Além do Arco-íris escrita por Cat Cullenn


Capítulo 1
ONE-SHOT




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/79016/chapter/1

Sempre que começo a pensar, agradeço pela minha vida.

Quando nascemos, nunca sabemos ao certo o que nos aguarda – a única certeza é que, um dia, iremos deixar esse mundo, sem saber se algo nos espera do “outro lado”.

Olhando para meu passado fica muito difícil - quase impossível, na verdade - acreditar que um dia eu já tenha desejado morrer.

Mas o fato é que sim, eu já desejei a morte.

Foi há mais de um século atrás. Eu estava triste e desesperada, e agi de forma totalmente irracional. E então, quando eu estava no inferno, um anjo apareceu em meu caminho.

A primeira coisa que esse anjo me trouxe foi dor; uma dor lancinante e quase insuportável, que me fez desejar a morte novamente, em um curto espaço de tempo.

Em seguida foi a sede, e a aceitação – ainda que forçada – de que, então, eu vivia uma nova vida, totalmente diferente da que eu havia acabado de deixar para trás.

E por último, e a mais importante de todas... Foi o amor. O amor em todas as formas que podemos encontrá-lo: de homem para mulher, de companheiro para companheira, de amigo para amiga... E de mãe para filhos.

Nunca vou esquecer o exato momento em que conheci cada um de meus filhos.

Edward foi o primeiro. Estava ao meu lado durante todo o tempo de minha transformação e foi a segunda pessoa que conheci após o início de minha eternidade.

Posso dizer, sem qualquer sombra de dúvida, que nossa ligação foi instantânea e profunda. Eu o acolhi de braços abertos, o tomei como a um primogênito idolatrado, e a recíproca foi mais que verdadeira. Com seu jeito centrado e especial, Edward me acolheu e tornou-se, junto com Carlisle, minha família.

Nós éramos perfeitos juntos. Com tranquilidade e paciência um completava o outro, sendo o amparo e o conforto nas horas certas e necessárias. Então, em uma noite como outra qualquer, Carlisle chegou com meu outro tesouro. Rosalie.
 
Quando meus olhos pousaram sobre ela, eu fiquei desesperada. Ela estava tão machucada, tão entregue, tão... Indefesa! Seus lábios pronunciavam palavras incongruentes e ininteligíveis. Carlisle disse que ela estava muito ferida, e que só haveria uma chance de - tentar - salvá-la: se ele a transformasse em uma de nossa espécie, se ela se unisse à nossa família.

Um misto de sentimentos surgiu em meu peito. Rosalie era linda, uma das moças mais bonitas – senão a mais bonita – que eu já havia visto, mesmo no estado em que se encontrava, praticamente sem vida. Claramente ela vinha de boa família – era bem cuidada, com belas roupas – e tinha um futuro brilhante pela frente, digno de mocinhas de filmes de Hollywood. Pareceu-me tão injusto e cruel tirar-lhe essa felicidade!

Ao mesmo tempo, apesar de Carlisle e Edward estarem sempre ao meu lado e me darem toda a atenção e auxílio do mundo, algumas vezes eu me sentia só. Porque existem coisas que nós, mulheres, só conseguimos conversar com uma outra mulher, assim como existem coisas que só as mulheres conseguem realmente entender.

Dessa forma, juntando esse sentimento com o fator – decisivo – de que Rosalie não sobreviveria de outra maneira, eu concordei.

Foram três dias e três noites em que velei sua dor e sua agonia; estive ao seu lado nos momentos em que ela clamava para que a deixássemos morrer, gemendo que já havia passado por sofrimento demais. Vi a dor amenizar-se e sua transformação tornar-se visível, seu corpo se modificando, tornando-se ainda mais belo e perfeito. Quando suas pálpebras se abriram e seus olhos vermelhos observaram com curiosidade e apreensão o novo universo que se desvendava, eu também estava presente.
 
Eu sabia que Carlisle, no fundo, tinha esperanças de que Edward se encantasse por Rosalie, e dessa forma ela se tornasse para ele uma companhia, assim como nós éramos uma para o outro. Contudo, aquela altura eu conhecia meu filho bem demais, e sabia que Edward não estava interessado em encontrar um amor. Afinal, esse interesse só existe, só se exterioriza, quando estamos felizes com nós mesmos, satisfeitos e plenos com o que somos – o que, infelizmente, não era o caso de meu filho.

A rejeição não foi fácil para Rosalie. Ela já não era feliz com o destino que sua vida tinha tomado; seu coração era amargurado – com razão – em virtude de ter sido traída e maltratada pela pessoa a quem estava disposta a confiar o resto de seus dias, e com quem desejava criar uma família, ser feliz. Somando isso ao fato de não causar nenhum tipo de interesse especial em Edward – ela, que sempre teve o mundo inteiro a seus pés – acabou fazendo com que seu gênio difícil se tornasse mais evidente e sua característica mais marcante.

Essa foi uma época difícil. Rosalie não aceitava a sua nova situação e gritava aos quatro ventos que não teria escolhido aquela vida, se pudesse; Carlisle, por seu turno, se entristecia em saber que a decisão de transformá-la tinha partido dele, e que dessa forma havia fadado Rosalie há uma eternidade infeliz; e Edward, já há algum tempo contrariado com sua eternidade sem perspectivas, bem como com o nosso estilo “vegetariano” de ser, passou a intolerar as crises de Rosalie, o que culminou com sua saída de casa e mudança de estilo de vida.

É claro que eu fiquei arrasada com todos esses fatores. Mas, honestamente, não me importava com a minha dor. O que destruía minha alma era saber que meus filhos sofriam, que meu amado também sofria e que eu tinha as mãos atadas, sem poder fazer absolutamente nada para alterar aquela situação.
 
Da maneira mais difícil, entendi que ser mãe é isso: é não se importar com a própria dor ou o próprio sofrimento, contanto que seus entes queridos estejam bem e satisfeitos. É dar-lhes todo o carinho e atenção possível, sem querer ou cobrar absolutamente nada em troca. É desejar tê-los sempre por perto, mas aceitar e torcer para que sejam felizes quando desejam partir.

Foi isso que fiz, quando Edward nos deixou.

Porém, apesar de manter a aparência tranqüila, e de tentar deixar meu coração sereno, eu sofria com cada segundo que passava e eu não tinha notícias dele. Sofria quando via Carlisle ir até seu quarto e ler um de seus livros, apenas para sentir sua presença. Quando ouvia Rosalie citar, despretensiosamente, que “quando Edward estava conosco nós éramos mais felizes”.

Então, de repente, para minha alegria e alívio, ele retornou. Estava tímido e visivelmente arrependido, receoso que Carlisle não o aceitasse de volta.

Como se ele não soubesse que Carlisle, além do homem mais bondoso e generoso de todo o universo, também era o pai mais amoroso que poderia existir.

Foi uma alegria tão grande! Nunca pensei que pudesse sentir meu coração novamente, como se ele batesse em meu peito! Mais uma vez nós estávamos juntos e unidos.

O próximo filho que Deus colocou em meu caminho foi Emmet. Rosalie chegou em casa, uma tarde, com ele se esvaindo em seus braços, o sangue jorrando em abundância. Carlisle sempre fora o mais centrado, o médico, aquele que, há séculos, conseguia permanecer perto de sangue humano sem demonstrar qualquer tipo de dificuldade.

Eu não havia tido muitas experiências nesse aspecto, e tenho que admitir que temia fervorosamente o momento em que isso viesse, de fato, a ocorrer.
 
Mas no momento em que Rosalie desvencilhou-se de Emmet e implorou à Carlisle que o salvasse, dizendo que era muito importante para ela e que não conseguiria fazer isso, eu entendi que ali estava mais um filho meu, mais um ser que seria tremendamente importante em minha existência, além de perceber que ele faria Rosalie feliz.

Ali eu comecei a amá-lo, incondicionalmente.

Emmet mostrou-se descontraído, grato e completamente apaixonado por Rosalie, acalmando seu espírito e trazendo ainda mais paz às nossas vidas com sua companhia. Sua devoção por ela aumenta a cada dia, e tenho certeza de que continuará assim, para todo o sempre.

Depois chegaram Alice e Jasper.

Trazidos pelo dom de minha querida filha, que os visualizou vivendo em harmonia conosco - num estilo de vida totalmente diferente do que costumavam levar - eles renovaram a energia de nossa casa e adaptaram-se perfeitamente à nossa família, como se fossem as peças que faltavam em um grande e bem elaborado quebra-cabeça.

É difícil explicar a ligação que surgiu entre Alice e eu assim que nos avistamos; a sensação que senti, quando meus olhos pousaram sobre ela pela primeira vez, parada à porta de mãos dadas com Jazz, é que nos conhecíamos de outras vidas, e que ela havia sido minha filha, em todas elas.

Quanto à Jasper... É impossível que qualquer pessoa não o ame de primeira, e isso não tem nada a ver com seu poder de persuasão. Isso se dá porque Jasper é bondoso, inteligente e gentil... É prestativo e cavalheiro, sempre disposto a ajudar com um sorriso nos lábios e...

Ah, olha aqui a mãe babona, lambendo suas crias, novamente.

Nesse lindo quadro que nós havíamos pintado, eu só sentia falta de uma coisa: alguém que chegasse para finalmente trazer um pouco de tranquilidade a Edward, que sempre vagava sozinho, calado pelos cantos, perdido em seus devaneios com as mentes alheias.

Para minha surpresa e felicidade, Isabella foi muito, muito mais que isso.
 
Foi indescritível o momento em que Isabella aceitou Edward ao altar, numa cerimônia singela e calorosa, realizada em nossa casa, em Forks. A alegria estampada no rosto dos dois, o brilho de felicidade constante no olhar de ambos, o amor que emanava de todos os seus poros... Foi uma das cenas mais perfeitas que já tive a oportunidade de presenciar.

Isabella não só tornou-se mais uma filha para mim – e eu que pensei que meu peito explodiria se fosse contemplado com mais amor e felicidade – como me fez a pessoa mais realizada do mundo, ao me conceder a dádiva de ser avó.

Avó! Mãe, ao quadrado.

É impressionante como podemos nos apaixonar a primeira vista por um ser tão frágil e indefeso.

Renesmee – só o ecoar de seu nome, uma homenagem de valor imensurável que Bella fez a mim e à Renée, me causa arrepios – chegou para ser a luz de nosso lar, o objetivo de nossas vidas, a nossa esperança de continuar.

Sem falar que ela trouxe ainda mais felicidade à vida de Edward que, como era de se esperar, mostrou-se um pai fantástico: protetor, amoroso e compreensivo.

- Querida?

Saí de meus devaneios. A praia de águas tranquilas se estendia a minha frente, reluzindo à luz do sol do fim de tarde, um imenso arco-íris cortando o céu e se escondendo no horizonte.

Olhei para Carlisle, parado ao lado de minha espreguiçadeira. Ele sorria, um sorriso aberto e radiante. Sua pele reluzia levemente os raios do sol, milhões de pequenos pontos cintilantes brincando na areia.

Eu sabia que ele estava feliz, tanto quanto eu. Nós dois amávamos aquela ilha, tão especial e fonte de lembranças marcantes e maravilhosas. A minha ilha.

- Oi, querido.

Ele se sentou ao meu lado, segurando minha mão. Inconscientemente tratei de aconchegar meu corpo ao dele, que me envolveu com seus braços e enterrou o rosto em meus cabelos.

- Parabéns pelo seu dia, mais uma vez. - Sua voz saiu rouca em meus ouvidos.

Fechei os olhos e sorri, assentindo silenciosamente com a cabeça.
 
- Nosso dia. Se eu sou mãe, é somente porque você tornou isso possível.

Virei-me de frente para ele. Sua mão acariciou meu rosto e sues lábios tocaram os meus, delicadamente.

- Eu amo você. Todos os dias agradeço por ter tomado a decisão certa, tantos anos atrás. Agradeço por você ter cruzado meu caminho, pois nenhuma outra mulher se igualaria a você, Esme. Você é o coração de nossa família, como Edward costuma dizer. Sem você, nada disso seria possível.

Meu Deus, como eu sou feliz. Chega a ser afrontante.

- As crianças estão todas lá dentro? - Perguntei, fazendo Carlisle sorrir diante de meu comentário.

- Sim, as crianças estão lá dentro, e estão chamando você. Parece que Renesmee quer contar uma novidade e quer que estejamos todos presentes...

- Na verdade, estamos aqui.

Afastei-me de Carlisle e olhei na direção da varanda. Todos estavam ali, meus filhos, queridos e amados: Jasper, Alice, Emmet, Rosalie, Edward, Bella e Nessie. E, claro, Jacob, mais um filho que meu coração adotara.

Bella usava um colar de ouro branco, presente de Edward para aquele dia, com um pingente que carregava a foto de Renesmee dentro.
 
- Carlisle disse que você quer contar uma novidade, Nessie? – Falei, me levantando. - Fale querida, estamos ansiosos.

Todos olhamos para ela. Jacob aproximou-se mais e segurou sua mão, numa forma silenciosa de lhe dar apoio.

- Bem, eu queria dizer que eu... Que nós... Estamos grávidos.

Num primeiro segundo o silêncio fez-se presente, todos absorvendo aquela notícia tão especial e magnífica. Então todos começaram a falar ao mesmo tempo; Isabella a abraçou com força, seguida de Edward e Rosalie. Carlisle cumprimentou Jacob, seguido por Jasper e Emmet. Todos se abraçavam, e sei que estariam chorando, se pudessem.

Lágrimas de felicidade.

Nessie encontrou um espaço, percorreu a distância curta que havia entre nós e me abraçou. Pousei a mão sobre seu ventre – ainda liso – e sorri.

- Essa criança será muito, muito amada.

Renesmee me olhou. Uma lágrima rolava sobre seu rosto, representando o sentimento de todos nós.

- Sim, será. E ela terá a bisavó/avó/mãe mais perfeita de todo o mundo.

Levei minha mão até sua face e sequei a lágrima teimosa.

- Parabéns, Renesmee. Feliz dia das mães, querida. Pela primeira vez.

- Obrigada, Esme. Para você também.
 
Música: Somewhere over the rainbow - Somewhere Over The Rainbow

"Somewhere over the rainbow
Way up high,
There's a land that I heard of
Once in a lullaby.
Somewhere over the rainbow
Skies are blue,
And the dreams that you dare to dream
Really do come true.

Someday I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far
Behind me.
Where troubles melt like lemon drops
Away above the chimney tops
That's where you'll find me.

Somewhere over the rainbow
Bluebirds fly.
Birds fly over the rainbow.
Why then, oh why can't I?

If happy little bluebirds fly
Beyond the rainbow
Why, oh why can't I?"
 
 
Música/Tradução: Em algum lugar além do arco-íris

"Em algum lugar além do arco-íris
Lá no alto,
Há um lugar do qual ouvi falar uma vez
Em uma canção de ninar.
Em algum lugar além do arco-íris
Os céus são azuis,
E os sonhos que você ousa sonhar
Se realizam de verdade.

Um dia vou fazer um desejo para uma estrela
Acordar onde as nuvens estão bem atrás de mim.
Onde os problemas se derretem como uma gota de limão
Onde você ultrapassa o alto das chaminés
É lá que você vai me encontrar.

Em algum lugar além do arco-íris
Passaros azuis voam.
Pássaros voam sobre o arco-íris.
Por que então, por que eu não posso?

Se passarinhos azuis voam felizes
Além do arco-iris
Por quê, por quê eu não posso?"
 
Nós voltamos a nos abraçar e meus olhos alcançaram a paisagem perfeita, que começava a desaparecer, vagarosamente. Eu tinha certeza que não havia ninguém, não só além daquele arco-íris como em todo o universo, que fosse mais feliz que eu.

Porque não há nada melhor do que ser mãe e amar - e ser amada - incondicionalmente, por toda a eternidade.


FIM.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!

Espero comentários, ok?!?!

Beijo enorme!


Love all,

Cat.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Além do Arco-íris" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.