Afastando-se rápido do pequeno rancho, Antonia foi em direção às colinas que o cercavam.  Sempre gostou de passear por ali, principalmente na primavera, quando flores silvestres se espalhavam, enchendo tudo de cor e perfume. De vez em quando parava e desmontava, apenas para apreciar a paisagem à sua volta. Quando havia cavalgado por quase trinta minutos, chegou ao pequeno arroio no limite da propriedade, desmontou novamente para se refrescar à sombra das árvores que ficavam à margem e deixar que o cavalo matasse a sede.  E ali ficou, durante muito tempo, pensando em tudo o que havia acontecido nos últimos dias e no que provavelmente ainda estava por acontecer.

Estava atordoada com a rapidez com as coisas estavam mudando em sua vida. No dia anterior ela se sentia realizada e feliz ao lado do homem que amava. Havia resolvido conversar com James a respeito de dar um passo a mais na relação deles para se tornarem uma família completa. Ela nunca cobrara nada dele, mas sentia que este podia ser o melhor momento pra realizar o seu grande sonho. Ela queria ser mãe.

Agora, um perigo vindo do espaço punha todos os seus planos por terra. A Frota Estrelar, que ela achava fazer parte do passado de James kirk, vinha arrebatá-lo de sua vida para colocá-lo em uma missão que podia resultar na morte dele e de muitas outras pessoas. E ela também se sentia assustada e até um pouco magoada com o entusiasmo que ele demonstrou ao ter a oportunidade de comandar novamente uma nave estelar. Talvez o coração dele, mesmo sem perceber, nunca houvesse deixado realmente a ponte da Enterprise.

No caminho de volta, ela passou pelo pequeno bosque de nogueiras onde eles haviam se conhecido. Parou por um instante, relembrando o momento que percebeu aquele bell'uomo se aproximar e vir em seu socorro. Quando ela o olhou e viu seu sorriso, sabia que estava apaixonada. O período mais feliz de sua vida começou naquele dia.

Ela estava com os olhos marejados quando voltou para casa. Havia tomado uma decisão.

*    *    *

Antonia já estava chegando à cabana quando ouviu o som agudo dos motores de um veículo de transporte que se aproximava. E, de fato, alguns instantes depois, uma pequena nave sub-orbital pousava no gramado em frente à casa.  James havia acabado de sair pela porta e acenou para ela. Antonia levou Tornado até a sombra do carvalho e desmontou, indo ao encontro de Kirk para que recebessem juntos o recém chegado.

A porta da aeronave se abriu e um oficial da Frota Estrelar desceu indo na direção deles.

Ele era um jovem alferes vulcano, de raça negra, que caminhou ereto até onde eles estavam, parando em frente a Kirk, em uma postura rígida.

— Boa tarde, almirante Kirk – disse o vulcano, colocando-se em posição de sentido.

— À vontade alferes – respondeu ele sorrindo – o protocolo não é necessário.

— Sei disso senhor – respondeu o alferes, mantendo a postura.

“Vulcanos”, pensou Kirk, ainda sorrido.

— O almirante Nogura me enviou para levá-lo até o espaço-porto da Frota, senhor – continuou o alferes.

— Por favor, aguarde um instante e poderemos ir – disse Kirk, pegando Antonia pela mão.

— Entendido, Senhor – respondeu o vulcano.

— Posso lhe oferecer algo enquanto espera alferes...? – perguntou Antonia, como querendo saber o nome dele.

— Tuvok (1), senhora – respondeu ele, sério – Agradeço pelo oferecimento, mas, não se incomode. Estou bem.

— Com licença, então – disse ela, acompanhando Kirk para dentro da cabana, de mãos dadas com ele.

Logo que entraram, ela viu que Jim já havia preparado a bagagem dele e colocado no chão perto da porta.

Então Kirk a puxou para si, abraçando-a com carinho.

— Eu prometo voltar o mais rápido possível – disse ele – então nós poderemos conversar melhor.

Ela sentiu seu peito apertar e um nó se formou em sua garganta. Só conseguiu olhar para ele com os olhos tristes e úmidos.

Kirk se inclinou e a beijou nos lábios demoradamente, com carinho.

— Até logo, Tonia – ele falou sorrindo – já estou com saudade.

— Ci vediamo allora— respondeu ela, tentando sorrir também.

Kirk suspirou e pegou sua bolsa, saindo em direção onde estava o oficial vulcano.

— Podemos ir agora, senhor Tuvock – disse ele, sério.

Ao ver a nave decolar, encostada no batente da porta, Antonia deu vazão à sua tristeza e chorou.

— Addio amore mio— disse ela, num sussurro – boa sorte.

Referência do Capítulo:

(1) O alferes Tuvock é o mesmo oficial que, já no posto de comandante, setenta e cinco anos depois servirá à bordo da nave U.S.S. Voyager como oficial tático e de segurança, sob o comando da capitã Kathryn Janeway, quando estarão perdidos no Quadrante Delta da galáxia a mais de 70.000 anos luz de casa (ele será tema do Capítulo 25 da fan-fic “Arquivos da Frota Estelar”).