Good Morning Call 2 escrita por Buttercup


Capítulo 14
Somos Um Só




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POV Rachel

Eu estava correndo implacavelmente. As pessoas me olhavam assustadas como se eu tivesse numa missão policial de filme. Bem que eu queria que fosse. Queria que tudo não passasse de uma mentira. Queria ainda morar com Garfield, mas com ele normal, não todo alterado como nos últimos dias. Eu estava hesitante para vê-lo, mas não quero me arrepender depois.

Chegando ao hospital, eu estava ofegante, com as bochechas quentes e os olhos ardendo. Sabe quando a garganta tem um nó e você mal consegue falar? Pois é isso que estava sentindo naquela hora. Meu coração batia desgovernado e meu estômago está prestes a explodir.

— Com licença... Onde está internado o Garfield Mark Logan? - Perguntei ao recepcionista, um simpático homem de bigode preto e monocelhas.

O homem de meia-idade procurou no sistema do hospital pelo computador e se virou para mim.

— Hum... Garfield Logan... Andar 2, quarto 30.

— Obrigada! - Ele mal acabou de falar e eu já saí correndo, o mais rápido que podia. Estava cansada, trêmula, mas estava sendo movida pelas emoções.

O elevador parece que nunca foi tão lento. Tinham algumas pessoas comigo, então tinha que segurar o choro. Cara, nunca achei que fosse tão difícil esconder as emoções.

Quando cheguei ao andar 2, rumei para o quarto de Garfield. O médico tinha acabado de sair de lá.

— Com licença, doutor... - Estava ofegante. - Como está o Garfield?

— Fora de perigo. Só perdeu sangue e tem alguns machucados. Só precisa ficar em observação por um tempo e...

— Eu poderia vê-lo?

— Sinto muito, mocinha. Apenas pessoas da família. Você é o que dele?

Eu engoli em seco. O que eu iria dizer? "Sou a namorada que foi abusada por ele e agora está aqui". Bem, tecnicamente ex-namorada. Mas se eu dissesse isso, acho que não poderia vê-lo.

— Sou namorada dele.

Ele arqueou uma sobrancelha e deu um sorrisinho.

— Bom, pode entrar então, mocinha.

— Rachel. - Corrigi. - Meu nome é Rachel.

— Ah, sim! Me desculpe, Rachel. - Ele ficou sem jeito. Acho que respondi muito ríspida, mas estou nervosa. - Fique à vontade!

Agradeci e ele fechou a porta.

Estava sentada ao lado da primeira pessoa por quem me apaixonei. Suas feições estavam arranhadas e ele estava recebendo sangue. Os batimentos cardíacos estavam normais, mas ele tinha um tubo de respiração. Estava muito preocupada. Ele ainda estava desacordado.

— O-Oi, Gar. - Falei, meio envergonhada por dentre tantas pessoas para vê-lo, justamente eu estava lá. - Eu sinto muito pelo que aconteceu... - Respirei fundo e os olhos arderam mais ainda. - Só quero que saiba que quero que você melhore logo...

Agora eu nem ligava mais. Comecei a chorar copiosamente. Eu não poderia usar minhas visões quando estava agindo por intensas emoções. Mas acho que fiz bem em ter vindo. Pelo menos, nunca irei me culpar. Eu sei que arrependimento mata.

— Seu bobo... Não quero perder você. - Eu dizia, acariciando os machucados do rosto dele. A pequena barba dele roçou nos meus dedos e fiquei emocionada ao ver que aquele menininho estava se tornando um homem.

Eu chorava de soluçar. Isso era estranho pra mim. Mas acho que preciso ficar ao lado dele, até o fim.

Segurei a mão dele e apertei forte. Ele não retribuiu. Estava inconsciente. Deitei a cabeça no peito dele e chorei, chorei muito.

— Garfield... Garfidiota. - Voltei a usar o velho apelido de quando morávamos juntos no começo. - Não morra... Eu preciso de você! Eu ainda amo você, seu idiota!

Eu não sei se minha vergonha era maior chorando ou confessando aquelas coisas em voz alta.

— Sei que você errou, mas... - Um soluço me fez parar por um instante. - Eu ainda amo você! Eu sei que havia algo de errado com você! Sei que você vai melhorar se sair dessa, que eu sei que vai!

Nesse instante, os batimentos pararam. A minha espinha gelou tanto que achei que estava no pólo norte e eu não estava no meu corpo. Aquele "piiii" horrível que sabia o que significava ecoava por todo meu corpo.

— Não... NÃOOOO! - Gritei e comecei a chorar novamente no peito dele. Apertei a mão dele com mais força.

Lembranças de tudo que passamos vieram à cabeça. Quando nos mudamos, quando brigávamos, quando senti ciúmes, quando nos beijamos pela primeira vez, quando começamos a namorar... e depois o quase estupro. Minha cabeça gira, meu coração está dislascerado. Minhas têmporas doem e eu queria tanto que fosse porque ele estava me incomodando em cada.

— Garfield... Gafield... Não me deixe... - Eu falava entre soluços, mesmo após o "piii". - Eu amo você... Eu amo muito você! Preciso de você! Você é especial pra mim, pros seus pais, pros amigos... Eu quero você ao meu lado, Garfidiota! Ainda não chegou sua hora!

Nesse momento, o "pi" parou e os batimentos voltaram. Eu derramei uma lágrima de emoção. Era um milagre! A mão que eu segurava apertou a minha e eu cobri a boca quando isso aconteceu.

Como eu... poderia deixar minha feiticeira? - Ele falou com dificuldade, mas sorria. Ele mesmo tinha tirado o respirador.

Eu cobri a boca com as mãos e meu rosto chegava a formigar de tanto chorar. Mas não queria nem saber. As lágrimas agora eram de alegria.

— GARFIDIOTA! Nunca mais me assuste desse jeito! - Eu o abracei e ele, mesmo com dificuldade, retribuiu.

— Claro, gatinha... - Respondeu ele, ainda com dificuldade.

Depois que nos desgrudamos, ele se desculpou apropriadamente pelo quase estupro. 

— Já passou. E... Sinto muito pelos meus pais...

— Tudo bem, eu mereci. - Respondeu ele, de boa. - Além disso, tô fazendo terapia para me ajudar a entender o que acontece dentro de mim.

— Você cresceu tanto... Que orgulho! - Eu afaguei o cabelo verde dele.

— Ei! Parece minha mãe falando! - Ele entrou na brincadeira.

— E... Você está melhor?

— É... Tá funcionando. Tô tentando entrar na linha de novo.

— E quanto ao acidente... Como foi?

E ele me explicou tudo, tintim por tintim. Fiquei imaginando a cena, horrorizada. O pobre Garfield se machucou duas vezes no mesmo dia.

— E você acha que ainda temos chance?  - Brinquei com os dedos, achando que ele não iria ouvir.

— Receio que ainda não. Ainda não amadureci o suficiente. Quando eu melhorar, aí posso pensar no seu caso.

— Uii, convencido! - Dei risada. - Você está certo. Vamos focar em outras coisas, não apenas no namoro.

— Mas saiba que eu ainda te amo pra caramba, marrenta. - Ele acariciou meu rosto com delicadeza. Saudades desse toque sutil.

— E eu com certeza não esqueci você, esquentadinho. Nunca poderia esquecer alguém que significa tanto pra mim. - Eu segurei a mão dele, enquanto ele me fazia carinho.

Nós dois rimos, aliviados. Estava tudo bem. O clima estava perfeito de novo. E não queríamos estragar nada. Por parte, estou aliviada por darmos um tempo. Preciso focar em outras coisas e eu andava distraída por conta do namoro. Também precisava amadurecer. Por outro lado, vou sentir saudades dele.

— Por enquanto, seremos amigos, tá bom? - Ele piscou. - Se bem que não sei se vou conseguir ser só amigo da minha crush.

— É... Vamos ter que conseguir. - Eu ri, nervosa. Na real, nem eu sei se vou conseguir.

Ele beijou minha mão, pois não poderíamos dar selinho por enquanto. Eu me retirei, desejando que melhorasse logo. O médico entrou logo em seguida e eu ouvi atrás da porta:

— Parece que está melhor... - Disse o doutor. - Foi sua namorada, não é?

Engoli em seco e fiquei ali para ver o que ele diria em seguida.

— Na verdade, ela é um anjo. - Respondeu Garfield e me senti aliviada. Bom saber que eu ajudei na recuperação dele. Não como namorada, mas como uma amiga especial. Sei que deveria me sentir meio triste, mas eu não podia estar mais feliz.

Saí sorrindo de lá até na entrada, onde o recepcionista ficou me observando. Engraçado. Há alguns minutos, entrei correndo por aquela porta, desesperada, e agora estou aqui de novo, com o coração tão leve... Que sensação maravilhosa e acalorada.

O homem de meia-idade me perguntou:

— Parece que deu tudo certo com ele.

Eu retribuí, com um sorriso:

— Deu tudo mais que certo. - Era verdade. Me sentia bem e ele também. Meu coração agora estava aconchegado com o dele. 

Era uma ligação poderosa. Podia sentir que nossas almas se completavam, não somente como namorados, mas como pessoas. Eu sabia que éramos um só.

 


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