E lá estava ela, a "senhorita maravilhosa". A filhinha do diretor, namorada do capitão do time de futebol da escola, a líder de torcida. A garota mais popular e bonita da escola. Bem... A segunda mais bonita. Ela saltava e fazia poses no treino das líderes de torcida. Se exibindo para todos como um simples pedaço de carne.

Eu? Eu sou a garota prodígio. As melhores notas de toda a escola, presidente do Grêmio Estudantil, líder do clube de esportes, aluna bilíngue. A garota mais bonita da escola e que trouxe inúmeros prêmios para esta: estadual de química, matemática, feira de ciências, de esportes interescolares, além de muitos outros.

Durante toda a minha vida, mais ainda quando entrei nessa escola, estive no pé da Eliza. Sempre estando em sua frente em tudo e sendo a mais notada. Além de pegar em seu pé para que valorizasse tudo o que tinha.

"Eliza Cooper e Heloíse Miller, por favor, compareçam a sala do Diretor. Eliza Cooper e Heloíse Miller, por favor, compareçam a sala do Diretor."

E mais uma vez nossas brigas haviam se resultado em uma ida a sala do Diretor Cooper. Eliza bufou furiosa e me olhou feio, fazendo um escândalo para sair do lugar e andar para fora da sala. Eu saí do meu lugar com classe, coisa que ela não teria nem em um milhão de anos.

— Isso é tudo culpa sua.— Eliza rosnou para mim enquanto andávamos lado a lado para a sala da direção.

— Minha? – Disse de forma seca, olhando para frente e com uma sobrancelha erguida. – A culpa é sua se não se dá valor. Imagina o que aconteceria se o Diretor Cooper soubesse que a filhinha dele não passa de uma vagabunda que se oferece como um pedaço de carne aos olhos de todo mundo. Não é a garotinha boa e santa que ele pensa que é. – Sua expressão endureceu. – Você é uma vergonha Cooper. – Cuspi.

— Eu te odeio Heloíse, com todas as minhas forças. – Revirei meus olhos, minha expressão não mostrava nada além de desgosto.

— Quase que eu me importei.

Na sala do Diretor Cooper, ambas ouviram um sermão de quinze minutos. Enquanto Eliza se sentava como uma criança emburrada na cadeira, eu mantinha minha postura elegante e encarava a parede atrás do homem. Ouvia cada palavra, analisava e montava argumentos.

— Eu estou decepcionado com você, minha filha. – Meu coração gelou e tropeçou uma batida. Olhei para o homem e vi que ele se dirigia a Eliza, redirecionei meu olhar para a parede e me recompus ao meu “devido lugar”.

— Mas, pai – Eliza protestou – foi a Miller que começou. – O Diretor Cooper rosnou.

— Por que você não pode ser como a Heloíse? – Olhei para minhas mãos depositadas em meu colo. Os olhos turquesa da garota estavam com o dobro de tamanho. 

— Por que você sempre a protege? A sua aluna favorita!

— Olhe para ela Eliza! – Ele disse firme, calando-a. – Heloíse Miller trouxe muitos prêmios a essa escola. É a garota mais inteligente, esforçada. Sempre se destaca em tudo o que faz. Você não poderia tentar ser um pouco como ela? – Eliza fechou a cara.

— NUNCA! – Berrou. – Essa va-...

— O que aconteceu na quadra, Heloíse? – O Diretor Cooper interrompeu a filha e foi em direção à janela. A expressão da garota estava congelada em horror e me olhou desesperada, e eu apenas retribui seu sentimento com um sarcástico sorrido de lado. Você está em minhas mãos, Eliza Cooper.

— "Por favor..." — Ela mexeu os lábios. Que prazer assistir isso.

— Eliza se acidentou durante o exercício, eu quis ajudar. Acabamos nos desentendendo e começamos a brigar. 

— Um desentendimento? – O homem me olhou curioso.

— Eliza achou que eu estava zombando dela, por não conseguir manter seu peso em suas mãos. – Disse de forma séria.

— Certo – ele suspirou alto e forte – apenas um acidente. Está bem Eliza?

— Sim, pai. – Seus joelhos batiam um no outro, por conta da tremedeira. – Apenas um roxo na perna, mas já passei uma pomada.

— Ótimo. Que brigas como essa não se repitam. – Assenti com a cabeça, olhando em frente. – Senhorita Miller, preciso do relatório semanal dos alunos da sua turma. Está com ele?

— Tenho uma cópia no celular, senhor. – O Diretor concordou com a cabeça e olhou a filha.

— Pode ir para sala, Eliza. Mais tarde falamos sobre seu comportamento. – A garota se levantou com raiva.

— Falamos também para a mamãe como você preferia que eu fosse uma idiota como a Heloíse. – Olhei de canto para Eliza e arqueei minha sobrancelha, como se a desafiasse. 

— Eu não tenho medo de falar, Eliza. — Murmurei para ela, enquanto o Diretor massageava as têmporas.

— Até mais tarde. – Ela saiu da sala e a secretária deu o sinal, avisando que estávamos sozinhos, fechando a porta.

— Heloíse, meu amor, me perdoa. – Ele se levantou e veio até mim, me puxando para um abraço.

— Está tudo bem, papai. – O abracei rapidamente e o soltei. – Sei que a minha irmã tem uma péssima educação.

— É impressionante como nós dois temos muito mais a ver. Eliza se parece mais com a mãe. – Concordei. – Vi suas notas das últimas provas, como sempre, o Sol da academia.

— Faço o meu melhor. – Dei o meu sorriso mais teatral.

— E isso me deixa extremamente orgulhoso. Você é muito especial, Helô.

Se isso te orgulha tanto... Se eu sou tão especial, porque eu sou um segredo? Por que você não me assume, pai?

Eu preciso sempre ver você escondida, e preciso sempre fingir meu contentamento com a situação. É horrível fingir que tudo está bem como está. A cada dia que se passa, mais decepcionada e distante eu fico de você. Será que, também, não vê os “crimes” de Eliza e seu namorado? Eu seria uma filha autêntica muito melhor do que ela, afinal, eu sou sua primogênita.

Não sou eu quem deveria ser a bastarda...

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