu a pena. E de todas as coisas boas a melhor delas foi você. Então começando seu treinamento agora, pode aguentar algo que não gosta por nós até estar tudo seguro de novo?

Meredith assentiu, retribuindo o abraço do pai em seguida. Peter fechou os olhos, querendo guardar esse momento para sempre, e se fosse possível ele não deixaria a filha sair desse abraço ainda por muitos minutos. Mas os olhares e sorrisos emocionados de todos a sua volta, e o de Alia, que conseguia vê-los pelos monitores da sala onde ainda estava, eram tão fortes quanto a urgência de salvar a galáxia mais uma vez.

******

Quando os Guardiões chegaram ao local, pessoas já corriam assustadas, e vozes de capangas já eram ouvidas intimidando os civis. Ainda não havia sinais da jovem que Nova Prime e Dey tinham descrito como Aster, mas a quantidade de subordinados dela foi suficiente para fazer os Guardiões se espalharem pelo parque. Nebulosa, com a impaciência de sempre, derrubou dois deles no primeiro golpe, e assim seguiu enquanto avançava pelo lugar. Mantis estava surpreendendo alguns pelas costas, e colocando-os para dormir enquanto ajudava civis aterrorizados e perdidos a se deslocarem para longe e buscarem segurança. Drax estava se divertindo combatendo um homem tão grande e forte quanto ele. Groot estava derrotando um grupo facilmente com suas videiras, e Rocket atirando de cima com auxílio do colete aéreo.

Peter fez um balanço rápido da situação e localizou mais bandidos na direção oposta para neutralizar. Acionando seu próprio colete aéreo, ele disparou na direção de um deles, que ria e ameaçava um grupo de crianças que aparentavam ter entre 10 e 12 anos. O Senhor das Estrelas aterrissou com um chute pesado nas costas de um dos bandidos, derrubando-o com força no chão e dando tempo para as crianças correrem para longe. Tendo certeza que estavam numa distância segura, ele entrou em combate com os sete criminosos restantes. Gamora os deteria com tanta facilidade e rapidez, ele pensou, quase sorrindo com o pensamento. Apesar de parecerem burros, esses eram rápidos, e Peter quase não conseguiu atirar neles a tempo de evitar se ferir, mesmo porque estavam tentando encurralá-lo com luta corpo a corpo e facas. Essa era a especialidade de Gamora, não a dele. Céus! Como conseguia se desconcentrar tantas vezes seguidas da batalha só pela possibilidade de ela estar por perto? ‘Não se culpe, acho que qualquer pessoa passaria pelo mesmo’, Mantis lhe disse uma vez, quando o mesmo aconteceu em outra batalha, um ano atrás, quando novamente tiveram pistas falsas de Gamora.

— Cadê a Aster?!

— Isso não é da sua conta! – O criminoso riu, sendo nocauteado por um soco de Peter em seguida.

Agora restavam apenas três deles, e o terráqueo decolou novamente para que parassem de acertá-lo pela frente e pelas costas ao mesmo tempo. Acertou mais um deles com o blaster, e teria acertado mais um com o outro, se um disparo de longe não o tivesse obrigado a desviar. Metros à frente, Peter viu outro homem usando um prédio como escudo enquanto disparava aleatoriamente contra os Guardiões e se escondia novamente. Essa distração fez Peter voar mais baixo, e ser puxado pelo pé pelos dois criminosos restantes dos que estava enfrentando. Usou o feito deles como armadilha e atirou em ambos com os blasters, fazendo-os cair imediatamente, mas não tendo tempo de levantar, sendo obrigado a se defender dos disparos do atirador escondido, que agora vinham sem pausa. Olhando em volta, todos os Guardiõs estavam ocupados com a própria batalha, ou salvando civis desavisados que chegavam de outros lugares, apesar do aviso da Tropa Nova estar avançando pela cidade.

— Que hora pra perceber que esqueci de trazer algumas granadas! – Peter praguejou para si mesmo, jogando-se no chão novamente para evitar mais um tiro.

Começou a se arrastar na direção do homem, na esperança de confundi-lo, ao menos por alguns segundos, e talvez assim conseguindo sair de vista e surpreendê-lo. Um tiro o acertou de raspão nas costas, mas Peter apertou os dentes para ignorar a dor da queimadura e continuou seu caminho. Estava na metade da distância até o atirador quando o ouviu gritar e o último disparo subiu para o céu, acertando uma peça importante de outra nave inimiga que acabava de chegar, gerando chamas na estrutura e desestabilizando a aeronave, que começou a cair. Peter observou preocupado. Não cairia perto da base, mas ainda podia ferir civis.

— Dey, vou ter que deixar essa com vocês – Peter falou para si mesmo, tentando ignorar o estrondo da colisão ao longe e olhando para frente, a fim de garantir que novos disparos não viriam.

Derrubando e socando mais um capanga de Aster que correu em sua direção quando ele se levantou, Peter correu na direção do prédio, com ambos os blasters em mãos, devido à enorme chance de aquilo ser uma armadilha e todos os membros da equipe estarem longe dele. Entrou na rua com cautela, vendo o atirador caído a sua frente, a arma esquecida no chão, e o som de uma espada riscando o ar a sua frente enquanto era guardada.

Peter congelou quando aquele som desenterrou mil memórias de seu cérebro. E sentiu literalmente um choque doloroso passar por dentro de seu corpo quando a viu. Sentiu suas pernas perderem a força, o ar desaparecer de seus pulmões, sua voz sumir, suas mãos tremerem e seus olhos se encherem de lágrimas. Tentou pronunciar o nome dela, mas nada saiu. Porém, sua respiração pesada não passou despercebida pelos sentidos aguçados da guerreira. A zehoberi parou de andar, parecendo congelada no lugar por alguns instantes. Peter notou que ela ficara tão alterada quanto ele, e estava prestes a tentar falar com ela de novo quando ela se virou lentamente para olhá-lo. Os olhos castanhos se encheram de lágrimas como os dele, e por segundos que pareceram durar uma eternidade, nenhum dos dois se mexeu, apenas encarando um ao outro como se temessem descobrir que tudo se tratava de uma brincadeira cruel. Peter guardou seus blasters, e sentiu as lágrimas correrem por seu rosto quando Gamora deu o primeiro passo, andando mais rápido quando ele se moveu na direção dela, e logo os dois estavam correndo um para o outro.

Ela se jogou em seus braços com tamanha força que o fez dar alguns passos para trás, e o abraçou como nunca fizera antes. Peter a apertou de volta enquanto os dois choravam juntos. Ele já vira Gamora chorar antes, mas nunca como dessa vez, parecia que cada lágrima pesava uma tonelada de dor. A guerreira pressionou o rosto em seu peito e o apertou ainda mais forte, agarrando o tecido de sua jaqueta como se isso fosse necessário para continuar viva. Peter embalou sua cabeça com uma mão enquanto a segurava com o outro braço e chorava na mesma intensidade que ela, e longos minutos se passaram assim.

— Eu te amo tanto, eu te amo tanto!! Eu te amo tanto, querida!

Essas palavras fizeram Gamora chorar mais, e eles mudaram a posição do abraço. Ela o agarrou pelo pescoço, e Peter envolveu suas costas, quase a tirando do chão.

— Nunca mais, nunca mais você vai sair de perto de mim! – O terráqueo falou em seu ouvido, virando o rosto para beijar a bochecha da namorada.

Gamora respondeu o abraçando mais forte e enterrando o rosto em seu pescoço. Mais tempo se passou até que o choro virasse um tremor enquanto ela se acalmava lentamente. Peter estava vivo, e por mais que ela já soubesse, vê-lo e segurá-lo lhe causou sensações muito mais intensas do que tinha imaginado que seria. Seus dedos correram pelo cabelo ruivo, e ela ainda lembrava o quanto ele amava quando ela fazia isso, o pequeno suspiro dele confirmando que tal coisa não havia mudado. Beijou um ponto entre o ombro e o peito do amado, e respirou fundo junto com ele. Peter a colocou cuidadosamente no chão, segurando seu rosto com ambas as mãos, enquanto ela repousava as mãos sobre as dele e os dois uniam suas testas.

— Meu Senhor das Estrelas... Eu te amo mais do que tudo – foi tudo que conseguiu sussurrar antes de puxá-lo para um beijo longo e apaixonado.

Peter apertou os olhos quando mais lágrimas correram ao sentir os lábios dela nos seus, e ouvir sua voz, que estava exatamente como ele se lembrava. Suas mãos a apertaram com mais força involuntariamente, e se recusou a abrir os olhos e separar-se dela, apesar dos barulhos de tiros e brigas que ouviram da batalha que começava a aumentar perto deles. Se beijaram como se fosse a primeira e a última vez, como teriam feito se soubessem que aquele beijo na sala de reuniões da nave seria o último, e que teria sido ainda mais intenso se soubessem que Gamora estava grávida. Mas se soubessem, Peter nunca a teria deixado ir, nunca a teria deixado fazê-lo prometer aquilo, teria alterado o curso da missão e feito qualquer coisa para mantê-la viva e o mais longe possível de Thanos.

Quando finalmente se separaram para respirar, não levou mais que um ou dois segundos para unirem seus lábios de novo e de novo em vários beijos curtos, mas não menos intensos. Por fim respiraram profundamente juntos enquanto Peter segurava seu rosto e mantinha a testa colada na dela, olhando profundamente naqueles olhos castanhos dos quais só os deuses imaginavam o quanto ele sentira falta, os mesmos olhos adoráveis de sua filha, agora o maior tesouro do laço entre eles.

— Querida, onde você esteve?!


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Notas finais do capítulo

Levi Warlock é não apenas um personagem autoral meu, criado como o pai do nosso querido Adam, como uma homenagem a Levi Alonso, um anjinho que iluminou nossas vidas na Terra por 7 anos, e agora nos ilumina das estrelas. Um dos garotos mais absurdamente lindos que já vi, incrivelmente sorridente, alegre, carinhoso e forte. Só você sabe o motivo de ter partido tão cedo, querido, mas obrigada pela chance de conhecer você. Eu, sua família, amigos e todos os tios e tias do coração, vamos te amar pra sempre, docinho. Essa fanfic não foi escrita pra crianças, mas ainda assim eu espero que você goste dessa homenagem. Fique com Deus, e siga em paz na sua evolução espiritual, estrelinha.



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