Hermione Granger acomodou as costas na cadeira confortável da biblioteca, direcionando toda sua concentração para a leitura. Tinha comprado aquele livro em uma livraria trouxa, junto com seus pais – era uma de suas atividades favoritas juntos – antes de voltar a Hogwarts, para ter o que ler em seu tempo livre quando ficasse entediada.

A livro se chamava Garota Americana e era sobre uma menina “rebelde sem causa”, como seu pai tinha chamado, que descobre um amor. Era um clichê típico e era isso que ela mais gostava na narrativa.

Viu quando uma sombra se aproximou, tapando a luz que iluminava seu livro e direcionou os olhos castanhos para a pessoa. Parado acima dela, olhando seu livro com interesse, estava Cedrico Diggory, o garoto da lufa lufa mais famoso da escola.

— Sim? – Hermione arqueou as sobrancelhas, não conseguia ler sem a luz que ele impedia de passar.

— Me desculpe – Pediu, parecendo ser arrancado de um transe – Hermione Granger?

Ficou um pouco chocada por ele saber seu nome, mas lembrou que tinha ido ao jogo de quadribol no começo daquele ano com os Weasley e ele estava junto. O caminho inteiro ela e Gina ficaram comentando quanto ele era bonito. Suas bochechas ficaram muito vermelhas recordando as coisas que tinha dito sobre ele. E se ele estava ali por causa daquele dia? E se ele quisesse tirar a limpo os comentários sobre o cabelo ou sobre sua bunda?

Hermione estava a um passo de surtar, mas fingiu compostura.

— Sou eu.

— Eu tinha quase certeza disso – Riu suavemente – Eu queria saber se você poderia me ajudar a encontrar um livro.

— Anh, claro – Deu de ombros sem entender – Porque eu?

— Semana passada tentei pegar, mas estava com você. A bibliotecária que disse – Falou em tom de desculpas.

— Ah, sim. Quer a história do quadribol?

— Sim – Sorriu contente por ela ter lembrado – Fiquei curioso sobre o livro.

— Está por aqui – Comentou levantando da mesa e analisando as prateleiras empoeiradas – Achei.

Comemorou puxando o livro, que estendeu para Cedrico.

— Obrigada. Posso me sentar com você?

Com um aceno positivo com a cabeça, Hermione tornou a pegar seu lugar, vendo que o garoto sentava em sua frente. Abriu mais uma vez o livro, mas não conseguia se concentrar. Não queria saber do David ou de Sam, queria saber dos cabelos castanhos que insistiam em cair nos olhos de Cedrico. Já não ligava mais para as roupas pretas da protagonista, só queria saber do cachecol amarelo e preto que rodeava o pescoço dele, esquentando seu corpo e deixando suas bochechas rosadas pelo aquecimento.

Sentiu vontade de ter Gina ali, para que pudessem discutir o quanto ele era gato! Mas então pensou melhor e saboreou o fato de tê-lo ali, só para que ela pudesse observar. Com certeza contaria aquilo mais tarde para a amiga, que morreria de tanta inveja. Ter a visão privilegiada de Cedrido Diggory concentrado em um livro bem na sua frente, não é para qualquer uma.

— Hermione – Chamou tirando os olhos do livro e, no mesmo instante a garota fingiu estar submersa no seu – Pode me ajudar aqui?

— Claro – Falou animadamente por conversar mais um pouco com ele.

— Sabe o que era para estar escrito aqui? Está sujo de café, não consigo ler nada.

Hermione revirou os olhos, com a certeza de que tinha sido Ron quem tinha feito aquela mancha no livro, mas se repreendeu porque, por causa daquilo, tinha um motivo para falar com o garoto.

— Eu acho que era para ser “da era”. Ficaria “o melhor apanhador da era”.

— Hum – Analisou as palavras pretas na folha amarela e manchada – É, pode ser. Embora eu não concorde com essa opção. Ele nem foi um jogador tão bom.

— Eu pensei a mesma coisa! – Exclamou animadamente – Poxa, o cara era bom, mas “apanhador da era” meio exagerado, só que não tem nada que encaixe ali fora isso.

— Sim! – Ficou contente – Alguém me entende! Obrigada por existir. Eu sempre falo essas coisas e as pessoas ficam “você não entende de quadribol de verdade”.

— É mesmo! Mas no meu caso é assim “você é uma garota, não entende de quadribol” – Os dois riram um pouco, antes de serem repreendidos pela bibliotecária.

— Silêncio! – Sibilou Madame Pince.

— Opa – Cedrico baixou os ombros, direcionando os olhos mais uma vez para o livro – Esqueci que estávamos aqui.

— Eu me animei demais – Comentou em tom de desculpas – Mas é a primeira vez que eu conheço alguém que pensa como eu sobre esse cara.

— Eu também.  Se importa se eu sentar do seu lado?

Com um aceno rápido com a cabeça dado por Hermione, o lufano levantou e mudou de lugar. A garota nem mesmo respirava, tamanho o nervosismo de estar do lado dele. Só conseguia pensar em como Gina reagiria quando ela contasse e o quão próximo de seu corpo ele estava. Ela conseguia sentir o calor irradiando dele. Por Merlin, não conseguia nem pensar mais, seu corpo pulsava com a proximidade, exigindo mais e mais.

— O que está achando do livro? – Murmurou.

— Muito interessante, mas não é bem como eu esperava – Deu de ombros – Achei que seria mais narrativo e menos jornalístico.

— Ah bom. Uma pena.

Não conseguiu imaginar mais nada para conversar com Cedrico, então se calou e fingiu mais uma vez que lia seu livro, sem nem mesmo focar nas palavras.

— Hermione – Sua voz era apenas um sussurro.

— Fala.

— Eu não vim aqui só pelo livro.

— E porque veio? – Sua confusão era genuína.

— Pra ver você – Confidenciou e, antes que a garota pudesse surtar com a surpresa, Cedrico aproximou seu rosto do dela, roubando-lhe um beijo rápido e desejoso.

Se afastou envergonhado, sem saber como ela reagiria.

— Isso foi... Legal – Não conseguia controlar o sorriso que surgia em seu rosto.

— Podemos fazer de novo – Sugeriu e recebeu um selinho apressado.

— Com certeza – Sorriu para o garoto da lufa lufa, que aprofundou o toque dos lábios.