Um jantar para Daisuke escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Um jantar para Daisuke




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Haru estava concentrado com a faca em sua mão cortando os pepinos bem finos. Ele depois temperou e colocou a tigela na geladeira, enquanto refogava a cebola, o repolho e as especiarias que havia comprado naquela tarde. Fazia tudo com o olhar atento de Daisuke.

O pequeno apartamento do detetive era um conjugado alugado no centro da cidade. Não era grande, mas ele foi muito habilidoso em transformar o ambiente para que fosse confortável e bem organizado a medida do possível, e de suas economias. Haru Kato não achava que precisava de muito luxo, e por isso não se preocupava em não ter uma televisão de última geração, ou o celular recém lançado, nem um fogão novo. Ele se virava muito bem com aquele fogão elétrico de uma boca, os assados, tentava fazer no micro-ondas e até que ficava bom. A geladeira, que havia comprado em uma loja de usados, era antiga, mas funcionava perfeitamente bem.

A presença de Daisuke em seu apartamento era um pouco estranha. Quando Kambe o convidou para jantar, Haru negou. Primeiro, ele não queria que Daisuke gastasse dinheiro em restaurante fino com ele. Segundo, Haru não teria dinheiro de pagar sua parte na conta.

Por isso, decidiu que era melhor eles comprarem os ingredientes e cozinharem o jantar. Até mesmo Haru ficou surpreso com a sua atitude, mas gostou de ir até o supermercado com Daisuke, que parecia ter entrado em uma nave espacial de outro mundo, não sabendo exatamente para onde olhar, curioso com tudo.

— As pessoas compram mesmo peixe enlatado? — Ele perguntou, quando viu as prateleiras de sardinhas e atuns. Haru focou no que poderiam comer naquela noite e tentou evitar que Daisuke colocasse no carrinho coisas desnecessárias como sálvia do Himalaia.

Ao pagarem a conta, Daisuke já estava com seus óculos escuros no rosto, mas Haru o impediu. Ao menos aquela conta ele conseguia pagar, não ficou tão exorbitante o valor. Depois, guardou a nota fiscal e o troco no bolso e eles caminharam pela calçada até seu apartamento.

Entraram e subiram os degraus, até o andar onde Haru morava. No caminho encontraram algumas crianças brincando no corredor. Daisuke nada disse, e seguiu Haru em silêncio todo aquele tempo, carregando duas sacolas de compras.

Assim que Haru abriu a porta do apartamento, ele pediu para que o detetive se sentisse a vontade. Kato tirou o casaco bege e pendurou no cabideiro atrás da porta, e pegou as sacolas das mãos de Daisuke, sugerindo que ele tirasse também o paletó. Quando virou-se, viu Kambe analisando a porta e o cabideiro, sem saber exatamente como pendurá-lo, já que todos os ganchos estavam ocupados. Ele então dobrou o paletó e deixou em cima do sofá cama.

Depois disso, ofereceu ajuda, mas Haru não sabia se o colega de trabalho realmente sabia fazer algo na cozinha. Disse apenas que ele poderia relaxar e beber uma cerveja. Haru abriu a porta da pequena geladeira e pegou duas latinhas de cerveja e entregou uma para ele.

Os dois não tinham uma relação muito boa no trabalho, é verdade, mas a hora da comida era algo sagrado para Haru. Ele gostava de preparar suas refeições não apenas para economizar dinheiro, mas, também, porque se sentia realizado em prover a sua própria alimentação.

A panela elétrica estalou e ele apertou o botão para que mantivesse morno o arroz recém preparado. A mesa era dobrável, ele montou no meio do apartamento e puxou duas cadeiras também dobráveis, já que assim poderia economizar mais espaço.

Após a mesa pronta, a comida servida, eles se sentaram. Haru saboreou a cerveja com gosto e até soltou um barulhinho com a boca de forma prazerosa. Sentia-se grato por mais um dia de trabalho realizado, o gosto da comida e da bebida até ficava melhor naquelas ocasiões.

— Obrigado pela refeição. — Daisuke disse, unindo as mãos e fazendo um gesto respeitoso. Ele pegou os hashis e segurou a tigela com arroz para experimentar a comida. Haru cresceu os olhos para cima do detetive e, de forma inconsciente, ele crispou os lábios, ansioso para saber o que Kambe diria sobre sua comida. Assim que mastigou e engoliu o arroz, ele pegou a outra tigela com pepinos e fez o mesmo processo, em seguida com o repolho e com o peixe.

Daisuke não falou nada enquanto comia, mas Haru ouviu um ou outro gemido de prazer quando a gente come algo que nos agrada. Isso fez o detetive sorrir e se atentar a sua própria comida. De fato, quando comeu, sentiu-se bem. A comida estava boa e, curiosamente, a companhia também era agradável.

Ele esperou que Daisuke zombasse de sua moradia, do modo que ele vivia, da sua comida e até da cerveja oferecida. Contudo, Kambe estava ali compartilhando com ele um momento simples, sem ter gastado milhões de ienes. E, ainda assim, parecia satisfeito.

Assim que terminaram a refeição, Haru organizou os objetos na pia e puxou a manga da camisa para lavar a louça. Daisuke estava parado atrás dele, com as mãos no bolso da calça, observando seu trabalho.

— Eu posso fazer isso. — Kambe disse, tirando as mãos dos bolsos e dobrando a manga da camisa que vestia. Ele se aproximou da pia e olhou para os objetos.

— Ah! Espera. — Haru falou, pegando um avental e colocando em Daisuke. — Para não sujar sua camisa, é bem difícil tirar mancha de camisa branca. — Haru sabia que o detetive poderia comprar milhares de camisa se uma manchasse, mesmo assim, não significava que ele tinha o direito de estragar uma roupa tão bonita e cara.

Daisuke lavou a louça e Haru as guardou. Terminaram a noite sentados no sofá cama, assistindo ao jornal na televisão. Eles trocaram alguns comentários sobre as notícias, mas logo o celular de Daisuke tocou.

— Preciso ir. — Ele se levantou e pegou o paletó. Antes de sair, virou-se para Haru. — Quero retribuir o jantar, por favor, vá até minha casa amanhã.

— Não precisa retribuir.

— Eu insisto. — Kambe ajeitava as abotoaduras da manga, seus olhos ergueram na direção de Haru.

— Tudo bem. Eu vou. — Kato respondeu, depois de achar que não poderia ser rude com aquele pedido. Antes de fechar a porta, Daisuke ainda fez mais uma pergunta.

— Qual seu prato favorito?

— Acho que... soba. — Haru respondeu e Daisuke ainda se manteve parado no corredor do prédio.

— De algum chef específico?

— Eu gosto de qualquer soba. — Haru estreitou os olhos, não entendendo a pergunta.

O trabalho no outro dia foi muito mais burocrático do que Haru gostava de fazer, mas ele ficou concentrado em terminar de arquivar as fichas e escrever os relatórios necessários. No final do expediente, ele suspirou, espreguiçando-se e relaxando os ombros. Havia sido um dia cansativo e precisava mais do que nunca daquela cerveja gelada.

Quando saiu do prédio do departamento de polícia, suspirou novamente, recordando-se de que havia marcado com Kambe Daisuke um jantar.

Ele já esperava uma refeição muito requintada em uma grande mesa na sala de jantar da mansão do detetive. Imaginou cada um sentado em uma ponta da mesa, precisando de um aparelho eletrônico para se comunicarem de tão longe que estariam.

Haru fez uma expressão desanimada, mas não poderia ser rude e negar o convite em cima da hora. Ele ouviu então o ronco do motor do carro do detetive, e abriu os olhos, vendo Daisuke estacionar o carro na sua frente, convidando-o para entrar.

Kato aceitou o convite, afinal, economizaria na gasolina.

— Estamos chegando. — Daisuke disse, mas Haru recordava-se muito bem da última vez que esteve naquela mansão.

Assim que chegaram, um mordomo abriu a porta e recebeu os casacos dos dois. Daisuke foi andando na frente e Haru apressou-se para tirar seu casaco, agradecendo ao mordomo. Mal conseguiu se apresentar formalmente.

Eles caminharam pela mansão e passaram por algumas áreas bem decoradas, uma delas era a sala de jantar e havia de fato uma mesa grande para receber convidados. Contudo, eles não pararam ali. Chegaram então na cozinha.

Era um cômodo amplo, com muitos armários e duas geladeiras, os eletrodomésticos eram de última linha, e havia uma bancada de mármore no centro da cozinha, com um fogão de quatro bocas, além de outro fogão no estilo industrial próximo da pia, em frente a janela. A vista era do gramado iluminado por pequenas luzes.

Haru viu uma mesa arrumada para dois, ele se perguntou se a irmã de Daisuke não estaria em casa. Provavelmente poderia estar em alguma viagem importante. Pensou em puxar assunto, perguntando sobre ela, mas assim que abriu a boca, viu um homem vestido de branco entrar na cozinha.

— Haru, esse é Tsuyoshi Murakami. — Daisuke fez as apresentações. — Ele vai cozinhar para a gente essa noite.

Kato o cumprimentou, mal acreditando que estava diante de um dos cozinheiros japoneses mais famosos. Era um hobbie assistir programas de culinária, principalmente os de competição, e o chef Murakami era sempre um convidado especial.

Enquanto Daisuke se sentava para observar o cozinheiro em ação, Haru não se conteve em ficar longe. Observou o trabalho de Murakami a todo instante, e recebeu algumas dicas valiosas sobre como preparar aquele prato em especial.

Talvez, para Kato, aquela noite ficaria na memória. Soba era um de seus pratos favoritos porque recordava sua infância e seus avós. Era uma lembrança muito especial, que o sabor daquela comida fez ele sentir novamente.

No final do jantar, estava sorrindo.

— Obrigado pela refeição. — Ele disse, movendo a cabeça num cumprimento gentil.

— Fico feliz que gostou. — Daisuke respondeu. — Ah! Eu comprei cerveja.

— Você comprou? — Haru perguntou, a expressão surpresa com certeza fez Daisuke se corrigir.

— Eu pedi para comprarem. — Ele disse. — Mas eu pedi para comprarem a que você gosta.

— Obrigada por lembrar. — Haru se levantou e Daisuke o direcionou para a outra sala, onde poderia beber a vontade.

Quando as luzes se acenderam, Haru precisou de um momento para assimilar o que estava acontecendo. Havia uma geladeira de porta de vidro com a cerveja que ele costumava beber, mas não somente isso.

— Fique a vontade. — Daisuke disse, enquanto era servido por um empregado.

Haru olhou ao redor, não entendo por que ele comprou tantas cervejas, afinal, eram apenas os dois para o jantar, não era?

Na manhã seguinte, quando li as notícias do dia, Haru passou o olho pelo caderno de economia, quando viu a notícia de que uma das companhias brasileiras, de maior lucro na América Latina, havia sido vendida pelo valor de 74 bilhões. Aquela era a empresa que fabricava sua cerveja favorita.

Haru olhou para os lados, vendo Daisuke em sua mesa, digitando alguma coisa no computador.

“Ele não seria capaz de fazer isso, seria?” ele se perguntou, mas, a partir daquele dia, não precisou mais comprar cervejas. Recebia novos engradados todas as semanas em seu endereço.

 

(Cupom Fiscal)

(Custos gerados convertidos em reais)

Supermercado: R$35

Contratar Murakami: R$15.000

Comprar cervejaria brasileira: R$ 74.000,000,000


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Notas finais do capítulo

Vem, vamos animar a categoria. Comentem.



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