Antonia escrita por Valdir Júnior


Capítulo 12
Destinos




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Antonia estava sentada no chão, encostada no tronco da grande nogueira, com as pernas cruzadas e os olhos fechados. Quando ouviu o ruído suave produzido pelos cascos de Breeze se aproximando, ela abriu os olhos e levantou-se no momento em que James Kirk entrava na clareira, já desmontado e puxando a égua pelas rédeas. Eles apenas se olharam por alguns momentos, até que seguindo o impulso natural dos seus corações, correram um de encontro ao outro, abraçando-se com carinho.

— Que bom que você voltou, – disse ela, com a cabeça encostada no peito dele – e fico feliz e aliviada que sua missão tenha sido um sucesso. Tive muito medo quando vi aquelas coisas  no céu (1).

— Eu também, Tonia. – sussurrou Kirk, abraçando-a mais forte.

Kirk fechou os olhos, exalou o perfume dos cabelos dela, sentindo momentaneamente o coração acelerar ao relembrar os últimos dias passados à bordo da Enterprise e o quão perto eles estiveram da destruição. 

— Recebi seu recado assim que cheguei à Estação 001. – continuou ele -  Foi estranho não encontrar você na nossa casa.

Ela ainda permaneceu algum tempo abraçada a ele em silêncio. Por fim, foi afastando-se suavemente, até estar olhando em seu rosto. E ele viu que os olhos castanhos claros dela estavam marejados de lágrimas.

— Eu queria conversar com você aqui, neste lugar especial - disse ela – porque foi onde nos conhecemos.

Kirk, embora preocupado, sorriu ao lembrar a manhã em que encontrara a bela amazona italiana tentando acalmar o grande cavalo negro que agora pastava placidamente a alguns metros dela. Este encontro deu início a dois dos anos mais felizes que ele havia vivido até ali. No caminho de volta da Estação havia ensaiado dizer tantas coisas a ela, contar sobre tudo o que sentira nestes últimos três dias à bordo da Enterprise, sobre a sensação de ter voltando para o lugar ao qual pertencia. Mas agora, tendo Antonia em seus braços, olhando para ele, lhe faltavam às palavras.

— Antonia... a Frota Estrelar ... eu... – gaguejou Kirk.

Embora parecesse triste, ela lhe sorriu. Afastou-se mais um pouco dele, ainda segurando suas mãos.      

— James, por favor, não se preocupe – disse Antonia – depois da conversa que tivemos antes de você embarcar, eu pensei bastante em tudo o que me disse. Senti que você não será completo se não estiver seguindo sua vocação e fazendo o que mais gosta. Amore, eu me importo molto com a sua felicidade. E entendi que você só será plenamente feliz se estiver servindo na Frota Estelar.

Ela fechou os olhos por um momento e suspirou.

— Eu, por outro lado – continuou ela – sei que a minha felicidade só será completa quando eu formar minha família, com um marido, filhos e um lar de que eu possa cuidar. Pode parecer antiquado, James Kirk, mas esta é a minha vocação. 

Kirk a olhou, sentindo um turbilhão de emoções e, no entanto, não sabendo bem o que dizer. Continuava apaixonado por Antonia, mas ela tinha razão.  O destino havia pregado uma peça neles.

Ele a puxou novamente para si, abraçando-a com carinho.

— Tonia, eu sei que o que sinto por você nunca vai mudar – disse ele – e queria tanto que houvesse uma solução para nós.

— Eu também, caro mio — respondeu ela, apoiada no seu peito.

E num movimento natural, eles se olharam e mais uma vez seus lábios se uniram em um beijo cheio de ternura. E quando se separaram ambos estavam sorrindo, embora com os olhos cheios de lágrimas.

Antonia caminhou devagar até o seu cavalo, acompanhada de perto por ele. Quando ela apoiou a mão na sela preparando-se para montar, e sentiu o toque das mãos dele nos seus cabelos, sussurrou:

— Eu sempre vou te amar, Jim Kirk.

Ela montou e imediatamente esporeou o cavalo, que saiu galopando rapidamente. E Kirk a viu sumir na curva da estrada, sem olhar para trás em nenhum momento.

   *   *   *

— Jim, o que está me pedindo foge completamente dos regulamentos – disse Nogura – você sabe que somente capitães da Frota podem ser designados para comandar naves estelares. Um almirante só pode exercer esta função em situações extremas, como foi o caso da recente crise pela qual passamos.

James Kirk estava no gabinete do almirante Nogura no Quartel General da Frota Estelar em São Francisco, sentado em frente à mesa do Oficial Chefe de Operações da Frota Estelar. E não estava nada satisfeito com o que ouvia.

— Heihachiro, eu sei que a Enterprise está sem capitão no momento – disse Kirk – você podia então considerar que eu exerça pelo menos o comando temporário, até um novo capitão ser designado.

Heihachiro Nogura olhou para o colega. Jim Kirk era uma das pessoas de quem ele mais gostava e sabia que seria muito doloroso ser ele a dar a má noticia.

— Jim, a questão não é somente essa – disse Nogura sério – a Enterprise... está em processo de ser retirada do sistema ativo de missões da Frota. Ela vai ser convertida em nave de treinamento para cadetes recém formados da Academia.

Kirk olhou atônito para o almirante, como se ainda não estivesse acreditando.

— O quê?! – disse ele, elevando um pouco a voz – você não pode estar falando sério! Ela é a nave mais poderosa da armada.

— Não é mais, e você sabe disso – respondeu o almirante – a Excelsior, cujo projeto você ajudou a tornar realidade (2), está pronta para ser lançada. E quando outras naves da mesma classe também estiverem operacionais, todas as naves classe Constitution vão ser reavaliadas. A Enterprise é apenas a primeira.

Kirk estava com a boca seca. Sentia como se tivessem arrancado um pedaço do seu coração.

— Isto é definitivo? – perguntou ele.

— Infelizmente é, Jim – respondeu Nogura.

O almirante pegou um pequeno “pad” e o entregou a ele.

— A boa notícia é que você, como novo Instrutor Titular do Curso de Comando da Frota, vai ter a chance de subir a bordo da Enterprise todas as vezes em que for necessária uma aula prática a bordo de uma nave estelar – disse Nogura, sorrindo – quem sabe até se sente novamente um pouco na cadeira do capitão?

— Muito engradado, Heihachiro – resmungou Kirk, azedo – estou morrendo de rir.

Kirk olhou para a foto em 3D da sua antiga nave na tela do “pad”, sentindo uma profunda melancolia. E quando as lembranças de algumas aventuras que havia vivido no comando da majestosa espaçonave vieram à sua mente, ele não pode deixar de sorrir.

Garota, sei que a história da U.S.S. Enterprise na Frota Estelar está longe de terminar. Ainda faltam muitos capítulos a serem escritos”, pensou James Kirk, passando os dedos carinhosamente pela tela do aparelho.

E ele com certeza faria de tudo para continuar a fazer parte deste roteiro.

 *   *   *

Quando James entrou no quarto, Antonia estava sentada na cama distraída, com as pernas cruzadas sob o corpo e seu micro-computador no colo, finalizando o esboço do seu novo livro antes de enviá-la ao editor. Ele encostou-se no batente da porta e sorriu ao perceber que, como de costume, ele murmurava enquanto escrevia como se estivesse conversando com os personagens do seu romance.

— Oi Tonia – disse Kirk baixinho, para não assustá-la.

Ela levantou os olhos devagar e deu um amplo sorriso. E sem nem mesmo pensar já estava indo na direção dele, tão depressa que mal percebeu a surpresa e a deliciosa de satisfação estampada nos olhos de Kirk. Os braços de Jim já estavam abertos para recebê-la quando ela chegou diante dele, envolvendo-a.

Antonia o apertou com força e sentiu seu perfume, de que tanto gostava. Percorreu-lhe as costas com as mãos e então puxou a boca dele de encontro à sua. Depois do beijo caloroso, ela encostou a cabeça no seu peito, soltando um longo e satisfeito suspiro.

— Você estava realmente com saudades – Kirk murmurou.

— Fique parado aqui só por um minuto, está bem? – disse ela.

— O tempo que você quiser – respondeu Kirk, sorrindo.

O corpo dela encaixava no dele. Eles se completavam, como duas peças de um quebra-cabeça que se moldam e ajustam uma à outra, formando uma imagem única.

Antonia levantou os olhos úmidos e cheios de paixão para ele. Segurou suas mãos e puxou-o suavemente para a cama. Eles se sentaram na beirada, olhando-se nos olhos. Já não havia necessidade de palavras. Ela levou as mãos aos seus fartos cabelos, que estavam presos em um coque, deixando-os cair soltos às suas costas e mais uma vez o puxou na sua direção.

Com suavidade Kirk deslizou as mãos ao longo do corpo dela, até cobrir-lhe os seios, e em seguida passou a ponta dos polegares de leve sobre os mamilos, para só então lhe abrir os botões da blusa.  As mãos dele conheciam sua textura, seu ritmo. O coração de Antonia martelou contra as costelas, e então subiu para a garganta, enquanto a boca dele cobria sua boca. Era uma boca quente, insaciável, que não lhe dava escolha, nenhuma escolha, a não ser a de ceder gentilmente.

Vagarosamente, eles se deitaram, empurrando todos os objetos que estavam sobre a cama para o chão. E foram se despindo, sem pressa, deitados um em frente ao outro, olhando-se nos olhos e sorrindo.

Quando eles começaram a se tocar, a necessidade de estarem juntos foi aumentando com a força de uma inundação. E eles se abraçaram com paixão, enquanto a alegria e o prazer os invadiam. Trêmulos de excitação, eles se entrelaçaram, em uma mistura de confiança, necessidade e carinho.

Antonia sentiu que suas mãos buscavam apoio nos lençóis amarrotados, mas ela sabia nada seria capaz de ancorá-la. Quando ela decolou de vez, agarrou-se a ele, com as unhas arranhando-lhe as costas, conseguiu vê-lo em cima dela, seus cabelos castanhos reluzindo, os olhos brilhando demais para ser verdade. Ele tomava tudo o que queria. Tudo. O sangue deles pulsava mais depressa e se tornava mais quente a cada vez que ele a fazia ultrapassar os próprios limites. A pele dos dois estava molhada e quente, banhada em suor enquanto ele continuava a reger os acontecimentos de forma implacável.  De repente, ela o ouviu balbuciar o seu nome ao sentir o corpo estremecer de prazer.

— Eu amo você – disse Kirk com carinho - Sinto muito não ter dito isso mais vezes.

Antonia acordou devagar, ainda sentindo as últimas impressões do sonho.

Ela estava no seu antigo quarto, na casa de sua família em Florença. Havia chegado há três dias, pegando sua mamma  Giovanna de surpresa. Optara por viajar através do vôo orbital de três horas em lugar de usar os sistemas de tele-transporte publico que a traria em quinze minutos, tendo tempo de se preparar para contar a sua família tudo o que havia acontecido.

 Agora estava instalada e já havia entrado em contato com seus editores comunicando a mudança de endereço. Porém pretendia esperar um pouco para voltar a escrever. Suas emoções ainda estavam um pouco bagunçadas, como demonstravam os sonhos que andava tendo.

Trocou de roupa rapidamente e desceu correndo para o andar de baixo, pois já havia sentido o aroma do café da manhã que sua mãe já estava servindo. Giovanna ainda preparava tudo com as próprias mãos, porque sentia verdadeira abominação pelos sintetizadores de comida.

— Que cheiro maravilhoso, mamãe! – disse Antonia ao entrar na cozinha.

Seu irmão Paolo, um adolescente alto e forte, já estava lá, atacando a tigela de bolinhos com creme, preparando-se pra sair para o colégio. Ele a cumprimentou com um aceno, por que sua boca estava completamente cheia.

— Dormiu bem, piccola? – perguntou Giovanna.

— Sim mamma, não se preocupe – respondeu ela.

Giovana, que conhecia a filha muito bem, não deixou de notar a tristeza embutida na voz dela e principalmente nos seus olhos quando respondeu.

— Mas está tudo bem mesmo, figlia mia?— perguntou a senhora.

— Por enquanto não, mamma — disse Antonia suspirando e procurando sorrir – mas espero que um dia possa ficar...

 

FIM

 

Referências do Capítulo:

(1) Conforme mostrado no capítulo anterior.

(2Vide fan-fic “O Incidente Delthara” também de minha autoria.


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