Soldier Seiya - A Era de Poseidon 01 escrita por Léo Rasmus


Capítulo 8
“O Tigre e O Dragão! Shiryu De Azure!”




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CAPÍTULO 07

“O Tigre e O Dragão! Shiryu De Azure!”

Luta após luta, os novos Soldados Marinas vão surgindo. Ban de Hipaléctrion, Ichi de Amphisbena, Geki de Morsa, Nachi de Orthros, June de Estrela do Mar, entre alguns outros, finalmente conquistaram suas Escamas e entraram oficialmente para o imenso exército de Poseidon.

Na arena principal, mais uma luta acaba de ser decidida. Jabu derruba seu oponente utilizando-se de um poderoso chute. Ele recebe a Escama de Narval, o Unicórnio Marinho.

— Droga, justo na minha luta o Grande Mestre e o Dragão Marinho resolveram desaparecer. — reclama o jovem Jabu, olhando em direção ao camarote onde se encontra apenas Aioria de Megalodon, do lado esquerdo de um trono vazio.

Contrariado, Jabu desce da arena e passa pelo único guerreiro presente que ainda não teve seu certame. É um jovem de longos cabelos escuros, corpo atlético e estatura alta. Ele empunha um escudo e uma lança, que serão utilizados em seu combate.

— Parece que você vai se tornar soldado por W.O., não é Shiryu? — provoca Jabu. — Seu oponente deve ter fugido com medo. Sua luta será a próxima e última do Torneio da Tormenta.

— Meu oponente já chegou faz um tempo, Jabu. Ele observou toda a sua luta. Veja. — diz Shiryu apontando para cima. No alto de um pilar, pode-se ver a silhueta de um homem, ofuscada pela luz do sol.

Jabu fica impressionado, pois ele nem sequer havia sentido a presença daquele homem por todo esse tempo.

O Grande Mestre Tritão retorna para seu lugar, seguido por Kanon de Dragão Marinho. O nome de Shiryu é anunciado de forma entusiástica pelo locutor e ele se dirige até a arena. O nome do segundo lutador também é anunciado:

— Ao centro da arena, Ohko!!!

O homem dá um salto, dando três piruetas no ar e caindo leve como um felino. Seus movimentos fazem o vento soprar e os cabelos de Shiryu esvoaçam.

— Por onde andou, Ohko? — pergunta Shiryu — quase não acreditei quando o vi. Então não desistiu de se tornar um Soldado Marina?

— A questão não é se eu desisti ou não, Shiryu. O fato é que eu estou aqui para matar você com as minhas próprias mãos, independente do que virá depois. Saiba que, em seguida, voltarei a Rozan para acertar as contas com o velho. Acabarei com o mestre e com o discípulo!

— Imaginei que você teria esse tipo de atitude se um dia retornasse. Então vamos acabar com isso aqui e agora, Tigre!

— Defenda-se, Dragão!

CINCO PICOS ANTIGOS DE ROZAN, CHINA - DEZ ANOS ATRÁS

O mestre, com um chapéu de palha cônico sobre a cabeça, sentado no alto de um rochedo que fica suspenso bem próximo à cachoeira de Rozan, repara na forte criança de cabelos longos até os ombros que se apresenta logo abaixo:

— Então você quer se tornar um Soldado do Nosso Senhor Poseidon?

— Sim. Eu ouvi que o senhor foi um dos incríveis Capitães Marinas no passado, e que passou por muitos combates sangrentos em prol do Império do Deus dos Mares. O senhor é uma lenda viva.

 — E você veio do Japão até aqui? Foi uma longa viagem, não?

 — Sim, senhor. Os donos do orfanato, onde eu vivia desde bebê, sempre apoiaram muito esse meu desejo de servir a Poseidon, pois eles são todos muito devotos. Por isso eles garantiram que eu chegasse aqui em segurança.

   O mestre levanta-se. Ele é um homem forte, que aparenta ter trinta e poucos anos de idade — apesar de muitos dizerem que ele deve ter mais de duzentos — cabelos castanhos e desgrenhados, que chegam até os ombros.

    — Eu sou Dohko, o Tubarão-Tigre! E você, como se chama?

    — Meu nome é Shiryu, senhor.

   — Então está bem, menino Shiryu. Mas saiba que meu treinamento não é fácil. Todos que vieram antes de você desistiram e foram embora.

     — Eu não desistirei, senhor.

    — Ah, desistirá, sim. — diz uma voz que chega de repente. É um garoto da mesma idade de Shiryu, com cabelos longos e ainda mais revoltos que o do mestre.

     — Oh, sim, que cabeça a minha, quase me esqueço de você! — diz Dohko, passando a mão pela nuca e sorrindo sem jeito. — Shiryu, este é Ohko, meu outro discípulo.

    — Olá garotinho. Apesar dos nomes, não somos parentes, não é, velho? — diz Ohko, sem tirar os olhos de Shiryu.

      — Somos dois tigres! — brinca Dohko. — Shiryu, o Ohko chegou aqui faz uma semana. Ele meio que foi expulso do orfanato onde vivia, não é?

       — Meio que isso aí, velho. Não sou muito de socializar.

     — Muito bem, treinarei os dois! Faz muito tempo que não recebo discípulos, mas daqui a dez anos haverá um novo Torneio da Tormenta para eleger novos Soldados Marinas.

        Dohko desce do rochedo em um salto e se aproxima dos garotos.

       — Vocês dois serão treinados para que possam conquistar a Escama de Azure Dragon, o dragão marinho chinês. Passarei a vocês os princípios básicos do cosmo, e depois aprenderão todos os meus melhores golpes! Vamos lá, Shiryu e Ohko!!!!

DE VOLTA À LUTA DE OHKO VS SHIRYU

— Os dois combatentes são mestres em artes marciais e peritos no combate com lanças e defesa com escudo. Os dois treinaram com o Tigre dos Mares, o Capitão Marina aposentado Dohko. — observa Tritão, sentado em seu trono.

— Sim, aquele que vigia o selo de Hades. — completa Kanon — Porém, apenas Shiryu concluiu os treinos com Dohko. Não conhecemos os motivos, mas sabe-se que o outro, Ohko, deixou os Cinco Picos na metade do treinamento e sumiu pelo mundo, retornando somente agora.

Shiryu e Ohko se digladiam de forma ferrenha. Cada vez que as lanças riscam os escudos, faíscas incandescentes saltam pelo ar. Shiryu corre em direção a seu oponente com a lança em riste e Ohko imediatamente se protege com seu escudo. Mas a intenção de Shiryu é outra: Ele crava a ponta da lança no chão e a utiliza como vara para tomar um impulso e atingir um chute certeiro no rosto de Ohko, que é jogado ruidosamente contra chão da arena.

— Isso aí!!!! — grita Leile descontroladamente — Já não agüentava mais tanta luta chata de personagem B!!

 Ohko levanta-se e dá uma inesperada risada.

 — Por que ri, Ohko? Por acaso enlouqueceu? — pergunta Shiryu.

 — Louco, eu? Eu nunca estive tão lúcido, Shiryu. Loucura é esse circo idiota que você chama de torneio. — Ohko aponta o dedo para seu oponente. — Shiryu! Vou acabar com isso de uma vez e depois vou matar Dohko!

 — Não entendo você! — diz Shiryu. — Odeia a mim e a meu mestre e considera o Torneio da Tormenta uma loucura. Você está soando cada vez mais como um herege, Ohko.

 — Herege? Talvez eu seja mesmo, Shiryu. Sabe quem será meu próximo alvo depois de seu estimado mestre? Poseidon! Eu vou matar esse deus falso e qualquer outro que se julgue deus também! Vou devolver este mundo aos seus legítimos donos: Os humanos!

 — Maldito seja, Ohko! Eu, Shiryu, o punirei em nome de Poseidon!

 — Morra Shiryu! “Grande Furacão do Tigre!”

 Shiryu é pego de surpresa por aquele golpe que sem dúvida não foi aprendido através de seu velho mestre. Com apenas o movimento do punho direito, Ohko criou um deslocamento de ar que gerou um poderoso furacão. Shiryu é empurrado para o alto com toda a força e é comprimido contra uma das pilastras que circundam a arena.

 — É seu fim Shiryu! Meu Grande Furacão vai aumentar mais e mais e vai esmagar você até os ossos!

 — É muito... Poderoso! Se continuar assim serei mesmo esmagado contra essa pilastra!       

 Nesse momento, a mente de Shiryu volta para um momento crucial de seu treinamento nos Cinco Picos. Nessa época, eles ainda eram dois discípulos, ambos com treze anos de idade, sendo ensinados por Dohko sobre as sete constelações que fazem parte do símbolo do Dragão Azure:

 — Sete constelações? — pergunta Shiryu.

 —Isso mesmo, menino-dragão. Na astronomia chinesa, existem 28 constelações, também chamadas de Mansões. Cada grupo de sete mansões forma um dos quatro símbolos que correspondem às quatro estações: O Pássaro Vermelho do Sul, o Tigre Branco do Oeste, a Tartaruga Negra do Norte e o Dragão Azul do Leste.

 — Quanta falação, velhote. — interrompe Ohko. — Isso vai ajudar em que na hora de uma luta?

 — Não seja impaciente, menino-tigre. — diz Dohko, em tom repreensivo. — Uma hora tudo vai servir. Então, continuando... O Dragão Azul do Leste, ou Azure Dragon, representa a primavera e é formado por Sete Mansões: a Peneira, a Cauda, a Garra, o Chifre, a Garganta, o Corpo e o Coração. Cada uma das Sete Mansões representa uma parte do poder total de Azure. Aquele que estiver lutando e utilizando esse poder, poderá liberar gradativamente cada uma das Sete Mansões, da primeira até a última. Cada uma tem um nível de poder maior que a anterior.

  — Então, dependendo da força do meu inimigo, eu deverei utilizar um desses níveis de poder? — questiona Shiryu.

  — Mas que estupidez!!! — interrompe Ohko. — É claro que eu já libertaria o último nível, a mansão mais forte, e garantiria minha vitória logo de cara.

   — Cuidado com essa impulsividade, menino-tigre. — adverte o mestre Dohko. — É necessária muita cautela na liberação das Sete Mansões.

  — Lá vem o “porém”... — queixa-se Ohko, enquanto Shiryu segue atento.

   — Mas não se preocupem com isso agora. — continua Dohko — O ideal é que o usuário se mantenha sempre dentro das duas primeiras mansões, chegando à terceira apenas em situações decisivas. Dominando as três primeiras, vocês já serão praticamente invencíveis!

  Na arena, Ohko continua aumentando a intensidade de seu furacão. A velocidade do vento é tanta que começa a cortar como navalha. Shiryu sofre cortes no rosto, no pescoço, nos braços e pernas.

  Mas algo acontece. Ohko percebe algo estranho no movimento de suas correntes de ar:

 — O que está acontecendo? Os ventos estão mudando de direção, se desviando do corpo de Shiryu. Como isso é possível?

 Ohko observa seu oponente e percebe que ele posicionou seu escudo na frente do corpo, defendendo-se do vendaval.

 — Inacreditável. Como Shiryu conseguiu desviar meus ventos com um escudo comum?

 — Pelo visto você esqueceu os ensinamentos do mestre Dohko, não é? Acesso à primeira mansão! Escudo! 

 — Vejam! O escudo de metal de Shiryu está brilhando, envolvido pela sua cosmo-energia! — comenta Gilbert de Nautilus, impressionado.

 — Ele dissipou todo o Grande Furacão do Tigre! Incrível! — completou Leile de Falajitax.

 — Acesso à primeira mansão? — questiona Ohko.

— Isso mesmo. — Shiryu salta de volta para o solo da arena. — A primeira mansão de Azure é a constelação chinesa de Peneira. Ela separa o arroz de seu farelo. Em outras palavras, ela se livra daquilo que é indesejado.

 — Indesejado? — pergunta Ohko.

 — Sim. Por isso, o escudo da Escama de Azure Dragon representa essa constelação. Tudo aquilo que for causar dano ou injúria ao soldado que o utilizar será defletido.  

 — Vejo que prestou atenção às aulas, “menino-dragão”. Mas esse escudo que você tem aí não vai mais te proteger. — observa Ohko, ao ver as rachaduras no escudo de Shiryu.

  — Não vou precisar mais dele. — Shiryu joga o escudo no chão.

  — Muito bem, Shiryu. Então você morrerá.

  — O que o Shiryu vai fazer agora, sem o escudo? Ohko ainda tem seu escudo e sua lança! — preocupa-se Gilbert.

  — Ele vai partir para o ataque! — responde Acetes de Tirreno, que a essa altura já está completamente bêbado. — Se eu fosse o outro rapaz, eu tomaria mais cuidado.

  — Assim que eu tiver chance, vou desafiar este jovem soldado para um duelo de lanças! — comenta Longinus de Leviathan, erguendo a sua famosa Lança do Destino.

  Gilbert olha atentamente para a luta na arena. Aquele dia de combates foi simplesmente o melhor de todos, em sua opinião.

  Ohko avança em direção a Shiryu e ataca com sua lança. A perícia dos dois com essa arma é admirável e, com seus movimentos, eles parecem executar uma dança mortal. Por um aparente descuido, entretanto, Shiryu tem sua lança jogada longe por seu oponente.

  — É seu fim Shiryu! — exclama Ohko, aproveitando-se de uma brecha na defesa de seu rival, desferindo uma estocada rápida com sua arma e atingindo Shiryu na região do abdômen.

  Enquanto o sangue cai, Ohko parece satisfeito em poder iniciar sua tão almejada cruzada de mortes. Shiryu foi só o primeiro. Ohko agarra sua lança, que está fincada no corpo de Shiryu, e tenta puxá-la de volta para si, mas o jovem ferido a segura fortemente com as mãos.

  — O que é isso? Solte a lança Shiryu. Eu tenho que ir matar seu mestre agora! Vamos, solte!

  — Acesso à segunda mansão! A Lança! — Ao dizer estas palavras, a lança fincada ao corpo de Shiryu parece se inflamar com uma chama azul brilhante.

  Ohko sente as mãos queimarem e rapidamente larga a lança e dá um salto para trás. Shiryu retira a haste de si e a aponta em direção ao tigre.

  — A segunda mansão é a constelação chinesa de Cauda. Ela é a própria lança de Azure. Tive apenas que usar um pouco do meu sangue para tornar essa lança comum em algo próximo à lança da armadura de Azure.

  — Mas o que? Não... Não me diga que você se deixou acertar de propósito só para conseguir utilizar a segunda mansão, Shiryu?

   — E também para te desarmar, como você pode ver.

   — Você está louco!

  — Você que é louco, Ohko, tentando levantar a mão contra meu mestre e contra Poseidon! — Shiryu emana seu cosmo em direção à lança de metal que está em suas mãos e anuncia — Lança do Dragão Azul!

  Ohko sente um potente impacto e é como se ele tivesse sido atingido pela poderosa cauda do próprio Dragão do Leste. Quando ele percebe, ele foi transpassado pela lança, que entrou pelo seu abdômen e saiu pelas suas costas.

  — Não atingi nenhum órgão vital, Ohko. Logo você irá se recuperar. — avisa Shiryu.

  Em seus pensamentos, Ohko se pergunta o porquê de tanta adoração aos deuses. Ele sabe que Poseidon é um deus maligno, assim como esse que se diz Tritão, que o representa. Athena, Hades, são todos iguais. A memória de Ohko volta até o momento do término de mais um treino, depois da lição sobre as sete mansões.

  Era uma noite de verão, a lua brilhava cheia e alta no céu dos Cinco Picos de Rozan.

  — Menino-tigre! Menino-dragão! Vocês precisam praticar mais umas trezentas vezes. Shiryu, eu preciso de mais determinação. Ohko, menos impulsividade. Mas já chega por hoje. Shunrei! O que tem para o jantar?

   — Fiz pato ensopado com molho de laranja, mestre. — responde Shunrei, uma bela moça que Dohko encontrou sozinha quando ela tinha apenas quatro anos de idade, abandonada pelos pais em um vilarejo perto dali.

    — O prato preferido do Shiryu de novo? — resmunga Ohko. — Alguém pensa em mim nesse buraco?        

    — Não seja mal agradecido, rapazinho. — repreende Dohko. — Vamos todos rezar para Poseidon por mais essa refeição!

    Após o jantar, Dohko se retirou ao seu quarto e, como faz todos os dias, escreveu em seu diário e o guardou na gaveta de seu criado-mudo. Ohko sempre teve curiosidade em saber o que tanto ele escreve nesse diário.

    Nesse dia, como a noite estava quente, o velho Dohko saiu para se banhar na cachoeira. Ohko, tomado por fulgurante curiosidade, resolveu invadir os aposentos do velho mestre. Furtivo e silencioso como um felino, ele foi até o criado-mudo onde ele vira o mestre guardar o diário. Ele folheia as páginas, mas a maioria ainda está em branco.    

      —  Ele deve ter começado a escrever nesse caderno há pouco tempo. Na certa ele tem outros diários mais antigos.

     Ohko se dirige a um grande armário que há no quarto, que toma o espaço todo de uma das paredes. Está trancado com um cadeado. Ohko olha para um lado, olha para o outro e faz com que as unhas de sua mão direita se transformem em garras afiadas.        

     — Que ninguém nunca veja isso. Devo ser mesmo um “menino-tigre”, afinal.   

   Ele corta o cadeado com apenas um golpe e abre as portas do armário. Inacreditável. São centenas de diários, uns novos e outros velhos, alguns realmente bem velhos.

   — Minha nossa. Pensei que aquela história de que o velho sobreviveu à última guerra santa contra Hades fosse só invenção, mas... Pela quantidade de diários que tem aqui... Ele deve ter vivido por séculos. Dohko, o que você é?

   Ohko folheia os diários e lê alguns comentários do mestre sobre ele.

   “Ohko é muito impulsivo, difícil de controlar e tem o pavio curto...”

   — Diga algo que eu não saiba, velhote.

   “Shiryu é meu predileto para se tornar o Azure Dragon.”

   — Han! Isso é meio que previsível, ele é o queridinho de todo mundo por aqui.

  “Está muito difícil lidar com o menino-tigre. Se ele não mudar seu temperamento talvez eu tenha que...”

    Ohko hesita um pouco antes de terminar a frase.

    “... expulsá-lo dos Cinco Picos”?

    — Velho maldito!

   Ohko tem um ímpeto de raiva e joga os diários de Dohko no chão. Um dos cadernos caídos chama bastante a atenção por ser o único de capa vermelha. Ohko o pega nas mãos. É tão velho que as páginas estão se desfazendo. Na capa, está escrito “Guerra Santa do século XVIII”. Ele o abre com cuidado e lê algo sobre doze armas douradas, mas isso não desperta seu interesse. O que vem depois é que vai deixá-lo perplexo.

  “Shion, é meu amigo de infância e Capitão como eu. Ele é o respeitável Elfo do Mar e eu, o bravo Tubarão-Tigre. Crescemos juntos, treinamos juntos, somos inseparáveis.”

  — Então o velhote tinha um amigo, quem diria. Vamos ver o que mais tem aqui.

  “Tritão conseguiu mais uma vez. A Athena desta era está morta, em nome de Poseidon. Um deus inimigo a menos, entretanto, eu sinto que Hades logo despertará. Mas com Shion ao meu lado, sou invencível.”

   Ohko vai avançando algumas páginas.

  “Hades atacou mais cedo do que esperávamos. Quem iria imaginar que ele renasceria como o melhor amigo de um de nossos soldados? Justo o Alone, melhor amigo de Tenma, o Centauro Marinho, que eu ajudei a treinar. Fomos pegos de surpresa, Hades invadiu Atlântida.”

  “Os Soldados e Comandantes estão mortos. Não sei o paradeiro dos outros Capitães. Estou aqui em um esconderijo com Shion e Tenma, tentando bolar uma estratégia. Shion é o inteligente, ele vai pensar em algo. Os sete Generais são nossa última esperança.”

   “Nós vencemos! Poseidon e o mestre Tritão selaram Hades e as 108 Estrelas Malignas na clausura do Triângulo das Bermudas. Infelizmente, todos os sete Generais se sacrificaram inclusive o senhor Unity de Dragão do Mar. Não sei o paradeiro de Tenma, mas parece que ele tem uma namorada, a irmãzinha do Alone, acho que é Sasha o nome dela. Que bonitinho.”

    “Athena está viva. Tritão acabou de me informar. Quinze anos atrás alguém a salvou de alguma forma. Foi-me passada a missão de localizá-la e matá-la, junto com o rebelde que está com ela. Somos apenas Shion e eu, mas o danado sumiu. Droga, eu preciso mesmo dele.”

     “Porque você fez isso, Shion? Porque me traiu desse jeito? Tenma e Alone, eles também sabiam. Eles sabiam que Sasha era Athena. Agora Tritão vai perseguir os dois até no inferno! Shion, por quê? Até o senhor Unity era um rebelde aliado de Athena. Eles se uniram e salvaram o bebê da morte e estiveram com ela por todo esse tempo. FOI CULPA SUA, SHION! TRITÃO ME OBRIGOU, MEU AMIGO! Eu... Só obedeci a uma ordem de Poseidon. Você era um traidor, era meu dever. Tritão matou Athena. E eu... EU MATEI MEU MELHOR AMIGO.”

  Ohko está tão atônito com tudo aquilo que leu, que nem percebeu a chegada de seu mestre. Dohko se aproxima lentamente e retira o velho diário de capa vermelha das mãos do rapaz.

  — Não é educado mexer nas coisas dos outros sem permissão, menino-tigre.

  — Tudo isso é verdade, velhote? Você matou mesmo seu melhor amigo... Só porque Poseidon mandou?

   — Isso não é da sua conta, moleque atrevido. E Poseidon é o deus desse mundo. Aquilo que ele determinar deve se cumprir.

   — Até isso? — pergunta Ohko, apontando para o diário com a palma da mão aberta voltada para cima. — Quantas atrocidades mais foram feitas em nome dos deuses por todos esses anos? Você é cego? Isso não está certo.

  — Ohko, vai para o seu quarto. Amanhã teremos um treino pesado.

  — Eu que não vou treinar para me tornar um soldadinho que obedece às ordens de deuses egoístas.

   — Ohko, se continuar com essas heresias, eu...

   — O que, vai me matar? Assim como fez com Shion de Elfo do Mar, seu melhor amigo?

   — Não foi coisa fácil de se fazer, rapaz! Acha que gostei de ter matado ele? Ele era tudo pra mim.

   — Os deuses deviam zelar pelas pessoas, pela amizade entre elas. Mas eles não passam de seres mesquinhos e egoístas. Mas o pior disso tudo são pessoas como você, velhote, que obedecem cegamente às ordens insanas desses deuses. Hades, Poseidon, Athena. São todos iguais. Todos merecem morrer.

    — O que vai fazer, Ohko?

   — Estou poupando você de ter que me expulsar. Coisa que você iria fazer mais cedo ou mais tarde, conforme está escrito aí. Vou embora desse lugar. Olha, velhote, eu posso ser impulsivo, difícil de controlar e ter o pavio curto, como você me descreveu, mas eu jamais levantaria a mão contra alguém que eu amo, nem mesmo se um deus me obrigasse. Você é lixo. Talvez até menos que isso.

   — O que está acontecendo aqui? Ouvimos uma discussão. — Pergunta Shiryu, ao lado de Shunrei.

— Mestre, seus cadernos, o que houve aqui? — pergunta Shunrei, vendo toda aquela bagunça.

Dohko não sabe o que dizer.

— Shiryu. — diz Ohko. — Estou indo embora desse lugar.

— Indo embora? Mas Ohko, ainda faltam mais cinco anos para acabar o treinamento.

— Treinarei sozinho, pelo mundo. Eu prometo a você, Shiryu. Eu me tornarei um tigre muito mais poderoso e vou voltar só pra acabar com você, o “predileto do papai”. E matarei também este velho que se diz mestre. Até um dia.

Ohko está na arena, apoiado de pé com a ajuda da lança que atravessou seu corpo. Ele não vai morrer ali. Sua cruzada apenas começou.

— Será que ele morreu? — indaga Leile.

— Bom, ele ainda não caiu. — responde Gilbert.

— Senhor Tritão, damos a vitória para Shiryu? — pergunta Kanon, dirigindo-se ao Grande Mestre.

— Ainda não. Olhe de novo! — responde Tritão, que também atende pelo nome de Dócrates, apontando para a arena.

Ohko acende uma cosmo-energia violenta e cheia de ódio. Ele se ergue e retira a lança de dentro de si, jogando-a ao chão.

— Também não vou precisar disso. — diz ele, encarando Shiryu bem dentro de seus olhos.

— Ohko, me diga, porque esse ódio contra os deuses? Porque age dessa forma, movido apenas por esse ressentimento?

— Ódio? Ressentimento? Você não chegou nem perto de definir o que sinto dentro de mim, Shiryu! Vou mostrar a você porque sou chamado de Tigre!

Mais uma vez, Ohko transforma suas unhas em garras enormes e afiadas, dessa vez, das duas mãos. Seu olhar ganha uma aparência felina e seus cabelos se mostram ainda mais revoltos. A cosmo-energia do Tigre explode.

— Sinta o poder do Tigre Branco do Oeste, Shiryu! “Avanço do Tigre!!”

A figura de um tigre branco surge correndo pela arena em uma velocidade desenfreada. Shiryu tenta bloquear o ataque, mas é inútil. O tigre abocanhou o dragão com suas presas de navalha. Shiryu cai no chão, extremamente ferido. Sua camisa rasgou-se completamente e a tatuagem de Senryuu* em suas costas é completamente exposta.

— Ora, ora Shiryu, então essa é a tatuagem que você recebeu ao final de seu treino com Dohko. Pelo que sei, ela sumirá assim que seu coração parar de bater.

Dohko vai até a lança que está próxima a Shiryu e a apanha.

— Vamos acelerar um pouco esse processo. Vou atravessar seu coração, Shiryu. Morra!... O que?

O dragão nas costas de Shiryu, que estava esmaecendo, volta a brilhar. Shiryu se levanta determinado.

— Não permitirei que alguém como você, que renega os deuses, viva nesse mundo, Ohko. Você não passa de um homem sem rumo, que não tem fé em nada. Sua jornada acabará agora!

— Maldito!

Acesso à terceira mansão! A Garra!

Shiryu lembra-se do que seu mestre falou:

O ideal é que o usuário se mantenha sempre dentro das duas primeiras mansões, chegando à terceira apenas em situações decisivas. Dominando as três primeiras, vocês já serão praticamente invencíveis!”

— A terceira mansão é a constelação chinesa Raiz, que representa a garra do Dragão Azure. Ohko, essa terceira mansão não depende do escudo e nem da lança. É o golpe principal do Dragão Azure.

— O golpe... Principal? Você está falando do...

Cóleraaaaa do Dragão!!!!

Um ascendente dragão azul voa a partir do punho de Shiryu e se precipita em direção a Ohko. O golpe é um ultimato e Ohko cai desacordado. Shiryu, enfim, venceu. A escama de Azure desperta e vem envolver o corpo de seu novo Soldado. Shiryu de Azure.

Shiryu se aproxima de seu oponente caído e se abaixa próximo a ele. Ohko abre seus olhos e volta o olhar para Shiryu.

  — Ohko, me diga. O que aconteceu naquele dia entre você e o mestre? Ele nunca mais tocou nesse assunto nos anos seguintes. Você viu alguma coisa nos diários dele?

  — Shiryu, eu espero que você não se torne o mesmo covarde que seu mestre é. Eu tenho apenas uma coisa para dizer a você. Procure lutar pelos seus próprios ideais. Não lute apenas pelos deuses, Shiryu. Lembre-se disso.

  Ohko é levado pela equipe médica e Shiryu fica sozinho na arena. Ele olha em direção a Tritão. Imponente, digno, divino. Toda a sucessão de homens que tem governado como Tritão, antes Nereu, hoje seu filho Dócrates, eles têm feito de tudo para que esse mundo evolua, levando a justiça de Poseidon a todos os continentes. Não, Shiryu não dará ouvidos a um herege enlouquecido como Ohko.

  O locutor anuncia que esta foi a última batalha do Torneio da Tormenta e que todos os Soldados Marinas já foram selecionados. Tritão convoca à arena todos os Soldados que acabaram de se formar.

   — Meus cumprimentos a todos os jovens Soldados Marinas. Todos vocês, aqui e agora, juram lealdade plena ao Imperador Poseidon, deus desse mundo desde a Era Mitológica. Uma nova Guerra Santa se aproxima e Hades, deus do submundo, logo despertará. Uma vez mais reuniremos as nossas tropas e uma vez mais sairemos vencedores. Sim! Pois esta é e sempre será a Era de Poseidon!

   — Viva Atlântida! Viva Poseidon! — gritam todos em uníssono.

***

ILHA DA RAINHA DA MORTE. NAQUELE INSTANTE.

    — O Torneio da Tormenta acabou finalmente, Fênix. — informa Shaka, sempre com seus olhos fechados, trajando sua tradicional vestimenta branca. — Logo eles virão nos procurar.

— Me pergunto quantas tropas eles enviarão. — responde Ikki. — Se dependesse de Kanon, eles certamente enviariam até mesmo os Generais, mas creio que Tritão vá interferir e eles acabem mandando apenas os Soldados.

— Não importa quem ou quantos eles mandem, Fênix.  A ilha inteira está sob o meu controle agora. Aqui será o cemitério de todas as tropas de Atlântida.

— É nossa primeira grande investida desde o incidente em Potâmide, há nove anos. — relembra Ikki. — Hoje começa a queda do Império de Poseidon! Por Athena.

— Por Athena. Vamos convocar os Marinas Negros. — responde Shaka.

De costas para Ikki, Shaka abre seus olhos ligeiramente e eles estão completamente enegrecidos, como se algum mal se abatesse sobre ele.

ATLÂNTIDA.

Longinus de Leviathan e Leile de Falajitax estão reunidos com todos os Soldados Marinas recém formados ali presentes. Eles receberam ordens do General Kanon para planejar a sua primeira missão. Longinus anuncia:

— A primeira missão de vocês, novos soldados, será um ataque à Ilha da Rainha da Morte, onde se esconde a infame Rebelião de Athena.

 Leile, então, completa:

— Amanhã enviaremos duas tropas para lá. A primeira será liderada por Jabu de Narval, que escolherá quatro outros soldados para seu time. A segunda será liderada por Seiya de Centauro Marinho, que também escolherá mais quatro integrantes.

— “Parece que Tritão ficou impressionado com esse moleque Seiya.” — pensa Longinus. — “Mandou incluí-lo nessa missão sem falta.”

— Jabu, então você já selecionou seus companheiros? — deslumbra-se Leile. — Rapidinho você, gostei de ver. Temos aqui Geki de Morsa, Ban de Hipaléctrion, Nachi de Orthros e Ichi de Amphisbena. Venham comigo, rapazes.

O time de Jabu segue Leile e eles retiram-se dali.

— Comandante Leviathan, eu tenho uma objeção. — manifesta-se Shiryu, para espanto de todos ali.

—Uma... Objeção? A que se refere soldado? — pergunta Longinus, intrigado.

— Acredito que eu, Shiryu de Azure, seja bem mais qualificado do que Seiya para liderar o segundo time. Passei por um rigoroso treinamento de dez anos com um Capitão Marina, o lendário Tigre do Mar, Dohko. Ele me passou todas as suas técnicas de guerrilha, espionagem, bem como diversas estratégias militares.

— Ih, ó lá, o cabeludo tá se achando. — responde Seiya. — Só que ele pediu pra EU liderar e não você, ô convencido.

— Quem é convencido? Só falei verdades.

— Ah, sai pra lá. Vou escolher o meu time aqui, Comandante “São Longuinho”. — Seiya se volta para uma das duas únicas mulheres ali presentes entre os soldados marinas — Primeiro você, belezura. June de Estrela do Mar, né? Prazer, meu nome é...

— São Longuinho? — irrita-se Longinus. — Soldado Seiya, eu estou vendo que “modos” é algo que Marin de Arraia não lhe ensinou. Meu nome é Longinus de Leviathan. E, pelo que vejo aqui, temos um impasse. Mas já tenho uma forma de resolver.

Longinus olha para os dois soldados ali na sua frente de forma imperativa e continua:

— Seiya de Centauro Marinho, Shiryu de Azure Dragon. Quero uma luta agora. O vencedor será o líder desse time, nesta primeira missão.

— Nós dois? Tô ferrado. — pergunta Seiya.

— Uma luta! Como quiser, Comandante Leviathan. — concorda Shiryu, com empolgação.

— Sendo assim, eu serei o juiz desse combate. — determina Longinus. — Atenção... Comecem!

PRÓXIMO CAPÍTULO DE “CAVALEIROS DO ZODÍACO – SOLDIER SEIYA – A ERA DE POSEIDON”:

“CENTAURO MARINHO VS AZURE DRAGON – O EMBATE DE SEIYA E SHIRYU”

QUEIME COSMO! ALÉM DOS SETE MARES!!

*Senryuu é o nome do Dragão Azul do Leste.


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Notas finais do capítulo

Tomei a liberdade de alterar um pouco os nomes de algumas das constelações que formam o Símbolo do Dragão do Leste: Garra - nome verdadeiro: Raiz // Garganta - nome verdadeiro: Pescoço // Corpo - nome verdadeiro: Sala ou Quarto. Fiz essas adaptações em prol da estética.
Curiosidades desse capítulo: As escamas dos guerreiros B:
Narval (Jabu) - é um animal marinho que possui um enorme "chifre", que na verdade é um dente ( !! ). Esse animal é chamado de Unicórnio do Mar.
Hipaléctrion (Ban) - é uma criatura mitológica, nascida de Poseidon, metade cavalo e metade galo.
Morsa (Geki) - animal marinho de grande porte que vive nas águas do Ártico. Possui duas enormes presas.
Orthros (Nachi) - é um cão mitológico filho de Equidna e irmão de Cérbero. O Orthros possui duas cabeças.
Amphisbena (Ichi) - são serpentes mitológicas que nasceram do sangue da Medusa e que são comumente representadas tendo duas cabeças, mas podem ter diversas outras deformidades.



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