É só uma coisa implícita escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 29
Capítulo 29 – Filha das estrelas




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Capítulo 29 – Filha das estrelas

— O que você gostaria de me perguntar? – Ayesha quis saber enquanto verificava documentos na sala de reuniões, dessa vez apenas ela e Adam.

— Sobre minhas habilidades. As que só eu tenho, ou que tenho mais do que os outros. Você me fez assim pra caçar os Guardiões da Galáxia e acabar com eles. Mas de onde isso tudo veio?

— A genética pode alcançar quase tudo se for combinada da forma correta e se o tempo de cada etapa de desenvolvimento for respeitado. Eu dei a mesma atenção a sua criação que o nosso povo dá às futuras governantes, como Alia. Foi difícil, mas encontrei combinações adequadas para você.

— Meus pais estão vivos?

— Essa informação não é importante para sua missão, que aliás... Foi praticamente anulada com nosso último acordo. Ainda não acredito que você e motivos de forças maiores me convenceram a isso.

— Então isso me torna inútil?

— Talvez alguns o vejam assim, mas suas habilidades não são algo a ser desperdiçado. Você é nosso protetor agora. Ninguém em todo o reino tem a força e habilidades de luta que você tem. Se novas feras espaciais aparecerem aqui, infortúnios como os Guardiões da Galáxia não serão mais necessários. E se aquela Aster voltar, você cuidará dela pra nós se for necessário. E talvez no futuro possa resolver problemas ainda maiores também.

— Quais?

— Não somos os únicos no universo que deixam muito claro que devemos ser respeitados. Mas ao menos somos civilizados. Há seres violentos em alguns lugares lá fora.

Adam ficou em silêncio por um longo tempo, tentando decifrar o que ela queria dizer com isso.

— Já conheceu algum desses?

— Mais do que eu gostaria. Felizmente estamos em paz agora nessa questão. E espero que continue assim. Eliminar os Guardiões ajudaria bastante nisso. Às vezes eles atraem olhos indesejados. Mas quem sabe... Suas ideias malucas e do meu conselheiro podem fazer algum sentido e nos levar a algum bom crescimento no universo? Espero que eu não me arrependa disso.

Adam ficou intrigado novamente, não tendo a menor ideia sobre o que ela estava falando, e se perguntando se havia alguém mais por trás do enorme desejo de vingança da sacerdotisa pelos Guardiões.

— Porque o interesse repentino nessa questão?

— Qual questão?

— Seus progenitores originais.

— Acho que todo mundo fica curioso em conhecer suas origens em algum momento da vida. Nem todos nós aqui convivemos em famílias formadas, com mãe, pai e irmãos. Podíamos pensar mais nisso, parece algo bom. Eu sinto um pouco disso no dia a dia com todos com quem eu e Alia convivemos aqui. Me deixa feliz.

— Como sabe disso? Não me diga que deduziu isso observando a prisioneira e sua filha.

— Elas também. Mas já vi famílias juntas nas missões, de várias espécies. Mesmo sem trocar uma palavra com eles ou conhece-los, dava pra ver que estavam felizes, e tinham cuidado um com o outro, mesmo os que estavam executando trabalhos longos ou pesados. Acho que há benefícios nisso também. Eu não sei quem é minha mãe biológica, mas a senhora meio que não cumpriu esse papel em parte? Me criou, me orientou e ensinou várias coisas quando nasci, não só como destruir os Guardiões da Galáxia. Alia e outros amigos do palácio também. Eu sou grato por isso, mesmo não concordando com todas as suas ideias.

— Me alegra saber disso – Ayesha falou em seu tom neutro de sempre, mas ainda surpreendeu Adam que ela tivesse respondido para começar, e esboçado um rápido pequeno sorriso.

Talvez, num futuro distante, os soberanos poderiam ser uma nação mais gentil sem perder sua eficiência, organização e prosperidade.

‘Ela não vai falar nada sobre meus pais’, Adam pensou. Para esconder tais informações, algo realmente sério deveria envolver sua criação. Se perguntou se o conselho do reino sabia sobre isso, se Ayesha temia que soubessem, e a que levaria tudo isso.

******

Gamora riu enquanto Meredith dançava sozinha cantarolando Come and Get Your Love pelo quarto. Agora ela tinha dois anos, já há seis meses, e Gamora já entregara à Ayesha três das dez baterias combinadas no acordo. Tinham conseguido uma delas com um comerciante de Hemert, em troca de proteção para seu estabelecimento, que vinha sendo saqueado por arruaceiros. Para testar a eficácia de sua ameaça e as sugestões de que os cinco criminosos corrigissem suas vidas, Gamora observara o local em segredo junto com Adam e Alia durante três dias, nos quais os ataques pararam, e um dos bandidos até mesmo se redimiu aceitando um emprego no local, onde só passaria a receber pagamentos quando cobrisse os valores roubados, o que o pressionou a incentivar os outros quatro a trabalharem junto. Gamora deixou o planeta satisfeita e com uma bateria, quatro meses depois de aceitar a proposta de compensação de Ayesha.

A segunda veio de Demer, o planeta onde tinham comemorado o primeiro aniversário de Meredith. Até hoje Gamora mal conseguia acreditar no que fizera, mas ela tinha sido capaz de consertar uma máquina quebrada importante para um comerciante, lembrando-se do que havia aprendido sobre isso com Rocket e Nebulosa. Após um dia inteiro de funcionamento sem novos problemas no equipamento, Gamora foi paga com uma bateria anulax.

A terceira viera de forma tão inusitada que parecia uma piada. Ela pensaria que a bateria poderia ser falsa se não conhecesse a pessoa. Eles estavam em Arcads, em busca do contato que dizia ter uma bateria disponível, e foram parar no estande do mesmo senhor que dera o walkman de presente para Gamora. Ele os reconheceu, e os recebeu com um sorriso, feliz em saber que ela já tinha conseguido usar o walkman e o quanto Meredith tinha crescido. Gamora sorriu de volta, sentindo carinho pelo idoso, ainda que não soubesse porque. A surpresa veio quando questionaram o que ele queria em troca da bateria.

— Eu não quero nada. Pelo amor de Deus, levem-na daqui o mais depressa possível! Eu não aguento mais ser atacado por bandidos de rua desde que eu trouxe esse item pra cá. Sou um velho disposto, mas ainda tenho dor nas costas. Não posso ficar correndo atrás desses moleques e dando lições de moral a eles o dia todo. Vocês são jovens e fortes – ele argumentou quando questionado.

Até mesmo Adam e Alia ficaram alguns segundos de olhos arregalados enquanto Gamora perguntava se ele não estava brincando. Gamora aceitou o acordo, e como cortesia passou o restante da tarde caçando cada um dos indivíduos e deixando muito claro o quanto se arrependeriam se continuassem ameaçando e saqueando os comerciantes ao invés de procurarem trabalhos e meios para viver melhor.

— Querida, eu sei como você ama se divertir assim, mas venha arrumar o cabelo, Adam e Alia virão nos buscar daqui a pouco.

— Pá onde?

— Vamos em um lugar aqui mesmo, mas longe, então vai levar um tempo pra chegar.

Meredith sentou-se na cama, de costas para a mãe, enquanto Gamora penteava seu cabelo ruivo e rosa com a escova macia de bebê. Os fios coloridos haviam crescido e ganhado belos cachos nas pontas, exatamente como os seus. Gamora sorriu. Peter amaria isso, ela pensou. Trançou uma parte do cabelo da filha e uniu as duas tranças na parte de trás de sua cabeça, para evitar que os fios cobrissem seus olhos.

— Mere, nós nunca andamos pelo reino e não sabemos como são as ruas aqui. De jeito nenhum eu quero que você saia correndo ou fique longe de mim, mesmo se vir alguma coisa que você quer muito ver mais de perto. Se isso acontecer, me diga, e se for possível nós levamos você até lá. E se não for, não fique triste com isso. Em mais algum tempo vamos sair daqui. Ainda não sei aonde iremos, mas há muito na galáxia pra ver, e você vai adorar tudo que ainda tem pra descobrir.

— Lá fola é bonito?

— Nem tudo, querida. O universo tem coisas tristes também, mas muitas são boas. E você vai vê-las com seus próprios olhos quando conseguirmos sair daqui.

— Po que nunca saímos daqui?

Gamora ficou em silêncio, não sabendo como responder.

— Antes de você nascer havia uma guerra, eu já lhe disse isso.

— Sim.

— E durante a guerra eu fui separada da nossa família e do seu pai.

— Papai?

— Sim. Papai – Gamora sorriu – Um homem mal me levou embora e até hoje eu não sei onde eles estão. Mas se sairmos daqui podemos procurá-los. E se não os acharmos, há amigos que podem nos ajudar. Talvez a saída daqui seja perigosa, por isso eu nunca tentei antes, pra dar tempo de você crescer um pouco e me ajudar. Pra isso eu preciso de você aqui, portanto preciso que preste atenção pra nunca se perder de mim, Adam e Alia enquanto estamos fora.

— Ceto.

Meredith ainda não falava perfeitamente, embora estivesse melhorando muito e aumentando seu vocabulário com o passar do tempo. Depois que ela começou a crescer, Gamora a achou mais parecida consigo mesma. Ela tinha seus olhos e seu olhar, mas o sorriso radiante de Peter, que fazia seus olhos transbordarem doçura, exatamente como ele. A pequena se parecia muito com ele quando dormia, e muito com a mãe quando estava com raiva, e uma perfeita mistura dos dois quando estava feliz. Também era muito mais forte fisicamente do que Gamora achava que uma criança de dois anos deveria ser, provavelmente tendo herdado isso tanto dela quanto de Peter. Sua filha também tinha seu fator de cura. Um dia ela se machucou ao tropeçar enquanto brincava no chão, e chorou assustada como qualquer criança, mas conseguiu se focar enquanto Gamora a tranquilizava e a levava para o banheiro para lavar os arranhões nos braços e joelhos. Na manhã seguinte sua pele estava perfeita de novo, como se nunca tivesse existido qualquer dano ali. Por fim, havia alguns dias que Gamora estava começando a falar com ela sobre táticas de luta e tentando fazê-la entender que só poderia usar esse artifício em emergências ou para se defender.

— Mamãe, tem alguma histólia dos Gardiões daqui?

— Que aconteceu aqui onde estamos?

— Sim

— Tenho sim – Gamora sorriu, e foi como tudo começou na verdade, mas Meredith não precisava desses detalhes ainda – Uma vez uma enorme fera espacial veio aqui e tentou comer um grande conjunto de baterias que alimenta parte do reino. Então chamaram os Guardiões da Galáxia pra derrota-la.

— Eles derrotalam?

— Sim. O Guardião forte com tatuagens vermelhas se deixou ser engolido pela fera, achando que seria mais fácil cortá-la por dentro, mas a pele era tão dura quanto por fora.

Meredith gargalhou.

— Que burro!

Gamora riu.

— Eu concordo. E todos os Guardiões também.

— E depois?

— Enquanto ele tentava cortar o monstro por dentro, a guerreira cortou a fera por fora com sua espada, que era mais afiada, e a derrotou. Quase todos os Guardiões viram isso, menos o que estava preso no estômago da fera até a guerreira cortá-la. Ele era tão distraído que pensou que tinha conseguido derrotar o monstro sozinho.

Meredith voltou a rir, dessa vez junto com a mãe.

— Mas apesar de ser tão bobo às vezes, ele era uma ótima pessoa, com um coração tão grande quanto ele.

— Você sabe coitar monstos com a pada que Adam taiz pá você?

— A espada é minha, querida. Adam está só guardando pra mim. A espada pode machucar se você não souber usá-la ou se tocá-la sem cuidado, então é mais seguro ficar guardada quando não estou usando. E aposto que eu consigo cortar monstros com ela. Quem sabe um dia eu te mostre – Gamora sorriu.

— Eu sonhei com o Sinhô das Estelas hoje. Com os olos vemelhos.

A máscara, Gamora deduziu.

— Isso é legal – ela sorriu – O que ele estava fazendo no sonho? Ouvindo alguma música de seu walkman azul?

— Não. Ele tava tiste. Não quelia música.

O olhar de Gamora entristeceu, mas tentou esconder isso da filha, porque é assim que ela sabia que Peter devia ter ficado ao perde-la.

— Por que ele estava triste?

— Alguém foi embola.

— Quem?

— Não sei.

Gamora tomou alguns segundos em silêncio, pensando em como responde-la.

— O que você acha... De um dia quando sairmos daqui, procurarmos os Guardiões da Galáxia? Então você pode dar um abraço no Senhor das Estrelas, seu papai, ele adora abraços. Isso vai deixa-lo feliz de novo – Gamora sorriu.

— Vamo! Mas Sinho das Estelas ou papai? Papai é duas pessoas?

Gamora riu com carinho, entendendo que numa idade tão jovem devia realmente ser confuso para Meredith entender a diferença entre uma pessoa e seu codinome.

— É um apelido do seu pai. Vamos fazer isso, mas ainda vai demorar, e a galáxia é muito grande, não posso prometer que vamos encontra-los, mas vamos tentar. E você precisa ter paciência até lá, e sempre se lembrar do que repete pra mim todas as noites antes de dormirmos.

Meredith assentiu.

— Tio Adam e tia Alia tão cegando.

Gamora os escutara chegando alguns segundos antes de Meredith informar. Sim, sua filha também tinha uma excelente audição.

******

— Já sabemos que estão vivos – Adam sussurrou enquanto conversava com Gamora no jardim secreto da prisão – Está dando certo, estamos encontrando as baterias. Você não acha que seria uma boa ideia preparar sua vida pra quando isso acabar? Você sabe que eu e Alia nunca contaríamos à sacerdotisa se você fizer contato com eles de alguma forma.

— Não! – Gamora foi enfática, observando Meredith brincar na grama – Ayesha pode ter milagrosamente aceitado sua proposta, mas eu sei como ela é obcecada quando decide algo. Não vou colocar minha família em risco, por mais que eu queira falar com eles. Ela nos matará se descobrir. Você e Alia não contam, mas como saber se não há mais olhos e ouvidos a nossa volta? Aqui ou nos outros planetas. E se conheço minha família, tenho mais do que 100% de certeza que se eu fizer contato eles virão pra cá com toda a Tropa Nova, e ainda podem atrair acidentalmente outras pessoas que podem querer complicar tudo ainda mais.

Adam ficou em silêncio, inconscientemente buscando argumentos para acalmar a amiga a respeito disso. Meredith lançou um breve olhar para os dois, sendo esperta o suficiente aos três anos de idade para ter ao menos um pouco de ideia sobre a morte não ser algo bom e que o tom nervoso de sua mãe sempre indicava que havia alguma situação perigosa acontecendo ou prestes a chegar.

— Já entreguei sete baterias. Em breve saberemos se sua sacerdotisa fez um acordo real ou uma armadilha. Se for o segundo caso, você sabe o que fazer caso eu não consiga seguir em frente. E se minha família não estiver mais na galáxia.

— Gamora...

— Você sabe o que fazer! Xandar, Tropa Nova. Ou Terra, Vingadores. Como você pode ter tanta certeza que minha família está viva?

— Você não acreditaria se eu dissesse.

— Por que não tenta?

Adam pensou por um instante.

— Eu tenho sonhos muito vívidos com eles já tem tempo, desde pouco tempo depois que eu conheci você na verdade. Foi quando eu e Alia começamos a planejar como tirar vocês daqui, mas tudo parecia muito arriscado. Então veio esse novo acordo.

— São só sonhos. Por mais que eu acredite que realmente há algo mais por trás deles, não são uma prova concreta. E se Peter estiver vivo... Depois de tudo que ele perdeu do começo da vida da nossa filha, eu mesma quero contar isso a ele. E não arriscarei tudo agora. Se você tentar contato precipitado, eu vou matar você.

Adam assentiu, mesmo sabendo que não era uma ameaça séria.

— Vocês queriam nos tirar daqui? – Gamora finalmente perguntou, quase sem acreditar – Por que?

— Acho que já lhe respondi isso muitas vezes. Mas entendo porque é difícil acreditar. Sabe de uma resposta que você nunca me deu? Quem é Nat? E por que ela é importante pra os tais Vingadores da Terra?

— Ela fazia parte deles. Foi uma das vítimas da guerra de Thanos. Teve sua infância roubada e uma vida triste e difícil como eu. Os Vingadores eram sua família. Então ela morreu como eu em Vormir, pra salvar um deles e todo o universo. Ela sentia falta deles, como eu sentia da minha família no mundo das almas. Meredith não podia falar comigo de volta. Acho que foi um alívio pra nós duas nos encontrarmos.

— E por que ela não estava lá quando eu e sua outra versão chegamos?

— Eu não sei. Ela sumiu de repente, e vocês apareceram. É a mim que você estava procurando. Aquele lugar é esquisito e ninguém tem certeza de como as coisas funcionam. Quando você tentou me alcançar, a joia pode ter nos isolado num vórtice dimensional específico, ou seja lá o que for. Até hoje eu me pergunto como ela está. Mas não há muito a fazer sobre isso. Como você conseguiu me trazer?

— Eu não sei. É algo que tento entender até hoje, a sacerdotisa não me diz nada quando pergunto. Mas se eu trouxe sua alma de volta, acho que é preciso um corpo pra fazer isso, não sei dizer se obrigatoriamente um outro eu da mesma pessoa de outra dimensão ou um corpo qualquer.

— Ayesha sabe que você faz isso?

— Não. Eu não queria que ela usasse isso de uma forma errada, então eu nunca disse.

Os dois ficaram em silêncio por um momento.

— Você tem atualizações sobre Aster?

— Ultimamente não. Só o mesmo que já te contei.

— Poderia me recordar sobre isso?

— Pouco depois que prendemos você, uma criança apareceu aqui. Essa garota, chamada Aster. Ela cresceu com os anos. Disse que tinha associação com Thanos, e alguma coisa sobre seus pais terem morrido na guerra. Ela quer destruir os Guardiões, e depois fazer o mesmo com os Vingadores. Ela colocou alguns dos nossos guardas no chão na primeira vez que apareceu, e desde então vive em conflito com a sacerdotisa porque nenhuma das duas queriam abrir mão de acabar com vocês. Faz tempo que não a vemos. Ela deve estar em algum lugar se preparando ou treinando. E ela já se encontrou com sua família, em algum lugar que desconheço. Foi assim que comecei a desconfiar que estavam vivos.

Gamora estava de olhos arregalados agora.

— Como sabe disso?! – Ela perguntou com autoridade, raiva e esperança de uma só vez.

— Uma das habilidades que ainda estou tentando entender e controlar direito, há mais de um ano na verdade. É uma das mais difíceis, e eu e Alia percebemos que as pessoas sentem se eu não tiver cuidado. Ainda não é perfeita. Eu nunca usei em você, Meredith e Alia, só pra constar. E nunca tentei usar na sacerdotisa, não quero arriscar que ela perceba tudo que nós dois temos feito por vocês.

— Onde você quer chegar? Que habilidade é essa? São os sonhos de novo?

— Só se for possível sonhar acordado.

— Já conheci uma empata.

— Mantis? Eu sei disso, Gamora. Nem todos nós sumimos na guerra. A sacerdotisa se certificou de se atualizar sobre vocês até onde foi possível durante a batalha.

Gamora assentiu, parecendo irônica e indignada.

— Quando nos conhecemos, Mantis nos explicou a diferença entre empatas e telepatas. Isso que você diz não parece ser de um empata.

— É o que eu e Alia sempre achamos. Tenho conseguido pequenas melhoras com o tempo. Mas é a habilidade que me dá mais dificuldades até agora. Não consigo ver muito, e se eu demorar, as pessoas percebem que tem algo acontecendo, ainda que não saibam que é por minha causa. Também não gosto de invadir as mentes dos outros assim, só se for extremamente necessário. Talvez isso interfira, mas não consigo não me importar.

Gamora esboçou um pequeno sorriso, de repente pensando que Adam seria um bom membro para os Guardiões da Galáxia. Ele ainda a lembrava muito de Mantis às vezes.

— Quer dizer que além de estarmos presas aqui até o fim desse acordo, se Ayesha não estiver mentindo, a outra ameaça pra nossa família lá fora continua, e nas sombras... Essa garota deve ser uma sobrevivente da Ordem Negra. Talvez minha irmã saiba... Eles deveriam saber disso.

— Acho que sua irmã a reconheceu, mas não conseguia se lembrar de onde.

— Ela passou mais tempo da vida fugindo entre as missões pra tentar preparar uma vingança pra Thanos e pra mim do que interagindo e conhecendo todos os filhos dele.

— Você? É difícil entender porque alguém desejaria se vingar de alguém como você.

— Não me orgulho de lembrar e de falar sobre isso... Thanos nos obrigava a lutar, e sempre substituía uma parte do corpo do perdedor por uma máquina como tortura. Isso me aterrorizava, e eu nunca deixei Nebulosa me vencer. Demorei demais pra perceber o quanto isso devastou a alma dela, e que Thanos até controlou minha mente por anos até alguém me ajudar a desfazer isso. Não serviu pra muita coisa no fim das contas. Algo aconteceu na minha adolescência e eu quase fui morta. As marcas no meu rosto não são originalmente prateadas. Aquele monstro se aproveitou disso pra inserir várias modificações cibernéticas no meu corpo, com a desculpa de salvar minha vida e me deixar mais resistente. Não foi tão terrível quanto o que Nebulosa sofreu, eu nem estava consciente, por semanas. Mas ainda me acertou profundamente, apesar dos benefícios nas lutas. Ainda tenho meus olhos, meu cabelo e minha aparência quase totalmente original. Ela perdeu muito disso.

Adam assentiu em silêncio, tentando ser solidário de alguma forma. Esperou para saber se Gamora falaria sobre o que levou a isso, mas ela permaneceu em silêncio, deixando-o no escuro sobre de que Thanos a salvou, e não insistiria em perguntar se a deixava desconfortável.

— E eu sinto muito, por seja o que for que aconteceu. Você já tem coisas suficientes pra lidar. Se esse monstro estivesse vivo, se eu já tivesse nascido na guerra, eu o mataria por vocês, e por meu próprio povo também. Metade de nós também se foi. Alia disse que o palácio ficou triste e bem vazio.

Gamora o olhou com surpresa e admiração.

— Uma parte de mim ainda não consegue acreditar quando você insiste que ele está morto. E eu adoraria contar isso a Nat. Muitos devem ter morrido pra isso, e é surpreendente que minha família esteja viva. Não sei se você conseguiria sozinho. Mas obrigada.

Com tudo que já sabia dele, Gamora ficava surpresa por ele ainda não ter enfrentado Ayesha ou o conselho por suas próprias ideias. Talvez Adam não só parecesse uma criança às vezes, talvez ele fosse uma, ao menos um pouco. Ele devia ser um dos soberanos mais jovens do planeta. Ayesha, Alia e outros soberanos do palácio deviam ter algum peso de família ou autoridade sobre ele. Mas Gamora nunca foi de questionar tal coisa, de exigir ser salva, ela sempre foi a guerreira que se salvou sozinha, embora ela tivesse salvado e sido salva muitas vezes desde que conhecera os Guardiões.

— Você é completamente diferente do seu povo. E Alia também. Não se sentem sozinhos por isso?

— Às vezes. Mas nós dois temos um ao outro com nossas ideias fora do padrão. E temos uma boa convivência com todos, apesar disso. Nossa sociedade não tem fama de ser organizada e harmônica à toa.

— Eu sei.

— A propósito... O aniversário de Meredith não será em breve? Acho que há outra bateria em um planeta a alguma distância daqui. Meu povo e outros planetas estão negociando pra que se torne um dos planetas aliados. Então talvez a sacerdotisa exija que mais alguém vá conosco dessa vez, como nas primeiras vezes que você saiu daqui. Eu e Alia vamos tentar trazer algumas coisas pra cá e despachar os guardas por uma ou duas horas, pra comemorarmos, se você quiser. E alguns dias depois acho que iremos em busca da bateria.

— Eu quero! – Meredith exclamou com alegria.

— Shh! – Gamora pediu à filha enquanto Adam olhava em volta à procura de guardas.

Os dois adultos riram com a alegria da pequena.

— Você é muito pequena pra fazer acrobacias, querida – Gamora falou, como um disfarce para qualquer um que estivesse ouvindo – Nós também queremos, mas assim como das outras vezes, é nosso segredo – disse sorrindo para a filha.

— Por que? – Meredith sussurrou de volta.

— Porque meu povo é muito desanimado. Alguns deles não gostam de festas e ficam zangados com isso. Talvez um dia isso mude, mas por enquanto é segredo. Meu, seu, da sua mãe e de Alia. E mais ninguém – Adam falou gentilmente para a criança, que sorriu com um aceno positivo.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que alguns leitores tão muito ansiosos pelo encontro de Gamora e Meredith com os Guardiões. Isso vai começar a se desenrolar no próximo capítulo, onde também vou explicar (nas notas) a origem dessa fanfic e porque os acontecimentos correram dessa forma até aqui. Apesar dos longos 4 anos pra Meredith conhecer a família, eu acho que vocês vão gostar de como vai acontecer. Pelo menos eu já reli várias vezes e adoro! O encontro mesmo vai rolar no capítulo 31, mas Gamora ainda enfrentará alguns problemas pra de fato estar "em casa" com sua filha e sua família. Faz muito tempo que escrevi essa parte da história e tava doida pra postar, só não tinha ainda conseguido pensar em alguma coisa pra ir ligando os acontecimentos até lá.

*Apesar de eu ter detestado esse novo filme, fiquei surpresa de ver que Ayesha e Adam têm uma relação de mãe e filho, ainda que não seja perfeita e nem tão saudável (ela o criou pra matar os Guardiões, afinal). Mas isso me tocou e achei legal começar a inserir um pouco disso aqui na história. E só eu fiquei revoltada com a morte patética dela? (Sério, em que momento foi que James Gunn virou um irmão Russo 3 que eu não percebi?) Quando eu tomo ódio de um vilão... Só Deus sabe o quanto (e assim é com Thanos, Killmoger, o Duende Verde e o Coringa). Mas Ayesha é uma vilã que eu gostava, eu imaginei mil destinos diferentes pra ela, menos morrer e ser colocada no escanteio pra o Alto Evolucionário tomar o posto de vilão principal depois daquela cena pós créditos em Guardiões 2. Por essas e muitas outras coisas, James Gunn perdeu completamente a minha admiração.



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