Palavras Perdidas escrita por SraLovegood


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! E caso sim, comentem?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789653/chapter/1

“Eu juro que sinto que meu coração cresce um pouquinho mais a cada sorriso seu, e isso é desesperador, porque eu juro que ele já está em minhas mãos, exposto e batendo por você.”

“Eu temo e anseio em medidas iguais a cada toque seu.”

“Eu olho para você ao meu lado e esse momento é o mais próximo que eu possa vir a gostar da lua.”

“Dizem que a ignorância traz felicidade. Me pergunto diariamente se a distância também pode trazer.”

“Eu passei oito minutos consecutivos encarando sua boca hoje na aula e você nem percebeu. Esse provavelmente é o meu recorde de menor tempo. Parabéns para mim?”

 

Sirius sentiu como se houvesse um bloco de concreto em cima de seu peito. Ele nem sabia realmente se ainda estava respirando. Ele tentou piscar algumas vezes, no intuito de talvez fazer as palavras mudarem magicamente, ou quem sabe apenas a caligrafia.

Mas não. Ainda estava lá. Todas aquelas frases carinhosas e românticas escritas nas bordas de várias páginas do antigo livro de adivinhação. O livro de adivinhação de Remus. A caligrafia de Remus.

Ele francamente não conseguia decidir se o fato de ter confundido acidentalmente o livro de Runas Antigas que ele queria emprestado com o livro de Adivinhação foi a pior ou a melhor coisa que já acontecera com ele.

Por um lado, talvez isso acabasse de vez com toda a esperança ridícula que ele mantinha acesa no peito.

Por outro, ele não sabia se seu coração poderia ser um dia aquecido novamente.

Apesar do que muitos achavam, Remus realmente era quem Sirius mais confiava.

Não que ele não amasse James, pois ele amava. James era o irmão que ele sempre desejou que seu irmão de sangue fosse.

A questão era que, assim como ele mesmo, James não era a pessoa mais confiável para dar um conselho ou dar ouvidos na maioria das vezes.

Não, essa pessoa era Remus. O gentil e carinhoso Remus, que sempre estava lá com palavras sábias e tranquilas para guiar os outros em seus caminhos tortuosos e juvenis.

Sirius perdeu a conta de quantas vezes Remus conseguiu entendê-lo quando nem mesmo ele se entendia. Remus era a voz que dava sentido a bagunça que se passava dentro dele.

Ele era quem o ouvia por horas e, ao contrário de todos os outros, realmente fazia parecer que o que ele dizia era importante. Fazia parecer que ele se importava.

Remus o fazia se sentir importante. Especial. Querido.

Por esse e outros milhares de motivos que poderiam encher um livro, aqueles dias em que ele tentou afastar-se de Remus na vã esperança de esquecê-lo foram alguns dos piores de toda a sua existência.

E ver o olhar magoado de Remus sempre que Sirius fugia dele era infinitamente pior.

Mas Sirius de alguma forma se convenceu que isso era para o melhor, que assim ele logo poderia deixar de ter esses sentimentos diferentes por Remus e eles poderiam voltar a ser amigos.

Não o julguem por isso, afinal, Remus não estava lá naqueles dias para lhe dizer o certo a se fazer.

..

 

Em todos aqueles dias cinzas e angustiantes, em que Sirius sentia que seu laço especial com Remus escapava cada vez mais entre seus dedos, houve um que quase fez sua determinação de manter distância ruir.

Ele estava passeando antes do jantar perto das estufas, esperando o horário para encontrar-se com seus amigos no Grande Salão quando os viu.

Remus, seu querido Remus, ali, com a cabeça apoiada no ombro de uma figura ruiva menor. Mesmo com a escuridão da noite já instaurada, Sirius podia ver bem os ombros finos e largos que pareciam tão frágeis sacudindo. Podia também ouvir alguns soluços baixinhos.

Sirius nunca quis tanto dar tudo o que tinha pela felicidade de alguém.

A vontade de ir lá e abraça-lo ele mesmo quase o consumiu por inteiro. O desejo de acariciar os cabelos de mel e beijar todas as dores.

E então ele sentiu raiva. Raiva por quem fez o outro garoto se sentir assim.

Foi a pessoa especial de Remus?

Sirius achava que sim.

Sirius sentiu uma vontade imensa de rir e chorar da ironia do universo.

Ele daria qualquer coisa para ao menos consolar o garoto que ele amava enquanto este chorava por outra pessoa. Enquanto isso, o detentor dos sentimentos preciosos de Remus fazia com que ele sentisse essa dor.

Sentindo seus próprios olhos lacrimejarem, Sirius deu meia volta.

Ele estava muito imerso em seus próprios sentimentos para notar que a figura menor de olhos verdes o seguia com um olhar atento.

..

 

Sirius estava mais uma vez sozinho em uma sala de aula vazia tentado inutilmente entender as palavras de seu livro de poções.

Ele parecia fazer muito isso nos dias de hoje: estar sozinho.

Ele estava imerso o suficiente em pensamentos autodepreciativos para não notar a pequena figura entrando na sala de aula. Ele deixou o livro cair no chão quando a pessoa bateu com os nós dos dedos na parte de dentro da porta para chamar sua atenção.

“Oh, Lily...”

Ele olhou curiosamente para a garota na entrada da sala, que fechou a porta cuidadosamente.

“Hey, Sirius, eu estava te procurando.”

A ruiva disse enquanto se aproximava de Sirius, que estava sentado na janela.

“Me procurando?” Sirius perguntou com uma sobrancelha arqueada, enquanto se levantava e pegava seu livro do chão, o colocando onde antes estava sentado.

“Sim, você é um homem bem difícil de encontrar nos dias de hoje...”

Em um momento de rara timidez, Sirius sentiu suas bochechas esquentarem.

“Hum, é, talvez, sim... você sabe, eu-“

Sirius parou ao ver a mão de Lily estendida a sua frente. Ele a olhou atentamente. De repente ela parecia bem séria.

“Eu quero falar sobre Remus com você.”

Sirius sentiu como se o ar estivesse de repente mais pesado.

“Remus?”

“Sim, Remus.”

A ruiva se aproximou mais dele e sentou em uma mesa perto dele. Assim sentada e ele em pé, ela parecia ainda menor, mas na verdade era Sirius que se sentia como se tivesse dez centímetros de altura.

“Sirius, o que está acontecendo? Por que você está agindo assim?”

“Eu... Lily, eu não sei do que-“

“Não, Sirius. A verdade, por favor.”

Desde que Lily começou a namorar James, Sirius passou a conhece-la melhor e, a essa altura, ele sabia que a ruiva podia ser uma das pessoas mais teimosas que ele já conhecera.

E ele era melhor amigo de James.

E ele francamente não aguentava mais. Ele só precisava deixar sair. Afinal, seu tradutor pessoal de sentimentos não estava disponível no momento, não é mesmo? Ele nunca se sentiu tão perdido.

E como se uma represa tivesse partido, Sirius deixou tudo sair.

Ele falou sobre palavras, sobre a lua, sobre cabelos cor de mel, olhos gentis e sentimentos quentes que havia em seu peito. E no final ele também podia sentir a queima desses sentimentos em seus próprios olhos lacrimejantes.

“Oh, Sirius. Você é tão idiota.”

De tudo que Sirius esperava ouvir de Lily, isso definitivamente não estava na lista. Ele nunca a achou do tipo sádica.

Foda-se, ninguém conseguia ser um interprete de Sirius tão bom quanto Remus.

Antes mesmo que ele pudesse entrar na defensiva, ele sentiu braços pequenos o rodearem.

“Vocês dois fizeram uma enorme bagunça, não é? Francamente, meninos...”

E assim como Remus, Sirius usou os ombros pequenos da menina para chorar a dor de seu coração.

“Sirius, você é muitas coisas, mas eu nunca te achei estúpido,” disse Lily depois que Sirius ergueu sua cabeça e a olhou nos olhos. Seus olhos estavam vermelhos.

Parecendo perceber finalmente a situação em que se encontrava, Sirius rapidamente tentou limpar seus olhos e entrou em uma postura enfezada.

“Droga, mulher, você realmente não é boa nessa coisa de consolar, não é?”

Lily riu, e então segundos depois voltou a ficar séria.

“Você realmente não faz ideia de quem é a pessoa que Remus gosta, não é?”

Sirius não podia deixar de sentir uma pontada no peito.

“Não, eu não, e quer saber? Eu nem gostaria, porque já é o suficiente saber que-“

As palavras entalaram em sua garganta.

“Saber...?”

Sirius suspirou, parecendo tão derrotado que Lily sentiu seu próprio coração quebrar um pouco.

“Saber que eu daria qualquer coisa para ser essa pessoa,” Sirius terminou em um sussurro.

O silêncio se estendeu por alguns segundos, logo antes de Lily provar que ela era, sim, um pouco sádica.

Ela começou a rir, descontroladamente.

“Oh, Sirius!”

E então ela balançou a cabeça para ele e começou a ir em direção a saída da sala. Ela abriu a porta e virou o corpo para ele.

“Sirius, é realmente possível você sentir ciúmes de si mesmo?”

.

.

.

O quê?

 

..

 

 

Sirius passou dois dias em um estado caótico antes de enfim ceder e novamente ir atrás das palavras que tanto o machucaram em primeiro lugar. Ele tentou muito não acender novamente nenhum sentimento de esperança no peito, mas também tentou não ser totalmente pessimista.

E enquanto estudava novamente aquelas doces palavras desenhadas por Remus aos pés de sua cama, ele resolveu, após tantas semanas de covardia e angústia, dar um pouquinho de orgulho para sua casa.

Ele resolveu ter esperança.

Qual o pior que podia acontecer?

Ele levar um soco. Ou Remus podia nunca mais olhar em sua cara.

Certo.

Ele não ia pensar nisso.

..

 

 

Sirius demorou quinze minutos para encontrar Remus sentado estudando encostado do lado de fora de uma das estufas de herbologia.

Agindo por impulso, ele foi imediatamente em direção ao outro garoto, sem nem mesmo um plano pré-formado do que dizer. Ele levou dois segundos para se arrepender dessa decisão quando de repente os olhos de Remus se ergueram do livro e o fitaram.

“Sirius? O que você está fazendo aqui?”

Já fazia tantos dias que Sirius não tinha aquela voz se dirigindo a si que por alguns instantes ele ficou sem palavras.

Ele se perguntou mais tarde que expressão ele tinha no rosto, pois de repente Remus deixou o livro de lado e se levantou rapidamente, um semblante preocupado no rosto.

“Sirius, está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?”

Remus sempre foi tão bonito? Deus, fazia tanto tempo que Sirius não o via tão de perto.

“Sirius? Sirius!”

Sirius piscou e notou o rosto de Remus ficando um pouco frenético.

“Eu, er...”

“Sim? Você está bem? O que está acontecendo?”

O que estava acontecendo? Como ele poderia explicar?

Sirius de repente notou que em sua pressa em sair do dormitório e procurar Remus, ele sem querer levou o livro em suas mãos.

E então ele fez seu ato brilhante: ele jogou o livro em Remus.

E obrigada Merlin e todas as divindades do mundo, porque os reflexos lupinos do outro garoto foram tudo o que o impediram de ser atingido na cara.

“O quê? O que você está faz-“ Remus começou a falar, indignado, antes que seus olhos fixassem no livro que ele tinha nas mãos. Seus olhos se arregalaram impossivelmente. “Sirius, onde... onde você achou isso?”

Sirius ficou em silêncio.

Remus parecia que tinha visto um fantasma.

“Sirius, você...” Remus parecia que preferiria engolir lesmas a completar sua pergunta. “Você... você leu isso?”

Um leve movimento de cabeça de Sirius e Remus de repente parecia que queria desaparecer.

“Oh, Merlin, me desculpe, Sirius. Por favor, não fique bravo com isso, você nunca deveria encontrar isso.” Os olhos de Remus começaram a ficar brilhantes. “Eu juro, eu nunca quis que você descobrisse. Por favor, por favor, não me odeie... eu, eu... eu juro que-“

Sirius saiu de seu torpor ao ver o outro garoto tão abalado em sua frente, as palavras saindo freneticamente.

Internamente, Sirius começou a sentir um pouquinho de sua chama de esperança se elevar.

“Não, não, Remus, eu nunca te odiaria. Eu nunca faria isso. Por que eu faria isso?”

Remus o observava como um cervo preso nos faróis de um carro.

“Eu só...” Sirius criou coragem para olhá-lo diretamente nos olhos. “Eu só queria saber de quem você está falando aí...”

Remus o encarou em completo silêncio.

Nenhum dos dois desviou o olhar.

Sirius decidiu então que Remus era alguém que valia a pena o risco.

“Remus, essa pessoa... sou eu?”

E Remus conhecia Sirius a tanto tempo, e nunca tinha visto o outro agir tão frágil e esperançoso, e naquele momento ele conseguiu enxergar nos olhos de seu melhor amigo aquela mesma chama que há tanto tempo ardia em seu próprio peito.

Remus fechou os olhos e sussurrou.

E provavelmente foi por isso que ele não viu o sorriso de mil sóis de Sirius, e porque ele se surpreendeu com a pressão de lábios macios e quentes contra os seus.

Mas ele não precisava ver, ele só precisava sentir, porque depois de tanto tempo com dias cinzas, de repente parecia que o sol passou a habitar dentro de si.

.

.

.

E eles estavam tão perdidos um no outro que não perceberam a cabeça vermelha que os observava de longe.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Palavras Perdidas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.