Bakugou olhou para Midoriya que concordou maneando a cabeça para cima e para baixo.

— Obrigado, Midoriya… — agradeceu novamente, era a única vez que o esverdeado ouvia seu nome da boca do amigo.

— Sabe que não precisa me agradecer, mas uma hora as pessoas vão descobrir. 

— … Eu sei… — foi a única coisa que o loiro respondeu enquanto trocava de roupa. — Pode ir indo. — alertou.

Izuku não respondeu, apenas saiu do vestiário sem trocar olhares com o amigo.

[...]

— Izuku… — chamou Tsuki sem graça — Eu estou errada?

— Como assim, Tsukicchan?

— Eu sinto que esse não deveria ser meu corpo.

— E qual deveria ser seu corpo? — Midoriya perguntou curioso e sem entender.

— O de um garoto. Eu queria ser um garoto.

— Todo dia? 

— Todo dia.

— Então você não gosta de Tsuki?

— Eu gosto de Tsuki, mas não combina com garoto. — explicou lembrando do quanto sua mãe amava seu nome.

— Isso é estranho… — comentou o amigo — Mas se você não gosta de ser garota, podia cortar o cabelo e mudar de nome.

— É… Eu já pensei em cortar o cabelo… — comentou pegando uma mecha do seu longo cabelo solto.

— O que acha de Katsuki?

— Katsuki? 

— É. O Tsuki continua, mas ainda é um nome novo.

— Katsuki… — murmurou testando o novo nome — É. Gostei! — concordou animada — Você podia me chamar como se eu fosse um garoto agora. 

— O que acha de Kacchan? — o loiro riu.

— Horrível, mas combina com você, Izuku.

— E você vai contar pra tia Mitsuki?

— Não. Se você me chamar assim eu já vou ficar feliz.

Midoriya concordou com um sorriso.

Bakugou suspirou deitado em sua cama, detestava ter confiado em Deku primeiro na mesma proporção que era agradecido de ter recebido o apoio do garoto. Se não fosse por ele, não teria tido coragem de conversar com os pais um ano depois.

Mitsuki nunca aceitou muito bem, sua relação com sua mãe desandou, enquanto seu pai o apoiou sempre. Analisando, ele parecia já saber da situação, mas nunca questionou sobre isso.

De repente, o nome que parecia ser tão perfeito pareceu ter perdido o sentido com o passar da turbulenta relação com sua mãe, mas tinha um significado diferente quando lembrava de seus momentos de apoio com o amigo.

Suspirou irritado com as lembranças e escutou seu celular vibrar.

Deku: Pode ir tomar banho.

Bakugou: Valeu nerd

Mensagem visualizada.

Pegou uma muda de roupa e pegou o elevador para o banheiro, sendo interrompido por alguns colegas no caminho. Assim que chegou no banheiro olhou para a porta e assim que julgou seguro começou a tirar sua blusa.

— Ei, Bakugou! — gritou Eijirou abrindo a porta, sendo surpreendido ao ver aquela coisa no corpo do loiro.

— Kirishima!? — gritou desesperado e abaixou sua blusa.

— O que é isso em você? — perguntou curioso enquanto se aproximava do loiro.

— Saia daqui. — sua voz rouca e nervosa era visível enquanto sua mão causava mini explosões.

— Hã? Mas Bakugou-

— Eu estou falando para sair daqui. — repetiu ainda em tom baixo, mas agora com a mão apontada na direção do ruivo, pronta para o disparo da individualidade.

— Entendi, entendi. — avisou desesperado e saiu às pressas do local. — O que deu nele? — se perguntou após fechar a porta.

[...]

As batidas ecoaram pelo quarto de Midoriya e ele correu para abrir a porta em meio ao seu aviso de que já estava indo.

— Kacchan? — questionou surpreso ao abrir a porta. — Aconteceu alguma coisa?

— Podemos… Conversar..? — perguntou envergonhado e desviando o olhar.

— Entra. — pediu Izuku e Katsuki riu do quarto.

— Você devia parar de ser um otaku, não vai conquistar ninguém desse jeito. — comentou ainda rindo e Midoriya ficou em silêncio, não iria comentar que estava tendo um caso com alguém, pois aquele não era o objetivo da conversa.

— Aconteceu alguma coisa, Kacchan? — questionou preocupado.

— Kirishima…

— Kirishima? O que tem ele?

— Ele viu… O binder, ele viu o binder…

— Ah… — murmurou o amigo, ele sabia que cedo ou tarde alguém iria descobrir.

— O que eu faço, Deku..? Eu, eu, eu… — repetiu sem saber como se expressar — Eu não queria que ele descobrisse…  — explicou com desgosto.

— E por que não? — perguntou surpreso.

— Porque ele gosta de mim. — respondeu e Izuku viu algumas lágrimas caírem pelo rosto do amigo.

— E o que isso tem haver? — o esverdeado indagou mesmo sabendo a resposta.

— Você é burro, Deku!? Acabei de falar que ele gosta de mim! A gente beijou! Sei lá quantas vezes! Eu gosto dele! Ele-

— Ah, então o problema não é ele gostar de você. — Midoriya cortou a fala do amigo sorrindo — O problema é que você está com medo de explicar a ele que é trans e ser rejeitado.

Bakugou virou o rosto para o lado sem graça em ser desmascarado dessa forma. Odiava o quanto Deku, na verdade, era inteligente.

— Cala a boca. — disse da boca pra fora.

— Nem pensar. Você vai ir conversar com o Kirishima sim! Você não pode deixar ele no escuro desse jeito! E muito menos querer se enganar com um relacionamento que não vai funcionar se ele não te aceitar! Se for pra terminar isso, termina agora, não depois, Kacchan.

Katsuki olhou surpreso para o esverdeado. Desde quando ele sabia de alguma coisa?

— Tch. — estalou a língua irritado.

— Kirishima não vai te odiar e nem te rejeitar, Kacchan. Mas você precisa entender que ele também tem sentimentos. Como você se sentiria se ele escondesse um segredo importante de você?

O loiro ponderou sobre as palavras do amigo e se levantou limpando o rosto com a ponta da blusa. 

— Vou pensar no que fazer. — avisou, mas ambos sabiam que saindo dali o garoto iria direto para o quarto de Eijirou.

Midoriya suspirou e sorriu feliz que iria compartilhar aquele segredo com mais alguém.

[...]

— Ei, Kirishima! — Bakugou gritou abrindo a porta, assustando o ruivo dentro do quarto.

— Bakugou? — questionou enquanto passava alguma coisa dentro da luva de boxe que o loiro não soube definir, mas presumiu ser para o suor.

— Podemos conversar? — perguntou irritado por estar repetindo aquela pergunta naquela noite.

— Sim. Senta aí, cara.

Antes de se sentar, Katsuki fez questão de tirar sua blusa, deixando a mostra o que despertava a curiosidade do ruivo.

— Você quer saber o que é isso, certo? — perguntou apontando para o binder e sentou-se no chão, apoiando as costas na cama.

— Claro que quero. — afirmou deixando as luvas de lado e se sentando no chão também.

— Isso aqui é um binder, ele serve para diminuir o volume do peito.

— Diminuir o volume? Não entendi. Você se incomoda com o tamanho dos seus?

— Sim. Eu não queria contar, mas eu sou trans, Kirishima. Um homem trans.

— Homem trans? Você?

— É. Peitos grandes demais aqui. — disse apontando para os seus. — E uma buceta aqui em baixo. — apontou para baixo — Entende?

— Cara… É uma informação bem grande pra mim… — Eijirou comentou sem graça. — Alguém mais sabe disso? 

— Deku sabe. Ele que me ajudou quando nos mudamos. E meus pais, eles me levaram para tratamentos médicos para entenderem e poderem me ajudar.

— Então eu sou a quarta pessoa a ficar sabendo? — questionou surpreso.

— É… Mas agora que você sabe disso tudo…  — começou sem graça — Você me acha menos másculo?

— Quê? Como assim, caralho? — perguntou e bateu suas mãos, fechadas no formato de soco, uma contra a outra — Isso só mostra o quanto você é o homem mais másculo que eu já conheci! — respondeu empolgado e viu o sorriso de Katsuki pela primeira vez desde que o rapaz tinha entrado em seu quarto.

— Você… Ainda gosta de mim..?

Kirishima pegou a mão de Bakugou e o puxou para cair em cima de si, então  rolou os corpos de maneira a ficar por cima e beijou o rapaz.

— Eu te amo, Katsuki Bakugou. — confessou. — Mais do que você imagina. Você é incrível, é forte e é o homem com quem eu quero chocar a mídia falando que é meu namorado.

— Você o quê? — o loiro indagou preso na surpresa.

— Ah… — o ruivo se deu conta de suas palavras e riu sem graça — Acho que agora já foi… Quer namorar comigo, Bakugou?

Katsuki concordou sorrindo e beijou seu, agora, namorado.