Kinda Soulmates - McValgrace escrita por fanstalk


Capítulo 1
Something Is Missing... - CAPÍTULO ÚNICO


Notas iniciais do capítulo

Oi oi!

Então eu vi um plot da @pjodasfic sobre como mcvalgrace reagiria a uma morte tão repentina do Jason, principalmente se ele deixasse uma carta explicando que era apaixonado pelos dois melhores amigos. Eu quis escrever ela no mesmo universo do livro, mas acabei mudando no meio do caminho porque ainda não li toa3, o motivo é simples: se eu não leio, o jason ainda não morreu.

o único spoiler aqui é a morte de Jason. E todo mundo já conhece esse spoiler então...

Espero que gostem da leitura!

LEIAM AS NOTAS FINAIS!



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E lá estava Piper. Sozinha mais uma vez. Em choque por assim dizer.

Quando ela conheceu Jason, ela teve um pressentimento, aquele pressentimento tão profundamente dentro de você que você quase fica esperançoso de que estava certo, o pressentimento de que aquela pessoa ocuparia uma parte importante da sua vida, um reencontro de almas gêmeas em algum nível.

Ela jura que sentiu isso quando o viu pela primeira, jura que sentiu cada vez mais que aquele sentimento era forte, profundo e mútuo. Jason era seu melhor amigo acima de tudo, seu maior confidente, seu maior parceiro, seu maior tudo. Quando ela, Leo e Jason se juntavam era como se tudo fizesse sentido em frequências tão altas que causariam um terremoto a qualquer instante. Era aquele tipo de conexão que causava impactos cataclísmicos quando rompida. Era devastador.

E continuava a ser.

Talvez fosse por isso que Piper se sentisse tão sem chão ao se ver passando minuto após minuto sem ver Jason, se lembrando de Jason e então se relembrando que agora ele era apenas uma lembrança do passado. Cada vez que relembrava isso era como se algo se rasgasse sem dó dentro dela.

Jason se fora. Jason estava morto. Morto e enterrado. Não voltaria.

Ela continuava se relembrando disso, de tudo o que falaram para ela, que seu Jason estava morto e que não voltaria mais e que só se comunicariam novamente após a morte. E cada vez que lembrava do rosto, involuntariamente uma lágrima caía de seu olho, seguida de outra e mais outra até que ela voltasse a soluçar.

Não era justo, ele tinha apenas dezesseis anos, ele ia completar dezessete em três meses, eles tinham tantos planos. Talvez voltar com o namoro e parar de fingir que eram apenas melhores amigos, se dar a chance de fazer loucuras na faculdade, falar mais uma vez sobre tudo e nada em alguma noite de verão. Casamento, filhos, risos, choros, prêmios, declínios. Leo.

Mais lágrimas. Jason estava morto.

Piper esteve no enterro, ela estava completamente de preto, os olhos inchados e sem saber se queria olhar para o caixão para saber se estava fechado ou aberto. Ela não sabia como se despedir de Jason, ela nunca quis se despedir de Jason sem ter a certeza de que o veria em algumas horas, era tão cedo para que tivesse que fazer isso, por que tinha que ter acontecido naquele momento? Leo estava viajando quando ele morreu e não chegaria até a semana seguinte.

Acho que era essa a parte que doía mais, perder um alguém importante sem ter outro alguém importante para segurar sua mão e chorar copiosamente com você. Ter uma parte arrancada e não saber se superaria, se queria superar, se conseguiria lembrar de cada detalhe dele em algumas semanas, se desonraria a memória dele em algum ponto. Não, ela não estava pronta para dar um último adeus a Jason, não era justo, com ninguém. Ela queria Jason de volta. Sua cabeça dizia que ela queria Jason de volta, apenas mais uma vez, eles tiveram tão pouco tempo, tanto desajustes, ela queria só um dia a mais para ter acertado tudo mais uma vez.

Mas a realidade a relembrava dia após dia que aquilo não aconteceria.

Primeiro, no café após o funeral, todos a olhavam com pena, com caras de choros e uma empatia que não era de todo concreto, eles poderiam estar de luto por Jason, Jason era incrível, era interessante, fascinante e tão carismático, tão cheio de vida, mas eles não sofriam como Piper e Thalia, Piper tinha certeza que Thalia também estava sentindo como se nada daquilo fosse real, como se estivesse tão rasgada que só a certeza de que Jason não estava morto a cicatrizaria. Os pais de Jason não se importavam tanto com os filhos, deram o dinheiro pro evento fúnebre, mas nem apareceram por lá, e não foi por falta de força, foi por falta de vontade. Piper e Thalia estavam constantemente indo e vindo do banheiro onde choravam copiosamente por alguns minutos e então jogavam uma água na cara para voltar para o evento, torcendo para que acabasse. O segundo momento foi quando Thalia a ligou.

Piper ainda não tinha pregado o olho, chorara a noite toda e mais um pouco, pela primeira vez não teve medo de ver alma penada no escuro do quarto, não se aquilo significasse ver Jason mais uma vez. Uma última vez, mesmo que já não pudesse abraçá-lo ou beijá-lo, se ela pudesse ouvir mais uma vez sua voz ela ficaria agradecida. Mas nada disso aconteceu, além da insônia e do álbum de fotos de seu celular aberto com todos os seus momentos com Jason.

Quando Thalia ligou para Piper, ela achou que Thalia estivesse com o mesmo problema de insônia, mas era algo pior. Beryl Grace estava no hospital, na UTI, aparentemente havia sofrido uma overdose acidental com remédios de sono e para seu tratamento de pele. Em pleno caos com a morte do seu filho mais novo, Beryl estava mais preocupada consigo mesmo do que com o luto, por isso Thalia teve que ficar como sua acompanhante no hospital enquanto Zeus estava em uma viagem de negócios ou com sua outra família, mas o que realmente deixou Piper mais uma vez sem chão foi um pedido que ela não pôde recusar, não depois de sair com tanto esforço da boca de Thalia.

Limpar o quarto de Jason no internato.

No dia seguinte faria sete dias da morte de Jason e, como ele passava a semana estudando em um internato, a escola pediu que algum responsável ou parente fosse até seu dormitório para recolher seus pertences, uma vez que outro aluno ocuparia a vaga imediatamente.

Piper disse sim na hora, mas agora, a um passo de abrir a porta do quarto de Jason, aquilo parecia extremamente masoquista. O cheiro de Jason ainda devia estar em cada uma de suas coisas, o quarto deveria estar repletos daquelas anotações que ele fazia. Olhar tudo aquilo novamente, ela respirou, seria um inferno.

Ela definitivamente começou a chorar quando abriu a porta do quarto e entrou. Ela estava ligeiramente certa, um pouco do perfume que Jason usava ainda estava lá, mas era tão suave e pouco que ela quis chorar, ela não sentiria aquele cheiro mais uma vez.

Entre um soluço e outro ela foi colocando as coisas dentro da caixa que lhe deram. As roupas sujas, as roupas limpas, o travesseiro, os cobertores, tudo que pertencia a Jason sendo empacotado facilmente em uma dúzia de caixas, Piper nunca pensou o quanto era desesperador uma vida tão importante caber em tão pouco espaço, mesmo para alguém tão simples como Jason.

E então, depois de já ter colocado pouco a pouco cada objeto de Jason em uma caixa e chorar toda vez que lembrava que tal objeto tinha um valor especial para ele, ela começou a verificar todo o quarto em busca de objetos perdidos, pertences de valor sentimental jogados por debaixo da cama, escondidos em cantos escuros entre gavetas, lugares altos que só se tirava com a ajuda de uma cadeira. Foi assim que ela recuperou objetos de estimação de Jason, até mesmo seu antigo celular que ele trocara por outro novo antes de tudo acontecer. Ela ainda rezava para encontrar algum caderninho que lhe desse acesso a conta de Jason na nuvem para recuperar cada palavra não dita dele, cada sonho que ele escreveu no bloco de notas e esqueceu de contar a ela. Ela não achou esse caderninho, mas achou um papel dobrado entre a capa e o antigo celular de Jason.

Piper odiava pensar que estava invadindo a privacidade de Jason, mas ela estava tão sedenta para não esquecer ele que só retirou e desembrulhou cada camada que a impedia de ler uma última anotação de Jason.

Ela estava de pé, mas só em ver que a data em que o bilhete foi escrito era de dois dias antes da confusão, ela caiu de joelho no chão, sem apoio, repleta de dor, aquela sensação clara de que estava sendo rasgada de dentro para fora mais uma vez.

Ela tinha que ser forte, ela tinha que ler a carta. Ela tinha que manter a memória de Jason viva.

Então ela começou a ler, mesmo que soubesse que as lágrimas se projetavam cada vez que via o traço de Jason contra o papel, a letra horrorosa tentando sair caprichada ao menos uma única vez. Realmente deveria ser importante.

 

30 de março de 2010. Berkeley, Califórnia.

 

Oi, sou eu, Jason.

Eu provavelmente vou tentar mandar isso via torpedo ou algo assim, mas eu acho que me sinto melhor escrevendo em um papel e fingindo que vou conseguir me expressar bem.

A primeira que coisa que tem que saber é, eu escrevi isso quase três meses antes do meu aniversário de 17 anos porque eu meio que acabei de ler um livro onde diz que se seu sentimento por uma pessoa não muda à medida que você ganha mais anos de vida, isso significa que você deve mantê-la perto e dizer que cargo insubstituível ela ocupa em sua vida. Droga, eu estou falando palavras bonitas para tentar enrolar o óbvio, se depois de passar 3 anos passando meu aniversário com vocês, eu não parar de sentir o que eu sinto, eu quero confessar tudo o que sinto por vocês que eu deixei preso dentro de mim porque eu não posso ter vocês longe.

Eu espero que não me abandonem, porque vocês são tudo que eu tenho de mais precioso na vida e eu sinceramente não consigo nem sequer pensar em viver um minuto de um dia sem ter a certeza de que vou ouvir as besteiras que vocês têm para me falar.

Ok, provavelmente isso vai ser um correio de voz, os torpedos vão limitar o número de caracteres como sempre. Ok, vamos lá.

Eu vivi com esse sentimento dentro de mim por muito tempo, eu espero que seja mútuo ou que vocês não se afastem tão de repente, mas desde que conheci vocês sempre teve uma pequena voz dentro de mim que dizendo que vocês são especiais, que vocês fariam e fazem uma conexão comigo tão forte que tiraria meu ar sem esforço e que me marcaria para sempre. Eu vim sentindo isso por anos, através de apertos de mãos, abraços e beijos no escuro quando ninguém tinha coragem de fazer isso às claras com medo da realidade batendo na porta. Mas essa é a verdade, a verdade é que eu talvez seja um pervertido completamente sem perdão.

A verdade é que eu estou perdidamente apaixonado por vocês: Piper McLean e Leo Valdez. Eu tentei reprimir e dizer que eu só podia gostar de um de vocês, tentei dizer a mim mesmo que eu era hétero ou que era apenas gay, mas aqui estou eu em plena atividade bi romântica e apaixonado pelos meus dois melhores amigos esperando não levar um pé na bunda.

Eu amo vocês, de forma única com milhares de diferenças e semelhanças, mas nunca fraternal. Eu nem acredito em almas gêmeas, mas se eu chegar aos dezessete anos com a plena certeza de que nada em relação a vocês mudou dentro de mim, então somos almas gêmeas, em três pedaços diferentes que me fazem o cara mais feliz do mundo.

Por favor, não me abandonem se não for mútuo, eu posso lidar com um pé na bunda, mas nunca com a ausência de vocês e, se isso for muito chocante, conversem comigo. Eu só não posso perder vocês. Nunca, nunca.

 

Completamente angustiado e apaixonado, completamente seu.

 

Jay.

Se Piper estava sem apoios antes, depois de ler a carta uma, duas ou cinco vezes, ela se sentia flutuando entre mil sentimentos diferentes. E nem metade deles poderiam ser realizados porque Jason não estava mais ali.

Só a ferida aberta, a marca que ele deixara nela. Tão dolorida quanto o dia em que ela soube que nunca conseguiu dizer todas as palavras que queria dizer a ele. Uma dor profunda.

Isso.

Ela ficou catatônica por uma hora antes de conseguir terminar seu trabalho ali, as anotações mais específicas de Jason todas direcionadas à casa de Piper. Thalia já havia dito que não as queria, que as coisas que Jason deixou para trás carregavam mais de suas lembranças com o irmão do que as anotações dele.

Piper as queria antes, as queria agora e as coisas se mantiveram assim.

Ela conseguiu enviar uma mensagem a Leo antes de voltar a chorar até dormir.

Uma mensagem clara e direta.

Precisamos conversar. Venha até minha casa, tem que ser olho no olho ou você provavelmente não vai acreditar.

Leo ainda não sabia da morte de Jason. Leo ficaria arrasado por ter perdido o enterro de Jason, a missa de sete dias e todo o momento fúnebre e de luto, mas ele também sabia que a viagem até sua família comprometeria seu sinal de comunicação.

Tudo estava combinado para que Piper falasse, que Piper mandasse uma mensagem ou um correio de voz avisando, mas após tudo aquilo, toda dor e luto, ela sabia que teria que ser pessoalmente.   

Seu sono foi bem conturbado e dramático, era como se todas as suas memórias com Jason houvessem se tornado um pesadelo, ela quase agradeceu quando alguém a acordou. Até ver quem a havia acordado. Leo.

Leo e seu sorriso simples e os olhos preocupados, ele a estava encarando como se se perguntasse o porquê ela estava com a aparência de quem estava morrendo de dentro para fora. Piper o abraçou o mais forte que pôde, sua respiração quente contra o pescoço dele, ela tinha que escovar os dentes e tomar um café, mas ela não queria se desgrudar de Leo. Ele era a sua única âncora agora.

 Leo a separou devagar, o sorriso preocupado ainda estava lá.

— Está tudo bem? – ele perguntou.

Piper olhou para baixo e colocou a mão na boca, como se para evitar que qualquer mau hálito chegasse até Leo.

— Senti sua falta. Muito. Demais. Quando chegou?

— Literalmente há alguns minutinhos atrás. Você me mandou a mensagem e eu fiquei preocupado, preferi vir aqui antes de realmente voltar para casa. – ele explicou, as mãos nos bolsos deixando claro que sua hiperatividade ainda estava ali e se misturando com a ansiedade, Piper quase podia sentir — Pipes, está tudo bem?

Piper balançou a cabeça.

— Tem algo que eu preciso te falar, mas primeiro acho que precisamos de uma bebida quente, tipo chá. Um chá de laranja.

— Sério?

— Eu já volto. Eu vou só me arrumar aqui no banheiro, você pode me esperar aqui no quarto mesmo. – ela falou juntando uma pequena pilha de roupas e indo até seu banheiro privado.

Piper quase levou um susto quando se viu no espelho, o cabelo repicado estava para cima e para todos os ângulos possíveis escapando de sua trança, os olhos estavam profundos e a boca rachada, além de toda a remela e baba do sono. Ela lavou o rosto da melhor maneira que conseguiu e depois escovou os dentes.

Ele trocou a roupa que fora buscar as coisas de Jason, que era a roupa com que tinha dormido,  por um moletom e legging, ela colocou meias nos pés e refez as duas tranças da melhor maneira que pôde. Sua cabeça ardia como o inferno.

Ela só queria passar por tudo isso de uma vez.

Ela respirou fundo antes de sair do banheiro e enfrentar Leo. Ela tinha um plano, ela seguiria o plano. Mas quando saiu do banheiro, Leo não estava mais em seu quarto e ela soube que seu plano teria que ser alterado levemente.

(...)

Leo e Piper estavam no sofá da varanda da casa de Piper, era bom porque o ar sempre parecia mais puro ali, era bom porque Leo e ela compartilhavam uma bebida quente latina que Leo aprendera durante sua passagem por Hell’s Kitchen. Era bom porque ela estava deixando que Leo falasse todos os pontos bons da viagem antes que eles se perdessem numa notícia sobre Jason.

Leo falava sobre sua família e sobre como até descobrira histórias e inspirações novas para seu hobby de criar coisas. Piper só assentia e tentava se mostrar empolgada com tudo, mas sempre tinha uma hora em que ela teria que falar sobre tudo. Tudo.

— Certo, eu já te falei da minha viagem, e você fingiu estar interessada. Fala o que está acontecendo, tem algo muito estranho. Parece até que alguém morreu.

Piper suspirou.

— Espera... Alguém realmente morreu?

— Bem pior que isso. Jason morreu. – Piper falou, a voz parecendo embargada e por um fio na última palavra.

— Caralho que susto, eu pensei que você estava falando que alguém tinha morrido. Porra, para de me dar susto. Sério, o que aconteceu?

— Jason morreu.

— Sério, para com essa brincadeira.

— Leo, Jason morreu. – Piper falou mais uma vez, ela entendia ele, ela mesmo tinha ficado sem entender que Jason morrera, ouvir essas palavras nem sequer fazia sentido.

— Ele não pode ter morrido. Para com isso. Falei com ele tipo uma semana atrás ou algo assim.

— Leo, eu sei que não faz sentido, mas olha no meu olho. Jason morreu, ele morreu.

— Ele não pode ter morrido. – os olhos de Leo começaram a lacrimejar e a voz a ficar desesperada — Como ele pode ter morrido?

Piper sentia que vomitaria a qualquer instante, a ferida se abrindo tão dolorosamente.

— Foi um acidente de carro. – ela sabia, ela já estava chorando — Jason estava indo falar com os pais sobre nossa viagem pela costa da Califórnia de carro, aquele plano que a gente sugeriu pro aniversário dele de 17 anos. Ele estava num cruzamento esperando que o sinal abrisse quando um caminhão desgovernado veio com tudo em sua frente, aparentemente os freios do caminhão não funcionavam e Jason realmente tentou sair da frente, mas não tinha como. O carro ficou uma lata velha, tiveram que tirar o corpo de Jason dos destroços. Eu não tive coragem de ver o rosto, a Thalia disse que ficou tão feio que algumas partes tiveram que ser costuradas. O enterro foi há sete dias atrás mais ou menos, ele morreu na noite do dia primeiro de abril. Parece ironia, né?

Tudo dentro de Piper estava se mexendo como se quisesse jogar para fora todo esse sentimento em forma de lágrimas e vômito, e esse sentimento simplesmente saiu de si depois de ouvir Leo vomitando as tripas para fora em sua varanda enquanto chorava. Ela o imitou direitinho do outro lado.

Eles passaram quase meia hora para se recuperar disso tudo. Piper e Leo se abraçaram e choraram em cima do sofá como se tentassem fazer com que Jason voltasse e recuperasse seu local perdido, mas Jason não voltaria, Jason estava morto porque um caminhão desgovernado interrompeu sua vida. Nem Piper ou Leo estavam lá para salvá-lo.

Merda! O mundo inteiro ia contra tudo o que sempre desejou.

Leo e Piper dormiram naquela posição no sofá depois de tanto chorar e quando acordaram, Leo ligou para mãe dizendo que acabava de saber sobre Jason e que passaria a próxima semana com Piper, porque não suportaria sair de perto dela naquele momento. Esperanza deixou, mas só porque ela sabia a conexão que aqueles três tinham. Ela também queria que tudo voltasse ao normal, mesmo sabendo que o normal seria em outra perspectiva agora.

Piper guiou Leo para o seu quarto e o abraçou. Leo a abraçou de volta e deu um beijo em seus cabelos, como se Piper fosse a única que o entendia agora. E era verdade.

— Ontem eu tive que ir buscar as coisas de Jason no internato. – Piper soltou.

— Pensei que Thalia fosse o tipo de pessoa que faria isso.

— Ela ia fazer, mas Zeus estava fora de casa e Beryl sofreu uma overdose por misturar remédios de dormir com seus remédios de beleza, ela não está nem um pouco afetada por Jason. Ela disse na cara de Thalia que Jason era filho de Juno, não dela. Não era de se ficar surpreso com isso, mas foi tipo, logo depois que Thalia reconheceu o corpo de Jason, tipo cinco minutos após descobrir que o irmão mais novo estava morto.

— Jason merecia muito mais.

— Sim. Eu passei pelo inferno durante todo o enterro querendo que fosse brincadeira, sabe? Mas toda hora parecia que a realidade batia na minha cara pra reafirmar que ele não ia voltar e eu não consigo parar de chorar desde então.

— E eu estava longe demais para te dar essa força.

— Não foi culpa sua, Leo. E agora nós dois vamos nos dar força, você pode chorar o tanto que quiser e eu vou te acompanhar.

— Acha que Jason gostaria de ver que ele causa um vazio enorme na gente?

— Não desse jeito. Não. Ele não suportava ver a gente sofrendo.

Leo deu uma risada chorosa.

— Acho que a parte mais triste foi que nenhum de nós pôde falar para ele que a gente amava ele uma última vez.

E então o coração de Piper estourou. Tinha algo que Leo precisava ler.

Ela se separou dele e buscou pelo papel dentro do bolso da calça que usara no dia anterior. Ela o entregou a Leo e o abraçou forte. Ela não iria ler mais uma vez, ela só queria que Leo lesse e talvez lhe falasse sobre algum momento romântico que teve com Jason e que teria dito sim a Jason, mesmo que isso significasse ser seu namorado também.

— Leo, essa carta, ela era para ter sido mandada pra gente de alguma forma quando Jason tivesse 17 anos, daqui há três meses. Eu encontrei ela quando fui limpar o quarto dele no internato. De todas as coisas mais difíceis de fazer, essa carta foi a pior. Você quer que eu fique aqui e te abrace ou que eu saia e te dê um tempo para ler?

Leo pegou a carta e olhou para ela, os olhos cor de chocolate ficando profundos.

— Você pode ficar, Pipes.

E Piper ficou lá. Voltou a abraçar Leo e escondeu seu rosto contra a curva da barriga dele, então quando aquele ponto começou a tremer, ela soube que Leo estava chorando assim como ela esteve, e que ele leria mais algumas vezes assim como ela leu. E que ele também sentiria aquele vazio gigante rasgando de dentro para fora, algumas vezes lhe impedindo até de respirar.

Quando ela notou que isso estava acontecendo com Leo, ela o abraçou forte. Eles estavam no mesmo barco: provavelmente apaixonados por um cara que só reencontrariam depois de morrer, e ele ainda estaria tão bonito e brilhante quanto no dia de sua morte.

Leo a abraçou depois de tentar parar ser forte para não sofrer. Mas o luto tinha que ser sofrido ou ficaria num ciclo sem fim. Ele já sabia disso, já havia passado por vários lutos na família.

— Pipes? – Leo a chamou.

— Oi.

— Seria loucura se eu dissesse que aceitaria? Tipo namorar com ele e com você ao mesmo tempo?

— Não, eu também aceitaria.

— Pelo luto?

— Porque eu sinto o mesmo que ele.

— Sério?

Piper assentiu.

— Foi por isso que terminamos da primeira vez, porque eu estava confusa, eu amava Jason, continuo amando ele, mas eu amo tanto você que dói. Eu queria que vocês dois fossem meus namorados, mas eu fiquei muito assustada.

— E quando vocês voltaram na segunda vez?

— Foi um relacionamento aberto, foi por isso que eu te convenci a ir naquela festa comigo, foi por isso que eu vendei os seus olhos e fingi ser a Reyna. Eu só queria te beijar até ter certeza de que não estava ficando louca.

— Eu sabia que era você o tempo todo. Eu quis, eu ainda quero.

— Então por que você não falou antes? Você sabia que meu namoro com Jason era aberto.

— Porque eu também queria Jason. Eu beijei ele alguns dias depois do nosso beijo. Eu estava apaixonado pelos meus dois melhores amigos e eu não tinha entendido ainda que era poliamorista, então eu achei que poderia beijar os dois e decidir com qual dos dois eu ficaria, com qual dos dois eu sentia mais.

Silêncio.

Os dois estavam ligando as suas descobertas. Tudo poderia ter sido diferente.

— Queria que tivesse sido tudo diferente.

— Eu também.

— Você acha que Jason está vendo a gente agora? Tipo se declarando um para o outro e dizendo que aceitaria o trisal porque os três sentiam a mesma coisa e tinham medo de falar?

— Provavelmente. – Piper finalmente sorriu — Eu acho que a gente agiu como um trisal e só não queria admitir. Todo mundo se beijando esporadicamente e sentindo a mesma coisa, mas fingindo que nada estava acontecendo.

— Você se lembra quando a gente decidiu acampar? E aí dividimos o mesmo colchão e decidimos ficar vendo as estrelas de noite?

— Quando a gente se beijou?

Leo assentiu.

— Jason estava no meio da gente, você deu um breve cochilo e a gente se beijou. E então ele adormeceu e você acordou, a gente conversou e você me beijou. E então eu dormi, e quando acordei, os dois olharam para mim como se eu fosse tudo. – ele fez carinho nos cabelos lisos de Piper — Eu nunca senti algo tão certo na vida.

— A gente gastou tanto tempo.

— Sim.

— Você acha que ele era nossa alma gêmea? – Piper perguntou — Eu não consigo parar de pensar sobre isso. Faz tanto sentido que a gente seja.

— Eu acho que somos. Os três, era pra sermos almas gêmeas inseparáveis, mas agora que o Jason foi embora...

— Eu sei. Mas eu não quero me separar de você também.

— E nem nunca vai. – Leo diz sorrindo para ela. Um selinho inocente acontece, Leo sabe que ainda tem uma parte dele que espera que Jason chegue e trate os dois como namorados, mas que essa parte vai sempre ficar em vazio ou em passado de agora em diante.

— Eu te amo. – Piper diz antes de adormecer.

— Eu te amo ainda mais, Rainha da Beleza.

(...) 3 MESES DEPOIS (...)

Piper e Leo estavam namorando.

Ainda tinha uma parte dos dois que sabia que ainda sabia que faltava Jason, ainda tinham pessoas que olhavam torto para eles como se eles tivessem esquecido Jason, mas eles nunca esqueceriam. Todos os dias eles falavam sobre Jason antes de dormir, tão profundamente que era óbvio o desespero por não esquecer uma parte importante deles.

Quando Leo acordou no dia seguinte, Piper o abraçava como se ele fosse a concha menor, ainda era muito cedo. Era domingo e nenhum dos dois deveria estar acordados até o meio-dia, mas cambaleante Leo notou o que o tinha acordado.

O computador de Piper.

Ele ligou com alguma notificação e clareou bem na cara de Leo, por isso ele estava acordado. Leo levantou da cama e se desfez dos braços de Piper apenas para desligar o computador dela devidamente.

Só que ele encontrou uma bomba ali.

Um e-mail de Jason. Havia sido enviado para Piper há exatos sete minutos atrás. Leo olhou no calendário do computador. Era aniversário de Jason. Jason completaria 17 anos hoje. Leo e Piper haviam combinado de dormir até o mais tarde que pudessem para que o dia passasse mais rápido e depois visitar o túmulo de Jason, eles esperavam sentir a ferida mais fundo hoje e reprimir o choro em momentos aqui e ali, ser forte um para o outro e pensar sobre cada detalhe possível de Jason, eles só não esperavam por isso, por esse e-mail.

Leo correu para tentar acordar Piper da maneira mais eficaz que pudesse.

— Pipes? Amor? Rainha da Beleza? Coração? – Leo a chamou, mas Piper continuava apenas virando para o outro lado e se cobrindo com o edredom, então Leo teve que fazer algo — Pipes, Jason acaba de nos enviar um e-mail.

Leo notou pela expressão corporal que Piper havia acordado. A garota demorou um pouco para abrir os olhos e entender o que estava ao seu redor.

— Bom dia. – ela falou com sua voz rouca.

— Bom dia, amor. – Leo chegou mais perto para sentir o cheiro de seu cabelo recém-lavado — Eu não queria ser a pessoa que traria isso à tona tão cedo, mas hoje é aniversário do Jay e acabamos de receber um e-mail dele.

— Impossível. – as palavras para seu argumento estavam implícitas: Jason estava morto.

— Eu também achei isso até seu computador me acordar com essa bomba.

Piper e Leo levantaram da cama e foram até o computador de Piper. Então ela pôde ver que era verdade: lá estava um e-mail de Jason endereçado a ela.

— E agora? – ela perguntou.

— Vamos clicar.

E então Piper clicou.

Nos dados do e-mail, ela pôde ver que quem havia mandado era mesmo Jason e que ele havia mandado não só para ela, como para Leo também. Ela só não entendia como ele havia mandado esse e-mail se estava a sete palmos abaixo da terra.

O assunto do e-mail dizia: veja o vídeo. Na descrição de texto tinha apenas uma mensagem: desculpa se você não puder me perdoar depois desse vídeo, mas quero que saiba que é assim que eu me sinto e que seja mútuo de todas as partes. Jay.

Um vídeo vinha anexado ao e-mail. Piper sentiu as mãos de Leo massagearem seu ombro com delicadeza para lhe transmitir força, então ela só precisou respirar fundo para dar play.

Jason estava no vídeo. Os cabelos loiros estavam bagunçados, os óculos no rosto e a boca com um sorriso nervoso, o cenário atrás dele deixava claro se tratar de seu quarto no internato, parecia bagunçado como sempre.

Oi... Eu meio que programei esse e-mail para vocês porque se eu fizesse isso por conta própria, provavelmente nunca seria enviado, e uma vez que eu ativo esse robô, é muita burocracia para desabilitar a função, então... Aqui está seu e-mail programado! Uhul! — Jason exclamou, Piper arqueou a sobrancelha tendo certeza de que Jason estava estupidamente nervoso quando enviou esse vídeo — Ok, eu vou parar de agir estranho, é só que eu estou com medo de que tudo isso mude as coisas para pior. Você deve estar se perguntando o porquê de mudarem para pior, bom veja o vídeo. Eu posso te responder porque eu decidi falar mesmo assim. Bem, eu não consigo mais guardar tudo isso para mim, eu juro que não, eu não quero mais fingir e eu quero que vocês saibam toda a verdade do que se passa dentro de mim. Calma, eu não estou com nenhuma doença terminal, eu não vou morrer tão cedo.— ele respirou fundo no vídeo, Piper e Leo também respiraram fundo nesse momento, lá estava o buraco se abrindo novamente — Eu comecei a ler um livro, e ele realmente me tocou, ele dizia que se o sentimento romântico não muda à medida que novas idades chegam, então pode significar que você encontrou sua alma gêmea. Por que eu estou falando isso? Porque eu me dei conta de que eu não quero passar mais nenhum minuto da minha vida sem poder chamar Leo Valdez e Piper McLean de namorados. Eu sou a porra de um assexual birromântico poliamorista apaixonado pelos meus dois melhores amigos e esperando que eles sintam o mesmo. Então esse vídeo é uma declaração de tudo o que eu sinto e um pouco mais. Eu amo vocês, eu quero construir cada parte da minha vida com vocês, eu quero tudo com vocês, dos beijos a brigas, das conquistas materiais até às abstratas. Eu quero tudo. Agora eu quero, eu preciso saber... Piper McLean, Leo Valdez, vocês me aceitam como seu legítimo namorado? Se sim, me deixem saber. Se não, não se afastem, eu posso conviver com todas as consequências do mundo, mas não sem vocês. Eu amo você com todo o meu coração. Tchau.

E o vídeo acabou.

Piper e Leo estavam respirando pesado e deixando que as lágrimas lavassem seus rostos por inteiro. No fundo, se algo faltava dentro de seu relacionamento, não faltava mais.

Leo olhou para Piper e pegou sua mão.

— Então somos um trisal agora?

— Sempre fomos.

— Como vamos avisá-lo?

— Ele provavelmente já sabe.

— Sim... – Leo sorriu — Café da manhã para comemorar o novo trisal?

— Com mesa para três.


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Notas finais do capítulo

OK, era pra ter sido uma oneshot curtinha, mas se você chegou até aqui, você simplesmente acabou de ler mas de 5,3k de palavras, xuxu!

Espero que tenham gostado. Essa fanfic só saiu porque, além de amar o plot, tive todo o apoio e incentivo dos meus amiguinhos, eles sabem quem são e eu espero que eles comentem dizendo o quanto ficaram ansiosos por essa fic!

No mais, comentem também! Deixe seu favorito na história, compartilhe com aquele amigo legal e, se quiser, me siga aqui! Essa quarentena vai ser bem fanfiqueira para mim! kkk

Até a próxima?

P.s. inspiração de escrita: os sete maridos de Evelyn Hugo. LEIAM!!

P.s.s. para aqueles que desejam puxar papo, me chamem lá no twitter! meu user é @pipeynaallstark



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