Toda história tem um começo, porém não saberia dizer qual seria o da minha. Não lembro qual dia eu nasci, meu nome ou o dos meus pais, irmãos, primos, tios e avós ou quem eles são ou se existem... Como eu gostaria de poder recordar essas coisas... Entenda, eu não tenho um álbum de fotografias com fotos do meu aniversário de 1 ano ou do meu baile de formatura ou com a minha família. Na verdade há uma coisa que eu me lembro, minha vida na Hydra.

Há vários buracos na minha memória, cortesia da cientista Anelise Zola. Ela direcionou pequenas descargas elétricas em pontos específicos do meu cérebro até eu esquecer toda a minha vida antes da Hydra. A partir desse dia fui criada e treinada para ser uma máquina assassina, tudo que eu conheço e sei fazer é para concluir a missão, além de passar pelo “sistema educacional” da Hydra... Isso não interessa no momento. Esse processo que acabei de dizer rapidamente, durou anos, não havia margem de falha.

Chega de falar sobre o “passado”, irei contar  melhor depois, agora preciso...

— Senhora, eles estão se aproximando. Tempo estimado de 5 min para invadirem – um dos agentes diz.

— Agente 8712! – a “Senhora” me chama.

— Sim? – digo firme com postura de soldada.

— Sua missão é eliminar todos os invasores, sem falhas! – não demonstro nenhuma reação e a líder da base se aproxima de mim e fala no meu ouvido- Você compreendeu? – vejo que ela coloca o polegar sobre o botão do  pequeno dispositivo. Fico em silêncio – Você acha que tem escolha? Lembra de quando você foi tola ao tentar fugir? Você lembra o que aconteceu? Monstros só sobrevivem em jaulas – ela diz sussurrando.

Por dentro, eu quase me desestabilizei, mas por fora não mudei um detalhe da minha expressão séria ou da minha postura de soldada. Porém, ela pressiona o botão do dispositivo e sinto um choque percorrendo pelo meu corpo inteiro, a dor é muito intensa como se a corrente elétrica estivesse fritando os meus nervos e o meu cérebro. Isso foi o que eu ganhei depois da minha tentativa de fuga, pequenos adesivos de metal colados nas minhas têmporas e em diversas partes do meu corpo para que em caso de qualquer desobediência eles pudessem me matar ou convencer a fazer o que eles querem.

Entendam, possuo uma noção de certo e errado e tudo que eu fiz para eles foi errado... Mesmo após a forte “educação” e influência que recebi deles, há uma voz na minha cabeça dizendo que todas as atitudes tomadas pela Hydra e por mim, são no mínimo horríveis e sei que serei presa por isso algum dia... Espero que isso aconteça. Entretanto, não tenho escolha no momento, acredite eu já tentei me matar para dar um fim nisso, porém eles não deixaram me concluir o ato... Somente me resta executar suas ordens.  

— Compreendo -falo com a voz mais firme que posso naquele momento.

Nova Iorque, QG dos Vingadores, sala de reuniões, 48 horas antes da invasão.

— Nessa manhã Friday localizou uma base da Hydra na Noruega, no vilarejo de Gudvangen – Stark começa a falar e mostra algumas imagens da instalação que surgem no centro da mesa, porém não estava prestando atenção- As informações que consegui hackear deles não são muito boas...

— Vá direto ao ponto Tony – Steve diz calmamente.

— A vida de casados está estragando o seu humor– olho para o Tony séria e definitivamente com a paciência esgotada- Ok, já entendi Romanoff – diz sarcástico- Bom, descobri que a 20 anos atrás eles deram início a procedimentos experimentais em crianças mas todas morreram, não aguentaram todo o processo envolvido que não precisa ser detalhado por motivos óbvios. Mas, não há dados de nenhum experimento a 10 anos atrás...

— Ou seja, uma criança sobreviveu – diz Clint com um misto de fúria e tristeza no olhar.

— Exatamente – diz Stark

— Quais habilidades o pequeno humano adquiriu? -pergunta Thor.

— Velocidade e força aumentada, faseamento, auracinese, umbracinese e telecinese – Banner responde.

— Em inglês por favor -diz Steve.

— A criança é um Capitão América que atravessa paredes com uma alma gótica – Stark responde com o seu bom humor de sempre.

— Mas isso é o que ele pode ser, não necessariamente atingiu toda a sua capacidade – diz Banner.

— Bom, então estejam prontos para partir amanhã , a missão é destruir a base, recolher informações e tentar trazer ele para o nosso lado. Estão dispensados – diz Steve.

Todos, menos eu e Steve, saem da sala. Permaneço sentada na minha cadeira perdida em pensamentos... Essa semana não foi fácil para nenhum de nós dois. Ontem fez o aniversário de 10 anos do sequestro  da nossa filha, Aleksandra Sarah Romanoff Rogers. O meu maior medo e de Steve havia se concretizado, sabíamos que algum dia nossos inimigos viriam atrás de nós para se vingar, mas sempre pensamos que o objetivo seria matar ou torturar um de nós dois. Estávamos enganos, o prêmio era a pequena Sasha de 5 anos.

Ela simplesmente desapareceu, a SHIELD, Vingadores, eu e Rogers procuramos ela por anos, mas todas as pistas se esfriavam, não sei se algum dia chegamos perto de encontrá-la. Depois de tantos fracassos, a agência de espionagem e a equipe de heróis cessou a investigação e deram ela como morta, mas  nunca perdi a esperança de encontrá-la. Desde o momento que segurei ela em meus braços, eu soube que realmente poderia ser uma pessoa melhor, esquecer do meu passado cheio de mortes e ter a chance de fazer algo bom. Não estou dizendo que meu trabalho com os Vingadores não me ajudou a superar as coisas que fiz, mas ajudar na criação de um pequeno ser humano e sentir esse tipo de amor inexplicável que uma mãe tem pelo seu filho, era uma cura para as minhas feridas abertas e a experiência que eu nunca poderia imaginar de desfrutar algum dia.

— Natasha! -ouço Steve me chamar mais alto.

— Desculpe, não estava atenta.

— Eu notei, você não falou absolutamente nada durante a reunião – disse calmo- Eu sei que é difícil – Steve senta do meu lado – Não desistimos de procurá-la e você sabe que toda missão é uma chance de chegarmos mais perto dela – concordo com a cabeça e seguro as lágrimas que teimavam sair.

— Por acaso temos a identificação do aprimorado?

— Não há nenhum tipo de informação sobre ele ou foto, provavelmente ele estará na linha de defesa da Hydra.

— Eu já vou pra casa, me avise quando sair daqui – vou me levantando para ir embora.

— Natasha! – me viro para Steve e ele vem me abraçar – Você sabe que eu te amo, certo? – ele me olha nos olhos e deposita um selinho nos meus lábios.

— Também te amo! -sorrio e uma lágrima escorre no meu rosto, mas rapidamente ele a enxuga.

Base de Hydra em Gudvangen, 5 min para a invasão dos Vingadores.

— Quero todos os homens e tanques na entrada. Peguem todas as armas e munição que precisarem. Nenhum deles pode entrar nessa instalação, entendido? -falo alto para todos escutarem.

— São os Vingadores! Eles vão nos matar antes de pensarmos em atirar! – um dos soldados grita e larga a arma no chão, antes que alguém sequer pensasse em fazer o mesmo dou um tiro na cabeça no covarde.

— Mais alguém pensa em fazer o mesmo? – digo calma e sarcástica para o resto do batalhão, me viro e vejo a Senhora com um sorriso sombrio de aprovação – Ótimo! Então vamos!

Todos nós nos dirigimos para onde os Vingadores iriam atacar primeiro, estava usando meu uniforme preto com algumas partes rochas escuras nas laterais e meu capuz de mesma cor, além da máscara preta que cobria minha boca e nariz. Carregava no meu cinto amarrado na minha  cintura duas pistolas, duas facas e mais munição, também levava duas espadas presas nas minhas costas e nas mãos um fuzil.

Natasha On

Estacionamos o quinjet afastado da área prevista para a batalha, Clint acionou o modo camuflagem e abriu as portas do transporte para descermos. Estava focada em acabar com a defesa da Hydra o mais rápido possível para buscar informações sobre Sasha ou tentar descobrir uma nova pista, nunca desistirei da minha malêchk. Stark foi fazer o reconhecimento aéreo para não termos surpresas quando chegarmos.

— Capitão, acho que já reconheci nosso aprimorado... É uma garota?! -Stark diz no comunicador muito surpreso – Eles estão em formação, só esperando a festa começar – fala sarcástico.

— As melhores guerreiras de Asgard são mulheres, Homem de Lata. Não compreendi o seu choque – diz Thor.

— Machismo não faz o seu feitio, Tony -digo pelo comunicador.

— Não pessoal, Jarves analisou a estrutura corporal dela e fez uma estimativa de que ela tem 13 a 15 anos de idade. E ela é bem sinistra! -diz Tony.

— Então é nossa dever convencê-la a ficar do nosso lado, precisamos tirá-la dessa situação – diz Steve que aparentava estar chateado quando soube a idade da menina.

Chegamos ao local que daria início a batalha, Stark não estava mentindo. Ela tinha uma estatura de uma pré-adolescente, mas a forma do corpo dela era quase idêntica a minha! Ela possuía uma postura rígida, posso dizer que estava determinada a nos matar e falhar não era uma opção para ela, um olhar pode dizer muito sobre nós e era fácil para mim identificá-lo.

— Essa luta não é sua, se renda e poderemos te ajudar – diz Steve, a uma distância segura da garotada de máscara preta, com todos nós ao seu lado.

— Realmente não tenho nada contra vocês, mas tenho que concluir minha missão, então me deixe esclarecer as regras -diz a garota com uma voz autoritária – Se rendam e, somente talvez, possa oferecer para vocês uma morte rápida! -diz com um tom de voz malicioso.

— Eu avisei, sinistra! -fala Stark no comunicador.

— Sei como se sente! – os olhos da garota se direcionam a mim quando eu me pronuncio- Já estive no seu lugar, por muito tempo acatava ordens sem questionar ou saber o porquê deveria tirar a vida daquelas pessoas. Mas isso não importava, tinha que concluir a missão pois fizeram de mim um monstro, como você -vejo a tristeza e a raiva no olhar dela- Uma máquina assassina, não havia outras opções e se eu tentasse sair, me matariam! Eu tive a ajuda da SHIELD para tentar compensar os meus erros, mesmo sabendo que nada será perdoado, mas poderia me tornar uma pessoa melhor... Você também pode ter isso! -vejo uma lágrima escorrendo pelo seu rosto.

— Você pode contar conosco, não iremos te machucar – Clint fala.

Ela tira o capuz mostrando o seu cabelo ruivo e as pequenas placas de metal nas suas têmporas e pescoço, esse é o motivo por ela estar do outro lado, após enxugar a lágrima do seu rosto, ela diz:

— Desculpe Agente Romanoff, mas não acredito no seu conto de fadas – ela saca uma espada de suas costas e aparece uma chama roxa ao redor da lâmina – Se considerem mortos!