Hermione abriu os olhos castanhos, piscando algumas vezes com a claridade do dormitório. Sentou na cama e se espreguiçou longamente. Encarou as tapeçarias vermelhas e douradas e um sorriso começou a se espalhar pelo rosto ao lembrar da noite anterior, do baile e de Draco.

Draco Malfoy. Aquele garoto estava deixando ela maluca. Tinha dormido na noite anterior pensando nele, pensando em seu rosto em seus lábios e em seu toque. Desejava mais do que nunca a proximidade com o garoto e acabou sonhando com beijá-lo.

Saiu da cama, trocou de roupa e fez sua higiene, caminhando como se dançasse assim como as borboletas no seu estômago e chegou no salão comunal da escola, onde Harry e Ron já estavam sentados esperando pelo café da manhã.

— Eu juro que ele estava flutuando – Ron estava falando quando a garota sentou ao seu lado, virada para as outras mesas, de forma que pudesse ver Draco quando ele entrasse no local. Sentiu vontade de rir de si mesma, olhe só como estava: escolhendo o assento que a permitisse um vislumbre do garoto. Estava enlouquecendo.

— Quem estava flutuando? – Indagou entrando na conversa.

— Bom dia – Harry sorriu para ela enquanto bebia um gole de seu suco, no olhar um tom malicioso, apenas esperando o momento para perguntar como tinha sido a noite anterior com Draco a deixando na porta da casa.

— Bom dia – Reprimiu um sorriso bebericando a bebida de Ron – E então, Ron?

— Ele estava me contando do sonho dele – Harry comentou – E quem era que estava flutuando mesmo?

— Malfoy – Completou também direcionando um olhar inquisidor para a garota.

Hermione começou a se sentir sufocada com os olhares, ainda não tinha coragem de contar a eles o que aconteceu – até porque nada tinha acontecido, na verdade. Não tinha como explicar para eles os toques, o cheiro de Draco ou a carícia de seus dedos nas bochechas dela. Simplesmente não podia fazer isso sem morrer de vergonha.

— Ah, que sonho maluco – Comentou. Os elfos começaram a passar pelas mesas, depositando os pratos com comida para que os jovens famintos devorassem. Enquanto Ron apanhava um pedaço de pão e o roía impiedosamente, os olhos de Hermione foram atraídos para a cabeleira loira que entrava para se juntar aos colegas sonserinos.

— E ai, Hermione – Harry virou de costas para observar o que estava mantendo a amiga distraída – Como foi ontem com o Malfoy?

— Como foi o que? – Piscou algumas vezes olhando para Harry – Harry, você não ia nos contar uma coisa hoje?

— Ei, é verdade – Ron engoliu a comida e sorriu para a garota – Bem lembrado, Mione.

— Eu nunca disse que ia falar disso – Cruzou os braços.

— Ontem você disse sim! – Reclamou. Hermione voltou sua atenção mais uma vez para Draco, que a olhava do outro lado do salão e, por alguns segundos, tudo o que existia eram eles dois, se olhando – Me ajuda aqui – Ron pediu cutucando seu ombro e a arrancando do sonho.

— Você disse ontem que hoje retomaria a conversa – Lembrou. Gina apareceu no meio do salão barulhento e se sentou ao lado de Potter, um sorriso delineando seus lábios.

— Gina, que bom ver você – Harry agradeceu dando um meio abraço sem jeito na garota.

— Que isso, quanto amor de repente – Resmungou.

— Ele está tentando fugir de um interrogatório – Hermione explicou.

— Oh, pobre coitado, infelizmente não posso te ajudar com isso – Apanhou um bolinho da mesa, dando uma mordida faminta.

— Harry, me falaaaaa – Ron incomodava entre um pão e outro.

— Na verdade, Gina... Você pode me ajudar sim – Constatou com um sorriso malicioso – Ron, não quer perguntar pra sua irmã mais nova nada?

O ruivo arregalou os olhos, lembrando que na noite anterior ela também desaparecera, mas foi com a companhia de Luna Lovegood.

— GINA! – Gritou e baixou a voz em seguida – Você e a Luna, hein?

— Eu e... O que? Não tem nada a ver – Balbuciou sentindo um rubor se instalar em seu rosto sardento.

— Ah, por favor, criança – O irmão começou um discurso e mais uma vez os pensamentos de Hermione foram para Draco do outro lado do salão. Reparou que ele não estava solitário, mas sim conversava com algumas pessoas e até mesmo ria com elas. Gostou de ver seu sorriso e sentiu o coração se aquecendo ao ver que depois de algum tempo ele estava se encaixando mais uma vez.

***

Na sala comunal da grifinória, sendo aquecidos pela lareira acesa, Harry brincava com uma bolinha de papel, jogando o objeto para cima, Hermione tentava fazer o dever de poções, mas voltava a pensar no sonserino, e Ron fazia uma tarefa de defesa contra as artes das trevas.

— Sobre o que é esse trabalho mesmo? – Harry indagou lançando sua bolinha para o alto mais uma vez.

— Sobre feitiços de defesa que podem ser usados em determinadas situações – Resmungou.

— Faz direitinho isso ai – Provocou.

— Vocês são impossíveis – Hermione ralhou cruzando as pernas sobre o sofá – Apostaram mesmo que quem perdesse faria as tarefas do outro?

— Claro – Harry deu de ombros – Sem uma penalidade as apostas não tem graça.

— Se bem que eu quase ganhei – Ponderou.

— Quase não garante vitória, meu amigo. Não esquece daquele parágrafo ali – Apontou para o livro do qual Ron tirava suas informações.

— Idiota.

— Sabe, Ron, mesmo que seja por obrigação ainda é bom ver você fazendo uma tarefa de vez em quando, é uma baita mudança já – Hermione parabenizou o garoto largando seu próprio dever pronto ao seu lado.

— Não se acostume com isso – Advertiu suspirando – Além disso, não vou fazer a minha tarefa.

— Mas é só copiar a minha – Harry jogou a bolinha na cabeça ruiva.

— Hum, muito trabalho para mim.

— Esquece a parte das mudanças – Hermione revirou os olhos.

— Já está tarde né? – Harry se espreguiçou deitando no tapete na frente do sofá onde a garota estava sentada.

— Hermione, por Merlin – Ron afastou os cabelos do rosto com um olhar pidão, já de saco cheio de esperar pela confissão da garota  – Nos conte como foi com Draco ontem.

— Isso! – Harry se animou – Fofoque com a gente como se fossemos garotas.

— Não é por vocês serem garotos – Explicou rindo – Também não contei nada para a Gina.

— Então o que é?

— É embaraçoso – Murmurou afundando o rosto em uma almofada.

— Então... – Ron abriu um sorriso largo – Isso quer dizer que ele te beijou?

— Não – Resmungou baixinho com sofrimento.

— Hein? – Harry arregalou os olhos confuso – Então o que poderia ser tão embaraçoso?

Os toques.

O desejo.

As caricias.

A respiração ofegante dele contra a bochecha corada da garota.

Tudo aquilo passou pela mente dela, mas Hermione apenas falou com a voz abafada:

— Nós quase nos beijamos, mas daí seus irmãos chegaram – Cutucou Ron com o pé coberto por uma meia lilás – E ia ser perfeito.

— Porque não falou com ele hoje?

— O dia foi cheio, muitas aulas, tarefas e professores. E um pouco de vergonha – Admitiu – Mas eu queria que ele tivesse me beijado ontem...

— Que droga, Hermione! – Ron deitou ao lado de Harry, encarando a amiga – Me deixou na expectativa. Eu realmente estava torcendo por vocês dois.

— Eu também achei uma droga – A garota concordou, sentindo a vergonha sair de seu corpo enquanto os amigos riam com ela – Ai, é sério, ele chegou assim pertinho e eu achei que fosse morrer.

— Mas e porque você não se mexeu? – Harry indagou confuso – A distância era a mesma.

— Se vocês estivessem no meu lugar, iriam entender. Eu não conseguia me mexer, não parava de pensar “meu deus o que ele vai fazer agora?”.

— E ai? – Os olhos dos garotos brilhavam com a expectativa.

— E ai Fred e Jorde apareceram e ele foi embora.

— DROGA, MALFOY! – Os dois resmungaram juntos, caindo na gargalhada.